Nota da autora: Fiquei tão feliz com o painel da Crunchyroll de Hanyo no Yashahime que decidi escrever isso aqui rapidinho no intervalo do trabalho. Espero que gostem! A história se passa antes do começo de Um Caminho para Dois.

Quanto ao fic: voltará a ser postado a partir do dia 20 de setembro e vou atualizar de dois em dois dias até completar a história. Ela já está finalizada e estou fazendo apenas uma revisão nela.

Para quem quiser saber as novidades, pode visitar meu perfil aqui no FFNet ou acessar meu perfil do twitter (usuário: ukitaketai).

Se considerarem o capítulo digno de um review, ficarei honrada de recebê-lo.


Um caminho para dois

A noite antes da mudança

Outtake pré-Um Caminho para Dois

Nozomu Rin fechou mais uma vez a mala com roupas que um primo dela, um estilista famoso em Nagoya, capital da província de Aichi, trouxe para ela dias antes. Era o que teria que levar na mudança. Iria para Tokyo, onde moraria por pelo menos dois semestres letivos.

No dia anterior, Nozomu Jakotsu trouxe para ela aquela mala. Ele havia organizado todas as roupas com combinações possíveis, e ela só aceitou com um sorriso sem graça porque tinha medo que o primo não achasse que estivesse satisfeita e colocasse mais roupas para levar.

A garota passou o antebraço na testa para enxugar o suor. Havia retirado mais quatro vestidos e colocado quase todas as roupas, chapéus e demais peças em sacolas de vácuo para ocupar menos espaço, e mesmo assim tinha dificuldades de fechar a mala. Chegou até a sentar em cima dela e pulado para tentar passar o zíper.

Olhou para o relógio e franziu a testa. Ela estava quase para se atrasar. Se passasse mais dez minutos arrumando aquelas coisas, teria que sair correndo sem tomar banho.

Iria jantar com duas primas e Jakotsu em um dos restaurantes mais conhecidos da cidade, o Atsuta Horaiken, perto do famoso templo e jardins Atsuta. Jakotsu conhecia o chefe e achava que era um bom lugar para fazer uma despedida entre primos.

Era a última noite de Rin em Nagoya, de onde decidira sair para estudar o último ano na Universidade de Tokyo, a Toudai.

O telefone fixo ao lado da cama tocou e ela correu para atender.

-Rin falando.

-Rin... – Nozomu Momiji, uma das primas dela, começou com uma voz de choro – Acho que chegaremos vinte minutos atrasadas. Jakotsu acabou de sair daqui depois de passar a tarde toda arrumando o guarda-roupa da Botan.

-Ah... t-tudo bem. – ela esperava que ele não tivesse a mesma ideia e fosse até lá na casa dela para arrumar o guarda-roupa de novo.

-Vamos tentar atrasar menos que isso. – Momiji prometeu.

-Certo. – ela deu um sorriso que a prima não viu – Eu chego no horário e aguardo vocês.

-Hakudoushi não vai mesmo? – ela perguntou.

Rin mordeu o lábio e a expressão ficou melancólica.

-Eu dei o recado, mas acho que ele fingiu não ouvir.

-Ah... Esse Hakudoushi... – Momiji deu um suspiro – Não se preocupe, Rin. Ele vai voltar a falar com você.

Rin sentiu os olhos marejarem e ficou em silêncio.

-Bem, vamos nos arrumar agora. O bom é que Jakotsu já escolheu nossas roupas.

-Bem, vou me arrumar. Vejo vocês depois.

-Bye. – Momiji cantarolou antes de desligar.

Rin deu um suspiro cansado.

O irmão mais velho, Nozomu Hakudoushi, não gostara da ideia dela de sair de Nagoya e ir morar sozinha em Tokyo. Diga-se de passagem que a maior parte da família, conhecida pelo sobrenome no ramo político no sul do Japão, eram extremamente regionalistas e faziam questão de não estar com o nome atrelado a nenhum político ou partido da capital.

Foi uma briga que precisou até de interferência dos pais. Hakudoushi, vendo que não conseguiria convencê-la a mudar de ideia, passou a tratá-la de forma diferente, ou se negando a falar com ela ou fingindo que ela não estava no mesmo ambiente que ele.

E aquilo a magoava tanto quanto os motivos que a levaram a sair dali.

Depois de perder o namorado e passar por momentos mais difíceis, ela, em conversa com Jakotsu e consultando outras pessoas, decidiu deixar a cidade e passar o último ano da faculdade em outro lugar. Um lugar longe, que não desse para ela sofrer tanto ao passar por lugares e lembrar o falecido Akihito.

