Notas do Autor


Disclaimer: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.


Capítulo 9 - Para onde vamos a partir do agora?


― Quer assistir a um filme mais tarde? ― Dean perguntou enquanto folheava o livro que lia.

― Talvez. ― Respondi, com os olhos pregados na minha própria leitura. ― Eu estava pensando em convocar a nossa noite de pizza e vinho.

Ele riu. ― O que aconteceu?

Claro que Dean sabe que tinha algo me forçando a beber. Sempre jantamos pizza e bebemos vinho barato quando estamos nos sentindo um lixo.

― Falei com Ron ao telefone na noite passada e ele me chamou de sabe-tudo intrometida, depois que eu disse que ele precisava relaxar e parar de infernizar o Harry. Cada vez que falo com Ron, ele sempre está gritando por uma coisa ou outra. Não sei o que raios se passa com ele.

Não era só isso. Eu acordei preocupada, por causa das minhas conversas com Hannah e Daphne; ansiosa pela visita muito real à tumba dos fundadores e irritada pela forma como Robards tinha me tratado na manhã anterior. Além disso, eu ainda me sentia um pouco fora de órbita pela trégua com Severus. Era coisa demais para lidar, quase não preguei o olho na noite passada. Ontem foi realmente um dia 'daqueles'.

Dean me puxou para um abraço de lado e beijou o topo da minha cabeça.

― Tenho certeza de que ele vai amadurecer eventualmente.

Isso era o que eu pensava anos atrás, quando eu e Ron terminamos o namoro e ele fez um circo sobre isso. Depois começou a passar por estas fases em que às vezes éramos melhores amigos de novo, e então de repente ele me achava a pior pessoa do universo, além de uma usurpadora da magia.

― Espero que sim. Eu já disse uma centena de vezes para ele que não há uma explicação para eu ter continuado uma bruxa, enquanto ele não, exceto pelo nosso status sanguíneo. Ele sabe que nunca passou pela minha cabeça ser uma bruxa, até a minha carta de Hogwarts chegar, mas ele age como se cada nascido trouxa fosse o causador da desgraça dele. ― Eu reviro meus olhos. ― O Ron amou um drama. Eu não era assim quando era mais jovem. Você era?

Dean negou com a cabeça.

― Não, esse era o Seamus.

Fizemos contato visual um com o outro e então começamos a rir juntos.

― Você ganhou, Dean. ― Eu respondi entre os sorrisos e ele fez uma pequena reverência em reconhecimento. ― Seu término com o Seamus conseguiu ser mais dramático do que o meu com Ron.

Me ajeitei na cadeira e fechei meu livro bruscamente quando me dei conta de que não conseguiria as respostas que procurava naquele volume.

Dean franziu a testa.

― O que foi?

― Nada. ― Resmunguei.

Por que essas árvores genealógicas foram adulteradas? E como esses rastros foram perdidos? E, mais importante, por que ninguém da própria família ouvira falar de nenhum Abbott ou Greengrass desaparecido antes? Além de Hannah Abbott, eu também visitei Daphne Greengrass e ela me garantiu que todas as histórias de sua família são passadas de geração em geração, mas que nunca ouviu falar sobre nenhum membro banido.

― Se não é nada, pare de ficar irritada e chateada. ― Dean brigou, olhando para o título do meu livro. ― Lembre-me do que você está lendo.

― Nada útil. ― Respondi de novo, cobrindo o livro com os braços. Mas as sobrancelhas dele se franziram e eu suspirei. – São sobre as árvores genealógicas dos sangues puros. Viktor me enviou alguns livros sobre o assunto, então comecei a pesquisar mais sobre elas. ― Respondi frustrada.

― E? Por que a frustração? ― Dean perguntou, folheando mais uma página do livro dele.

Eu olhei para o teto, quase irritada pelo desinteresse de Dean.

― Eu visitei Daphne Greengrass ontem. Ninguém da família dela jamais soube nada sobre um membro desaparecido. Fora esses registros que Viktor me enviou, parece que esses bruxos desapareceram feito fumaça. Por quê?

― A Hannah também não ouviu sobre nada na família dela. ― Dean explanou o que eu tinha dito a ele ontem. Ele levantou os olhos do próprio livro e os fixou em mim. ― Você já cogitou que esses registros enviados pelo Viktor possam estar errados?

― Sim, pensei isso. Mas é a mesma letra do Diretório original, e tem o selo da família Nott. Quem se daria ao trabalho de fazer uma cópia fake desse manifesto purista e enviar a um reduto de puros sangues como Durmstrang? Ninguém teria tanto trabalho por nada.

Dean apoiou o livro no colo.

― Existe algum outro motivo para você estar insistindo nisso, além do Ron ter te chamado de usurpadora de magia? Você está tão entediada assim?

Estou mais preocupada com minha segurança! Mas, até então, eu não tinha contado a Dean, nem a ninguém, sobre minha incursão até a tumba dos fundadores. Então eu não podia dizer a ele que eu sentia que os eventos estavam relacionados e queria investigar tanto uma coisa, quanto a outra.

― Não. Quer dizer, é interessante! Algumas teorias sugerem que sangues puros queimados da tapeçaria não perdem seus poderes. É o caso da Tonks.

