Notas do Autor


Disclaimer: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.

Embora à primeira vista esse capítulo pareça só ter coisas sem importância, há fatos importantíssimos para a história "escondidos" nele. Leiam com olhos de águia!


Capítulo 11 - O que ninguém te contou sobre ele


Eu dormi o resto da semana no meu apartamento minúsculo em Hogsmeade. Estava aterrorizada com a "profecia" escrita sob a cama do meu quarto e não sabia o que pensar sobre isso. Minha mente martelava o tempo inteiro sobre as palavras escritas lá e meu instinto me dizia para ir a fundo naquele mistério, mas eu só faria isso quando conseguisse aliados.

Enquanto os procurava, eu preferi mergulhar nas minhas pesquisas de genealogia bruxa e marquei um encontro com Viktor. No próximo final de semana, eu pegaria uma Chave de Portal internacional até a Bulgária e iria discutir com ele pessoalmente sobre a origem da cópia do Diretório Bruxo que Durmstrang recebeu. Mas essa não seria a única viagem internacional que eu faria essa semana.

Na terça feira eu e toda a equipe de Hogwarts embarcamos em outra Chave de Portal, dessa vez para Uganda. Fomos até a Escola de Magia Uagadou para um aprendizado de dois dias sobre Auto-Transfiguração. Minerva estava particularmente animada e contando tudo sobre sua especialização feita lá para qualquer um que quisesse ouvir. Eu fiquei aliviada com essa mudança em nossa rotina e consegui desligar minha mente dos eventos sombrios que estavam me acompanhando ultimamente.

Na volta de nossa viagem, fomos divididos em trios, pois o Ministério Africano usava a magia de forma ainda mais restrita que nós, na Europa. Algumas pesquisas que eles produziram indicavam que se as pessoas viajassem via Chave de Portal com um número limitado de integrantes, gastavam menos energia mágica do que enviar um grupo tão grande todo de uma vez.

Foi assim que me vi no Salão Principal da Uagadou, esperando pela nossa vez de embarcar, o que só seria por volta de três horas mais tarde, já que seríamos o último grupo, e vi uma aglomeração em torno do nosso coorientador. Sim, Severus Snape era famoso até na África, mas não por ter lutado na guerra e ter sido um espião.

Acontece que a Escola de Magia Uagadou é famosa por seus estudos de Alquimia e o fato de Severus ser um exímio mestre em poções, faz dele uma referência sobre transmutação de ingredientes e elementos. Como se não bastasse a fama dele em Hogwarts, havia todo um fascínio por aqui também. Às vezes eu gostaria que Harry não fosse tão afetado por Snape, assim ele podia jogar na cara dele a legião de fãs que ele arrastava pelo mundo. Seria engraçado ver Snape reagir ao ser chamado de celebridade, mas eu não tinha coragem suficiente de dizer nada sobre a multidão em volta dele e não ouvi ninguém dizer nada sobre isso também.

Para ser honesta, eu nem pensava mais no tanto de fama que ele tinha. Desde o jogo de quadribol e as interações agradáveis que o humor seco dele foi capaz de fazer, eu me sentia mais confortável com ele, mesmo que nada tenha mudado enquanto estávamos nos treinamentos em Hogwarts. Ele ainda era o mesmo intragável e implacável Severus Snape sempre que tinha uma chance.

Alguns Aurores africanos estavam por perto, enquanto as pessoas que reconheceram o mestre em poções ficavam na frente dele, olhando-o. Alheio ao seu público ou simplesmente resolvendo fingir que eles não estavam lá, Severus estava olhando fixamente para o chão, como se não tivesse pessoas o tratando como se estivesse num aquário.

Por que ele não estava no escritório do diretor?

Severus olhou em volta com o rosto inexpressivo, mas me pegou assistindo a falta de interação dele e algo se passou entre nós, algo que só meu instinto entendeu. Não sei bem explicar o que foi, mas eu sabia que ele estava olhando ao redor à procura de ajuda para se livrar de todas aquelas pessoas à sua volta.

Eu poderia tê-lo ignorado e devolvido toda a impassividade dele quando me ignorou ao chegar novamente em Hogwarts, mas eu sabia muito bem o quanto somos diferentes nesse quesito. Não é um costume meu fingir que alguém não existe. Droga, nem vingativa eu sei ser.

― Dean, você está com o seu baralho? ― Perguntei ao meu melhor amigo.

Ao meu lado, enquanto tomava um gole de chá, ele assentiu com a cabeça.

― Sempre.

― Você está pronto para fazer sua boa ação do dia? ― Perguntei a ele, sabendo muito bem qual seria a resposta.

― Obviamente. ― Dean respondeu. ― O que vamos fazer?

