Notas do Autor

Disclaimer: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.


Capítulo 18 - A Calmaria em Nós Dois

O quarto ainda estava escuro quando pisei no chão frio. Não importava se eu configurava ou não um alarme, meu corpo só sabia que era hora de levantar. O mais silenciosamente que pude, fui até minha mochila e me atrapalhei no escuro para encontrar a roupa que deixei bem na parte superior dela. Tinha acabado de puxar o meu blusão de dormir sobre a minha cabeça quando veio a luz fraca de um telefone. Eu congelei.

Congelei, vestindo nada mais que a minha calcinha.

— O que você está fazendo? — A voz grossa de sono de Severus perguntou.

Eu tinha duas opções: poderia surtar e fazer um escândalo ali estando praticamente nua, ou poderia fingir que estava levando isso numa boa e fazer parecer como se fosse natural que estava de topless na frente dele.

— Vou fazer um pouco de caminhada. — Respondi em um sussurro, ainda não me movendo. — Volte a dormir.

Houve uma pausa e então o colchão começou a ranger. Eu sabia de antemão o que ele ia dizer.

— Eu irei. — Afirmou enfático.

Oh meu Deus.

Fiquei de joelhos o mais rápido possível, agora que era capaz de ver, puxei o sutiã esportivo tão rápido como um raio, assim que o som abafado dos pés dele plantaram no chão e me avisou que o meu tempo acabou. Eu nem me permiti pensar que ele teve provavelmente um vislumbre lateral do meu seio quando o interruptor foi acionado e puxei uma blusa sobre a cabeça antes de me levantar, já segurando minha legging com a outra mão, pronta para vesti-la logo que possível. Mas tão certo como o vento lá fora, eu não vou me curvar e colocá-los com a minha bunda virada para ele.

Assim que me virei para ficar de frente, eu parei, porque Severus estava de frente para mim, me observando com o rosto sonolento e vestindo nada mais que uma cueca boxer. Tudo o que vi foi o seu abdômen pálido com pelos curtos descendo até a borda da sua peça íntima cinza, que estampava a ereção matinal encaixada em sua coxa.

Eu tossi e olhei suas coxas mais uma vez, antes de rapidamente entrar na minha calça e puxá-la pelas minhas pernas, no mesmo momento em que ele também vestiu-se em sua própria calça de moletom. Eu não conseguia respirar, e não o encarei quando peguei as meias do chão.

— Hum, eu vou… — Tossi novamente. — Esperar por você na cozinha.

Ele resmungou seu acordo e pisei para fora do quarto, até me lembrar que deixei os meus tênis lá dentro. Gemi, e voltei, agarrando-os, sem olhar para Severus. Me tranquei no banheiro, respirando rápido enquanto fazia minhas rotinas de limpezas matinais.

Harry já tinha ido embora e Ginny terminava de colocar os casacos nas crianças para levá-las à creche. Ambos os garotos correram para me abraçar e preenchi cada área do rostinho deles com beijos doces. Assim que os três se despediram, segui para cozinha e enchi duas garrafas de água para nosso esporte ao ar livre, também pegando um próprio copo para mim, enquanto o esperava. Não me ocorreu, até que ele chegou na cozinha, que eu deveria no mínimo ter arrumado meu cabelo ao invés de deixá-lo na bagunça que estava.

— Pronto? — Perguntei.

Sonolento e com seus olhos e bochechas inchadas, ele confirmou com a cabeça. Não olhe para sua virilha, não olhe para sua virilha. Eu olhei de relance. Bem rápido.

— Olhos aqui em cima, Granger.

Eu queria morrer.

— O quê? — Perguntei mortificada.

Olhei lentamente para cima para ver um olhar presunçoso dele, mas por algum milagre, ele decidiu não me envergonhar e dizer que ele sabia o que eu estava olhando enquanto me fazia de sonsa.

Eu ia aproveitar o passe que ele estava me dando? Sim. Acenei para ele ir em frente, percebendo que ele tinha tirado o envoltório de sua tatuagem. Uma pitada de cor espiava para fora da sua manga da camisa.

— Vamos lá. Não vou ter calma com joelhos velhos, então é melhor você conseguir me acompanhar. — Chamei, fazendo questão de provocá-lo.

Severus apenas rosnou em resposta.

