Notas do Autor


ATENÇÃO! GATILHO: Há menção a tortura neste capítulo.

Disclaimer: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.


Capítulo 14 - Sob a Luz do Escorpião


A primeira coisa que notei foi que ele parecia mais velho — um pensamento que achei idiota porque, claro, ele fez. Ambos éramos adultos agora, não mais crianças assustadas e em lados opostos de uma guerra. Ele ainda parecia elegante, algo que provavelmente nunca mudaria. Foi estranhamente reconfortante saber que, embora algumas coisas terríveis tivessem nos mudado, ainda havia algo constante na nossa natureza.

Minhas lembranças dele, da nossa época em Hogwarts, haviam me feito criar uma imagem detalhada na minha cabeça de como ele deveria ser: magro, pálido e com escárnio estampado nos frios olhos cinzentos, além de usar o cabelo comprido, tal qual o pai que ele sempre tentou imitar. Mas a versão real de Draco não estava nem perto disso. Não que ele alguma vez na vida tenha sido descrito como feio, fato que não mudou nesses quatro anos. Mas a passagem do tempo só serviu para torná-lo ainda mais esteticamente atraente, o que era um pensamento tão frívolo que o rejeitei instantaneamente.

Draco era mais alto do que me lembrava, ainda magro e pálido sim, mas não da maneira oca e quase translúcida de quando tinha vivido através do inferno de ter Voldemort como um convidado assassino em sua casa. O tempo, e um pouco de pelos faciais, tinha apagado qualquer traço infantil em suas feições, mas de um modo não tão refinado, fato que o deixava mais longe da imagem de Lucius Malfoy. Talvez também pelo cabelo, ele não o usava longo, era curto e com uma franja jogada para a direita, formando um topete perfeitamente penteado.

Eu não evitei seus olhos, ciente de que o olhava corajosamente. E ele me devolveu um olhar ilegível, mas a contração em sua mandíbula me dava um vislumbre do que parecia uma estranha mistura de curiosidade e suspeita. O peso de seu olhar era perturbador e desconfortável, mas lutei contra esses sentimentos. Mal me reconheci neste cenário onde, no passado, nós estaríamos nos antagonizando, e, agora, estávamos parados um de frente para o outro, incapazes de falar.

Os olhos dele me escanearam dos pés até o meu rosto, tão rápido que quase perdi. Mas eu sou Hermione Granger e pensar rápido é uma das minhas melhores características, e por esse motivo, eu percebi que apenas naquele olhar, Draco havia me avaliado quase tão completamente quanto eu o tinha. Essa percepção fez o meu pulso acelerar, quase como em antecipação a um duelo, mas eu não tinha minha varinha à mão, ela estava enfiada dentro da minha bolsa pendurada no meu ombro esquerdo.

Eu tinha que dizer alguma coisa. O ar entre nós era muito tenso para permanecermos em silêncio, optei por algo simples. O nome dele.

— Malf… — Eu comecei a falar, até que lembrei que Malfoy era um dos membros apagados da tapeçaria da própria família. Ele pareceu entender que eu estava ciente desse fato, quando finalmente falou.

— Draco, por favor. Estou sem sobrenomes agora.

Eu procurei no rosto dele por uma pitada de emoção que devia acompanhar uma declaração desta magnitude, mas não vi nada perceptível. Pareceu muito como um enigma para mim, saber o quanto ele se incomoda com não ter um sobrenome. Eu sabia pouco sobre os desdobramentos de Draco com a família, apenas o que Victor me contou, mas não achei que fosse um tópico a ser abordado na frente do garotinho que espiava curiosamente a nossa interação.

Nós dois desviamos o olhar para a criança que nos observava. Draco pousou uma das mãos nas costas do pequeno e o empurrou delicadamente para a frente.

— Esse é o meu filho. — Ele falou com uma suavidade cuidadosa na voz que, eu notei, não abafava a nota vibratória de uma emoção latente e parecida demais com um senso ferrenho de proteção. — Scorpius, essa é a senhorita Granger.

Eu me ajoelhei, para ficar mais próxima dele na altura, e quando Scorpius virou a cabeça para mim, me deparei com os olhos mais azuis que já tinha visto em uma pessoa. Quentes e brilhantes, nada parecidos com os do pai dele, embora eu notasse a teimosia e inteligência astuta neles, traços que provavelmente herdou do homem acima de nós dois. Mas havia também aquela curiosidade infantil típica das crianças. Eu sorri educadamente em saudação e vi as pontas de suas orelhas ficarem vermelhas. Scorpius olhou brevemente para baixo e meu sorriso se ampliou instantaneamente. Por uma única razão: o garotinho era adorável; nada altivo e orgulhoso como o pai dele era quando éramos crianças. O menino era mais suave, nada frio e, quanto mais eu o olhava, mais podia dizer que havia algo afetuoso nele.

Inclinando-me um pouco mais, ofereci minha mão para ele apertar.

— Eu sou Hermione.