― Vamos perguntar se Snape quer jogar.

Seus olhos escuros piscaram uma vez, quando ele me encarou. ― Vamos?

― Sim. ― Confirmei.

Dean levou um segundo para me acompanhar quando eu fiz o meu caminho para o homem solitário, mas me seguiu, sem nenhum questionamento. Severus olhou para cima quando eu me sentei na cadeira à esquerda dele e Dean pegou o assento do meu outro lado. Ele ergueu uma única sobrancelha como se não tivesse certeza do que estava acontecendo e estivesse indeciso se era ou não uma coisa boa que dois dos seus orientandos estivessem sentando-se ao redor dele.

Dean passou o baralho de cartas para mim num movimento tão sorrateiro que parecia que o pacotinho estava comigo o tempo inteiro. Não me escapou que a multidão de fãs estava nos observando, mas mantive minha atenção em Severus o tempo todo, vendo como seus olhos passavam das cartas para o meu rosto e depois de volta para elas. Parte de mim esperava que ele dissesse não, mas ele não o fez.

― Eu não jogo há muito tempo. ― Ele finalmente disse em voz baixa.

Dean sorriu.

― Ótimo, assim venceremos você mais facilmente. — Dean caçoou.

Eu abafei uma risada quando Severus bufou. E foi isso. Pelas próximas três horas, nós três jogamos blackjack, com um pequeno grupo de fãs dele nos assistindo. Era estranho estar sendo observada, então não pude deixar de olhar para cima muitas vezes e sorrir para as pessoas ao redor, porque eu não sabia mais o que fazer.

Horas mais tarde, quando eu já estava lendo no meu quarto e pronta para dormir, recebi uma coruja de Harry, com a edição extra do profeta diário e uma nota que dizia "você está famosa". Havia fotos minhas e de Dean sentados com Severus, rindo durante uma das nossas partidas, provavelmente a que Severus nos humilhou na primeira jogada. Alguém tinha enviado a foto para Rita Skeeter e ela tinha dado o seu toque na legenda: "pelo que me consta, qualquer um dos dois pode estar querendo dormir com o professor."


No dia seguinte, Severus me puxou de lado logo após uma sessão de transfigurações. Nós raramente nos falamos durante os treinamentos, a não ser ele me chamando de diferentes sinônimos de lento, ou me perguntando se eu tinha mesmo certeza que estava no nível dez de magia. Sorte que eu não levava mais para o lado pessoal. Eu sei que Severus foi sincero comigo quando ofereceu sua ajuda naquela noite na biblioteca. E sou adulta o suficiente para não pensar muito profundamente nesta estranha amizade que estamos plantando.

― Você vai jogar novamente hoje à noite? ― Ele sussurrou a pergunta.

Mantive meus olhos para a frente, mesmo que quisesse olhar para ele.

― Estou pensando sobre isso. ― Fiz uma pausa. ― Você quer ir?

― Sim. ― Ele respondeu rapidamente. ― Mesma hora e local?

― Sim. ― Respondi e acenei para Cho, que passou por nós enquanto levantava uma das sobrancelhas dela. ― Certo, irei então. Vou esperar por você no mesmo lugar.

Severus resmungou seu acordo e ambos seguimos para nossos próprios caminhos. Não pude deixar de pensar sobre o fato de que ele queria ir jogar de novo o quadribol recreativo dentre todas as outras coisas que poderia fazer.

Então me lembrei: Severus Snape queria jogar comigo. E mais uma vez foi ele quem pediu. Eu tive tanta coisa na minha cabeça na última semana que não estava prestando atenção ao fato de que eu tinha o telefone dele e sim, parecemos ser colegas civilizados agora. Um repórter puxou bruscamente o meu braço no caminho para fora do castelo.

― Granger!

Eu me soltei de sua mão e me virei. Um homem não muito mais velho do que eu estava parado sob a sombra, um gravador de fita claramente visível numa mão. Foi estranho, os repórteres normalmente vinham antes do treino, ninguém nunca ficou depois.

― Olá. ― Disse ele. ― Tenho algumas perguntas para você.

― Você não precisava ter puxado o meu braço para isso.

Ele murmurou um pedido de desculpas, logo antes de emendar com as perguntas que queria fazer, não me deixando tempo para recusá-las. As duas primeiras perguntas foram normais, até finalmente acontecer.

― O que você acha sobre os rumores circulantes de que Severus Snape tem um problema com bebida?

O quê? Eu tentei rapidamente lembrar sobre as orientações de Vector em situações como esta: você nunca pode hesitar quando os jornalistas fazem esse tipo de pergunta. Jamais deixe que eles a vejam titubear. E ultimamente, passei a gostar ainda mais de Severus. Passei de adolescente encantada pelo professor para a única bruxa capaz de duelar com ele. Mantemos um companheirismo frágil, eu não vou responder essa pergunta com qualquer coisa que possa quebrar isso.