Assim que chegamos ao parque, eu percebi Severus examinar cuidadosamente nossos arredores. Ele apontou com a cabeça para a borda da floresta que margeia o parque urbano e eu o segui, não tendo nenhuma chance de perguntar por que ele estava indo para lá em primeiro lugar. Ao atingirmos a primeira fileira de troncos espessos, ele finalmente falou.

— Você claramente não se lembra que Minerva nos incubiu de um treinamento.

As palavras dele me pegaram de surpresa. Parecia ter sido uma vida inteira atrás, o dia em que eu subi de nível mágico e chorei no escritório de Minerva pela ameaça de ser realocada para a equipe do Ministério. Como eu pude esquecer disso?

— Eu achei…

— Que seria necessário apenas se você precisasse fugir? — Ele perguntou.

— Sim. — Confessei. — Você e Minerva sabem algo que eu não sei? Sobre a extinção da magia?

— Ainda não entramos em um consenso sobre o motivo da magia ter desaparecido. Nossa única certeza é que é algo antigo demais para ser combatido com os feitiços que conhecemos. — Severus respondeu. — O treinamento para acessar o seu poço de Magia Antiga se faz necessário, mesmo que consigamos driblar o Ministério e você continue em Hogwarts.

— Esse treinamento… Como sabemos a finalidade? — Perguntei baixinho, o medo me puxando em uma ansiedade incontornável. — Você vai me treinar só para acessar um poder que desconheço e vocês nem ao menos sabem o que estaremos enfrentando?

— O treinamento é para você, Hermione. — Ele foi incisivo na afirmação.

— Para quê, Severus? Para fazer do meu nível mágico recém-atingido um espetáculo? — Perguntei, incomodada que isso trouxesse mais atenção da mídia sobre mim.

Ele pousou um dedo no meu queixo levantando mais a minha cabeça e aproximando seu rosto do meu. Sua expressão era séria, mas seus olhos estavam brilhantes, de uma forma que passava a confiança inabalável dele em mim.

— Desejo que se torne quem nasceu para ser, a heroína de Hogwarts. Agora vamos lá! — Ele comandou, como se não tivesse, novamente, me dito algo tão desconcertante.

Severus subiu um monte rochoso em direção às extensões mais altas da floresta, ainda envoltas pela névoa da manhã. Ele não proferiu mais nenhuma palavra até que tivéssemos chegado a uma clareira.

— Você planejou isso? Por isso se ofereceu para vir comigo? — Perguntei, curiosa por ele saber da existência desse lugar.

— Sim. Treinar você em Hogwarts não funcionaria, nem próximo de nenhum local mágico. Quando Minerva informou que visitaria os Potters, estudei a localização e achei esse local na mata.

— Você podia ter me falado sobre isso. — Resmunguei levemente irritada.

— E perder a expressão no seu rosto quando me ofereci para visitar Potter? — ele sorriu irônico. — Não, acho que não. — Eu tive vontade de esganá-lo. — Começaremos com o elemento terra. Vá em frente e faça as pedras flutuarem ao seu redor.

— Eu não trouxe a minha varinha. — Falei exasperada.

— Sem varinha. Vai convocar as pedras e flutua-las ao seu redor. — Ele ordenou.

— Não posso controlar os quatro elementos sem uma varinha. Ninguém pode.

— Se eu quisesse desculpas, pediria. Convoque as pedras. — Severus rosnou.

Eu não sabia como. Sempre soube de magia acidental por crianças e magia destrutiva por Obscurus, mas nunca ouvi nada sobre dominar a habilidade de controlar a minha magia sem focá-la com uma varinha, quando dizia respeito aos quatro elementos. Nós estudamos isso em todas as pesquisas que fazemos em Hogwarts. Ele sabe disso.

— Espero que tenha trazido um lanchinho, Severus, porque vamos ficar aqui por muito tempo, se a lição de hoje depende disso.

O sorriso dele foi sutil, mas ainda todo no modo professor Snape de ser.

— Cale essa boca espertinha e convoque uma parede de pedras ao seu redor.

Um estremecimento percorreu o meu corpo. Por que a ordem dele se parecia tanto com uma ameaça?

— Não posso! — Retruquei frustrada.