Scorpius olhou para minha mão por vários momentos, mas o rubor em seu rosto se intensificou mais e ele não fez nenhum movimento para aceitá-la, simplesmente levantando os olhos para os do pai, num silencioso pedido de socorro. Embora a criança na minha frente não tivesse aceitado o meu cumprimento, não parecia uma rejeição, porque Scorpius olhou de volta para mim de uma maneira que crianças pequenas muitas vezes fazem: curiosa em conhecer alguém que nunca tinha visto.

— Scorpius é muito tímido, Granger. — Malfoy disse. — Não se ofenda por ele não falar com você. Eu me certifico de falar com ele normalmente, mesmo sabendo que não vou receber uma resposta.

— Oh, certo. — Eu murmurei, levantando-me da minha posição agachada.

— Mas não se deixe enganar. Ele pode falar, Granger. Só escolhe teimosamente não fazê-lo na frente de estranhos.

Era algo tão sonserino de ser feito que eu suprimi minha risada, disfarçando-a como uma tosse que não enganou nenhum dos dois. Draco franziu a testa e Scorpius olhou para mim com uma expressão sem graça. Antes que o momento se tornasse embaraçoso, limpei a garganta enquanto vasculhava minha bolsa em busca da chave de casa.

— Vocês querem entrar? — Perguntei assim que abri a porta, estendendo um braço na direção da minha pequena sala.

Assim que entramos, vi Scorpius alcançar a ponta do casaco do pai, em um óbvio sinal de excitação, enquanto apontava o dedo pequeno para a minha televisão. Draco vasculhou a sala com o olhar e se dirigiu até a mesa de centro onde, mais cedo naquele dia, Severus tinha depositado o controle remoto. Ele parou ao lado da mesinha, seus olhos encontrando os meus antes de alcançar o objeto. Balancei levemente a cabeça num comando silencioso de permissão e minhas sobrancelhas subiram alto quando o assisti ligar o aparelho, e elas quase atingiram a linha do meu cabelo quando o vi digitar o número do canal infantil.

— Eu posso ouvi-la pensando, Granger. — Ele disse, enquanto assistimos Scorpius sentar no chão bem em frente a televisão e ficar fascinado pelas imagens coloridas na tela. — Se você quer saber, mesmo que não seja da sua conta... — Apesar do seu tom de voz baixo, seu tenor carregava irritação. — Eu permito ao meu filho que ele assista televisão por uma hora diariamente, desde que ele tenha se comportado no dia anterior.

Com essa declaração bizarra que causou estragos em meu conhecimento básico de Draco Malfoy, o homem recuou até a minha mesa da cozinha e acomodou-se em uma das cadeiras de lá, largando a pasta aos seus pés, enquanto esperava pela minha réplica. Eu sei que deveria ter ficado em silêncio, mas eu não seria eu, se não explanasse a minha surpresa.

— Sua familiaridade com a tecnologia trouxa é surpreendente.

Olhos cinzentos me encararam e o pequeno aperto em sua mandíbula insinuou sua desaprovação, quase imperceptível, mas eu ainda a vi.

— Da mesma forma que é surpreendente esse julgamento vir de você. — Ele respondeu. Apenas algumas poucas palavras, mas tão brutais quanto as lâminas afiadas piscando de seus olhos. Draco estava vestido, armado e pronto para uma discussão.

Por causa de sua atitude, que soava tal qual o garoto maldoso que me desprezava na escola, eu também me preparei para a batalha. Cruzei os braços no peito para me distrair do fato de que seu tom, palavras, expressão e presença me deixaram ainda mais perto da borda irritável que eu vivia tentando me afastar. Precisei respirar fundo até sentir que minha agitação recuou o suficiente para que eu o respondesse.

— Não é julgamento se é baseado em fatos.

— É isso que você diz a si mesmo, Granger? — Draco tamborilou os dedos no tampo de madeira da minha mesa, enquanto esperava pela minha resposta.

Mas a intriga em perceber que algo mais tinha mudado sobre ele me manteve parada lá. Ele não falava meu nome como uma maldição ou uma palavra imunda que ele precisasse cuspir da boca. Soava apenas como meu nome. E constatar isso foi horrível para mim, porque eu me dei conta de que não fazia ideia de quem era esse homem sentado no meio da minha cozinha.

Após vários minutos de um silêncio tenso, preenchido apenas pelos barulhos da televisão ligada na sala ao lado, Draco suspirou e, por alguma razão ainda desconhecida para mim, eu finalmente falei.

— Eu tenho chá, se você quiser.

Draco parou de tamborilar os dedos.

— Sim, obrigado.

Imediatamente me pus a preparar o chá, enquanto o homem ajustava sua cadeira para ter uma visão melhor de onde o filho estava sentado no sofá. Era uma atitude estranhamente doce e que também não combinava em nada com minha expectativa sobre o meu inimigo de infância.

O apito da chaleira foi alto no silêncio e peguei duas xícaras no armário, servindo chá verde para nós, sem me preocupar em adicionar nada além disso. Deixei uma delas ao lado dele, me sentei na ponta oposta da mesa e mantive os olhos treinados nele enquanto tentava descobrir uma maneira de perguntar o porquê dele ter vindo até a minha casa. Decidi que ser direta era a melhor opção.