― Acho que ele é um instrutor fantástico e que os rumores não são da minha conta. ― Respondi sucinta.

― Ele já lhe deu a impressão de que poderia beber excessivamente? ― O repórter perguntou rapidamente.

Permiti-me piscar para ele em descrença.

― Desculpe-me, mas você está me deixando desconfortável. A única coisa que Snape faz excessivamente é empurrar-nos a melhorar nos treinamentos, da melhor forma que ele consiga. ― Tudo bem que Severus às vezes faz isso debochando de nós como se fossemos a escória da terra, mas era definitivamente o seu método de trabalho, já estávamos acostumados com isso. ― E gosto dele. Como bruxo e como orientador. Ele é um dos heróis da nossa geração e é uma boa pessoa. Todos sabemos sobre os erros no seu passado, mas não poderíamos nos importar menos. Eu o conheço e o respeito agora mais do que nunca. E, para mim, isso é tudo que importa.

― Então, você não está confirmando nem negando que pode haver uma chance dele ser alcoólatra? ― O inconveniente repórter jogou de novo.

― Você conhece ele? Sabe o que ele fez? Ele foi um espião por anos, mentiu para o próprio Voldemort. Ninguém pode fazer isso sem ter uma autodisciplina extrema. ― Eu disse já com irritação no tom. ― Responderei com prazer a qualquer pergunta que você faça sobre nossos próximos passos em busca da cura mágica, ou apenas sobre qualquer outra coisa relacionada a Hogwarts, mas não vou falar mal ou espalhar boatos sobre alguém que valorizo e respeito quando não tenho razões para isso.

O repórter não pareceu acreditar em mim, mas felizmente eu o frustrei o suficiente para que ele olhasse em volta em busca de outra "vítima".

― Obrigado por responder minhas perguntas. ― Ele disse, não exatamente grato.

Mas o que ele esperava? Que eu confirmasse os rumores sobre Severus? Esse homem já teve julgamentos demais no passado. Foram inúmeras acusações de traição, assaninato, injustiças. Desde o final do meu primeiro ano em Hogwarts, jurei a mim mesma que nunca mais seria esse tipo de pessoa. Eu sei que Severus tem mesmo um problema com álcool, mas onde isso é da minha conta? Ou da conta da imprensa?


O bruxo em questão estava me esperando no estacionamento quando cheguei naquela noite e eu ainda não tinha decidido se devia ou não falar pra ele sobre o jornalista me fazendo perguntas depois do treino. Mas apenas um minuto depois, assim que nos cumprimentamos na calçada, meu cérebro havia escolhido por mim. Mal tínhamos dado três passos quando eu deixei escapar.

― Havia um jornalista perguntando sobre um suposto problema com bebidas. ― Ambos sabíamos que não era tão suposto, mas eu também não queria basear minha opinião pela única experiência de resgatá-lo bêbado de um bar, embora não conseguisse esquecer isso.

― Quem? ― Ele perguntou e eu disse o nome do homem. ― Qual foi a pergunta?

Palavra por palavra, repeti o que ele tinha perguntado.

― Eu não violei sua confiança ou sua imagem de qualquer maneira. ― Completei.

Os olhos dele encararam os meus.

― Eu conheço você. Sei que não faria isso. ― Severus respondeu.

Meu peito aqueceu instantaneamente, até meu cérebro me lembrar que nada nunca foi tão simples com Severus Snape, o que fez essa fácil aceitação dele me deixar insegura.

― Ok. ― Hesitei.

Ele deu um pequeno aceno curto de acordo

― Obrigado, Granger.

Houve uma parte dessa declaração que me fez tropeçar, pelo menos mentalmente: a palavra "Obrigado''. Meu rosto ficou quente de repente com sua gratidão e o elogio implícito que ele me fez. Eu sabia reconhecer o que ele tinha me entregue com essa palavra: sua confiança, ou pelo menos algo perto disso. O que você diz depois disso? Não consegui pensar em nada inteligente que não acabasse comigo sorrindo como uma idiota depois, então eu mantive meu olhar em outro lugar quando nos aproximamos do campo.

― Você voltou! ― Neville cumprimentou-nos, seus olhos piscando imediatamente em direção a Severus, com aquela mesma expressão de reconhecimento de antes.

― Você sabe que eu não gosto de perder. ― Respondi com um sorriso. ― Neville, Prince, novamente, caso vocês não se lembrem. Há espaço para nós dois?

