Notas do Autor
Disclaimer: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.
Capítulo 15 - Ouse se aproximar, pague o preço
Dean tinha me enviado uma mensagem de texto, me avisando que o treinamento na sexta-feira tinha sido bombardeado por repórteres querendo informações sobre o suposto registro de aparatação cassado de Severus. E eu nem entendia essa obsessão. Todos do mundo mágico sabiam que bruxos mestiços não tinham mais magia suficiente para aparatar. Então, por que as pessoas se preocupam com algo que ele supostamente não deveria nem estar fazendo?
Eu estava irritada com Severus porque, além de ter sido um idiota comigo quando Draco derramou sua alma na minha cozinha, eu notei que o meu orientador tem escondido muito de mim. Durante cada um dos dias em que fiquei em casa me deixei absorver pelas nuances da história de Draco e sobre a forma como Severus tinha me tratado no carro.
Você é apenas uma garota. Não está em posição de me dizer o que é importante e o que não é, nem como eu devo lidar com isso.
Claro que essa declaração me irritou. A nossa diferença de idade era uma inegável realidade, mas ele não precisava ser um imbecil sobre algo que eu não tinha como controlar. E nem insinuar com essa declaração que eu não sei nada sobre a vida, apenas porque sou jovem.
Ainda por cima, nem um pedido de desculpas, embora eu não esperasse um, porque eu definitivamente sei que não teria. Não houve uma mensagem ou telefonema, muito menos um correio-coruja, nada.
Talvez eu não tivesse estado tão incomodada pela superabundância de mídia nos jardins do castelo, se Severus não tivesse sido rude quando estava apenas tentando ser uma boa amiga.
— Srta Granger! O que tem a dizer sobre a anulação do registro de aparatação do seu orientador? — Um gritou. — Como se sente…
Eu acenei e continuei andando em direção ao campo de quadribol. — Sinto muito! Preciso ir para o treino!
O que era verdade, eu precisava ir para o treino. Depois de quatro dias de folga, com minhas costelas ainda doendo e meu estômago com hematomas roxos, tive que voltar para o meio da ação. Eu estava de posse de várias informações novas e que poderiam mudar o curso das coisas. Eu precisava vasculhar tudo o que sabia sobre magia em crianças e montar um plano de ação. Eu não podia ficar em casa de repouso.
— Você voltou! — Sarah me cumprimentou enquanto eu passava por ela. — Está se sentindo melhor?
Se uma manticora não tivesse me atacado, eu estaria. Infelizmente não era o que eu podia dizer para ela.
— Muito melhor. Espero que o seu momento em família tenha corrido bem. Meus sentimentos, novamente.
Ela me deu um aceno emocionado de cabeça e voltou a se alongar.
A maioria dos outros membros da equipe me cumprimentou quando passei por eles, até que braços vieram por trás de mim e me embrulharam num abraço, enquanto ele me beijava na bochecha direita.
— Estou tão feliz que você voltou. — Dean disse em minha orelha, me dando um aperto que me congelou no lugar.
— Eu também. — Segurei seus antebraços antes de me virar para ele e lhe abraçar forte.
Dean me abraçou de novo por quase um minuto inteiro antes de se afastar e virar a cabeça em direção aos repórteres dos jardins.
— Isso é meio louco, hein?
Não, Dean, louco é o fato de que eu tinha alertado Severus sobre essa cobertura. E outro fato pior ainda é que somente Neville e Draco, tinham ideia de que eu passava um tempo com o meu antigo professor de poções. Eu não era do tipo que guardava segredos e isso fez eu me sentir mal. Eu estava mentindo para Dean, para Cho, para Harry e não era como se pudesse parar com isso.
Eu deveria contar a Dean o que estava acontecendo. Mas tudo o que fiz foi assentir.
— Sim. Não vejo qual é o problema.
— Também não.— Dean deu de ombros, estendeu a mão para entrelaçar-lá com a minha e baixou sua voz para um sussurro. — Ele está com um humor horrível desde então. — Ele fez uma pausa, como se realmente estivesse pensando no que saiu da sua boca. — Quero dizer, no pior humor. Ouvi-o dizer a Minerva que ela devia se aposentar.
Meus olhos se arregalaram. Dean apenas confirmou com a cabeça. E a grosseria dele com Minerva ficou na minha mente por, possivelmente, mais cinco segundos, até que expulsei Severus da minha cabeça. Eu tinha coisas melhores para fazer e pensar, incluindo um menininho adorável que eu estava ansiosa para ver novamente.