― Ela é a única bruxa viva que conhecemos com esse exemplo. Mas, todos os curandeiros, inclusive você, atestaram que ela manteve sua magia por ser metamorfomaga. Eles são os genes dominantes, não a magia. ― Relembrou Dean.

Sim, eu sei disso. Mas insisti no assunto, pois precisava descarregar o conteúdo da minha mente, caso todas as peças, por algum motivo, se encaixassem depois de dizê-las em voz alta.

― Você já ouviu falar alguma coisa sobre "os dois primeiros"? ― Resolvi mudar de tópico e revisitei a expressão que Regulus usou para expressar quem precisava ser distraído pelos fundadores. Aquilo estava martelando na minha cabeça, mas definitivamente eu ainda estava no escuro sobre isso.

Dean colocou os pés no chão e apoiou o livro na mesa.

― Você parece uma lunática.

Fiz um ruído de nojo e voltei minha atenção para o meu livro novamente, bufando.

― Desculpe-me se tenho algum interesse na história dos bruxos sangue puro! ― Rosnei para ele.

― Não sei porque Ron lhe afeta tanto com suas teorias radicais e exageradas. ― Dean começou a ler de novo e falou, sem olhar para mim: ― Vou pedir a Ivan que o jantar seja hoje. Você definitivamente precisa relaxar.

Eu esfreguei os olhos.

― Dean... ― Respondi, quase choramingando. ― Eu quero apenas uma resposta direta sobre esses bruxos que faltam nas tapeçarias. E se eles mantiveram seus poderes?

― Você deveria encontrar outra linha de pesquisa. Essa daí, claramente não vai levar a nada. Os bruxos queimados de tapeçarias, morreram. Sirius Black, foi o último deles.

Eu quase gritei com a menção de Dean a Sirius. Pulei da minha cadeira em êxtase. Porque eu não lembrei antes?

― Você é um gênio!

Sorrindo, dei um beijo em cada uma de suas bochechas e juntei minhas coisas com um aceno da varinha, enquanto Dean me olhava como se eu realmente estivesse louca.

Meu coração martelava dentro do meu peito enquanto me dirigia para a saída. Sirius foi o último bruxo queimado de uma tapeçaria de sangue puro. Eu precisava falar com Regulus. Talvez, mesmo no "além" onde os fantasmas viviam, ele soubesse se um Black manteria sua magia ou não. Era improvável, tanto Sirius quanto Regulus morreram anos antes dos eventos que extinguiram a magia. Porém, essa era a única pista que eu consegui, então a seguiria, antes de me deprimir, caso a resposta não fosse satisfatória.


O meu plano de seguir até o meu quarto e convocar o fantasma de Regulus Black pelo medalhão foi abolido assim que Wink me encontrou no meio da subida para o andar superior e me disse que Minerva queria me ver o quanto antes no escritório dela. O que nunca era uma coisa boa.

Desviei o caminho e segui para o escritório da diretora com a ansiedade já corroendo meu interior. De todos os locais do castelo, o escritório da diretora era o que mais me inquietava, exceto talvez, a tumba recém descoberta que visitei em meu sonho tão vívido.

Talvez por aquele escritório ser o mesmo lugar para onde Harry foi tantas vezes convocado pelo diretor Dumbledore enquanto ele o manipulava para se sacrificar por todos, eu não conseguia me sentir à vontade ali. De alguma forma, me sentia intimidada por aquelas paredes circulares e retratos pendurados.

A única visão reconfortante era a da mulher idosa agora sentada do outro lado da mesa abarrotada de papéis e livros. Esperei calada até que Minerva terminasse de ler alguma mensagem na mesa constantemente bagunçada. Apesar dos melhores esforços dos elfos domésticos, a mesa antiga estava sempre um caos, coberta de pergaminhos de correspondências ou frascos e jarros fermentando alguma poção.

Havia dois desses frascos sobre a mesa no momento, propositalmente posicionados para receber a luz do sol que entrava pela janela da torre. Minerva pegou um deles, agitou o conteúdo azul-pálido, franziu a testa e o apoiou de volta na mesa.

— O apuro dessa poção sempre leva duas vezes mais tempo do que planejo. — Disse pensativa. Então, casualmente me perguntou: — Por que acha que isso acontece?

Eu me inclinei para a frente e estudei a poção. Ergui o frasco, segurando-o contra a luz dourada do pôr do sol conforme examinava o líquido espesso e azul.

— Qual é o uso?

— Criança trouxa de dez anos desenvolveu uma tosse seca há seis semanas. Visitou os médicos, que recomendaram remédios tradicionais, chá de mel e descanso. Ela até melhorou por um tempo, mas voltou uma semana depois, e pior.

Eu inclinei o frasco para um lado e depois para o outro.

— A poção pode estar reagindo ao calor. Anda mais quente que o normal. Você poderia colocá-la em uma câmara mais baixa, onde é mais fresco.

— Mas e a luz do sol necessária? — Minerva inquiriu.

— O antigo depósito de ingredientes da sala do professor Snape tem espelhos. Eles capturavam a luz do sol por uma minúscula abertura dois andares acima e concentravam-a nos ingredientes que precisavam de luz solar. Você pode usar o espaço, está vazio agora. A temperatura mais fresca das masmorras e a luz do sol mais concentrada podem acelerar o preparo da poção.