― Sim, mas tenho certeza que ninguém vai concordar em deixar os dois no mesmo time. ― Neville jogou o braço sobre meus ombros. ― E eu quero estar no time vencedor desta vez.

Eu gemi e tentei bater com o cotovelo nas suas costelas.

― Traidor. ― Sussurrei para ele, antes de me juntar a Ivan e começarmos as escalações.

Devidamente escolhidos para duas equipes separadas, um olhar passou entre Severus e eu, carregado com uma mistura de desafio e diversão.

Estávamos na partida desempate quando aconteceu. Eu era goleira nesse tempo e não esperava por um balaço rebatido em minha direção. A bola já estava a dois segundos de mim quando o assobio dela cortando o vento me alertou, e embora fosse tarde demais, tentei me esquivar, mas ele acertou em cheio meu braço direito e eu uivei antes de desabar no campo. Uma nuvem gigante de ar escapou da minha boca e a dor inflamou-se através do meu pulso e antebraço.

― Foi sem querer! ― Ouvi alguém gritar.

― Você é cego? Você atacou a goleira! ― Outra voz rugiu.

Mãos seguraram meu pulso e olhei para o céu enquanto me controlava o suficiente para respirar através da dor e tentava me convencer de que estava bem. Alguns dos jogadores continuavam discutindo sobre a falta, mas eu não me concentrei o suficiente no que eles falavam.

― Vai viver?

Expirando pelo nariz, olhei para cima para ver Severus em pé na minha frente, com expressão ilegível e lábio inferior puxado em uma fina linha reta.

― Vou ficar bem. ― Respondi, embora não soasse nem um pouco convincente. Eu estava preocupada, era a minha mão da varinha.

Da forma que as sobrancelhas dele se enrugaram, ele também não acreditou.

― Movimente o pulso. ― Ele ordenou.

― Em um minuto. ― Funguei.

― Movimente. ― Ele repetiu, mas ainda não mexi minha mão. Como curandeira, eu sabia que deveria, mas não queria. ― Agora, Granger.

Dei-lhe um olhar que disse o quanto eu não gostava dele mandando em mim, mas movimentei o meu pulso de qualquer forma, cautelosamente. Gemi e funguei de novo quando outra onda de dor atingiu a região.

― Terminou pra você. ― Ele ordenou.

Sim, eu sabia. Eu precisava colocar gelo imediatamente porque não havia nenhuma possibilidade de me auto-curar com a mão errada da varinha. A dor inebriava meus sentidos e seria provável que a energia que eu usasse para me curar piorasse mais o dano, já que faria magia com a minha mão não dominante.

Neville e Ivan me olhavam preocupados.

― Não se preocupem, vou no Saint Mungus arrumar isso. Eu telefono mais tarde. ― Os tranquilizei.

Eles assentiram com a cabeça.

― Tem certeza de que está bem? ― Neville adicionou.

Com um aceno rápido para eles e um adeus murmurado para as pessoas que eu conhecia, me ergui e fui seguindo lentamente dois passos atrás de Severus. Ele não parou ou se virou para certificar-se de que eu seguia atrás dele; só foi em direção ao estacionamento e seguiu para seu carro. No tempo que levei para andar o resto do caminho em direção aonde ele estava, ele tinha pego dois pequenos sacos brancos e apontou para o banco da calçada.

― Sente-se. ― Eu tentei ver o que ele estava segurando, enquanto estava me sentando obedientemente. ― Levante a manga. ― Ele continuou a mandar em mim e eu não lutei contra ele, percebendo que ele tinha dois pacotes de gelo empilhados juntos em uma mão.

Severus me entregou um dos pacotes antes de se sentar ao meu lado. Levantei minha manga o suficiente e coloquei o material de pano frio na área afetada pelo balaço. Severus dobrou seu corpo para que sua perna ficasse parcialmente apoiada no canto do assento e colocou o pacote em cima do próprio joelho. Comecei a rir e ele levantou uma sobrancelha.

― Qual a graça, Granger?

― Olhe para nós. ― Eu ri ainda mais antes de me controlar o suficiente para completar. ― Estamos destruídos. ― Um pequeno sorriso saiu de seu rosto quando ele olhou para o meu braço e depois a própria perna. ― E por que você tem pacotes de gelo no seu carro de qualquer maneira?

― É uma varinha o que tenho no carro, Granger. Ainda sou um bruxo, se estiver lembrada.

― Você os conjurou, então?

― Se eu quiser andar amanhã, preciso conjurar gelo imediatamente após o jogo. ― Houve uma breve pausa antes dele acrescentar: ― Se você contar a alguém...

― Você vai me arruinar, eu sei. Entendi. ― Respondi com um sorriso. ― Se você contar à Minerva sobre isso, eu vou matar você, então eu acho que estamos quites, certo?