— Me ajuda com o alongamento? Está tudo ruim por aqui. — Disse a ele.
Dean pousou uma mão sobre meu ombro e apertou. Levou tudo dentro de mim para não curvar meus joelhos e ir para longe dele. Sério, eu ainda perguntaria a Ivan, mesmo com aqueles músculos dele, como ele tinha coragem de deixar o namorado dele chegar perto das suas partes íntimas. Eu estava no meio de me lembrar que Ginny podia saber algo sobre isso também, quando avistei Minerva e Severus caminhando em direção ao campo juntos.
Se eles estavam falando ou não, não sei, mas os meus dentes rangeram em resposta à visão do homem alto e impassível. Se ele tivesse se desculpado no dia seguinte sobre a grosseira do carro, eu teria perdoado ele apenas dando-lhe uma quantidade mínima de merda sobre esse assunto. Não é como se ele fosse a primeira pessoa a fazer um comentário imbecil para mim sobre minha vida, e não havia como ele ser o último. Ron tinha dito coisas muito ruins para mim, em um ponto ou outro, e sempre o perdoei. Pensar em Ron só me fez lembrar da minha próxima visita à casa dos Potters para o aniversário de James.
— Sua perna, aqui, vem! — Comandou Dean, arrancando-me dos meus pensamentos, felizmente.
Eu precisava de foco.
Apertei mais os olhos fechados, caindo para trás contra o gramado para tentar recuperar o fôlego depois de executar duas transfigurações difíceis e testar feitiços de combate com Dean. Minhas costas doíam, meus pulmões pareciam que estavam encolhendo a cada minuto e eu adoraria o alívio gelado de uma bolsa de gelo sobre as minhas costelas.
Santo Merlin.
Uma sombra veio sobre mim, seguida por uma voz suave.
— Você tem mais dois oponentes a derrubar. Levante-se.
Mantive meus olhos fechados. A tentação de ignorá-lo era esmagadora, mas, aqui em Hogwarts, não podia fazer isso. Fingir que ele não estava lá, só lhe daria mais poder para me descascar na frente dos outros.
— Vou levantar em um segundo. — Respondi, expirando.
Meu eclipse pessoal não se moveu, apesar do fato de que eu tinha pelo menos lhe respondido. Nem me incomodei de abrir meus olhos enquanto terminava de tomar fôlego. A sombra dele deslocou-se para a direita.
— Você está bem o suficiente para duelar hoje? — A voz de Severus soou bem mais baixa agora.
Sua pergunta me fez abrir os olhos e olhar para cima, para o céu de coloração cinza-azulada que cobria todo o horizonte.
— Não.
Severus continuou parado ao meu lado, com as mãos atrás das costas enquanto me olhava de cima. Eu olhei de relance para ele por um segundo, em seguida, rolei para me sentar suavemente e finalmente ficar de pé. Poupando-lhe outro olhar, dei a Severus um sorriso frio, de quem não estava sentindo a mínima vontade de dar.
— Preciso voltar.
E foi exatamente o que eu fiz.
Às oito horas naquela noite, o meu celular recebeu uma mensagem de texto. Do meu lugar no sofá enquanto maratonava minha série preferida e tentava não pensar em quanto o sarcástico e seco protagonista se parecia com alguém, dei uma olhadela na tela e vi o "Severus" surgir. Voltei ao meu episódio. Se fosse caso de vida ou morte ele ligaria.
Às cinco da tarde do dia seguinte, meu telefone recebeu mais uma mensagem dele. Por um segundo, pensei em pegá-lo e possivelmente ler a mensagem, por já ter ignorado ele um dia antes e durante o treino de hoje, no qual ele me deu uma enorme quantidade de inferno durante as exibições de feitiços. Só que, basicamente, Severus estava agindo como se nada estivesse errado, me mandando mensagens como se não tivesse sido um idiota dias antes. Chegaram mais duas em sequência.
— Os repórteres conseguiram o seu número de telefone? — Neville perguntou da mesa dele.
Eu virei a tela do meu telefone para baixo e neguei com a cabeça.
Neville era uma das pessoas que mais sabia sobre minha proximidade com Severus. E também sabia sobre a insanidade no castelo, com os repórteres insistentes e a esquiva do Ministério em falar sobre o registo de aparatação de Severus. Meu assistente tinha me avisado que era só uma questão de tempo até alguém ficar desesperado a ponto de me ligar, especialmente desde que eu e Dean fomos os únicos membros da equipe de Hogwarts que tivemos fotos com Severus espalhadas pelos jornais bruxos.