— Sua visita a minha casa se tornará uma ocorrência regular ou hoje é uma ocasião especial?

Draco parou a xícara a meio caminho da boca. Ele fez isso estreitando os olhos em um brilho que era quente o suficiente para fazer o chá em suas mãos ferver, caso ele ainda tivesse magia em suas veias.

— Infelizmente, parece que estaremos interrompendo a paz um do outro por um futuro previsível. — Ele tomou um gole do próprio chá quando terminou sua frase, indiferente ao meu olhar intrigado. — Viktor me disse que você está pesquisando anomalias sobre a extinção da magia.

— Ele me contou sobre o que aconteceu. — Respondi, tomando um gole do meu chá também, enquanto desviava o olhar para a porta que dava acesso a sala.

— Muito superficialmente, eu tenho certeza. — Draco disse, arrastando o dedo indicador pelos veios do tampo de madeira da mesa, seus movimentos precisos e nítidos.

Havia uma vibração de interesse da minha parte sobre como tudo aconteceu com a namorada trouxa de Draco, e pela idade que eu supunha que o filho dele tinha, ela provavelmente também era mãe do garotinho na minha sala de estar, o que aumentou exponencialmente a lista de perguntas sobre o passado dele. Mas Draco claramente não havia terminado suas próprias perguntas.

— Há quanto tempo você é curandeira? Da última vez que ouvi, você estava cogitando ser uma Weasley.

— Três anos. Suas informações estão severamente desatualizadas.

— Hmm. — Sua resposta não comprometedora pairou no silêncio, até que ele continuou. — Eu acho interessante que você tenha feito uma carreira de assumir projetos de caridade, mesmo sendo a bruxa mais poderosa atualmente.

Minha raiva foi instintiva.

— Meus pacientes são pessoas, não projetos. Duvido que você goste de saber que a sua mãe foi, por um tempo, um dos que você se refere como "projeto".

— Projeto ou pessoa, significa muito pouco para mim o trabalho que Narcissa certamente pagou uma taxa exorbitante para você fazer. — Ele respondeu friamente.

— Esse trabalho que você fala tão irreverentemente foi sobre monitorar e possivelmente retardar efeitos de perda de memória de longo prazo, dela. — Eu devolvi e observei o rosto dele em busca de qualquer pista que ele pudesse subconscientemente fornecer, mas ele não demonstrou nada, suas emoções estavam duramente trancadas. — Acho que é um trabalho importante para o filho dela, dentre todas as pessoas.

— Ela não tem mais um filho. Viktor certamente lhe contou esse detalhe. — Ele devolveu mordaz, mas eu não ia parar agora que estava diante do mais próximo de Draco Malfoy que eu conhecia.

— Além disso, eu não recebi um salário da sua mãe. Saint Mungus o fez. Eu não sei o que você está insinuando, mas…

— Eu não estou insinuando nada, Granger. Estou apenas afirmando um fato. — Ele me cortou. — Narcissa Malfoy é notória por seus gastos extravagantes. Dinheiro não é ponto. — Dando de ombros, ele mudou sua atenção por um momento, olhando para o filho ainda distraído na sala ao lado. — Eu não me importo com os termos do seu contrato com o hospital, estou mais curioso sobre seu interesse com membros apagados de tapeçarias mágicas. Por que está interessada nisso?

Eu me levantei de minha cadeira, me aproximando mais dele, não antes de apanhar minha varinha na bolsa, notando como o foco de Draco se restringiu sobre ela.

— Eu tenho minhas razões.

— Isso não é uma resposta. — Ele rebateu.

— Por que minhas razões importam para você?

Ele levantou o queixo, surpreso com o tom definitivo da minha voz.

— Eu faço o meu negócio de saber sobre coisas que especialmente envolvam a mim e ao meu filho.

— Você não é uma pessoa fácil, Mal… Draco. Que segundas intenções eu tenho em querer aceitá-lo como um objeto de estudo?

Dobrando os braços no peito, ele olhou diretamente para mim.

— Você me diz. Eu abandonei o mundo bruxo. Se isso não foi um sinal para que ninguém me perseguisse e me explorasse para provar um ponto, não sei o quê mais isso seria.

Não foram suas palavras, mas sim a implicação por baixo delas que espremeu mais a minha raiva.

— Eu pareço o tipo que iria explorá-lo? Melhor ainda, você é o tipo que se deixa ser explorado?

— Não, agora que sou uma pessoa comum, pelo menos. E quanto à sua primeira pergunta, suponho que seja uma questão de caráter e eu não acredito que saiba o seu. — Foi a resposta dele, que parecia tão frustrado quanto eu mesma me sentia. — Meu interesse tem apenas a ver com o quanto você vai incomodar a mim e ao meu filho, no futuro.

Descansando minha xícara de chá na pia, cruzei os braços.