Sua expressão ficou séria.

― Não direi uma palavra. ― Não respondi e ele deve ter pensado que eu não acreditei porque continuou. ― Se você for vetada da equipe de Hogwarts, não terei com quem duelar.

Meu pequeno coração embrulhou esse comentário em filme plástico para preservá-lo para sempre.

― Que tal a própria Minerva? ― Ofereci.

Ele atirou-me um olhar.

― Uma vez foi o suficiente.

― Você não duelou com ela depois… Quando voltou para Hogwarts? ― Eu estava presente quando Minerva e Severus duelaram no Salão Principal da escola, na época que ele era o diretor e todos tinham certeza de que ele estava do lado oposto da guerra.

― Você gostaria de reviver os momentos ruins daquela batalha? ― Era uma pergunta retórica, por isso fiquei em silêncio. ― Imagino que um duelo entre nós poderia despertar memórias nela também. ― Ele explicou.

Oh. Eu fiz uma careta e ele assentiu. Lutei com a pergunta que estava morando no meu cérebro desde a primeira vez que ele me pediu para duelar, mas então decidi. Por que não? E se eu nunca tivesse essa chance novamente?

― Eu me perguntei por que você me chamou e não qualquer outra pessoa.

Ele sentou-se contra o banco e ajustou o saco de gelo sobre o joelho, sua constante atenção e suas palavras cuidadosas.

― Você duela como eu gosto. Não desiste até que seja o fim. ― Respondeu sinceramente.

― Você não me disse hoje em Hogwarts que eu penso demais antes de reagir? — Indaguei.

― Sim. Você reage melhor quando segue seus instintos e não a cabeça, Granger.

Isso foi um elogio? Eu achei que poderia ser.

― Que tal Hooch, então? Eu pensei que vocês fossem amigos.

Severus Snape deu-me outro olhar. Sim, eu estava curiosa e não, eu não pediria desculpas por isso.

― A mulher dela e eu nos conhecemos há muito tempo. Cursamos Hogwarts juntos. Mas não gosto do estilo de duelos de Hooch, então não a chamaria para um.

Acenei em compreensão. Severus apenas piscou os olhos para mim.

― Eu nunca agradeci pelo que você fez naquela noite no Hotel. A maioria das pessoas teria agido de forma diferente. Eu… ― Seus olhos se moveram para mim, me avaliando. ― Apreciei muito.

― Você é da equipe. ― Respondi, embora agora que estávamos conversando sobre o tema eu queria perguntar por que ele ficou bêbado em um lugar público. Mas provavelmente era um pouco cedo demais para uma pergunta tão íntima. Então mantive minha boca fechada. Tentei girar o meu pulso novamente, mas suspirei de dor. ― E obrigada pelo gelo. Vou até Saint Mungus pedir para que alguém me cure. Espero que amanhã eu possa empunhar minha varinha.

― Você vai. ― Ele ordenou.

Ele vai continuar me dizendo o que fazer o tempo todo?

― Você vai agir como orientador comigo mesmo quando não estivermos em Hogwarts?

Ele nem piscou antes de responder.

― Sim.


Papoula Pomfrey, agora curandeira chefe em Saint Mungus, foi quem me atendeu. Os exames que mostraram quantos ligamentos se romperam e a fratura no meu rádio nos deixou preocupadas o suficiente para que ela me pusesse de licença, tanto de Hogwarts quanto do próprio hospital pelo resto da semana. Aproveitei minha folga forçada e antecipei para a quinta-feira a minha chave de portal para a Bulgária.

Viktor estava fora da cidade e só retornaria na noite da sexta, então aproveitei os dois dias no castelo de Durmstrang para visitar a biblioteca deles. A grande vantagem da biblioteca búlgara sobre a de Hogwarts é que os textos de artes das trevas são liberados aqui. Rastreando os títulos sobre maldições que tinham como foco minar a magia dos bruxos atingidos, me acomodei em uma das poltronas próxima à grande janela com uma vista espetacular das montanhas cobertas de neve dos arredores do castelo e me envolvi na leitura.

Eu tentei cruzar algumas dessas informações com os nomes das famílias que anotei das árvores genealógicas bruxas. Quando não consegui juntar nenhum ponto em comum com os feitiços e integrantes, eu peguei mais um livro de famílias, deixando de lado os "sagrados vinte e oito" e focando em examinar as árvores genealógicas de famílias não tão tradicionais quanto as escritas lá. Uma centena de páginas depois, quando meus olhos já estavam nublados de ler tantos nomes, fiz uma descoberta que não havia passado pela minha cabeça em nenhum momento, mesmo que eu tivesse lido sobre o casamento dela com um trouxa anos atrás, quando eu ainda era aluna em Hogwarts: Eileen Prince foi queimada da tapeçaria da família dela.