— Não. — Eu sorri para o meu amigo de longa data, inventando uma mentira. — Número errado.
— Você terminou?
Eu puxei minha mochila por cima do meu ombro oposto.
— Eu tenho que ir trabalhar. — Respondi, tentando ser indiferente a ele.
Os lábios dele crisparam-se em desgosto, enquanto corria uma mão pelo cabelo. Eu levantei minhas sobrancelhas, forçando um sorriso no meu rosto e me virei para começar a andar. A mão de Severus se fechou no meu pulso, me parando no lugar.
— Hermione. — Ele sussurrou, me virando para encará-lo.
Eu respirei fundo antes de olhá-lo nos olhos.
— Snape, preciso trabalhar.
— Snape? Realmente?
— É o seu sobrenome, não é? — Puxei o meu pulso para cima e fora de seu controle, mantendo o meu olhar na mira dos olhos negros que hoje pareciam mais leves do que o habitual, mas ele não me soltou. — Eu realmente preciso ir trabalhar. Tenho pacientes que valorizam meu valor como curandeira, mesmo que eu seja jovem. — Meu sorriso ao final da frase era irônico, mas havia uma pontada de tristeza por trás, se eu fosse sincera comigo mesma.
— Você não devia me dar o poder de irritá-la. — Ele respondeu, ainda me encarando.
— O que eu não deveria fazer é desperdiçar meu tempo com alguém que tem um terrível problema de atitude.
O pomo de adão dele balançou, seu olhar se intensificou sobre mim enquanto levava o seu tempo para me responder.
— Eu sou mais velho, você não...
Isso não estava ajudando em nada, meu olho contorceu-se.
— Sim, você é muito mais velho, eu sei disso e poderia me importar menos sobre isso. Não seja idiota. — Se o olhar em seu rosto disse alguma coisa, é que ele não estava acostumado a ser chamado de idiota, mas nesse ponto não podia ter me importado menos. — Eu lutei na mesma guerra que você, me formei em medibruxaria e estou aqui fazendo esse treinamento para libertar a magia. Só porque não tenho a mesma idade que a sua, isso não me faz menos digna.
Severus negou com a cabeça. — Eu nunca disse que você era.
— Bem, você certamente fez parecer como se eu fosse no momento em que me perguntou quantos anos eu tinha, seguido de "heroína imaculada".
— Hermione... — Ele resmungou meu nome.
Eu levantei uma sobrancelha para ele. — Fiz vinte e três anos em setembro. Já que você me perguntou. Desculpe, mas não lamento por ser jovem e não poder alcançá-lo em seus preconceitos.
— Meus preconceitos?
— Sim. Não posso te dar conselhos, porque sou muito jovem? Ou talvez seja porque sou uma órfã de guerra? Espere, é porque sou uma mulher, é isso?
— Por que você está tão teimosa sobre isso, Hermione? Isso não foi o que eu quis dizer.
Isso me fez deixar sair uma risada afiada. — Se nossos papéis fossem invertidos, e eu dissesse que não queria ouvir conselhos de você porque você é um velho, você estaria me tratando bem? Sério?
Pelo silêncio dele, ele sabia que era a verdade. Gentilmente puxei meu braço longe dele, e ele finalmente me soltou naquele momento.
— Não quero conversar com você agora. Você não pode descontar sua raiva em mim e esperar que eu supere isso, como se não tivesse acontecido nada. O fato é, que eu nunca diria o que você me disse para ninguém. Pensei que éramos amigos e esse foi meu erro. Não quero ser amiga de alguém que olha para mim como uma pirralha. E eu realmente preciso ir trabalhar. — Dei alguns passos para trás e ofereci-lhe um sorriso que não estava sentindo. — Falo com você depois.
Não faço ideia se, ou o quê ele respondeu, porque me virei e parti.
Olhei para as imagens no jornal.
— É você?
Se era eu nas fotos? Sim, era. Apertando minhas mãos úmidas, eu as estabeleci entre as minhas pernas.
Eu aparecia ao longe nas fotografias que tinham sido tiradas nos arredores do prédio do meu curandeiro particular. A primeira foto que tinham me mostrado, eu estava andando ao lado de Severus com a minha cabeça baixa. Na segunda eu estava esperando para entrar no carro dele e na terceira eu estava entrando, enquanto ele estava um pouco mais atrás, mas perto demais. E definitivamente era eu, não havia como negar; qualquer um poderia reconhecer quem era.