Recebi um aceno de cabeça sutil e satisfeito de Minerva.

— Frequentemente a perspicácia salva mais vidas que a magia. — Foi a resposta dela.

Ela já me disse isso milhares de vezes antes, em geral ao acalmar alguém que achava que estar doente quando a magia era tão escassa, era quase uma sentença de morte. Mesmo assim, fiz uma reverência com a cabeça em agradecimento e devolvi o frasco ao local onde ele estivera antes da minha análise.

— Então… — Disse Minerva, apoiando uma mão sobre a outra na mesa. — Você é uma bruxa nível dez. O Ministro me informou que a acredita pronta para "servir ao Ministério".

Eu enrijeci na cadeira. "Servir ao Ministério" significava sair da equipe de Hogwarts, consequentemente também da de Saint Mungus e fazer algum trabalho que provavelmente apenas Kingsley soubesse do que se tratava. Engoli em seco, tentando, sem sucesso, interpretar a expressão no rosto de Minerva. Fiz uma oração silenciosa para qualquer entidade superior que pudesse me ouvir, antes de responder a ela.

— Sim, nível dez.

— Está pronta para nos deixar? — Ela perguntou, ainda com uma expressão neutra.

— Você sabe que não, Minerva. — Minha voz saiu embargada. O desespero entupindo automaticamente minha garganta.

— Se Kingsley exigir, não há nada que possa ser feito.

Uma única frase, dita com aquela mesma expressão calma e paciente da diretora de Hogwarts. Como se ela não tivesse me dado uma das piores notícias da minha vida. Não respondi nada, só a encarei com os olhos rasos em lágrimas não derramadas.

— Faz quase cinco anos que a magia se foi. — Minerva continuou, enquanto vislumbrava os jardins do castelo, visíveis através da sua janela. — Os fanáticos estão pressionando. Os repórteres continuam como abutres no nosso portão e você é a primeira integrante da equipe a chegar ao nível mágico máximo. Não sei o quanto consigo segurá-la.

Uma das lágrimas que eu segurei, escorreu pela minha bochecha. Eu não tinha forças para limpá-la, chocada demais pelas palavras dela. Minerva deu a volta na mesa, me estendendo um lenço descartável. Tossi, limpando minha garganta, antes de começar a quase lhe implorar.

— De fato, sou uma bruxa nível dez, mas não me sinto pronta.

— Você está. — Minerva sorriu para mim, mas não devolvi. — Embora eu me pergunte se dez é realmente o máximo para uma bruxa excepcional como você.

Eu estremeci quando a lembrança da minha experiência na câmara de nível do Departamento de Mistérios me atingiu. Eu tinha me contido. Eu sei que podia ir além, senti isso até os meus ossos. Mas como Minerva podia imaginar que há algum nível além do dez? Não existe nenhum bruxo com um poder além desse e ninguém estava lá dentro da câmara comigo. Não tem como ela saber sobre o que se passou dentro daquele lugar. Tem?

Decidi desviar sua atenção por um outro caminho, tão interessante quanto esse.

— Eu acho que consegui uma nova pista… mas preciso estar aqui para segui-la.

Minerva me analisou com o olhar.

— Tem a ver com os livros de Durmstrang?

Confirmei com a cabeça, eu não sei se conseguiria omitir dela a parte sobre os fundadores, se eu começasse a falar sobre isso enquanto estava em um estado tão abalado.

— Você pode levá-los com você. — Ela me informou.

Meu coração parou de bater por alguns segundos. Levar? Eu realmente precisaria ir embora?

— Levá-los comigo? — Perguntei trêmula. — Minerva?

Naquele instante, a atenção de Minerva voltou a se deslocar para o horizonte que escurecia.

— Não consigo mantê-la aqui. — Minha orientadora enfim confessou.

Pavor percorreu o meu corpo, começando pela espinha e terminando aninhado no meu estômago.

— Se eu me negar a "servir o Ministério", o que eu me torno? Uma fugitiva? — Perguntei ainda com a voz chorosa do início dessa conversa.

Minerva se empertigou.

— Não se desespere ainda. Eu conversei com Kingsley, e o informei que você está de saída para uma missão.

Eu inclinei minha cabeça, analisando a postura da minha orientadora. Eu nunca saí em missão nenhuma. Aliás, nenhum nascido-trouxa saía. Éramos poucos, nossa magia era essencial aqui, nossas profissões exigiam tudo de nós. Como Minerva tinha conseguido que eu saísse em uma missão quando eu atingi um nível mágico único na Inglaterra?

— Que tipo de missão? — Perguntei com receio.

— Você vai fazer um treinamento mágico intensivo, para ter acesso à Magia Antiga.

Minha mente se revirou. Magia Antiga? Mexer com isso envolvia riscos. Muitos riscos.

— Lembro-me bem de você falando que a Magia Antiga era instável e nesse Novo Mundo não saberíamos como ela se comportaria…

Ela me cortou.

— Eu sei o que falei, Hermione. Mas você tem essa opção ou ir para o Ministério e fazer o que Merlin sabe que Robards queira que você faça. Tem certeza de que quer ser um fantoche nas mãos dele? — Irritação pontuava as palavras de Minerva.