Na sexta-feira, eu já estava na cama quando Viktor entrou no quarto, silencioso como um cervo. Ergui a cabeça, me dirigindo à varinha sobre a mesa de cabeceira, mas relaxei quando vi os ombros largos mesmo que a luz das velas do corredor apenas delineasse a pele pálida dele enquanto escondia o rosto dele nas sombras.

— Você está acordada, Hermionini? — Murmurou ele.

Eu conseguia ouvir o cansaço em sua voz. Ele estava fora do castelo em uma missão e sua chegada era prevista até a hora do jantar, mas algo deve tê-lo atrasado se só agora ele chegou aqui.

— Não consegui dormir. — Falei, observando os músculos de Viktor se contraírem conforme ele se dirigia ao banheiro.

Eu tentava dormir havia uma hora, mas sempre que fechava os olhos, meu corpo travava e as lembranças da noite em que encontrei as runas sob a minha cama no castelo de Hogwarts enchiam a minha cabeça. Mesmo a milhares de quilômetros de distância de lá, aquela frase atormentava a minha mente, junto com a frase de Regulus que me mandava olhar lá fora. E ainda o fato de que eu teria que falar com Severus sobre estar rastreando bruxos queimados de tapeçaria, sendo a mãe dele, uma delas.

Eu me recostei nos travesseiros, ouvindo os ruídos constantes e eficientes dele se arrumando para deitar. Eu e Viktor Krum tínhamos um histórico de algumas noites passadas juntos, mesmo sem nunca termos assumido nenhum compromisso e, embora fizesse muito tempo desde a última vez, eu me sentia à vontade com ele. Ter essa noite com ele seria a distração perfeita que eu preciso.

Ele saiu do banheiro apenas com a peça íntima e eu me apoiei nos cotovelos para observar enquanto ele parava na beira da cama. Minha atenção foi imediatamente para seus dedos fortes e habilidosos quando ele puxou a peça para baixo e expôs toda a sua extensão. Percorri seu tronco com o olhar e sorri ao encontrar seus olhos.

— Venha aqui. — Ele grunhiu, a voz tão áspera e o sotaque tão carregado que as palavras eram quase indiscerníveis.

Ele sibilou quando afastei os cobertores, revelando a camisola fina que eu vestia e sua expressão se tornou voraz quando engatinhei pela cama e levantei o corpo, me apoiando sobre os joelhos. Segurei o rosto dele com as mãos, a pele pálida dele estava quente sob o meu toque e seus olhos eram duas espirais negras nubladas de desejo.

— Faz tanto tempo. — Viktor sussurrou quando suas mãos roçaram meus quadris e enlaçaram minha cintura, me prendendo no lugar enquanto ele abaixava a cabeça e capturava a minha boca na dele.

O toque de sua língua contra a borda de meus lábios fez com que eu abrisse a minha boca para ele e ele a invadiu, expressando com esse beijo, toda a saudade que sentia. Gemi no beijo quando as mãos dele se moveram — uma segurou minha bunda em concha, a outra deslizou entre nós. Sua língua entrou ainda mais profundamente na minha boca ao mesmo tempo em que ele percorreu o dedo para baixo e minhas costas arquearam quando ele me tocou lá.

— Hermionini. — Disse ele contra a minha boca e eu senti o mesmo arrepio na pele de quando ele me beijou pela primeira vez, anos atrás.

O meu nome naquele sotaque e voz profunda era como um chamado para me entregar ao desejo. A língua de Viktor percorreu minha boca de novo, no mesmo ritmo que o dedo dele deslizava para dentro de mim. Meu quadril ondulou, exigindo e desejando muito mais dele do que só aquele dígito. A palma de sua mão pressionou meu feixe de nervos e meus joelhos quase cederam quando gemi o nome dele e pedi que, por favor, ele parasse de brincar comigo. Fui deitada na cama e Viktor ergueu o corpo sobre o meu. Ainda sem me tomar do jeito que eu queria, ele abaixou a cabeça até meu seio e roçou os dentes sobre o meu mamilo. Cravei as unhas em suas costas e abri os joelhos a sua volta, acomodando-o entre eles. Viktor roçou os lábios contra meu maxilar, meu pescoço e finalmente a minha boca de novo. Segurando um dos meus mamilos, ele o roçou com o polegar ao mesmo tempo em que se enterrava em mim com um movimento suave.

Os músculos das costas dele flexionaram sob minhas mãos quando se afastou alguns centímetros e a seguir se impulsionou novamente contra mim. Eu suspirava cada vez que o corpo dele se movia, e quando a onda do orgasmo inundou as minhas veias eu gemi alto o nome dele. O prazer de Viktor imediatamente o encontrou e agarrei-o durante cada onda de tremor, saboreando seu peso e a sensação de sua pele contra a minha.