O fato de Minerva, Vector e Robards me chamarem para uma reunião para falar sobre isso, me deixou perto da borda.
É você? Robards perguntou pouco antes de Vector deslizar o jornal para mim. Foi uma ironia de merda e não gostei. Era ótimo para ele que eu não fosse uma mentirosa e não tivesse nada a esconder. Independentemente disso, ele estava em vantagem, afinal, era o chefe. Olhei para o bruxo sentado próximo de mim e confirmei.
— Sim, sou eu.
Nenhum deles me olhou com surpresa. É óbvio que Robards sabia quem estava nas fotografias; ele só queria me ouvir confessar uma mentira. Enxugando o suor das minhas mãos nas minhas pernas, dei de ombros para eles.
— Ele foi comigo ao consultório do curandeiro Hugh, quando eu não estava me sentindo bem. — Respondi o mais vaga possível, para que não fosse uma mentira total. Mantendo meu rosto neutro, mantive meu olhar firme no representante do Ministério. — Eu não fiz nada de errado.
O bruxo baixo estabeleceu-se melhor no assento e inclinou-se para mais perto de mim. — "Não estava me sentindo bem" é um pouco subjetivo, você não acha, senhorita Granger?
— Sim. Mas não lhe dizer meu histórico médico não viola quaisquer termos do meu trabalho em Hogwarts. Não fiz nada sobre o qual não seria sincera.
Uma batida na porta impediu qualquer um de nós de dizer outra coisa. Minerva instruiu a pessoa a entrar, e eu não podia dizer que fiquei chocada ao ver Severus. Os olhos dele pousaram nos meus quando ele se acomodou no assento mais próximo ao meu. Seu rosto era inexpressivo. Ele inclinou-se contra sua cadeira, cruzando os braços e olhou direto para Robards.
— O que está acontecendo?
O bruxo mais velho pegou o jornal na mesa de Minerva e passou para o meu coorientador. — Estas imagens foram publicadas ontem.
Severus olhou para o papel por um segundo e nenhum a mais, antes de devolver a cópia do Profeta Diário com um olhar impaciente.
— O que há de errado com elas?
— São fotos de você e um dos membros da equipe, no tabloide mais popular do mundo bruxo. — Robards explicou com uma voz calma, que soava tímida, mascarando a sua insatisfação com o que estava vendo.
Eu me perguntei se o nosso chefe lembrava que Severus espionava o próprio Voldemort em um passado não muito distante. Como Robards achava que com uma simples mudança no tom de voz enganaria um espião desse porte, estava além da minha imaginação. Confirmando minha afirmação, deu-se início um dos momentos mais surreais da minha vida.
— O que vejo é uma foto de uma amiga indo ao curandeiro.
— Sua amiga? — Robards perguntou descrente.
— Isso é exatamente o que eu disse. — Severus cuspiu de volta. Seu tom ainda era baixo, mas não havia como confundir sua irritação com a conversa.
Robards se virou para mim, como se eu pudesse possivelmente ter sido manipulada por Severus Snape ao ser chamada de amiga pessoal dele na frente dos meus superiores.
— Vocês são amigos?
Não perdi o tom muito mais descrente comigo do que quando tinha falado com Severus. Ele estava de novo me tratando como uma criança, como fez pouco mais de um mês atrás, no escritório dele no Ministério. Com os dentes rangendo pela raiva dentro mim, concordei.
— Sim. — Afinal, emoções confusas pela declaração de Severus à parte, nós éramos amigos. Pelo menos quando ele não estava me dando nos nervos.
— Amigos. — Robards disse distraidamente. — Que tipo de amigos?
Eu quis azarar ele. Meu rosto tingiu-se de vermelho, enquanto tentava me convencer a não dizer algo que só poderia azedar ainda mais a relação já conturbada que eu tinha com o meu chefe. Eu sabia o que ele estava tentando fazer, e tenho certeza que não ia deixar este homem que trabalhava em um escritório, me fazer parecer como se não levasse a sério o que fazíamos em Hogwarts.
— Somos o tipo de amigos que têm várias coisas em comum. — Respondi.
E antes que eu pudesse acrescentar algo mais lógico, Severus me cortou com sua resposta. — O melhor tipo. Ainda quero entender por que isso é um problema, Robards.
Se eu fosse uma pessoa de desmaiar, eu teria, mas em vez disso, deixei meu cérebro reagir ao seu comentário, em vez do meu coração.