— Não posso mexer com a Magia Antiga Minerva, nenhum nascido-trouxa pode.

— Isso era antes de todos os sangue puros serem reduzidos a nada. Ninguém sabe ao certo como é agora.

— E você quer que eu me arrisque a isso? — Minha voz saiu em um sussurro.

— Eu quero que você treine para acessá-la. Não que a acesse sem nenhum conhecimento. Eu confio que você é a única que pode fazer isso.

Orgulho e culpa subiram pelo meu peito com as palavras dela, mas eu não consegui responder nada. Pasma demais para formular uma resposta.

— Quando todos perderam seus poderes ou metade deles, e você foi alçada ao posto de uma das bruxas mais poderosas desse mundo, eu lhe perguntei o que você queria fazer com esse poder, Hermione. — Continuou Minerva. — Lembra-se do que me disse?

Eu me lembrava, não esqueci nem por um instante.

— Eu disse que queria usá-lo para devolver a magia ao mundo. Que eu faria o oposto do que os fanáticos seguidores de Voldemort fizeram. Eles queriam a magia restrita a eles. Mas eu não me conformaria em fazer parte de uma pequena porção privilegiada de bruxos, enquanto outros sofrem com a extinção dela. Eu disse que buscaria uma forma de libertar a magia.

— E assim você fará. — Determinou Minerva. — Um dia você voltará para Hogwarts e devolverá a magia para todos. Mas, agora, eu lhe peço que parta, não posso segurá-la contra uma exigência do Ministro se ele for pressionado pelos não-mágicos. E algo me diz que você precisa conhecer a Magia Antiga para libertar o que quer que esteja nos privando de usar nossa mágica plenamente.

Suspirei trêmula e tentei uma última vez.

— Por que você não pode enviar outro?

Eu jamais soara tão emburrada, tão… egoísta. Minha orientadora me deu um sorriso pequeno e triste.

— Nenhum deles conseguiria, esse é um treinamento que, mesmo antes, apenas magos excepcionais faziam.

Eu engoli em seco conforme a minha garganta se apertou.

— Você é a nossa esperança, Hermione. E deixá-la ser usada por um Ministério que não vai lhe dar o conhecimento para curar o que nos atormenta por todos esses anos… Qualquer um iria responsabilizá-la caso saiba que você poderia acessar um conhecimento antigo e que pode nos permitir libertar essa maldição e que você optou por não fazer. Eu lamentaria eternamente se ouvisse alguém dizer que você quer a magia apenas ao seu grupo restrito de nascidos trouxas. Eles estariam a comparando com Voldemort. Eu não posso lidar com isso.

Meus lábios estremeceram, mas eu os fechei bem apertados, piscando para conter a ardência nos meus olhos. Minerva estava certa.

— Eu vou. — Aceitei. Minha voz falhando apenas levemente. — Mas eu preciso que você nos consiga alguns dias. Eu realmente preciso seguir uma pista.

Minerva ponderou.

— É justo. Vou conseguir algumas semanas de prazo. — Argumentou ela, em voz baixa.

Eu expirei, trêmula.

— Para onde precisaremos ir?

— Eu não irei. — Ela respondeu e eu levantei meus olhos para ela, surpresa.

— Mas eu pensei… — Deixei as palavras morrerem na minha boca.

— Eu não posso abandonar o programa de Hogwarts. Você entende, suponho. — Ela me respondeu.

— Se você não pode… quem.. quem irá? — Estremeci enquanto aguardava sua resposta.

Ela me olhou com olhos compreensivos, antes de sentenciar o que eu poderia ter imaginado, se não estivesse tão fora do meu próprio eixo.

— Severus.


Desde que Minerva me informou que eu partiria de Hogwarts em breve, minha vida pareceu perder o sentido. Eu não lembro como deixei o escritório dela, nem como dirigi até o apartamento do meu melhor amigo.

Tudo que eu lembro é que o jantar daquela noite foi um desastre. Enquanto Ivan cozinhava, eu chorava no colo de Dean. Não consegui comer, nem beber. Não conseguia nem falar.

Três horas depois, Ivan precisou ligar para Neville e pedir que ele levasse uma poção calmante e uma Dreamless Sleep até o apartamento de Dean, onde eu dormi naquela noite. Acordei melhor na manhã seguinte e consegui finalmente contar para os dois que eu precisaria ir embora. Eles não insistiram em detalhes, cientes demais de que se eu precisasse aprofundar o assunto, me enterraria no mesmo desespero da noite anterior.

Meu abalo psicológico foi ruim em outros sentidos também. Eu não consegui invocar Regulus pelo medalhão e o pavor dentro de mim também não me deixou fazer uma nova descida até a tumba, em busca de respostas que me levassem adiante.

E como se isso não fosse o bastante, pelas próximas duas semanas, a minha vida se tornou um inferno físico e emocional. Qualquer tipo de trégua que eu tivesse formado com Severus, tinha sido abalada pela iminência de nossa partida. Não me surpreendi que após minha conversa com Minerva, ele tenha levado o termo 'treinar-me' a um novo nível totalmente diferente. Era quase como se ele estivesse me punindo por fazer dele a minha 'babá' particular.