Enviou os pedidos de transferência para quase todas as universidades do país e a primeira a responder foi a Toudai. Ela aceitou imediatamente – mas o irmão não aceitara tão bem assim. Alegou que a cidade era perigosa. Que os homens eram perigosos, pervertidos até. Que as ruas eram perigosas. Até o ar para respirar era mais perigoso.

E agora ela se encontrava naquela situação: olhando a porta, como se pudesse ver dali o quarto de Hakudoushi, quase de frente ao dela, e olhando para o relógio.

Ele não iria, né?

Deu um suspiro e tratou de se arrumar. Olhou as roupas que estavam jogadas na cama. Vestido de lã bege até metade das coxas, casaco de caxemira verde. Completaria com botas, meia-calça de fio grosso e um chapéu para proteger a cabeça do frio. Poderia levar também uma das dezenas de bolsas que ganhou do primo. Talvez Jakotsu não notasse que ela tirou aquelas peças da mala. Havia outras 50 cuidadosamente prensadas nas sacolas de vácuo que não era possível que ele lembrasse de todas.

-Bom, vamos lá... – ela se dirigiu ao banheiro do quarto para se arrumar.


Rin já estava à mesa reservada por Jakotsu no restaurante e olhava mensagens e fotos antigas no celular quando avistou as primas Momiji e Botan se aproximarem, quase vinte minutos atrasadas. Estavam acompanhas por Jakotsu.

As gêmeas estavam com roupas combinando – ambas usavam salto, meia calça preta de inverno e vestido com enormes botões coloridos. Só era possível diferenciá-las pela cor do cabelo. Enquanto Momiji tinha cabelos castanho avermelhados na altura do queixo, Botan preferia ter os cabelos compridos em tom preto azulado.

-Rin... – Botan começou enquanto se sentavam, deixando de lado as reverências – Desculpe o atraso. Jakotsu nos fez trocar de roupa.

-Ah, sem problema. – ela sorriu sem graça. Então Jakotsu deve ter voltado para acompanhá-las.

Jakotsu, o primo estilista e dono de uma marca conhecida no sul do Japão, estava elegante com roupas sociais em tom mais escuro.

-Vocês jamais sairão comigo sem combinar direito algumas peças, meninas. – Jakotsu sentou-se e fez um gesto elegante para pedir o cardápio. Enquanto aguardava, ele se virou para Rin – Hakudoushi não quis vir?

Rin mordeu o lábio inferior e balançou a cabeça para os lados.

-Hunf. Primo Hakudoushi é um bobão. – Botan rufou e falou altivamente – Quem está perdendo é ele.

-Vou ter uma conversa com esse sujeito depois. – Jakotsu murmurou.

O garçom trouxe o cardápio e todos fizeram os pedidos de comida e bebida. Enquanto a comida não chegava, conversaram sobre os planos de Rin. Jakotsu cruzou elegantemente as pernas e enlaçou as mãos em cima do joelho.

-Rin, minha musa, deu tudo certo com o apartamento?

-Sim. Espero que seja tão bom quanto vi nas fotos do site. – ela franziu a testa – Pelo menos parece confortável, mas tenho medo de chegar lá e encontrar um lugar tipo um cubículo com uma banheira no meio do quarto.

-A capital tem cada coisa estranha... – Botan comentou franzindo a testa também. Provavelmente ela também ficaria preocupada se tivesse que alugar um apartamento temporariamente em uma cidade grande – Jakotsu me mostrou algumas fotos dos saltos plataformas pra gueixas.

O primo deu um suspiro profundo e ruidoso, fechando os olhos e apertando a região entre eles com força. Parecia que queria apagar da memória a imagem.

-Eu não sei mais o que esse pessoal dessa região vai inventar nos próximos meses. – ele abriu os olhos e fitou seriamente, de uma forma quase maníaca, a prima que estava para mudar – Rin, você não vai chegar perto dessas mulheres. Mau gosto pode ser contagioso.

-Jakko... – ela deu um sorriso sem graça.

-PROMETA. – ele falou assustadoramente num tom de aviso e a prima concordou por medo.

-Rin-chan, você vem nos visitar? – Momiji tinha uma mão apoiando sonhadoramente o rosto – Vem nas férias de verão para Nagoya?

-Claro que venho. – a garota piscou surpresa – Eu não acho que terei muita coisa para fazer por lá.