— Não há um problema ou uma razão para estarmos aqui. — Severus continuou de uma forma que deixou pouco espaço para discussão. — Todos aqui estavam cientes de que o meu retorno a Hogwarts atrairia a cobertura da mídia e você me quis aqui de qualquer maneira. Ninguém pode escolher o que é publicado. A não ser que você queira sugerir ao próprio Ministro da Magia que ele aja como um ditador.
Vector soltou uma risada. — Severus, não parece bom...
— Você não vai me dizer com quem posso ou não posso ter amizade, Séptima. — Ele a cortou. — Realmente não importa a um Paparazzi se uma coisa não é o que parece.
Sem argumentos para rebater Severus, Vector voltou sua atenção para mim, seu rosto ligeiramente corado.
— Hermione, com sua história e da Chloe...
Esta cadela realmente foi lá. Eu precisava cortá-la.
— Eu não fiz nada de errado nesse caso. Se eu tivesse, não teria problemas em aceitar a responsabilidade por meus atos. Severus é meu amigo e não há nada inadequado sobre a nossa amizade. Não tenho nada para me envergonhar.
A picada da culpa sobre o fato de que eu não tinha contado a ninguém que éramos amigos, estava lá, mas eu só tinha guardado isso para mim mesma, porque ambos somos avessos a esse tipo de atenção. Havia algumas coisas que as pessoas não entendiam, e obviamente essa era uma delas.
Severus descruzou os braços e inclinou-se para frente, com os cotovelos sobre os joelhos.
— Isto não seria um problema se não fosse minha recusa e do Ministério em confirmar a suspensão do meu registro de aparatação. Não há nada aqui que vale a pena termos uma conversa. A senhorita Granger é a minha melhor amiga.
Eu disparei um olhar pelo canto do meu olho, lembrando-lhe de nossa briga no carro. Aquela era a forma como melhores amigos tratam uns aos outros? Aparentemente, ele viu minha expressão facial e não se importou que eu não estivesse me sentindo particularmente amigável com ele nos últimos dias.
— Nada que vocês digam mudará isso. É o fim da história. Se quiserem discutir isso novamente, sugiro que convoquem Kingsley para rescindir o meu contrato de trabalho. — Ele concluiu.
— Hermione? — Vector perguntou.
Fiquei dividida entre o pânico por eles estarem fazendo uma grande coisa disso e me debatendo se valia ou não a pena me defender de novo. Eu sei que com meu status bruxo podia agir como uma "diva" e mandar Vector e Robards irem para o inferno. Mas eu era melhor que isso.
— São apenas fotos de nós dois entrando em seu carro. — Argumentei indiferente.
— Srta. Granger, acho que você deixou claro que suas habilidades de tomar decisões em casos assim não são nada conf… — Robards começou a falar.
Severus se pôs de pé na mesma hora e meus olhos se arregalaram para sua postura ameaçadora, varinha em riste.
— Eu vou te alertar agora, Robards, que você não quer terminar essa frase. — Ele rosnou.
Minerva engasgou. — Não há nenhuma razão para alguém se alterar. Eu acredito em você, Hermione, se você diz que você e Severus são amigos, é o que são. Você nunca me deu um motivo para não confiar em você. Eu acho que todos concordamos que queremos fazer um trabalho que traga o melhor resultado, a volta da magia. E Severus veio aqui para somar, a atenção da mídia devia ser a última coisa a estarmos discutindo.
— É minha culpa e assumo a responsabilidade pela atenção negativa, mas não vou deixar você culpá-la por ser minha amiga. — Disse Severus. — Hermione não fez nada de errado.
Eu não tive tempo de reagir ao som da voz dele se referindo a mim com o meu primeiro nome na frente de outras pessoas, porque Vector foi a próxima a falar.
— Não acho que vocês entendem. Isto não parece bom. — Ela emendou rapidamente, antes que alguém a cortasse. — Você acha que poderia... Não sei, Severus, falar com alguém e fazer algo publicamente para afastar os rumores de... Dessa… Amizade?
— Ir a um encontro? — Robards reforçou.
Severus nem hesitou. — Não.
— Mas...
— Não. — Ele repetiu...
Os olhos desesperados de Vector olharam para os meus. — Hermione, querida, o que acha? Você poderia ir a um encontro? Se deixar ser fotografada em…
— Não.
Definitivamente não fui eu que respondi. Foi Severus, pura raiva emanando de sua postura. Eu o deixei prosseguir.
— Hermione...
— Não, Séptima. — Severus repetiu. — Absolutamente não.
— Mas...
— Pare de perguntar! — Ele gritou. — Eu não farei isso e ela também não vai.