— Ok. Isso realmente é um ponto, Draco. Mas, independentemente do que você pense, como você se sente, ou seu relacionamento com sua antiga família, chegará um momento em que você terá que se envolver também. Ainda mais agora que apareceu aqui com uma criança sua. Porque, mesmo que a mãe dele seja trouxa e excluindo o fato dele não ser um aborto, aquele garotinho é um bruxo. Mesmo que atualmente a magia não exista na sua linhagem, e você não queira colaborar comigo, mais cedo ou mais tarde nós vamos descobrir o que bloqueou a magia e libertá-la. — Fiz uma pausa enquanto organizava meus próprios sentimentos em relação à primeira criança bruxa que eu vi nos últimos anos. — É aí que você precisará de um plano para ele à medida que sua magia se manifestar. Há muito mais para enfrentar que você não pode ignorar simplesmente por causa de como você se sente em relação ao declínio da família que você infelizmente nasceu e ao que fizeram com a mulher que você amava. Esse é o preço que vai precisar pagar por ter tido um filho, você terá que começar a tomar decisões por ele que tenham a ver com magia.

— Estou perfeitamente ciente dos meus deveres como pai, Granger. — A voz de Draco era perigosamente suave como uma corrente de aço puro. — A culpa pela morte da mãe de Scorpius me lembra constantemente deles.

E porque eu estava ouvindo tão de perto, eu vi. Sob o gelo frio de sua irritação havia uma exaustão profunda. Foi isso o que me fez parar e reconsiderar minhas próximas palavras e até mesmo o meu tom. Bebi o meu chá verde para molhar minha garganta subitamente seca. Não ajudou muito.

— Eu… — Limpei novamente a garganta. — Eu não sabia até muito recentemente que você havia sido queimado da tapeçaria da família. Passou despercebido por mim esse detalhe. Mas, eventualmente, eu o procuraria.

Eu notei a pequena faísca de interesse nos olhos cinzentos dele.

— Porque Viktor lhe contou algo.

— Viktor me disse que você tinha uma namorada trouxa e que ela foi morta por sua tia. Ele não sabia detalhes suficientes para me contar nada além disso. O que significa que eu não sabia sobre o seu filho, até hoje.

Em resposta, Draco desviou o olhar em direção à sala novamente.

— Eu prefiro que ninguém saiba sobre ele.

— Mas se você o trouxe aqui, certamente é porque acredita que eu sou confiável o bastante... — Sugeri, tentando fazê-lo finalmente falar sobre o verdadeiro motivo da visita.

O silêncio que restou não era calmo ou relaxante. No entanto, senti algum alívio com a nova direção dessa conversa.

— Você se acha encantadora, Granger. — Pelo tom dele, ele não achava o mesmo. O que foi bom na verdade, eu não saberia lidar com um Draco Ex-Malfoy, me elogiando. — E sua história comigo não afetará seu julgamento?

— Eu sei ser imparcial, Draco. E eu entendo sobre a ameaça contra pessoas que não podem se defender. Minha família enfrentou isso naquela guerra. Você tem alguma lembrança sobre isso? Sim? — Quando ele não respondeu, eu respirei fundo na tentativa de mascarar minha irritação. — Eu não vou contar a ninguém sobre ele, se for sobre isso que está preocupado. — Seu rosto continuou a não me dar nada, então tentei mais uma abordagem. — Você quer consultar meus apontamentos sobre tapeçarias mágicas? Eu posso fornecer uma cópia de…

— Isso não será necessário. Eu fui capaz de fazer minha própria pesquisa. — Ele me cortou.

Eu não tinha certeza de como se sentia sobre isso. Não havia muitas coisas sobre Draco que estavam se alinhando com o que eu sabia sobre ele. Parecia que ele não confiava em mim o suficiente, mas era como se a sua falta de confiança em mim fosse o que menos lhe importava no momento, já que ele apareceu na minha casa e com o filho a tiracolo. O que não fazia nenhum sentido. Eu estava confusa o suficiente para não abordar esse tema com tanto vigor, precisava que Draco explicasse o que diabos o fez vir até aqui.

— Porque você trouxe o Scorpius, Draco? Para fazer de vocês dois um projeto a ser usado por mim?

Draco não pareceu afetado pelo meu uso de suas próprias palavras.

— Seríamos apenas seu projeto? Nada com o Ministério? — Ele sondou.

— As minhas pesquisas são… minhas. Pelo menos, a parte sobre as tapeçarias. — Confirmei. — Viktor é a única pessoa que sabe que ando seguindo essas pistas, pois foi ele quem encontrou o Diretório Bruxo original.

— Como eu sei se posso confiar em você, Granger? — Ele perguntou.

— Eu salvei você na Sala Precisa.

— Foi o Potter. Ele me salvou. — Ele rebateu.

— Obviamente você não conhece os sentimentos de Harry em relação a você naquela época. — Comentei secamente.

— E não presuma que sabe como eu também me sentia naquela época, Granger.

— Eu nunca assumi nada. Estava apenas fazendo uma observação.

— Sua observação soa muito como mais um de seus julgamentos. — Ele zombou.

— Uma observação, Draco, é um ato neutro de levar informação. O julgamento envolve a formulação de um parecer sobre o que está sendo observado. Se você vai usar as duas palavras, saiba o que elas significam antes.

