Nota da autora: Enquanto o novo capítulo não fica pronto, resolvi postar esse aqui devidamente revisado. O pessoal que acompanha o fic já recebeu por e-mail/PM provavelmente em agosto do ano passado.
Espero que gostem e que possam comentar. Um beijo.
Um caminho para dois
O pingente de crisântemo
A agenda de Sesshoumaru estava agitada naquela semana. A namorada, Nozomu Rin, faria aniversário em três dias e ele tinha muita coisa para fazer, antecipando alguns compromissos para poder passar o dia com ela.
Mas havia uma coisa que estava dando trabalho: a gravata.
Ajeitou várias vezes da melhor forma possível o nó na frente ao grande espelho do banheiro, até tirar a gravata de vez e sair do cômodo, batendo a porta do quarto com força.
Desceu as escadas e procurou o avô no escritório.
Ao escutar a porta se abrir, o idoso, sem se virar para ver quem era, falou:
— Kaede, você sabe onde coloquei aquele álbum da viagem a Saitama de 20 anos atrás?
Ao ter silêncio como resposta, ele olhou por cima do ombro para encontrar o neto mais velho ali.
— Ah, é você.
Sesshoumaru ergueu a gravata e o outro estendeu a mão para aceitar a peça. Ele sabia o que precisava fazer.
Enquanto o outro se preparava para fazer o nó, o rapaz virou o rosto para o lado para não encontrar o olhar do avô que o observava com um pequeno sorriso.
— Por que está errando?
— Fica assimétrico.
— Seu pai só aprendeu a fazer o nó correto quando conheceu a sua mãe. O dele também ficava torto.
— O meu não fica torto. Fica assimétrico.
— O nó Oriental é assim mesmo. – ele tirou a gravata novamente e comparou as pontas, unindo-a como se calculasse o exato tamanho delas – Talvez tenha que mudar. Que tal um Windsor?
Sesshoumaru soltou um "hunf" e fechou os olhos:
— Aquilo era um Windsor.
— Definitivamente não era um Windsor.
Pigarreando, o avô começou a dar uma série de oito voltas:
— Você sabia...
Primeira volta: colocar a gravata por baixo do colarinho com a ponta direita maior que a esquerda.
—... que só a sua mãe...
Segunda volta: puxar a ponta direita para trás da ponta esquerda.
—... sabia fazer um nó...
Terceira volta: jogar a ponta direita por cima da esquerda.
—... Ao estilo Hannover?
Um segundo se passou até ouvir a resposta do neto:
— Não.
O avô ergueu uma sobrancelha. Era um maneirismo dos homens da família Taisho.
Quarta volta: jogar a ponta direita para trás para formar um pequeno nó irregular no centro.
— Era bem bonito. – o avô voltou a comentar.
Quinta volta: jogar novamente a ponta direita para trás do esquerdo, de modo que ficasse mais pendente para o lado direito.
— Ela me ajudava às vezes. – o mais velho completou.
Sexta volta: jogar a ponta para dentro.
— A sua nova namorada não sabe fazer isso?
Sétima volta: jogar a ponta direita por cima de tudo.
— Nunca perguntei.
Oitava e última volta: ajustar o nó. O velho puxou a gravata com um pouco mais de força para (muito discretamente) ameaçar sufocá-lo.
— Aí está.
O rapaz passou a mão pelo pescoço e murmurou um "obrigado" antes de sair do escritório.
O avô apenas sorriu. Era óbvio que o neto não havia entendido ainda o segredo de fazer um nó de gravata perfeitamente alinhado. Também não havia notado que a dele estava torta ainda. Ou assimétrica, como preferia dizer.
Ao passar pela cozinha, Sesshoumaru entrou sem fazer muita cerimônia e encontrou a madrinha ali com um livro na mão. Ela murmurava palavras aleatórias, temperos de forma geral, franzindo a testa enquanto apontava o dedo aqui e acolá como se estivesse contando o que tinha.
Ao se dar conta de que havia mais alguém ali, ela deu um grito de susto e largou o livro para levar a mão direita ao coração.