— Vector, já fiz tudo o que você solicita a mim. Isso não é algo que eu quero fazer. Tenho coisas demais nas minhas mãos. — Expliquei. Cautelosamente, tentando aliviar a hostilidade irradiando do homem ao meu lado.
Robards teve a audácia de rir.
O feitiço disparou tão rápido da varinha de Severus que imobilizou a risada do coordenador internacional dos programas de treinamentos mágicos no rosto dele, antes que seu corpo desabasse para o lado, rígido como uma rocha.
Minerva suspirou. — Eu não queria ter que obliviá-lo. Severus, você não pode mesmo conter esse seu temperamento de cão?
Severus não respondeu, sua varinha e olhar ameaçador agora estavam sobre Vector, que foi quem, na verdade, sugeriu esse absurdo sobre encontros.
— Hermione, querida, você pode esperar lá fora um momento? Preciso de uma reunião com a equipe de orientadores, sim? — Minerva me perguntou gentilmente. Pude sentir todo o cansaço em sua voz.
Acenei e saí do seu escritório. Esperei por dez minutos no corredor abaixo da escada em espiral. Robards saiu primeiro, passando por mim sem me olhar. Severus desceu imediatamente depois e Vector ficou no escritório para discutir algo com Minerva. O que mais poderia ser além de mim ou Severus?
— Não há nada com que se preocupar. — A voz profunda dele me garantiu.
Fechei meus olhos e respirei fundo tentando expulsar toda a frustração que senti na conversa que tinha recém terminado. Uma desagradável sensação incômoda residia na minha barriga. A conversa terminou quando Severus azarou Robards, isso não era bom em nenhum nível e, honestamente, eu estava preocupada com os jornais escavando e prestes a encontrar toda a merda que foi publicada sobre mim na França, tal qual Vector tinha acabado de tentar fazer.
A mão dele roçou no meu cotovelo.
— Pare de se preocupar! — Ele ordenou.
Eu pisquei meus olhos, encarando-o e nem pensei sobre meu cotovelo se afastando. Ele tinha me chamado de sua melhor amiga; dava-lhe meio crédito por isso... Mas ele ainda era um idiota.
— Não posso. — Sussurrei para ele quando nos aproximamos das escadas. — Robards não brinca. E ele não é um fã meu.
— Robards é como todos os aristocratas do Ministério. Ele acha que é uma nova versão de Merlin, mas não é. — Mais uma vez, ele segurou meu cotovelo. — Você não tem nada para se preocupar.
Meu estômago e meu chefe diziam o contrário. O nervosismo começou a devorar meu intelecto.
— Eu não quero sair, eu preciso pesquisar sobre a magia das crianças. Eu acabei de conhecer Scorpius… Eu prometi a Draco…
Eu estava no início de um ataque de pânico, para confessar dessa forma a Severus que eu tinha reencontrado Draco. Eu não quero ter um ataque de pânico. Minhas mãos tremeram e suaram e apertei uma na outra, disposta a tentar me acalmar.
— Hermione. — Severus ficou bem na minha frente. — Nada vai acontecer. Não deixarei Robards fazer com que aconteça, entende?
Meus joelhos começaram a tremer da mesma maneira que fazem quando estou na frente de uma câmera. Oh Deus, eu vou vomitar. Em algum momento nos últimos dois minutos, também comecei a suar.
— Hermione. — A voz de Severus, normalmente suave, ficou mais alta e determinada e suas mãos pousaram nos meus ombros. — Ninguém vai te obrigar a fazer nada que você não queira fazer. — Ele forçou seu tom de voz a voltar a uma cadência suave e reconfortante. — Eu prometo.
Foi o "Eu prometo" que finalmente me fez olhar para ele; senti um enorme nó feio de pavor rastejar até o centro do meu peito.
— Gosto de Hogwarts.
Seus olhos pareciam estar ainda mais perto dos meus.
— Você se lembra quem é o Ministro da Magia?
O desejo de dar-lhe uma resposta malcriada para uma pergunta tão idiota, estava lá, mas em vez disso, concordei.
— O que tem ele?
— Eu posso influenciá-lo.
— Você vai amaldiçoá-lo? — Tossi.
— Se for necessário.
A minha crise de pânico, se possível, aumentou. — Não, por favor. Eu só… só quero ficar aqui.
— Eu sei. — Severus falou e deu um aperto nos meus ombros. — Apenas se for preciso, nós nos preocuparemos com isso. — Continuou ele. — Você é a melhor bruxa na equipe. Eles não vão se livrar de você.