O olhar duro que ele me deu não teve nenhum efeito sobre mim. Apenas me fez endireitar mais a minha coluna e continuar a encará-lo corajosamente.

— Besteira, Granger.

— Não, não é. — Desafiei.

— Você não sabe como separar a observação da suposição e julgamento. Observa algo e imediatamente formula uma interpretação, e a partir dessa interpretação você toma uma decisão.

— Isso não é verdade. — Rebati friamente.

— Tenho um caso imediato para você: a sintonização do canal infantil para o meu filho. — Draco segurou o meu olhar, em desafio. — Você me observou manuseando o controle remoto da tv e fez uma suposição de que, por eu ser um "sangue puro'', não saberia nada sobre o mundo trouxa, muito menos permitir que meu filho consuma conteúdo dele. O que valida minha declaração anterior.

Tentei fazer um contraponto, mas hesitei porque, bem, ele tinha razão. O olhar no rosto de Draco se transformou quando ele reconheceu sua vitória, quase lembrava o pomposo Draco Malfoy da época da escola. Mas não me dei por vencida.

— Tudo bem, então me ajude a entender. Por que você procurou minha ajuda?

Draco olhou para mim, mas eu não conseguia identificar qual emoção estava impressa agora em seu rosto. Eu não tinha nenhuma linha de base real que poderia usar para decifrá-lo. Exceto Hogwarts, mas nosso passado em comum era tão distorcido quanto um ponto de referência qualquer, porque ele não era mais aquela criança.

— Sua casa é protegida contra sons? — Ele perguntou.

— Sim. — Confirmei.

— Feche as cortinas. — Ele ordenou, e eu deixei de lado a sensação estranha de tê-lo me dando ordens na minha própria casa quando acenei com minha varinha, fazendo todas as cortinas se fecharem e as luzes acenderem automaticamente. — Eu também preciso que entregue sua varinha.

— Onde está a sua? — Eu não largaria minha varinha, Draco trazendo seu filho como um escudo ou não.

— Não possuo uma varinha desde a batalha de Hogwarts. Eu renunciei à minha magia, Granger.

Fez-se um silêncio pesado. Aquele garoto orgulhoso, que ostentou por anos o nome de uma das mais tradicionais famílias puro-sangue do mundo bruxo como se fosse o dono do próprio sol, renunciou à sua magia. Era inacreditável. Eu me perguntei se ele de alguma forma sentia que alguém acreditaria nessa declaração vinda dele. Mas ao mesmo tempo, eu me lembrei que esse homem foi um garoto que nunca recebeu afeto da família, família essa que assassinou a mãe do filho dele e o deserdou. Eu podia ao menos ouvi-lo, mesmo que ainda não acreditasse no que ele acabou de me dizer. E talvez, um talvez enorme, eu entregaria a minha varinha para ele.

— Me conte a história. Toda ela. — Eu disse.

Draco entendeu minha oferta: ele contava a história enquanto eu decidia se entregaria ou não a minha varinha. Por um momento, houve apenas silêncio, interrompido pelos sons da animação que Scorpius assistia na sala. Então, Draco exalou fundo e começou a falar.

— Ela se chamava Diana. Eu a conheci no dia das bruxas, quando cursava o quinto ano. Umbridge me incubiu de visitar o vilarejo trouxa próximo de Hogsmeade para comprar um tipo específico de comida para um dos seus gatos. Ela era atendente da loja e embora eu fosse um idiota preconceituoso, eu nunca tinha sentido por ninguém o que eu senti por aquela garota. Me ofereci como voluntário para comprar mensalmente a ração de Umbridge em todos os meses depois desse. E por todos os meses que fui lá, era como se eu tivesse uma vida diferente. Eu não era um Malfoy, não era um bruxo, era apenas um garoto de quinze anos que chamou uma garota para sair. Eu tive que pesquisar sobre como os trouxas se divertiam para que pudesse me comportar como um e para que eu soubesse onde levá-la. Saímos uma vez por mês durante todos os meses em que cursei o quinto ano. Fomos felizes. Até que tudo deu errado no Departamento de Mistérios, meu pai foi preso e Voldemort mudou-se para a mansão.

Draco fez uma pausa, e quando retomou a falar, sua voz era mais áspera que antes.

— Eu recebi aquela missão no verão do sexto ano. Quando retornei para a escola, eu não era mais o mesmo garoto que a Diana namorou. Mesmo sem saber o que estava acontecendo comigo, ela me acolheu e me ajudou a lidar com meus medos. A minha primeira tentativa fracassada de matar o diretor, quase matou uma aluna. Eu corri para Diana e chorei por horas, me culpando por ser fraco e maldoso e indigno da confiança dela. Ela me acalmou, enxugou minhas lágrimas, me beijou e se entregou para mim naquele dia. Scorpius foi concebido em nossa primeira vez.

Como eu sabia o final da história, senti meu coração desmanchar um pouco com o relato dele.