-Então você vai ver meu quarto todo reformado. – Botan abriu os braços sonhadoramente – Vou pintar com algumas cores bem diferentes e colocar um guarda-roupa grandão lá.

-Ideia de Jakotsu? – Rin arriscou.

-Necessidade por causa de Jakotsu. – Momiji corrigiu pela irmã.

Rin deu uma risada que há tempos não dava. Os primos apenas a observaram com um brilho nos olhos.


-Aya, por favor... – Jakotsu insistia levemente irritado com o companheiro – Leve Rin e passe primeiro na casa dela. Não é um desvio enorme como se fosse dar a volta no Japão.

O outro rapaz – alto, cabelos negros, olhos dourados pequenos e rosto com traços mais felinos – de novo negou com a cabeça. Rin observava tudo de longe. Parecia que discutiam seriamente. Aya agarrou o braço de Jakotsu e apertou com força e este tirou a mão do companheiro como se fosse apenas uma pena.

-Eles estão assim há algumas semanas. – Momiji comentou num sussurro a Rin – Jakotsu não fala nada, mas percebo que está mais estressado por causa dele.

Rin franziu a testa. E aquela discussão no momento era por conta de uma carona – Jakotsu pediu a Aya para levá-la para casa na direção contrária ao que o grupo deveria fazer. Quem dirigiria seria o companheiro dele, e ele não aceitou ter esse trabalho.

Fazendo um gesto exasperado, Jakotsu dispensou o companheiro balançando a cabeça e voltou ao grupo. Parecia furioso.

-Desculpem, meninas. Vamos ter que nos separar aqui. – ele deu um suspiro, penteando o cabelo com os dedos num hábito que tinha quando estava nervoso – Vou ter uma conversa com ele.

-Ah, Jakotsu... – Rin tinha as mãos unidas em nervosismo – Se foi por minha causa, eu peço desculpas... eu posso pegar um táxi ou ir de metrô mesmo.

-Nós também podemos pegar um táxi, Jakko. – Momiji falou e a irmã concordou com a cabeça – Não se preocupe.

Jakotsu deu um suspiro e se aproximou de Rin.

-Não, minha prima, não foi por sua culpa. – ele se aproximou dela e deu um abraço apertado nela. Rin teve que ficar na ponta dos pés para colocar o queixo no ombro dele – Faça uma boa viagem e que dê tudo certo nesse novo caminho que escolheu.

-Ah... obrigada... – ela fechou os olhos. Ela também esperava fazer uma boa jornada nesse caminho. Queria muito que tudo desse certo.

-Eu sei que você tirou essa roupa da mala. É bom colocar de volta porque se eu descobrir que ficou aqui, eu vou pessoalmente levar pra você em Tokyo. – ele falou num tom ameaçador de novo e ela ficou sem graça.

Rin depois se despediu das primas e todos seguiram rumos diferentes. Viu Jakotsu entrar no carro com Aya e Momiji e Botan entrarem em um táxi. Acenou para eles até sumirem de vista.

Deu um suspiro pesado. Não tinha sido assim que planejara passar a última noite em Nagoya. Ela queria o irmão com ela também.

Chutou uma pedra e segurou com força a bolsa.

Na verdade, não era nem para ela ter que fazer esse tipo de coisa se Aki estivesse vivo. Ela continuaria na cidade, não precisaria ter que ir embora para se sentir melhor.

Decidiu andar um pouco até a estação de metrô mais próxima, onde geralmente tinha parques abertos com bancos. Era bom dar uma caminhada. E sabia que tinha uma perto dali. Era ponto turístico da cidade, afinal de contas.

Olhou o relógio do celular, colocando-o de volta na bolsa. Um pouco mais de nove horas. Estava cedo ainda. A linha do metrô com vagão para mulheres ainda estava funcionando naquele horário.

Subiu algumas ruas. Ainda havia movimento na cidade, apesar de ser o início do inverno. Dali a algumas semanas o cenário seria diferente.

Ao dobrar uma esquina, avistou a praça do metrô Templo Atsuta e deu outro suspiro cansado.

Hakudoushi ia realmente parar de falar com ela?

Sentiu os beiços tremerem e os olhos marejarem. Deu outro suspiro numa tentativa de fazer a tristeza passar.

Sentou-se em um dos bancos e observou o movimento da praça. Viu bêbados andando, pessoas apressadas correndo para alcançar as escadas rolantes, pais ainda passeando com os filhos...

Um homem com camisa e calça social sentou ao lado de Rin no banco. Ela não se incomodou com ele até perceber que ele estava muito perto dela.