Eram diversos absurdos ditos a mim durante o treino. Mas o meu favorito que saiu de sua boca foi "É assimque uma bruxa nível dez lança um feitiço?"

Nunca tive um professor para vir em cima de mim com tal vingança. Exceto, talvez, o próprio Snape, no meu terceiro e quarto ano de escola. Mas, comparado com hoje, ele era um lorde naquela época. Ele encarnou o lema "eu vou te quebrar porque eu posso, Granger" e fez disso um inferno pra mim. Cada dia era pior que o anterior. Minerva não disse nada. Ela me deu um tapinha nas costas e me disse para ficar firme. Mas estava difícil manter minha cabeça no lugar.

No final da primeira semana, Dean foi quem arfou.

— O que você fez com ele? — Ele perguntou após Severus gritar comigo por lançar um patrono corpóreo quando ele pensou que eu deveria ter lançado apenas a névoa prateada da ponta da minha varinha.

Eu não podia dizer a Dean que estava sendo punida porque Minerva achou uma brecha para evitar que eu virasse um fantoche do Ministério e que Snape foi o escalado para me acompanhar nisso. Dean sabia sobre a minha partida, mas não sobre o meu "acompanhante".

— Não faço ideia. — Disse-lhe.

— Você o amaldiçoou pelas costas de novo?

— Não. — Embora eu deseje, pensei.

Dean franziu o rosto, limpando o pescoço com o colarinho da camisa.

— Traga um bolinho para ele então, Mione. Porque isso está ficando fora de controle. Não sei como você ainda não recomeçou a chorar.

Isso é o quanto está ruim. Meu corpo ficava todo tenso antes do treino começar e por horas depois disso. Neville precisou remarcar duas cirurgias delicadas no hospital porque meus dedos não estavam flexíveis o suficiente para segurar minha varinha com precisão. Ele me dava poções calmantes para tentar me tirar do meu modo exausto, mas quase não ajudou.

Até que finalmente tive o suficiente.

— Se você jogar outro desses seus patronos inúteis…

Desliguei a voz de Snape da minha cabeça. Ele estava sendo injusto e todos sabiam. Alguém disse alguma coisa? Claro que não. Ninguém queria ser o único a ser chutado, e eu não conseguia exatamente culpá-los.

Fiquei quieta enquanto Snape e Minerva diziam tudo o que poderia ser melhorado para a exibição próxima com a Castelobruxo. Não me mexi quando meu co-orientador jogou o peso de uma possível derrota no próximo torneio nos meus ombros e assenti com a cabeça quando era suposto. No fundo ele estava certo. Eu era a bruxa mais poderosa, ele podia me culpar por qualquer coisa.

Mas Minerva nunca nomeava alguém diretamente. Em vez disso, iria puxar a pessoa à parte e falar com ela em particular. Mas este fodido...

Eu engoli as merdas dos insultos dele, fazendo cara de paisagem enquanto por dentro eu estava furiosa e tentando me convencer a não fazer algo que me levasse direto para Azkaban.

— Farei o meu melhor, pessoal. — Eu disse em uma voz enganosamente calma, uma vez que Snape tinha acabado seu discurso retórico.

Os rostos de Cho e Dean se deslocaram para mim do semicírculo em que estávamos. Cho parecia prestes a ter uma crise de risos, enquanto Dean estava pensando em como rapidamente ele poderia me segurar, caso eu decidisse que quinze anos em Azkaban não eram assim tanto tempo. Nenhum dos dois disse uma palavra.

Nosso treinamento terminou logo depois disso, deixando uma estranha sensação pegajosa no ar, de que se Hogwarts não se saísse tão bem quanto a Castelobruxo, eu seria a única responsável.

Como uma pessoa sã e racional, peguei minhas coisas e casualmente me preparei para sair. Cho deu um aperto no meu braço quando ela passou por mim, sem dizer nada, mas senti que ela estava dando sua bênção, seu destemor interno. Dean rastejou sobre mim e envolveu seu braço em volta dos meus ombros.

— Hermione, por favor não me faça te visitar em Azkaban. E aquele uniforme listrado de lá vai ficar terrível com o seu tom de pele. Cinza não é a sua cor, confie em mim, eu namoro um estudante de moda.

Somente Dean para me fazer perder o foco. Eu ri e passei um braço em volta da cintura dele.

— Juro que não vou fazer nada violento. — Respondi entre risos.

— Promete?

Confirmei com a cabeça. Ele não pareceu muito convencido, mas eventualmente deixou cair o braço.

— Por favor, prometa, Hermione

Dean me olhou nos olhos quando me implorou. Eu sorri para ele e acenei novamente.

— Eu prometo.

Os olhos dele ainda eram descrentes mas eventualmente ele assentiu com a cabeça.

— Te vejo amanhã?

Garanti a ele que sim, e ele se despediu. O campo de quadribol já estava mais vazio, mas a pessoa que eu estava procurando ainda estava lá. Respirei fundo, acalmei meus nervos e disse a mim mesma que eu estava fazendo a coisa certa. Eu não podia deixar que voltássemos às nossas brigas idiotas de antes e sabia exatamente o que eu precisava fazer para resolvê-lo.