— Saber sobre ele foi o que me manteve de pé durante o sexto ano. — Continuou Draco. — Eu estava pronto para ir na missão de capturar Potter na casa dos tios dele, quando recebi uma mensagem na lareira da mansão. Era do bruxo abortado que eu subornei para ficar de olho na minha garota, me avisando que ela entrou em trabalho de parto. Eu abandonei os preparativos da missão e fiquei com ela por todas as catorze horas de dores. Quando o meu filho nasceu, Granger, ele era a coisa mais linda que eu já tinha posto os olhos. Scorpius iluminou o meu coração, e não tinha mais lugar para a escuridão que minha família tinha me impregnado durante toda a minha vida.

"Ele tinha seis meses de idade quando Bellatrix Lestrange descobriu sobre a mãe dele. Ela não me torturou com o Cruciatus porque Lucius implorou que não o fizesse, alegando que eu podia me tornar infértil e extinguir o legado Malfoy. Então ela achou engraçado me torturar como a escória que eu tinha me juntado. Mandou seus capangas me acorrentarem e os deixou livres para me espancar quando tivessem vontade, tentando me fazer dizer a eles onde minha namorada estava. Mas não cedi. — Continuou Draco, a voz embargada. — E eles eram fracos demais para vencer a barreira de oclumência que eu mantinha. Voldemort a teria derrubado com meio pensamento, mas Narcissa de alguma forma convenceu a irmã de não incomodar o Lorde das Trevas com uma aventura sexual adolescente. E talvez tenha sido sorte, mas ela realmente não o fez."

Draco parou, engolindo em seco.

— Mas então, o bruxo abortado que vigiava a Diana, entrou em contato quando Scorpius adoeceu. Eu continuava acorrentado à lama do porão, então foi ela quem recebeu a mensagem. Tive sorte dele não ter mencionado o bebê. E mais sorte ainda de que quando Bellatrix capturou Diana, nosso filho estava internado no hospital trouxa e a avó materna ficou com ele, após muita insistência de que a minha mulher precisava de uma pausa.

Meus olhos marejaram e limpei uma das lágrimas que deslizou pela minha bochecha.

— Fui forçado a assistir enquanto ela torturava, devagar, a Diana ao longo de vários dias. Ela arrancou os dedos dela, um por um, enquanto ela gritava e implorava. Eu ouvi seus ossos estalando quando ela os cortou a sangue frio. E quando ela usou ferro aquecido para marcá-la como um animal, eu me desculpei com Diana por ter cruzado o caminho dela. Eu implorei à minha tia que fizesse tudo aquilo comigo. Mas ela desprezou meus apelos e gritou que eu tinha sorte por ser filho único e por Narcissa não poder gerar mais nenhum outro herdeiro, ou ela teria o prazer de eliminar um traidor de sangue que apodreceu as linhagens Black e Malfoy.

"Diana sofreu por uma semana inteira, até me sussurrar que estava muito cansada e não aguentava mais. As últimas palavras dela para mim foram "eu confio em você, por favor, proteja-o". Eu estava a apenas dois metros de distância dela, mas não pude segurá-la em meus braços quando ela deu seu último suspiro. Não pude enterrá-la. O corpo dela foi levado para apodrecer em algum lugar que nunca me disseram."

Minhas mãos estavam trêmulas enquanto eu o ouvia. Eu achava que a pior coisa que tinha acontecido a Malfoy foi ser incumbido de matar o diretor. Jamais achei que ele tivesse passado por algo tão cruel. Estava arrependida de tê-lo pedido para me contar sua história. Eu queria que ele parasse. Mas parecia que uma torneira tinha se aberto em sua boca e ele jorrou mais e mais palavras para mim.

— Após isso, Lucius me resgatou, disse a Belatrix que eu já havia aprendido a lição e que agora podiam começar a me reeducar. Eu estava tão ferido e drenado que os curandeiros informaram que se eu tentasse usar de magia antes de me curar completamente, afetaria meu núcleo mágico para sempre. Então, fui obrigado a ficar na mansão e me recuperar, sem nenhuma notícia do meu filho. A única coisa que pude fazer foi ficar naquele lugar, planejando matar a minha tia. Poucos dias depois, eu vi uma segunda mulher ser torturada na minha frente. Você, Granger.

Eu soltei um soluço, minhas lágrimas já manchavam todo o meu rosto, mas Draco apenas olhava para as próprias mãos, como se a história que contava fosse um livro que ele pudesse ler entre elas.

— Eu nunca perdoaria o sofrimento que ela fez a minha mulher passar e nem por me deixar afastado do meu filho, fingindo que ele não existia, para que o mantivesse seguro. Enquanto a via torturar você, um filme passava pela minha cabeça. Naquela noite, eu urrei para Merlin que Bellatrix Lestrange não sairia impune do que fez com Diana, e ao mesmo tempo, jurei para mim mesmo que Scorpius não seria um novo Potter. A mãe dele morreu, mas eu estaria lá por ele. Eu me segurei pelos meses seguintes até a batalha final e fiz tudo o que me ordenaram, porque eu só precisava de duas coisas: matar a Bellatrix e sobreviver para criar o meu filho. Assim, eu poderia contar para ele que a mãe dele foi a melhor pessoa que eu já conheci.