— Ah, é você. Parece uma assombração entrando assim.
Rin também agia assim quando morava em outro apartamento, supostamente habitado por um fantasma. Ele nunca tinha visto, mas nunca esqueceu a reação dela em uma determinada noite.
Ignorando aquela reação da madrinha, ele foi direto ao ponto:
— Eu gostaria de dar um presente para minha namorada. É aniversário dela esta semana.
Disse apenas isso e ela aguardou a continuação, até dar-se conta que ele, lacônico e discreto como sempre, terminou apenas com aquelas informações e ela teria que continuar a conversa:
— Você quer uma sugestão?
— Rin disse que não tem nenhuma preferência. – ele falou.
— Você pode dar um kimono. – Kaede sugeriu.
Sesshoumaru pigarreou.
— Nada de roupa. O primo dela é estilista.
Pela expressão de Kaede, ele percebeu que ela queria entender o que aquele ponto tinha a ver com o outro.
— O primo não aceita que ela use outra coisa. Ela tem bastante roupa dele.
— Entendido... – ela balançou a cabeça de leve, tentando pensar em algo.
Alguns segundos se passaram em silêncio.
— Bem... eu tive uma ideia. – ela falou suavemente, tirando o avental por cima do ombro – Pode terminar de se arrumar lá no seu quarto. Vou levar pra você.
Cerca de meia hora depois, ela batia na porta do quarto dele e entrava segurando o que parecia ser uma caixa envolvida em um delicado lenço de seda de estampa florida em tons pastéis, principalmente lilás e rosa.
Caminhando lentamente até a escrivaninha do quarto, puxou a cadeira para sentar-se sem precisar pedir licença e colocou o objeto em cima da mesa. Abriu as pontas do lenço e revelou, por fim, uma caixa de madeira nobre onde ele podia ler a inscrição do ideograma do nome da mãe dele.
O rapaz franziu o cenho de leve.
— Isso aí...
— São as joias da sua mãe. – ela completou suavemente – Nunca entendi porque ficou tudo pra mim. Ela sabia da aversão que tenho por essas coisas.
Kaede girou uma pequena chave e tirou a tampa para que ele visse o conteúdo, fazendo um movimento suave de mão para dar a permissão:
— Vamos. Escolha uma.
Sesshoumaru aproximou-se e observou o conteúdo à distância. Colares, anéis, pulseiras, brincos... Pérolas, ouro, diamantes, rubis, safiras... a mãe tinha bom gosto e adorava aquilo.
E ele lembrava que havia uma em especial que ela gostava mais.
Os olhos procuraram o único pingente que ela tinha e usava todos os dias. Ao encontrá-lo, os dedos foram direto a ele.
— Oh, o pingente de crisântemo. – ela murmurou com a voz um pouco alterada, tão leve que alguém de longe não perceberia se escutasse.
Mas ele, como notava rapidamente aquelas coisas, perguntou logo:
— Algum problema?
— Não. – ela balançou a cabeça de leve – Nenhum.
Kaede fechou a caixa enquanto o observava pelo canto dos olhos. Ele parecia muito concentrado em analisar detalhes da peça.
— Você sabe que isso significa que nós somos...
— Eu sei o que significa. Quero dá-lo a Rin. – ele falou num tom bastante decidido e não encontrou o olhar dela, ainda ocupando-se em notar os detalhes: era um pingente em ouro branco que imitava a flor em três camadas de pétalas. Os filetes à mostra no centro tinham brilhantes no lugar das anteras.
— Você vai precisar de uma corrente. – ela aconselhou enquanto envolvia a caixa no lenço de seda – Se quiser, eu falo com Hosenki-dono. Ele deve ter alguma pronta.
Sesshoumaru estava tão concentrado no que fazia que sequer parecia ter ouvido o que Kaede havia falado.
— Se você quiser...
— Eu agradeço. – ele respondeu depressa, erguendo a vista para ela – Posso pegar na loja dele se não puderem deixar aqui.
Rin iria gostar da surpresa. Disso tinha certeza.