Mais um tiro no meu coração. A melhor bruxa de Hogwarts. Embora eu fosse completamente ciente desse fato, me senti gananciosa em guardar essa frase maravilhosa soando na boca de Severus para lembrá-lo dela quando ele chamasse os meus feitiços de lentos, ou mesmo para um dia, quando fosse mais velha, que essa frase seria uma doce lembrança; eu poderia pensar no passado e me lembrar do dia que Severus Snape me disse que eu era a melhor bruxa do castelo.
Ele imprimiu mais força ao aperto no meu braço. — Sim?
Concordei, ainda um pouco insegura. — Sim.
Severus assentiu com a cabeça e soltou um suspiro cansado. Pela nossa proximidade, consegui notar que havia olheiras sob seus olhos, e ele me encarou com uma confusão de sentimentos expressos neles.
— Quando me irrito, eu tenho dificuldade em controlar o que digo. — Ele confessou.
Eu pisquei.
— Oh, eu sei. Confie em mim. — Respondi, cansada demais para discutir com ele sobre isso. — Ou não.
Ele soltou um suspiro exagerado. — Você é minha melhor amiga.
Comecei a estampar a minha expressão de descrença, algo como: "Sim, certo. Eu? Sua melhor amiga?". Eu concordei com isso dentro do escritório de Minerva, porque estava tão nervosa com aquele interrogatório e aquelas fotos, que o título me pareceu apenas uma tábua de salvação que me livraria de problemas. Mas... Assim quando comecei a me fazer de descrente, parei. Severus não era um homem que usava suas palavras em vão, então, realmente, eu quis acreditar que ele havia sido sincero lá dentro.
— Você tem um modo horrível de demonstrar.
— Eu sei. — Ele concordou, mas não pediu desculpas. — Fiz uma grande quantidade de coisas que me arrependo e é difícil para mim lidar com elas.
Meus olhos estreitaram, curiosidade me picando. Talvez nunca tenha a chance de encontrar um apologético Severus Snape novamente e dei uma olhadela rápida ao redor para me certificar de que não havia outra pessoa a distância de audição.
— É por causa delas que você estava tão bêbado naquela noite, em setembro?
Ele baixou o queixo, concordando.
Eu tinha certeza que ele ainda se culpava por ter sido quem foi. Ninguém esquece o passado do dia para a noite. E estamos falando de um homem que cometeu um erro que custou a morte de uma família. Eu tinha certeza que nenhum título de herói ou Ordem de Merlin, primeira classe, compensaria isso na cabeça dele. Eu me culpava até hoje por todas as pessoas que perdemos naquela guerra, e eu sempre escolhi o lado certo. Não imagino o fardo que deve ser para ele, que escolheu o lado errado, e precisou cumprir ordens terríveis enquanto espionava. Eu também me entregaria a um vício. Eu o entendia, ele tinha estado arrasado e fora de si, quando o resgatei naquele bar há meses. Pessoas cometem erros o tempo todo. E ele tinha o direito de afogar os seus no fundo de um copo.
— Ok. — Disse-lhe simplesmente. — Obrigada por me contar.
Seu olhar cintilou e passou de um dos meus olhos para o outro, antes que ele respirasse fundo e seu pomo de Adão balançasse com a força.
— Eu estava em um momento ruim, depois que sobrevivi. — Ele explicou em voz baixa. — Fiquei zangado, por achar que não merecia essa chance. E a bebida… — Ele fez uma pausa, buscando as palavras certas. — Ela se tornou um mau hábito, não me orgulho.
Assenti devagar, olhando ao nosso redor novamente, para me certificar de que ninguém estava por perto.
— Precisa de ajuda? — Sussurrei.
Severus negou com a cabeça.
— O último episódio foi há mais de um ano. — Levantei as sobrancelhas para ele. Seu prazo era discutível. — Com exceção desse dia, não tenho nenhum problema com a bebida. Mas ver o castelo… — Severus esfregou seu osso da testa num claro sinal de que isso era algo difícil de admitir.
Quem queria admitir suas falhas? Não eu, e definitivamente, ele também não.
— Eu sei que existem pessoas que esperam coisas melhores de mim. Não haverá outra situação assim no meu futuro, de qualquer maneira. Prefiro ficar em casa. — Ele tocou o meu pulso. — Ou na sua.
Sim, eu era uma idiota total, perdoando-o muito facilmente. Minha expressão facial deve ter dito isso, ou ele usou de sua legilimência em mim, porque ele aumentou o aperto no meu antebraço.