Temendo algum assalto, ela se levantou, apertou a bolsa junto ao corpo. Olhou as horas no celular e resolveu pegar o metrô.

Ao passar pela catraca, notou que o homem do banco tinha passado logo depois dela.

Até ali poderia ser uma coincidência, por mais que ela tivesse saído primeiro da praça e ter caminhado normalmente à estação.

Desceu as escadas rolantes com calma e foi até a linha que sabia que tinha um vagão só para mulheres.

Foi só então que olhou novamente as horas.

Dez da noite.

O vagão só para mulheres funcionava só até aquele horário. O próximo metrô já seria com vagões para ambos os sexos.

Na plataforma, ela aguardou sentada em uma das cadeiras coloridas até sentir alguém do lado dela, em pé, aparentemente aguardando. Pelo canto dos olhos notou o mesmo homem da praça mexendo no celular.

Ele está de brincadeira comigo.

Ouviu o aviso de chegada do metrô e se levantou para entrar.

Não demorou muito a entrar e nem a encontrar um lugar vago. Sentou entre duas outras garotas e aguardou as portas automáticas fecharem.

Estava tranquila até que o mesmo homem que notara antes entrou no último segundo, antes das portas fecharem.

Nisso, ela realmente ficou assustada.

Ele está realmente me seguindo.

Por que não pegou um táxi? Por que tivera aquela ideia de andar durante uma noite de inverno pela cidade e depois pegar o metrô? Ainda teria que andar até chegar em casa. Nunca mais faria aquilo. Era uma lição que levaria para Tokyo.

Pensou em mil estratégias para distraí-los. Assim que saísse poderia chamar os guardas da estação. Eles a ajudariam.

Até que lembrou que Hakudoushi...

Não. Hakudoushi não. Hakudoushi não estava falando com ela.

Mas o Hakudoushi... uma vozinha queria lembrá-la. Ele não a deixaria passar por isso.

Deu um suspiro pesado. Tirou o celular da bolsa. Faria uma tentativa.

Não. Ele não viria.

Viria sim.

Não viria.

Claro que viria.

O alto falante anunciou a chegada à estação que ela deveria descer. Com cuidado, levantou-se e passou pelo sujeito assim que as portas abriram, praticamente quase correndo.

Procurou os seguranças e não encontrou. Não havia ninguém naquele horário? Onde estava a boa segurança que os administradores tanto anunciavam? Ela faria uma denúncia no distrito, certamente.

Enquanto caminhava, enfiou a mão na bolsa e tirou o celular. Parou por alguns segundos e procurou o número do irmão.

Home me seguin=do no mtrô d casa, digitou com pressa, sem se preocupar com os erros de digitação.

Voltou a andar depressa. Procurou a saída de casa. Olhou para os lados e não viu o homem. Ótimo, se Hakudoushi não aparecesse, ela não precisaria se preocupar em andar a curta distância até a casa.

E vai ver que o homem não a estava seguindo mesmo. Por coincidência ele pegou o mesmo vagão que ela.

Passou pelas catracas e olhou ao redor. Talvez Hakudoushi tivesse visto a mensagem e pudesse acompanhá-la sem maiores sustos.

Foi quando ela viu novamente o homem.

E infelizmente fez contato visual com ele.

Girou os calcanhares e começou a andar para fora da estação, subindo com pressa as escadas rolantes.

Já na rua, cortou caminho entre as pessoas e esbarrou em outras, tomando a direção da casa. Hakudoushi não viera. E talvez tivesse visto a mensagem e ignorado, como ele estava fazendo com ela nos últimos dias.

Sentiu os olhos arderem de novo.

Olhou para trás e o homem continuava seguindo-a.

Estava quase para chegar. Faltava só andar mais um quarteirão antes de dobrar e descer na ladeira que levava até a rua da casa.

Mas não foi tão rápida. Sentiu a mão de alguém agarrar o braço com força.

-Aiii, qual é o seu problema? – ela gritou com o sujeito, mais irritada do que assustada. O homem tinha perdido totalmente a compostura ao tocá-la – Solte meu braço!

-Você é uma gatinha arisca mesmo, bem que eu notei isso... – ele a puxou para perto dele e sentiu a outra mão de Rin empurrando o peito dele para afastá-lo.

Não era possível que ela estivesse passando por isso na véspera da mudança. Não era possível. Não era possível. Não era possível. Não era...

-Você é surdo, cara? - outra mão tocou o braço dela e praticamente quebrou os dedos do sujeito que a atacava, e este começou a gritar de dor – Ela falou pra soltar o braço dela.