Eu não consegui me conter e levantei do meu lugar, sentando na cadeira ao lado de Draco e alcancei sua mão com a minha, apertando-a e tentando alcançá-lo em sua dor.

— Sinto muito, Draco. — Murmurei.

Ele apenas olhou para minha mão sobre a dele e continuou seu relato, parecendo anestesiado pelo que sentia.

— Eu queria matá-la com minhas próprias mãos, mas assistir Molly Weasley dar o feitiço mortal que deveria ser meu, na mulher que eu odiava, também foi gratificante. Ver uma mulher que ela considerava fraca e traidora do sangue, destruí-la, foi ironicamente prazeroso. Abandonei a batalha com Lucius e Narcissa e contei a eles que eu iria embora e não queria mais nada com a magia. Eles não aceitaram minha decisão, usaram seu discurso de legado familiar e minhas obrigações como único herdeiro. Eu cuspi na tapeçaria da família quando ele disse que o sangue daquela trouxa não valia a minha renúncia. E não esqueci de agradecer quando ele ficou desestabilizado o suficiente para queimar o meu nome daquele pedaço desgraçado de tecido. Graças a Merlin, ele queimou o meu nome minutos antes da magia evaporar dos nossos corpos, assim, não havia como eu estar atrelado à magia de nenhuma forma. Eu estava verdadeiramente livre.

Os olhos de Draco brilharam e ele piscou para afastar a umidade.

— Faz mais de quatro anos que eu vivo no mundo trouxa e me dedico inteiramente ao meu filho. — Disse ele, baixinho. — Eu odeio a magia, Granger. Tudo que perdi foi por conta dela.

Eu só podia imaginar o quanto desesperador foi para Draco, passar por tudo isso sozinho.

— Se você a odeia, porque precisa da minha varinha? — Perguntei.

Draco puxou a mão que estava sob a minha e levantou-se. Eu o segui com o olhar, quando ele foi até a entrada da sala e sussurrou para Scorpius vir até nós.

Trazendo o garoto até junto de mim, ele pousou as mãos sobre os ombros do filho.

— Entregue a ele. — Draco sussurrou para mim.

Eu não conseguia respirar direito em antecipação ao que eu achava que Draco estava querendo me mostrar e minhas mãos estavam novamente trêmulas quando estendi o pedaço de madeira de videira, entregando-o a Scorpius. Os dedos pequenos dele envolveram a minha varinha e a soltei, estava claro que ele nunca tinha visto uma, pois a primeira reação dele foi apenas segurá-la e olhar para o pai, silenciosamente perguntando o que deveria fazer com aquilo. Draco o virou para si.

— Você lembra dos fogos de artifícios do vovô? — O garotinho acenou positivamente com a cabeça. — Eu quero que você os imagine dentro da sua cabeça e aponte a varinha para o alto. Consegue fazer isso, filho?

Scorpius acenou novamente com a cabeça e Draco o virou de frente para mim. Eu fiquei embasbacada quando vi o menino movimentar a madeira e olhar para cima. Uma risada empolgadamente infantil saiu da garganta dele quando faíscas coloridas se soltaram da ponta da varinha. Uma avalanche de esperança caiu sobre mim quando eu vi o que Scorpius fez. Meus olhos marejaram quando levantei meu olhar para o de Draco, que me observava atentamente.

— Draco, ele é… — Minha voz estava rouca de emoção.

— A única criança mágica que existe atualmente. — Ele completou.

Eu olhei maravilhada para Scorpius e me ajoelhei no chão em frente a ele. Quando o puxei de encontro a mim, ele aceitou o meu abraço como se não tivesse acabado de me rechaçar lá fora. Dessa vez ele me abraçou de volta, provavelmente, porque eu o entreguei a minha varinha, mesmo que ele achasse que ela era fogos de artifícios.

— Tem mais? — Scorpius me perguntou quando o soltei, devolvendo a varinha para mim. Eu sorri emocionada com a inocência dele em me devolver o "material" usado.

— A senhorita Granger só tinha esse, filho. — Disse Draco. — Você pode voltar a assistir a TV na sala. Papai precisa terminar o chá, antes de irmos embora.

Scorpius olhou sorridente para mim e em seguida para o pai.

— Certo, papai. — O garotinho respondeu e obedientemente foi para a sala ao lado.

Draco estendeu a mão para me ajudar a levantar de onde eu ainda estava ajoelhada no piso da cozinha. Assim que retomamos nossos lugares à mesa, ele recomeçou sua narrativa.

— Ele tinha três anos quando começou a sonhar com magia. A princípio, ele me contava sobre unicórnios e fadas brilhantes que voavam sobre sua cabeça. Eu fiquei assustado, mas a avó materna dele me disse que toda criança tinha essa imaginação. Então, em uma noite no inverno passado, nós dois estávamos deitados no chão da sala, muito envolvidos pela leitura de uma história nova. Não me dei conta que a lareira estava quase apagada. Scorpius levantou as mãozinhas e alongou os dedos gelados em frente ao fogo quase extinto, lançando um Incendio involuntário nas brasas. Enquanto ele sorria para as chamas reavivadas, eu só conseguia pensar que o som do crepitar do fogo era o mesmo que o do meu coração sendo esmagado em pavor.

