Nota: Eu já havia mandado este aqui para leitores que comentam na história principal. Resolvi postar enquanto não sai um capítulo novo de UCP2 (previsão é de quarta desta semana).
Um caminho para dois Outtakes
Kanbi - 甘美
Biblioteca do Departamento de Ciências Jurídicas
Universidade de Tokyo
Taisho Sesshoumaru já estava prestes a se atrasar para um seminário por estar "preso" na biblioteca.
Na verdade, procurava um livro de antigos códigos de conduta civil da Era Taisho para uma pesquisa, mas estava há quase uma hora na busca. Sabia que estava em algum lugar ali porque o sistema da biblioteca acusava a existência, mas nada de encontrar um exemplar. Haveria certamente um volume na biblioteca do avô, já que era parte da história da família, mas como queria o mínimo de contato com alguém que controlava a vida dele, resolveu perder um pouco do tempo que não tinha e se dar ao trabalho de procurá-lo em uma das maiores bibliotecas do país.
Reprimiu um suspiro. Ninguém podia vê-lo fazendo aquilo. A família, sempre tão rígida nas posturas em público, o treinou bem para não demonstrar aquele tipo de atitude em público.
Havia um possível motivo para não encontrar o livro que queria: alguns estudantes costumavam pegar os exemplares e colocá-los em prateleiras diferentes, dificultando agora a vida dele e o trabalho dos funcionários dali.
Como, por exemplo, o livro vermelho de capa dura que encontrou ali.
Ao pegar o exemplar, as sobrancelhas ficaram levemente arqueadas.
"Nagoya-ben – palavras e expressões".
Nagoya, cidade natal da colega dele. O lugar que, aparentemente apenas para essa colega, era o melhor e mais desenvolvido do Japão.
Aquilo deveria estar em Linguística, não?
O rosto virou para o lado, depois para o outro. Queria se certificar de que estava realmente sozinho naquela seção.
Abriu o livro em uma página aleatória e os olhos encontraram a primeira palavra:
甘美
Kanbi.
"Doce".
Conhecia a expressão. A colega geralmente falava num japonês polido perfeito e parecia às vezes se controlar para não parecer deselegante falando em um dialeto. Não eram próximos, afinal de contas.
Havia também, logo após os ideogramas, o alfabeto fonético com a pronúncia aproximada. Ele repetiu baixinho, suavemente, tendo em mente como ela poderia falar, trocando o "b" pelo "p" tão rápido que só ele percebia.
— Kanpi.
Alguém passou pelo corredor e ele rapidamente fechou o livro com força.
— Então, quando eu falei para a turma que... – a pessoa, acompanhada de outra, falava em um tom mais forte que o recomendável dentro da biblioteca, o som diminuindo à medida que se afastava.
Sesshoumaru esperou que o silêncio prevalecesse e voltou a abrir a obra, folheando aqui e ali e observando as palavras.
Por fim, resolveu levá-lo como empréstimo junto com a outra publicação que procurava, caso a encontrasse.
Algum tempo depois...
— O que... O que está fazendo...? – Rin perguntou num fio de voz. Pensou até que ele nem tivesse escutado de tão baixo que foi.
— Eu quero beijar você. – Sesshoumaru aproximou a distância entre os rostos. Rin, pequena, ergueu a cabeça e arregalou os olhos, encontrando os dele, os lábios levemente entreabertos ao ofegar.
Foi a deixa que ele queria. Os lábios tocaram por iniciativa dele, incialmente apenas roçando nos dela e, em seguida, pressionando como se pedisse permissão. Os braços a envolverem na cintura e aproximaram os corpos também por determinação dele.
A bolsa caiu no chão, mas nenhum dos dois pareceu se importar.
Sesshoumaru umedeceu com a própria língua os lábios dela e os entreabriu, suavemente no começo para depois aprofundar o beijo. Ela tinha ainda os resquícios da janta, principalmente do vinho que ela experimentou ao longo das entradas e da sobremesa ao final.
Kanbi.
A palavra veio à mente dele apenas naquele instante por uns breves segundos.
Rin começou a relaxar. Às vezes ela parecia extremamente desconfortável em conversar com ele e agora relaxava de olhos fechados, rosto corado, as mãos delicadamente nos ombros dele. A língua aveludada dela fazendo cócegas no interior da boca de Sesshoumaru, retribuindo o que ele havia iniciado e fazendo com que ele tivesse mais vontade de beijá-la.
Até que ela gemeu de dor e forçou os rostos a se afastarem.
Rin baixou o rosto e deu outro gemido. A mão ainda em fase de recuperação estava fechada em um punho, deixando os dedos doloridos. Ela os abriu e murmurou um "ai".
— Você pretendia dar um soco em mim também? – Sesshoumaru perguntou ao notar o que ela fazia com a própria mão.
Depois de ele ter se afastado a pedido dela, de terem discutido o que fazer a partir dali e marcarem de conversar, ele voltou para o carro. Dentro, ele não parou de pensar naquela palavra que viu no livro que ainda estava na casa dele:
Kanbi. Sim.
Muito.
No dia seguinte, ele a encontrou nervosa na fila da biblioteca. Ela parecia cansada, mas ainda assim adorável com aquele jeito meio assustado e corajoso. Ele não parava de olhar aqueles lábios que havia beijado no dia anterior.
Também fez questão de disfarçar a capa de um dos livros que tinha em mãos. Era o exemplar sobre o dialeto de Nagoya que ele havia emprestado havia algum tempo.
Separaram-se na fila, mas ele não tirava os olhos dela. Já havia notado que ela tinha um problema para fugir de algumas situações, como no dia que ele a encontrou pronta para ir para Nagoya, com mala e tudo, um dia depois de machucar os dedos no incidente com aquele rapaz que nem ao menos estava mais na faculdade depois das ameaças que Sesshoumaru fizera.
Ao ser atendido, ele entregou um livro por vez.
— Vou devolver apenas este. – indicou um livro de capa amarela de uma disciplina do curso – Decidi renovar o outro.
A atendente – uma senhora de meia idade com óculos de enormes aros – pegou o exemplar a ser devolvido e deu um check, girando a cadeira para colocá-lo no topo de uma pilha do carrinho perto dela.
— Você quer renovar este? – ela indicou o livro sobre o dialeto de Nagoya.
Um silêncio entre os dois se fez.
— Sim.
— De novo?
Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha.
— É a terceira vez, segundo os registros aqui. – ela atestou sem piscar, a voz monótona como um robô.
A expressão indiferente de Sesshoumaru poderia muito bem ser interpretada como ele não se importasse com aquele número ou que não queria se repetir.
Finalmente, naquela batalha silenciosa, ela se deu por vencida e renovou o empréstimo do rapaz.
Por cima, ele segurava o pulso dela e viu-a abafar um grito com a esquerda dela. O rosto estava corado e teve que tirar as mechas de cabelo que não permitiam que visse a expressão dela direito.
Baixou o rosto para murmurar uma palavra que ela conhecia muito bem e beijá-la na têmpora.
— O quê...? – ela tentou se concentrar.
Sesshoumaru repetiu e ela estremeceu de prazer ao entender que ele pronunciava "kanbi" no dialeto de Aichi, deixando escapar um suspiro quando ele começou a se mover mais rápido dentro dela.
Kanbi.
Rin era kanbi.