O avistei assim que acabei de enviar uma mensagem a Neville deixando-o saber que eu me atrasaria para o plantão. Ele estava de pé, junto a arquibancada onde eu coloquei fogo em suas vestes uma vez, claramente não estava esperando que eu fosse atrás dele.

— Não posso mais fazer isso com você.

Eu disse de uma vez, cansada demais para agir discretamente. Apenas fiquei ali e o encarei. Eu precisava desabafar. Apontei para o campo atrás de nós.

— Vamos lá.

Severus recuou, o rosto vazio.

— Do que você está falando?

Acenei em direção ao campo com mais insistência.

— Vamos lá. Não vou ser o seu saco de pancadas o resto do tempo. Você e eu, iremos duelar até que alguém vença sete vezes primeiro.

O lábio inferior dele se contorceu e ele piscou, confuso.

— Vamos lá, Snape.

— Absolutamente não.

— Vamos. — Repeti.

— Não.

— Snape. — Acenei para o centro do campo novamente.

— Você está sendo impertinente. — Ele rosnou.

Ok, hora de ser agressiva.

— E você está sendo covarde.

A próxima coisa que eu vi foram os seus ombros endurecerem, e sua boca se tornar uma linha fina. Bem, era exatamente a reação que eu esperava que ele tivesse.

— O que você disse?

— Eu disse que você está sendo covarde. — Repeti. — Vamos lá. Do que você tem medo? Meu nível mágico pode ser mais alto que o seu, mas ambos sabemos que você era excepcional. Eu vi você desviar um feitiço quando nem usava uma varinha, então, vamos pôr um fim nisso. Duele comigo, assim você consegue superar essa merda entre nós dois.

— Não vou duelar com você, pirralha. — Ele afirmou uniformemente, sua mandíbula rangendo.

Pirralha? Eu poderia ter deixado pra lá? Claro que sim. Mas eu não tinha mentido quando disse que não podia continuar com isso por mais tempo. Raiva reprimia tudo o que ele era e as frustrações que ele tirava de mim, mas independentemente, não conseguiríamos manter esta odiosa dança.

— Sim, você vai.

— Não, não vou.

Apertando as mãos juntas, eu estava a dois segundos de puxar minha varinha e forçar uma reação dele. Mas preferi continuar com minha abordagem de palavras.

— Eu sei que eu vou perder, Snape. E eu odeio perder, mas vamos fazer isto de qualquer maneira, apenas para acabar com isso.

Ele levantou as duas mãos para o ar e sussurrou um feitiço que prendeu seu cabelo em um coque na parte de trás da cabeça. Eu o odiei ainda mais naquele momento, por quase me fazer desfalecer em um suspiro. Merlin, Severus de sidecut é absurdamente sexy.

— Não. — Ele rosnou.

— Porquê?

— Porque você é insuportável. — Ele xingou.

Era minha vez de piscar para ele.

— Você acha que eu vou vencer, não é?

Ele revirou os olhos para cima, enquanto suspirava.

— Não há a mínima chance.

Com base no seu tom, eu não tinha certeza se ele realmente pensava assim ou não. Mas eu sabia que eu precisava deixar meu ego de lado e forçá-lo a fazer isso. Alguma parte do meu instinto reconheceu que era necessário, então eu precisava fazer todo o possível para que isto acontecesse. Mesmo que isso significasse irritá-lo ainda mais.

— Não? Então pare de agir como um frouxo e duele comigo.

— Eu não sou frouxo. — Ele deu um passo em frente. — Posso e vou chutar você.

Levantei minhas mãos acima e sorri.

— Eu disse que você ia ganhar, não que você ia me bater.

Aquele olhar que eu reconheci muito bem cruzou suas feições, e sinceramente fiquei dividida entre tremer de medo ou admitir a outra emoção que passou pelo meu corpo. Ele tinha aquele olhar sombrio e penetrante, típico de quando estava irritado. Oh meu Merlin, ele vai limpar o chão comigo. Algo queimou dentro de meu peito, e deixei o fogo da concorrência arder no meu coração.

— Vamos fazer isto.

E nós fizemos. Uma coisa é tê-lo visto duelar com Minerva ou chutar a bunda de Lockhart no meu segundo ano, da segurança de onde eu assistia. Duelar com ele era outra completamente diferente.

Fui rápida e ele foi tão rápido quanto, se não ainda mais. Sua varinha parecia uma extensão do próprio braço, e seus feitiços fluíam com tanta precisão, que era quase impossível desviar deles. Havia uma razão pela qual este homem era um ícone, ele tinha sido o melhor bruxo, o melhor professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, o melhor Mestre em Poções, o melhor espião. E era de longe, o melhor duelista com quem eu já batalhei.

Embora estivesse fascinada, eu não ia deixá-lo vencer sem lutar. Guardei o que sabia sobre ele na parte frontal do meu cérebro, e lancei meus feitiços e escudos tão rápido quanto pude. Eu tentei pensar nele e ser mais inteligente.

Mais tarde, eu gostaria de ter sabido antes se estávamos duelando puramente, ou em uma simulação de batalha, pois ele me encurralou em um ponto e conseguiu encostar a varinha na minha garganta. Ele venceu essa.