Por um tempo, apenas os sussurros de nossas respirações tomaram conta do quarto. Até que Viktor se afastou e esticou-se de lado, apoiando a cabeça no punho e traçando círculos distraídos em minha barriga.

— Desculpe pelo atraso. — Murmurou ele.

— Tudo bem. — Sussurrei.

Os dedos dele desceram, fazendo um círculo em meu umbigo.

— Você continua linda, Hermionini. Continua perfeita para mim. — Ele suspirou.

— Eu adoro quando você diz isso. — Sorri para ele. — O que você estava fazendo em Sófia?

A expressão dele endureceu.

— Estava visitando alguns parentes. Há rumores sobre uma caça a algumas famílias bruxas que apóiam as pesquisas dos que mantiveram a magia.

Eu engoli em seco e deslizei os dedos pelo couro cabeludo dele quando ele deitou a cabeça no meu peito.

— Houve um ataque desses na Inglaterra. — Comentei.

Senti seus músculos endurecerem ainda mais quando a tensão o alcançou. Alguns minutos se passaram, até que ele respirou fundo para se acalmar e então inclinou o corpo e me beijou entre os meus seios.

— É por isso que você veio até aqui? — Ele murmurou.

— Eu viria de qualquer forma. Mas sim, também queria alertá-lo sobre os rebeldes.

Ficamos em silêncio por um tempo e Viktor retomou os círculos distraídos no meu ventre.

— Em breve você conseguirá com que tudo fique bem e deixaremos tudo isso para trás. — A esperança na voz dele era tão palpável, que eu me senti oprimida por ser a pessoa a quem era direcionado este sentimento.

— Eu quero que você me mostre o porquê decidiu me alertar sobre os bruxos que faltam nas árvores genealógicas. Sinto que é o caminho a tomar. — Me ouvi falar enquanto me concentrava nos dedos que viajavam sobre a minha pele e roçavam o meu umbigo.

— Você o visitou? — Perguntou ele, mas sua língua contra o meu mamilo me fez contorcer o corpo.

— Hum? Visitei quem? — Murmurei.

— Malfoy. Você o visitou? — Viktor perguntou.

— Malfoy? O que Malfoy tem a ver com o Diretório Bruxo? — Questionei confusa.

Viktor ergueu a cabeça por tempo suficiente para me olhar.

— Você não está rastreando as pessoas que desapareceram das tapeçarias, Hermionini? — Foi a vez de Viktor parecer confuso.

— Sim, estou. — Confirmei.

— Então, você foi visitá-lo?

Antes que eu pudesse responder, Viktor mordiscou de novo o meu mamilo, lambendo-o em seguida. Seus dedos deslizaram até o meio das minhas pernas e ele traçou círculos provocantes na umidade deixada lá pela essência de nós dois, misturadas.

— Não. — Respondi, com um arquejo. — Porque devo visitar Lucius Malfoy…? — Aqueles malditos dedos... — Nós nunca tivemos uma boa relação.

— Não Lucius. — Disse Viktor contra minha pele, posicionando-se sobre mim de novo e descendo por meu corpo, deixando beijos conforme seguia. — Draco.

Viktor deslizou o nariz pela minha pele, deixando um beijo quente no meu ventre antes de agarrar minhas coxas para abrir minhas pernas e abaixar a boca até lá.

— Draco? Eu não o vejo desde a batalha final. Mas ainda estou confusa sobre porque devo visitá-lo.

O calor, o toque... Tudo parou. Viktor ergueu o olhar de entre minhas pernas e eu quase o implorei para que voltasse lá, mesmo que estivéssemos conversando enquanto ele me acariciava. Ele beijou o interior da minha coxa.

— Malfoy foi apagado da tapeçaria da família. Eu pensei que você tinha visto todas as árvores com atenção. — Não era uma acusação, Viktor parecia confuso por eu ter deixado algo tão importante passar despercebido.

— Eu acho que não cheguei aos membros tão recentes… Mas porque Draco Malfoy foi apagado da tapeçaria da família se todos os Malfoys mudaram de lado antes do fim da batalha? — Questionei, tão confusa quanto Viktor, embora por motivos diferentes. — A mãe do Draco mentiu para Voldemort e ajudou Harry, foi por isso que nenhum deles foi julgado ou preso após o fim da guerra.

— Eu não sei os detalhes, Hermionini, não é como se Draco e eu fôssemos amigos. — Viktor respondeu, abandonando qualquer sexo que fôssemos retomar na cama e se aconchegando ao meu lado de novo.

