Estava encurralada. Não sei como, tinha-me esquecido da palavra-chave da sala comum dos Ravenclaw que a Luna me tinha dado. Já tinha passado muito depois da hora de recolher, mas eu tinha de entregar o estúpido retrato do meu irmão Ron a essa mesma Lunática. Na tarde passada tinha apostado com ela que conseguia fazer Draco Malfoy olhar para mim mais de 3 segundos seguidos com alguns dos meus truques mais sensuais e atraentes. Se eu ganhasse, ela ia apresentar-me a um colega da sua turma que só era todo bom. Alto, magro (mas com um rabo jeitoso), uns lábios volumosos e rosados, de vez em quando uma barbinha, e os seus olhos pareciam azuis ou verdes, mas segundo Luna, eram mesmo castanhos. Chamava-se James Sprinkle. Pronto, ok, tinha perdido. O estupor nem reparou em mim… que merda.

E agora, ali estava eu a percorrer um dos mais longos corredores do castelo. Já não sei se estava a alucinar, mas pareceu-me ouvir passos, ou algo parecido. Um som qualquer. Bastante estranho. Vá lá que estava tudo bastante iluminado. Eu é que não me atrevia a olhar para trás. Se fosse o Filch, já tinha começado aos berros. E se fosse um professor eu corria para a passagem secreta dos Ravenclaw, e adeuzinho. Acelerei o passo. Os sons ficaram mais distintos. Comecei quase a correr. Doía-me as pernas como sempre doíam quando começava a andar super rápido de um momento para o outro. Os sons aumentaram. Estava quase no fim do corredor e era só subir um lance de escadas à direita e lá estaria a armadura à minha espera. O ritmo do meu coração acelerou, o ar parecia querer fugir-me dos pulmões. Tudo parecia uma grande seita para impedir-me de comandar os meus membros e dar a curva à direita, subir as malditas escadas e… esquecer-me da palavra-chave. Estava encurralada, quem quer que fosse a seguir-me, ia apanhar-me.

A cena é que… agora, ao escrever estas palavras no meu velhinho diário (de quando tinha 11 anos e pensei que seria giro ter um para cada ano em Hogwarts), não me arrependo nada de ter passado o medo e stress e todos aqueles arrepios que uma moça de 16 anos sentia a andar sozinha por um castelo enormíssimo onde já tinha acontecido tanta desgraça.

Sem outra escolha, encostei-me à parede do beco sem saída que era aquele pequeno espaço com a armadura do lado esquerdo no cimo das escadas. Rezando, sem sucesso, para que o perseguidor seguisse em frente. Mas ao contrário do pedido, o dito cujo apenas abrandou quando viu a minha triste posição no cenário. Devido à luz do corredor vi logo que se tratava de Malfoy. Aliviei, descontraí.

- A perseguir estudantes a esta hora? Podes ir andando… não sou caloira. – saquei da varinha. Ele subiu as escadas enquanto eu falava, olhos fixados nos meus.

- Porque caralho me tavas a tentar distrair ontem na Biblioteca? – subiu as escadas e fixou-se mais perto de mim do que o desejável. O normalmente desejável, quando não se estava a pensar no seu cheiro refrescante e apaixonante.

- não tinha noção de que te distraí de facto.

- pois. À tua pala não consegui copiar os apontamentos do Nott.

- que cena. Já não vais ter o 20 que merecias.

Ergueu um braço e espalmou a mão contra a parede mesmo ao lado da minha cabeça.

- não me provoques, Weasley. Posso esmagar-te com a maior das facilidades.

Ergui a mão que segurava a varinha e esta tocou-lhe no peito.

- mas eu sou tão inocente. – fiz cara de santa.

- deves ser. – olhou-me de cima com desdenho.

- queres testar essa teoria?

- não preciso. O que ouço é suficiente.

- o quê?

- que és uma bela vaca. Que nenhum dos teus ex's ficou sem enfeites na cabeça.

A minha varinha não lhe parecia meter medo. Não fiquei surpreendida de todo pelo que ele disse.

- gosto de sexo, o que é que querem? Tou farta de crianças…

- então é verdade. A Weasleyzinha é uma santa! – mandou um sorriso sugestivo e ordinário – olha, hm, acho que sabes onde é o dorm dos Slytherin… ou se quiseres, aqui e agora…

-eu não vou para a cama contigo!

- Hei! Porque não? – Ultrajado.

- porque tu és nojento! Sempre odiaste a minha família. E és Slytherin.

- foste com o Warrington.

- esse ia para o Torneio. E não ama o O Quem Nós Sabemos. E é todo bom.

- eu não sou? – disse, ignorando o resto.

- não. – respondi quase firmemente, visto que estava a gostar mesmo daquele bocado.

- cabra.

-convencido.

Aproximou-se da minha cara. Ia beijar-me. Virei a cara para o lado.

- tás a começar a irritar-me.

- nem tudo pode ser teu, Malfoy. Lamento.

Desencostei-me da parede, pressionei mais a varinha contra o seu peito e ele afastou-se, deixando-me passagem para sussurrar 'Senso de Conhecimento' à armadura, e entrar.