— Você e eu brigaremos, é nossa natureza. Você precisa se acostumar com a ideia. — Os cantos de sua boca subiram em um meio sorriso, até ele ficar sério novamente. — Estamos bem agora?
Estávamos? Eu sabia que seria a coisa certa a dizer, mas não era uma mentirosa. Pelo menos não normalmente.
— Eu ainda acho você um imbecil pelo que me disse, mas vou te perdoar, porque sei que você estava chateado e é normal para algumas pessoas dizer coisas que não sentem, no calor do momento. Portanto, desde que você não repita algo assim, posso viver com isso dessa vez, Severus.
O olhar que ele me deu ficou em branco por tanto tempo, que não estava esperando que ele reagisse da forma que fez. Eu achei que ele iria discutir um pouco mais sobre como eu precisava acabar com essa raiva dele. Mas ele deslizou o polegar, fazendo círculos em meu pulso, o calor dos seus dedos emitindo uma sensação quente que deslizou sob a minha pele e acertou direto no meu coração.
— Eu também preciso te perguntar uma coisa, Severus, e eu preciso que você seja sincero comigo.
Ele puxou a varinha e o ouvi murmurar feitiços de privacidade em volta de nós. Seus olhos voltaram-se para mim. — Vá em frente.
— Você pode aparatar? — Sussurrei.
— Não. — Ele respondeu, sem elaborar.
— Por uma causa física, mágica ou de registro? — Insisti.
Responder a pergunta não era tão fácil quanto eu esperava que seria, mas com um grande engolir, Severus finalmente me confirmou o que eu achava que tinha visto.
— Puramente por registro. Ele foi cassado, serei rastreado se aparatar.
Bem... Não era exatamente chocante para mim. Eu tinha certeza de tê-lo visto aparatar no dia que discutimos sobre o happy hour de Justin e as meninas. O chocante, era o fato dele ser um bruxo mestiço e conseguir magia o suficiente para isso.
— E na noite que me salvou lá no meu quarto, você enviou um Patronus corpóreo a Neville, perguntando se eu era alérgica a algum tipo de poção.
Não era uma pergunta, mas ele confirmou com a cabeça mesmo assim. Eu sabia o que isso queria dizer. Eu vi todos os sinais. Severus sabe que sou inteligente e mais cedo ou mais tarde ligaria os pontos e o pressionaria por uma resposta. Mas talvez, para ele, fosse cedo demais para confiar em alguém. Só que essa era a hora dele me provar que eu era mesmo sua melhor amiga. Agora eu entendia que toda a situação com Robards foi o que nos trouxe aqui, nesse momento onde eu receberia, ou não, o seu voto de confiança.
Meus olhos se ergueram para seu rosto. Há quanto tempo eu estava olhando para ele mesmo? Reuni toda a minha coragem e finalmente o perguntei:
— Qual é o seu nível mágico, Severus?
Nós nos encaramos. Severus parecia inseguro que eu soubesse essa informação, mas eu sentia em seu olhar o quanto sua declaração no escritório de Minerva era verdadeira. Ele com certeza tinha motivos para não querer me responder, e nenhum deles tinha a ver com o seu nível de confiança em mim. Quase um minuto depois de eu terminar de falar, ele brandiu sua varinha e eu pude ver a forma corpórea do seu Patronus passar entre nós e o brilho do feitiço dele fez suas orbes brilharem ainda mais, Severus deu um passo para mais perto de mim, e precisei levantar o pescoço para manter nossos olhos conectados. Seus dedos quentes, que ainda circulavam o meu pulso, escorregaram até os meus próprios dígitos e ele entrelaçou seus dedos nos meus quando fios da névoa prateada se soltaram do seu animal brilhante e envolveram as nossas mãos ligadas. Ele me respondeu com uma única palavra. E ela mudou tudo o que eu achava que sabia sobre esse homem.
— Doze.
Notas Finais
Quem daqui já esperava esse poder todo do nosso protagonista?
E qual será a reação de Hermione, hein?
Eu lancei um enigma no grupo de Whatsapp sobre uma pista deste capítulo. Em um dos chutes da Chiasant, ela acertou: o agente era um Paparazzi. (Olá, Gaga)
Este capítulo tem uma fanart oficial feita pela Chiasan, que pode ser encontrada pelo link em meu perfil.
Marcela (mrenata19) leu essas linhas antes de todes e disse que estavam aprovadas! Espero que vocês também gostem! Valeu pela força, amiga, e pela betagem emergencial. Te amo.