Então Severus me atacou. Ele convocou uma rocha ao seu redor e a disparou contra mim. Ela passou por um triz da minha orelha esquerda. Me esquivei dessa primeira, as mechas do meu cabelo chicotearam ao vento e girei longe o suficiente na direção oposta para evitar o segundo golpe. Contudo, Severus era irritantemente rápido e implacável e sem a varinha na sua mão, eu mal conseguia perceber seus movimentos. Eram tão rápidos que não tive chance de desviar ou antecipar a terceira rocha. Ela se chocou contra minha coxa esquerda com tanta força, que eu perdi o equilíbrio e caí.

Rolei, olhando o céu cinzento pairando acima da minha cabeça enquanto tentava não pensar na dor ecoando na minha perna. Severus pairava sobre mim com o rosto fechado em desgosto.

— Convoque-as e impeça as minhas de atingi-las. — Sibilou ele.

Eu soltei um bufo morto e deprimente até para os meus próprios ouvidos.

— Não posso! — Respondi irritada. Porque Severus está me obrigando a fazer uma magia impossível de ser feita? — Você acha que pode me fazer controlar um dos quatro elementos me dando pedradas?

Ele grunhiu, se agachando para que seu rosto estivesse próximo do meu.

— Eu controlo os quatro elementos desde que a magia se foi. E eu era um nível abaixo do seu atual, então a única explicação para o seu fracasso é que não tem controle sobre si mesma. Nenhum controle e nenhuma disciplina. Levante-se e tente de verdade. — Ele falou subitamente, ficando novamente de pé.

Treinamos por duas horas inteiras. Eu não consegui levitar nenhuma pedra sequer.


— Se você quiser ir a algum lugar, me avise. Há uma central de táxis que podemos ligar. — Disse ao meu orientador no café da manhã.

Ele se inclinou em seu lugar, arrematando um ovo cozido. — Não.

— Pense nisso, se você quiser. Eu vou fazer alguma coisa com a grama primeiro, e então quero ir ao shopping, comprar um presente de aniversário para o James. Vai demorar algumas horas até que eu esteja pronta para ir.

— Você vai cortar a grama do jardim? Ao modo trouxa? — Ele perguntou e confirmei com a cabeça. Os olhos de Severus me avaliaram, ele provavelmente estava lembrando quando eu o disse ontem que evito usar magia na frente de Ron. — Eu vou ajudá-la.

— Você não precisa…

— Eu quero. — Ele me cortou.

— Severus, realmente não precisa.

— Eu vou ajudar. — Seu tom era de que o assunto estava encerrado.

Eu olhei para ele por um segundo. Que homem teimoso!

— Tudo bem, se você realmente quer.

Eu duvidava que ele já tivesse cortado um gramado à moda trouxa na vida, mas não era idiota o suficiente para não aceitar ajuda quando era oferecido. Poucos minutos depois, estávamos do lado de fora, e ele estava me ajudando a tirar o cortador de grama de Harry da garagem e a tesoura e as luvas para remover ervas daninhas.

— Qual você prefere? — Perguntei-lhe, uma vez que todo o nosso material estava exposto.

Ele encolheu os ombros, mas olhou para o cortador de grama com interesse e desconfiei que ele nunca tinha visto um na vida. Fiquei tentada a insistir de que eu podia fazer tudo sozinha, mas não consegui. Se ele veio comigo para Bamburgo com a desculpa de que "não tinha mais nada para fazer", embora eu agora soubesse que isso era uma mentira, e tinha se oferecido para me ajudar, eu iria incluí-lo nas atividades.

— Corte, e eu cuido dos cantos e ervas daninhas. — Disse a ele, certificando-me de não estar lhe dando um olhar de piedade. — Tudo bem?

Seus dedos longos enrolaram na barra superior do cortador e ele assentiu. Lhe entreguei um par de tampões de ouvido descartáveis, óculos de proteção e um sorriso que foi animador, e fiz uma oração mental para passarmos por isso intactos.

Severus Snape levou quase duas horas para cortar o gramado em volta. Ele teve que passar três vezes pelos mesmos locais para conseguir cortar e quase destruiu o motor quando não esvaziou o saco na segunda passada. A culpa foi minha, não tinha dito a ele essa informação; mas também foi dele que não me tinha feito uma única pergunta, parecendo muito orgulhoso de si mesmo. Honestamente, me senti como uma mãe deixando seu filho pela primeira vez na pré-escola quando dei-lhe palmadinhas nas costas e o cumprimentei pelo "bom trabalho", antes de guardar o equipamento.