Rin arregalou os olhos ao reconhecer a voz.

O irmão estava ali. Ele viera. Ele leu a mensagem e veio procurá-la.

Hakudoushi estava em pé na frente do perseguidor de Rin, segurando a mão que ousou tocá-la. Ela ouviu um outro crack e o homem gritar de dor.

-Você q-quebrou m-minha mão! – ele gritou.

-Vá embora. – a voz de Hakudoushi estava fria e ameaçadora ao mesmo tempo. Ele ignorava os lamentos e, no fundo, começava a se irritar com ele.

-Você vai... – o homem se preparou para dar um soco com a outra mão ainda boa.

Hakudoushi desdenhou daquela tentativa fraca e respondeu com um soco no nariz do sujeito. Ele nem precisou fazer muita coisa, bastou apenas fechar o punho e esticar o braço para acertar o indivíduo. Ele caiu no chão e tinha sangue escorrendo pelo nariz como se fosse uma cascata.

Ele parece um daqueles heróis de filmes, Rin pensou.

O irmão se virou para ela e, pela primeira vez em dias, olhou-a diretamente nos olhos.

-Você está bem, Rin? – ele perguntou ignorando os gritos do desconhecido. Os olhos pareciam ter mudado de cor: estavam quase negros em vez de lilases.

A irmã conseguiu confirmar com a cabeça. Os dois se encararam por alguns segundos, até que ele moveu a cabeça na direção da ladeira que ela deveria descer para chegar em casa, deixando aquele homem e as bobagens sem sentido que dizia para trás.

Enquanto caminhavam, escutou Hakudoushi inspirando e expirando várias vezes. Ela sabia o que ele estava fazendo: tentava controlar a raiva e só conseguiria falar depois que se acalmasse.

Ele está assim por minha causa.

Ficou um pouco para trás observando-o de costas, pois ele tinha uma passada mais larga que ela. Ele ainda fazia os exercícios de respiração mesmo andando com pressa.

Quando dobraram na rua da casa e já estavam próximos do portão, ela conseguiu apressar o passo e abraçou-o pelas costas, encostando o rosto na altura do ombro dele.

Hakudoushi parou de andar. Também não falou nada.

-Obrigada. – ela murmurou.

-Por que veio sozinha? – ele perguntou ainda com um tom estranho, próximo ao usado para falar com o sujeito – Achei que Jakotsu viria te trazer.

-Todo mundo se separou lá no restaurante. Eu quis andar pela cidade. – ela respondeu.

Hakudoushi deu um outro suspiro e tirou as mãos dela que o circulavam na cintura. Ela se afastou um pouco e baixou o rosto. Sabia sobre o que ele ia falar. Ele já tinha falado várias vezes nas últimas discussões.

-Como você vai conseguir se virar em Tokyo com um cara te seguindo?

-Eu procurei os seguranças pra denunciar e eles não estavam na plataforma. – ela murmurou com um beicinho, abraçando o próprio corpo.

-Eu já fico preocupado aqui em Nagoya, imagina lá na capital com aquele pessoal que usa salto plataforma gigante! – ele apontou na direção do metrô – E se eu não tivesse visto a mensagem a tempo? Você conseguiria dar pelo menos o soco que eu te ensinei?

Rin mordeu os lábios. Ela realmente tinha que prestar mais atenção. O irmão estava mais preocupado com a segurança dela.

-Por favor, tenha cuidado por lá, peça ajuda aos seguranças ou a algum conhecido por lá se acontecer algo parecido. – ele falou num tom de súplica – Sabe-se lá o que o povo de Tokyo apronta. A yakuza tá por toda parte lá e esses caras...

A irmã o abraçou com força. Novamente as mãos envolveram a cintura dele, o rosto ficou escondido no peito. Ele, momentos depois, também a abraçou, pousando o queixo no topo da cabeça dela.

-Ah, Hashi, eu... – ela tinha a voz abafada por falar contra o peito dele – Eu não quero ir embora desse jeito... Você me ignorando... Eu fico muito triste.

Hakudoushi deu um longo suspiro. Ela já estava abalada com a morte de Aki e ele admitiu para si mesmo que também não estava colaborando.

Os dois ficaram abraçados daquela forma até Rin sentir que começara a ficar mais frio.

-Vamos... vamos entrar. – ele sugeriu – Eu preciso te mostrar de novo como lidar com esse tipo de maluco. Depois... Vamos combinar o horário para te deixar na estação.

Rin deu um sorriso e o apertou com força na cintura, confirmando com a cabeça.