Eu podia imaginar o medo dele ao assistir isso.

— Draco, como isso é possível? — Murmurei.

Eu não conseguia juntar as peças para entender porque nenhuma criança havia nascido com magia até hoje, desde a batalha final e Scorpius, que havia nascido antes do final da guerra, ou seja, já era um bruxo quando a magia foi extinta, manteve os seus poderes.

— Eu não sei. Não faço ideia de como a magia desapareceu. Mesmo envolvido com os planos de Voldemort, ele nunca relatou para nós sobre isso. Pelo menos, não para nenhum Malfoy. Ou para Severus.

— Severus? — Encarei Draco em confusão. — Você tem contato com ele?

— Severus é meu padrinho, Granger. Quem você acha que me deu seu endereço?

— Eu pensei… Viktor, talvez. Severus não sabe sobre as tapeçarias. Pelo menos, não da minha parte.

— Severus sabe. Eu não sei qual é a dinâmica de vocês de não confiarem um no outro, mesmo que estejam trabalhando juntos, e não me importo no momento. — Draco sacudiu a cabeça, indiferente. — Viktor repassou para ele as informações do rastro das tapeçarias e Severus me contou sobre elas. Ele estava curioso sobre Scorpius. Quase como se já soubesse que ele tinha magia.

— Mas… como Severus poderia saber? — O interrompi.

— Você vai me perdoar por não ajudá-la com isso, Granger. Novamente: eu não sei qual é a dinâmica distorcida de vocês e, por favor, me poupe do seu drama com Severus. — Ele expirou. — Eu já tenho muito nas mãos. Eu era um bruxo e não consegui proteger minha mulher, que chance eu tenho, sendo um trouxa? Como eu posso proteger o meu filho?

— Eu posso protegê-lo, Draco. — Eu disse com segurança.

E era verdade. Eu era a bruxa mais poderosa da atualidade, e Scorpius era uma esperança que eu achava há muito tempo perdida. Eu faria qualquer coisa por ele.

— Você tem certeza, Granger? —Ele me perguntou.

— Sim, eu tenho certeza de que vou proteger uma criança que pode ser a esperança do mundo bruxo. Já fiz isso antes. — Respondi com indignação.

Draco trincou a mandíbula com a minha resposta, que indiretamente o lembrava que eu sempre estive do lado certo, Harry Potter também era uma criança quando o conheci. Ele alcançou a pasta que carregava quando chegou e o vi enfiar a mão dentro dela, tirando de lá algo que me fez estremecer. Era uma esfera. E dentro dela, havia um registro de profecia.

— Como você conseguiu isso? — Minha voz saiu sussurrada, meus olhos não se desprenderam por um instante da esfera na minha frente.

— Pegue-a. — Ele ordenou. — Eu não vou explicá-la como uma profecia que diz respeito ao meu filho chegou até mim. Eu quero que você quebre-a e nós vamos ouvir juntos o que ela diz.

— As únicas pessoas que têm permissão de retirar uma profecia do Departamento de Mistérios são aquelas de quem ela fala, Draco.

— Granger, você não está explicando para mim o motivo de Lucius ter sido preso anos atrás, está? Ele era o meu pai na época e você estava lá. Agradeço se passarmos por isso e formos direto ao ponto. — Embora o olhar no rosto de Draco não fosse hostil, a expressão dura em seu rosto, era. — Quebre-a. — Ele ordenou.

Um arrepio correu pela minha espinha quando fechei os meus dedos na profecia. E antes que eu pudesse me debruçar sobre a situação, Draco deu um tapa na minha mão e a profecia se espatifou no chão da minha cozinha. Um vulto branco-perolado e fluído como um fantasma, subiu numa espiral dos cacos de vidro no chão e começou a falar.

Quando o leão cair

A serpente rastejar

E uma constelação se apresentar

A pausa chegará ao fim.

O sangue drenou o rosto de Draco, deixando-o ainda mais pálido do que o normal. Eu estava paralisada, porque já tinha ouvido aquilo. Na verdade, eu tinha lido aquilo. Escrito em runas, debaixo da minha cama.

— Draco… eu já… eu já li sobre isso. — Sussurrei para ele, encarando seus olhos arregalados em uma expressão chocada, que eu tinha certeza, espelhava a minha própria. — O que significa?

A voz de Draco estava fraca, como se ele estivesse sufocado demais pelo choque do que ouviu para se expressar de uma forma mais clara.

— Significa, Granger, que você é o leão. — Ele sussurrou.

E as palavras anteriores dele finalmente fizeram sentido para mim. A profecia dizia respeito ao filho dele. Scorpius era a constelação.


Notas Finais


Só quem me conhece bem, sabe o tormento que vai ser para mim, narrar cenas de Draco e Hermione, sem que eles sejam um casal… Que Jesus (e a Jayne) me ajudem nessa jornada! rsrsrsrsrs.

A descrição da esfera do registro de profecia foi descaradamente copiada do meu exemplar de Harry Potter e a Ordem da Fênix.