Uma hora depois, Severus tinha o mesmo olhar que deu para o cortador de gramas em seus olhos novamente.

— Você já veio a um shopping antes? — Perguntei-lhe, uma vez que passamos pelas portas de vidro.

Ele mantinha sua atenção em tudo ao nosso redor. O cabelo estava escondido por um gorro folgado que ele tinha colocado na sua cabeça, e tinha sido atencioso o suficiente para vestir uma camisa de botões de manga comprida. Com seu cabelo e tatuagem coberta, estávamos bastante confiantes de que mesmo que encontrássemos alguém da imprensa do mundo bruxo, ele não seria reconhecido. Eu realmente esperava que fosse assim.

— Sim, já fui a um shopping antes. — Ele murmurou.

— O Beco Diagonal não conta. — Disse a ele, referindo-me às lojas da rua mágicas de Londres.

Ele olhou torto para mim. — Fui para vários centros comerciais trouxas. — Insistiu. — Um longo tempo atrás.

Eu ri e enfiei o meu braço pelo seu cotovelo, ganhando um pequeno sorriso de volta. — Bem, não roube nada porque não vou pagar a sua fiança, ok?

— Sim, mocosa.

— Bom. — Sorri animadamente e agarrei o pulso dele, puxando-o na direção de uma das lojas que precisava visitar. Ele analisou minuciosamente cada loja pela qual passamos, até que encontrei um dos presentes que estava procurando.

— O que vem a seguir? — Ele questionou quando saí do caixa.

— Pensei em um novo par de tênis. — Apontei na loja por perto. — Crianças da idade do James crescem muito rápido, então temos que comprar sapatos novos para ele o tempo inteiro. E depois, eu pensei em aparatar até a galeria mágica da cidade. Você se importa em uma aparição lateral? — Perguntei, lembrando que ele tinha perdido sua licença de aparatação.

Podia jurar que ele soltou um som aliviado, por saber que iríamos visitar algum local mágico. Após a visita a loja de sapatos, saímos do shopping e entramos na primeira viela vazia que encontramos, nos aparatei direto para a pequena rua de suprimentos mágicos em Bamburgo. Assim que entramos no boticário do final da rua, o empregado do local veio até nós.

— Posso ajudá-la? — Perguntou o jovem, me olhando com muito interesse, considerando quem eu sou, ele provavelmente me reconheceu.

Eu apontei para a prateleira com os mini frascos de Felix Felicis.

— Preciso de quatro deles, por favor.

O empregado assentiu com a cabeça em aprovação.

— Também temos os de tamanho original. — Ele ofereceu, apontando para os frascos de 20ml do lado oposto da loja.

— Só os de dose única. — Eu sorri para ele.

— Os maiores estão em oferta, compre dois e leve um gratuito. — Ele continuou.

— Estou bem, obrigada, só vou levar os pequenos, os fabricados mais recentemente, por favor.

Ele encolheu os ombros. — Eu pegarei no estoque, então.

Finalmente. Eu me virei para ver Severus segurando um frasco de poção do amor até o rosto com interesse.

— Essas são boas. — Me intrometi.

Os olhos escuros dele desviaram até os meus, e ele assentiu de acordo.

— Encontrou o que você queria? — Me perguntou, devolvendo o frasco à prateleira.

— Sim. — Cocei a minha bochecha e imediatamente estreitei os olhos para ele. — O funcionário vai trazê-los para mim, agora. E você, encontrou alguma coisa que você quer? — Perguntei.

— Aqui. — A estranha voz disse atrás de mim, um segundo antes do funcionário entrar ao redor e me estender a mini caixa com os quatro frascos.

— Perfeito. Vou levá-los.

— Claro que não. — Severus passou para meu lado.

— Vou levá-los. — Insisti para o jovem, ignorando o homem ao meu lado.

— Granger, você não vai comprar isso. — Severus insistiu.

O funcionário olhou para frente e para trás entre nós, com uma expressão confusa.

— Eu os compro para o Harry e as crianças desde que James nasceu. Eles a usam em um dia de diversão familiar, para que seja um dia especial. É o que eles sempre amam receber. — Eu expliquei, evitando o olhar dele.