— Isso virou uma simulação de batalha? — Eu perguntei quando rolei por baixo do braço dele e enfiei minha varinha na costela direita dele, indicando minha vitória.

Enquanto fazíamos isso, eu notei a respiração curta dele. Aparentemente, me esconder nos obstáculos me daria uma vantagem, afinal, eu era uma pirralha dezenove anos mais jovem que ele.

Ele voltou as costas para minha, para caminharmos os passos do duelo novamente.

— E você já está se lamentando, nível dez?

Bufei. Esse é o novo apelido dele para mim? Idiota.

— Não, mas se é como você quer duelar, então é assim que vai ser.

Corremos um após o outro pelo que parecia uma eternidade. Os obstáculos do treino nos permitia duelarmos ora em campo aberto, ora lançando feitiços e nos protegendo. Suor escorria em meu rosto, braços e parte inferior das costas. Já ele estava realmente respirando difícil, mas era como se eu sentisse que ele estava duelando desleixadamente. Não me menosprezei, eu sabia que era boa, mas Snape, mesmo sendo um bruxo mestiço e que deveria ter pelo menos três níveis mágicos abaixo do meu, de alguma forma, era muito melhor. Era notório.

— Você teve oito oportunidades de me azarar. — Eu suspirei quando demos as costas pela décima vez.

— E você teve três. Se soubesse o que estava fazendo. — Ele sibilou para mim quando começamos a contagem de passos.

— Eu sei o que estou fazendo. — Rosnei quando a contagem acabou e eu me virei para encará-lo com a varinha em riste.

O feitiço dele atingiu meu escudo com força, mas eu consegui segurá-lo. Corri até a arquibancada mais próxima e rolei pela grama quando mais um feitiço passou raspando pela minha orelha direita. Eu não sei como ele se moveu tão rápido, mas em um segundo eu rolava pela grama e no outro eu estava de pé, com o hálito dele no meu ouvido e seu corpo parado bem atrás de mim, varinha novamente no meu ponto de pulsação. Perdi de novo, mas podia ouvir e sentir a exaustão irradiando do corpo dele. Sorri.

— Ficando sem fôlego?

Ele grunhiu, mas não respondeu. Reabrimos a contagem dos passos e em um movimento que foi Severus Snape no auge de seu poder, o feitiço dele atingiu em cheio o meu escudo e o estraçalhou em um piscar de olhos, me derrubando com força no chão. Um segundo feitiço brilhou no ar em um arco poderoso e atingiu propositalmente a grama, um milímetro ao lado da minha cabeça. Uma mira perfeita.

Eu sorri, apesar do fato de que em circunstâncias normais, eu teria ficado irritada por ter perdido de novo. Mas isso tinha sido bonito. E quando Snape pairou sobre mim com um sorriso triunfante e presunçoso que provavelmente eu nunca mais veria, amoleci ainda mais. Aquele sorriso foi direto para meu esterno porque era tão diferente do homem em branco que eu tinha visto tantas vezes ao longo dos anos.

— Só falta um, nível dez. — Ele disse como se eu fosse uma idiota e não soubesse qual era o placar.

Eu consegui vencer nas duas vezes seguintes, e mesmo assim foi um milagre que não tombamos.

— Parece que você precisa de um descanso. — Soltei para ele enquanto ofegava. Quando foi a última vez que eu tinha respirado assim?

Severus estava encharcado de suor, e seu rosto estava um pouco pálido.

— Estou bem.

Bem? Parecia que ele queria vomitar.

— Bem? — Repeti e respirei fundo para me acalmar. Feio, mas funcionava, e meus pulmões agradeceram-me por isso.

Ele revirou os olhos, mas continuou lutando para recuperar o fôlego. Nós realmente duelamos?

— A menos que você queira parar. — Ele soou entre respirações.

Eu queria. Isso foi demais, e eu tinha sido estúpida por me submeter a isso. Mas foda-se se eu iria admitir.

— Sim se você quiser. — Respondi

— Você é quem está perdendo. Não me importo. — Ele soou presunçoso agora.

Dei de ombros para ele e ele levantou as sobrancelhas em troca, mas nenhum de nós disse nada por um tempo.

Apertei os olhos fechados e me deitei na grama para me alongar. Quando terminei, sacudi meus ombros e vi quando ele se levantou e começou a se esticar. Limpei minha garganta e olhei para o céu. Não há necessidade de tornar isto estranho ou dar-lhe uma razão para esfregar sua vitória estúpida na minha cara.

— Bem, eu vou embora agora. Vejo você amanhã.

Eu me virei e comecei a fazer o meu caminho para fora do campo quando ouvi a voz dele gritar.

— Você é uma boa perdedora, Granger!

Comecei a balançar a cabeça enquanto saía e um suspiro escapou dos meus lábios quando percebi que ele tinha usado meu sobrenome.


— Alguém finalmente transou.

Eu franzi o rosto e olhei ao redor.

— Quem? O Filch?

— Hermione! Isso é nojento. — Cho estremeceu. — Não. Você sabe de quem eu estou falando.

Cruzei meus olhos com ela e me concentrei no homem excessivamente agressivo, andando pelo campo, ajudando Flitwick a transfigurar os obstáculos. Isso era normal, exceto pelo fato de que ele realmente estava com uma espécie de sorriso no rosto. Um sorriso que foi direto para o meu peito.