— Mas você tem certeza de que ele foi apagado da tapeçaria? — Questionei.

— Sim, eu tenho. A linhagem da família termina em Lucius. — Viktor confirmou.

— Isso é estranho. Você sabe o motivo? — Perguntei de novo.

— Só rumores. — Ele fez uma pausa antes de começar a história. — Quando trocamos cartas, no seu sexto anos em Hogwarts, você lembra que eu lhe disse que fui sondado por alguns comensais da morte para me juntar a eles? — Confirmei com a cabeça e Viktor continuou. — Eu fui a uma festa na mansão Malfoy. Acontece que Draco estava lá, era um dos feriados em que os alunos iam para casa. Ele me pediu ajuda para acobertá-lo em uma saída, disse que era importante. Ele quase me implorou para ir com ele. Só depois eu soube o quanto de pressão ele estava sofrendo naquela época.

— Era a missão de matar Dumbledore. O Harry desconfiava dele nessa mesma época. — Completei.

— O fato é que eu aceitei e fui com ele até a vila trouxa, perto do povoado da escola de vocês. — Viktor continuou.

— Hogsmeade? — Perguntei e ele confirmou com a cabeça, continuando a história.

— Não acho que a garota soubesse sobre magia, Draco me orientou a não usar a varinha na frente dela, alegando que havia a lei do sigilo, que impedia magia na frente de trouxas, mas eu soube no mesmo instante que ele apenas queria ocultar o que éramos. — Viktor estremeceu quase imperceptivelmente. — Também ficou claro para mim que os dois estavam apaixonados.

— Draco? Apaixonado por uma trouxa? — Perguntei, surpresa.

— Eu também fiquei surpreso. — Viktor me abraçou com mais força. — Não que isso importe para mim, mas você sabe que os bruxos sangues puros tinham tradições e expectativas que deviam atender. Especialmente Draco. Estamos falando de duas das linhagens bruxas mais antigas. — Viktor continuou. — Quando fui naquele casamento que nos reencontramos, eu fiquei hospedado no mesmo povoado trouxa. Voltei para lá correndo quando os comensais da morte invadiram a festa e eu vi Draco. Ele estava com a mesma garota. Esses são os fatos. — Ele fez uma pausa. — O que eu vou contar a partir de agora são rumores, mas eu não duvido que sejam sobre um evento real. Um evento horrível e brutal.

Nossos olhares se encontraram. Um músculo se contraiu no maxilar de Viktor.

— Não me peça para repetir sobre isso. — Ele sussurrou, o rosto empalidecendo.

— Eu prometo, Viktor. — Sussurrei de volta, beijando o nariz dele e acalmando-o sobre o que quer que ele fosse me contar.

— Draco Malfoy foi apagado da tapeçaria porque descobriram sobre o romance dele. Dizem que... — Viktor limpou a garganta para clarear sua voz. — Dizem que Draco Malfoy foi forçado a assistir enquanto sua tia assassinou a garota trouxa com quem ele se envolveu. — Meu coração se apertou por Draco... Pela dor que provavelmente o assombrou. — Eu sei que ele a amava, senti isso quando fui com ele ao povoado. Então, não consigo imaginar ser obrigado a assistir o assassinato de uma pessoa que eu ame. E eu entendo porque ele desapareceu após a batalha. A mulher que ele amava foi morta por bruxos e a magia nem existia mais, pelo menos, não na família dele. Se fosse comigo, eu jamais esqueceria. Nunca mais iria querer contato com esse mundo.

Meus olhos ardiam. Eu não tinha palavras na mente, no coração. Eu sabia que Draco foi atormentado pela família durante sua adolescência inteira, mas eu não imaginava que ele tivesse sofrido uma atrocidade dessas. Eu me sentia desolada só em ouvir falar sobre essa história, não podia imaginar o que foi para ele sentir tudo isso.

Viktor olhou para mim e deve ter visto o assombro em meu olhar, porque ele beijou o topo da minha cabeça e me abraçou mais forte.

— Tente dormir, Hermionini. E depois vá visitá-lo. Seja por um motivo, ou pelo outro. — Ele sussurrou.

Eu concordei com Viktor, mas demorei muito tempo para conseguir ignorar o aperto no meu peito e pregar os meus olhos.


Notas Finais


Por favor, não me matem por um sexo escrito com um homem que não seja nosso Severus. Mas todo mundo merece uma distração, não é? Nada sério. A cena de sexo nem estava prevista, mas o próprio ator que deu vida ao Viktor Krum foi o culpado por isso.

Agradeço a Marcela Gomes pela consultoria ao livro cálice de fogo, o que fez com que a descrição do personagem saísse canônica. Obrigada, amiga. Bjs.