— Granger. — Sua mão tocou meu cotovelo. — Consigo isso para você de graça. — Ele disse num tom exasperado que ele usava sempre que eu estava sendo teimosa. — Eu literalmente fabrico isso desde que fiz a minha especialização. — Os dedos dele pressionaram um pouco mais forte o ponto macio do interior do meu cotovelo. — Não compre.

— Você trabalha na… — O funcionário começou a dizer, seus olhos amplos e muito interessados. Mas felizmente ele não estava prestando atenção suficiente no homem de pé na frente dele, caso contrário, ele iria tê-lo reconhecido.

— Você pode nos dar um segundo? — Eu o cortei com um sorriso apologético.

O que ele podia dizer? "Não"? Relutantemente, ele assentiu e se afastou. Eu finalmente reuni minha coragem e enfrentei Severus, que cruzou os braços e me encarou de volta. Paciência, Hermione.

— Diga-me por que você não quer me deixar comprá-los.

— Não quero que gaste dinheiro.

Oh Merlin. — Severus, eu vou comprar a "sorte líquida" independentemente se você as fabrica ou não. É simbólico para mim e pro Harry. — Eu não queria abrir para ele a ferida de que foi a Felix Felicis que nos ajudou em Hogwarts na noite fatídica da morte de Dumbledore e que hoje, usamos a poção apenas para momentos felizes. Não, eu não seria insensível ao ponto de lançar essa carta.

A mandíbula dele se cerrou e notei que seus ombros e bíceps estavam tensos.

— Posso fabricar qualquer tipo de poção que existe no mundo bruxo e não pago por nenhum frasco há mais de vinte anos. Você não deveria ter que pagar por nenhum deles também. Você é a maior bruxa de toda Grã Bretanha. — Cada célula do meu corpo congelou. Ele notou. — Isso mesmo, Hermione. Você é uma heroína desde que era adolescente. As pessoas é quem deveriam pagar para que você consumisse o produto delas. Então, eu não vou deixar você comprar nenhum frasco de poção com o dinheiro que você trabalha todos os dias naquele hospital, de novo salvando a vida dos outros, para ter. Já deixo claro que não hoje, nem amanhã, nem nunca, você precisará comprar um frasco de poção. Nem para você, nem para o Potter ou para quem você quiser presentear, não me importo. — Ele surtou. — Eu consigo ou fabrico o que você quiser, apenas me diga qual.

Abri minha boca para discutir com ele, mas não consegui. Fiquei ali, encarando aqueles olhos brilhantes, sem ter a mínima noção de como respondia a explosão dele. Os dedos dele alcançaram meu pulso esquerdo e já era tão familiar para mim aquele toque, que mesmo com sua expressão dura e séria, me senti cuidada e importante para ele.

— Se você fosse o contrário, você não faria a mesma coisa? — Ele questionou.

Droga.

— Bem, sim. — Eu confirmei resignada. — Mas eu não quero me aproveitar de você. Juro que não te trouxe junto para que você se sentisse forçado a obtê-los. Eu os teria comprado no Beco Diagonal, mas… — Parei de falar quando notei uma mudança de linguagem corporal.

Severus respirou fundo e quando me olhou, sua firme indignação de antes não estava mais em sua expressão. Ele largou o meu pulso e sua mão subiu até a lateral da minha cabeça e seus dedos apertaram suavemente o lóbulo da minha orelha quando ele soltou outra respiração profunda, enquanto que eu tinha perdido completamente a minha capacidade de movimentar meus pulmões.

— Você é… — Meu orientador balançou a cabeça e suspirou. — Ninguém jamais me obrigará a fazer uma coisa que não quero. Eu já tive muito disso na minha vida, Hermione. Me confirme que você é ciente disso, por favor.

Ele me olhava nos olhos e saber que, indiretamente, ele estava me lembrando que agora era um homem livre, depois de todos os anos em que precisou servir a dois mestres, me fez, se possível, me apaixonar ainda mais por ele.

— Você entende? — Ele insistiu. Seu rosto agora tão aberto, que ele parecia mais jovem naquele instante.

— Sim. — Respondi com a voz levemente fraca.