— Olhe para ele. Ele parece feliz. É estranho e errado, não é? — Ela murmurou sob sua respiração.

Era estranho. Inclinando minha cabeça para o lado, eu sentei na arquibancada enquanto eles terminavam a preparação do campo e o assisti por mais um tempo. O sorriso não durou muito, mas havia algo mais diferente em seu rosto, no seu comportamento inteiro. Ele parecia um presunçoso filho da puta. Oh céus.

Meu instinto disse que ele poderia ter descolado uma transa, embora eu não pudesse dizer que o sexo tivesse o poder de fazer uma grande diferença nele, parecia algo além disso.

Aqueles olhos negros escanearam a área ao redor do campo e ele me pegou olhando para ele. Suas pálpebras baixaram e um dos cantos de sua boca mostrou um sorriso que era um quarto do tamanho de um normal. Ele transformou em um sorriso completo um segundo depois. Eu sabia o que ele estava pensando: perdedora.

Esse sorriso disse tudo. Talvez ele até tivesse transado com alguém, e eu realmente não gostava do jeito que isso soava estranho a meus ouvidos, mas eu sabia porque ele estava sorrindo. Porque ele tinha me chutado no dia anterior.

— Não. Ele provavelmente ficou acordado na noite passada fazendo um inventário de seus preciosos ingredientes de poções. — Eu disse sorrindo.

Cho engasgou com a água quando teve uma crise de risos. Dei uma cotovelada nela e fiz um gesto em direção onde estavam os outros membros da equipe e quase não olhei para cima ao passar por Minerva, Severus e Flitwick, mas fui educada.

— Bom dia. — Cumprimentei-os.

— Bom dia. — Respondeu Minerva.

Fillius disse algo que foi provavelmente "dia" e Snape apenas grunhiu. A expressão presunçosa dele cruzou seus olhos, e eu o ignorei quando continuei andando.

Meu ciático doía ao fim da primeira meia hora de prática. Ficou tão ruim que eu comecei a sonhar em entrar na piscina do quarto da Sala Precisa. A cereja do meu bolo de dor aconteceu quando eu passei ao lado de Snape e ele gritou atrás de mim "Planeja correr mais rápido hoje, Granger?"

Não, eu não planejava. Eu estava dolorida e acabada; minhas limitações estavam muito apertadas, meus ombros um pouco doloridos e ainda absurdamente cansada. Ontem tinha sido demais. Mas eu tinha conseguido o que eu tinha a intenção de fazer: tinha feito o idiota parar de falar um monte de merda para mim. Acabei por perder o duelo, mas eu tinha ganho a batalha real.

Eu não deveria ter ficado surpresa quando ouvi uma risada de escárnio ao final do treino.

— Você parecia estar se arrastando hoje.

Empurrando lentamente até os pés da posição agachada em que eu estava, instantaneamente rolei meus olhos para a afirmação de Severus, que estava a alguns pés de distância, transformando um dos obstáculos em uma pedra novamente.

— Oh, eu estou perfeita. É a vantagem de ser jovem. E você? Como se sente?

A boca dele entrou em uma linha reta que disse exatamente quão insatisfeito ele ficou com a minha zombaria.

— Glorioso

Idiota arrogante.

— Ah, mesmo? Eu pensei ter visto você puxando a perna direita um pouco, mas acho que não.

Como se falar sobre o assunto fizesse doer mais, sua perna cedeu ao mesmo tempo em que os olhos dele se estreitaram.

— Minha perna está bem. — Ele respondeu com a voz plana e seca.

Propositadamente, eu olhei de relance para o joelho dele.

— Não parece. — Eu disse, antes de voltar a encará-lo.

E Severus Snape tinha o rosto mais intenso que alguma vez já vi. Seu olhar era sólido e inabalável. Era um olhar exigente que em lutadores parecia perfeito. Por que ele me olha como se eu fosse sua inimiga? Esse olhar daria medo em qualquer um, mas para mim, o brilho daqueles olhos era excitante. Sorri para ele. Eu estava realmente satisfeita comigo mesma.

Suas narinas alargaram em resposta, e continuou a olhar para mim, de cabeça erguida. Ele era todo um idiota orgulhoso. E embora eu tenha gostado de ficar ali de pé, sendo o objeto da análise daquele olhar, eu sabia o quanto era importante para mim fazer algo sobre a minha dor no corpo. Eu deixei meu sorriso crescer mais e, em seguida, dei alguns passos para trás.

— Eu te vejo amanhã, Snape. — Olhei em direção ao joelho direito dele. — Cuide da sua perna.

Ele não deixaria barato minha presunção em dizer-lhe o que fazer, afinal, ele era um mestre em ser igualmente irritante.

— Certifique-se de mergulhar no gelo. Eu não preciso de você sendo inútil novamente no próximo treino, nível dez.

Eu não pude deixar de sorrir quando assenti. Talvez, e esse era um talvez enorme, nós poderíamos nos dar bem.


Notas Finais


Uma pausa nos mistérios, para trazer novidades e interações.

Quarta feira que vem teremos mais surpresas. O que será? Apostas?