Severus assentiu com a cabeça. — Você faria isso por mim, se nossas posições fossem invertidas, eu tenho certeza.

— Vocês decidiram se levarão os frascos? — Uma voz inesperada perguntou por trás de mim, cortando o nosso momento de troca.

Levei um segundo para afastar meus olhos para longe dos negros que estavam tão próximos aos meus. — Me desculpe por desperdiçar seu tempo, não vou mais levá-los.

Mas o vendedor não prestava mais atenção em mim. O olhar dele mudou-se para Severus, muito mais interessado. — Você parece familiar...

Eu odiava ser rude, mas agarrei o pulso de Severus e levei-o da loja, antes que o funcionário pudesse analisá-lo mais profundamente. Uma vez que estávamos fora, larguei seu pulso e sorri para ele. Severus imediatamente puxou o seu telefone celular do bolso, acionando uma única tecla. Discagem rápida, pensei.

— Preciso que me envie Felix Felicis, quatro frascos. Estou em Bamburgo… Qual é o endereço onde estamos? — Ele voltou sua atenção para mim e recitei o endereço da casa de Harry. Severus repetiu-o para a pessoa do outro lado da linha. — Eu os quero lá amanhã... E uma amostra da que você me enviou na semana passada... Sim, aquela. Também quatro.

Severus apenas telefonou, disse o que ele queria e desligou. Nenhum obrigado, sem se despedir, nada. Depois que ele terminou de colocar o telefone de volta no seu bolso, ele olhou para mim e franziu a testa.

— O quê, Hermione?

— As pessoas não se irritam, com o quanto você é rude com elas? — Perguntei exasperada.

— Não.

— Nunca? — Ele não se dignou a responder desta vez. — Se eu desligasse o telefone na cara de alguém assim, o que eu não faria porque não é nada educado, eles me xingariam. — Eu estreitei os olhos para ele, pensando na negativa dele das pessoas não se irritarem. — Se você desligasse assim na minha cara, eu mandaria você se foder.

— Oh sim, eu sei que faria. Você praticamente me mandou a merda por ter criticado a porra de um happy hour.

Eu não pude deixar de sorrir com o tom displicente com que ele disse isso. Nossas discussões épicas de antes, agora pareciam um ponto muito distante em nossa relação amistosa.


Muito mais tarde naquele dia, com as crianças devidamente colocadas na cama, e Ron novamente trancado no quarto com elas, sem nem ao menos ter descido para me cumprimentar, nós quatro jogávamos cartas na mesa da cozinha.

— Este é o pior jogo de cartas que já joguei em toda minha vida. — Eu rosnei.

Severus me olhou do outro lado da mesa e sorriu presunçoso.

— Você está sendo uma má perdedora.

Ginny e Harry assentiram com a cabeça, de seus pontos de cada lado de mim. Olhei para os dois com uma surpresa óbvia. Traidores!

— Não sou uma má perdedora. Eles continuam me dando cartas ruins para que não façam você perder, apenas porque é um hóspede! — Acusei, olhando para Ginny com raiva.

— Para mim, parece que você não sabe como perder. — Severus disse secamente, pegando as cartas no meio da mesa para embaralhar.

Fiz um barulho de asfixia e virei minha atenção para o homem emudecido sentado ao meu lado. Harry tinha dito talvez cinco palavras nas últimas três horas.

Ele chegou em casa e nos encontrou assistindo um dos meus episódios favoritos de House na sala e disse uma única palavra: "Oi", me deu um beijo na bochecha e retirou-se rapidamente para cima. Tínhamos comido o jantar que Ginny preparou, com ele dizendo outras duas: "Mione" e "Sim." E as últimas duas palavras que ele disse, foram: "Ás" e "Bati" quando venceu uma das rodadas.

Ginny, por outro lado, tinha decidido que Severus era um bom aliado.

— Hermione nunca gostou de perder. — Ela observou quando Severus deslizou uma carta na direção dela, que ela pegou com um sorriso. — Quando éramos estudantes, ela me fazia jogar jogos repetidamente até que ela ganhasse. E também nunca disputou uma única partida de xadrez com Ron, porque já sabia que perderia.

Ginny estava certa. Eu era petulante e competitiva quando era mais jovem.

— Vocês estão se juntando contra mim. Só digo que seria um jogo muito mais justo, se vocês dois parassem de me fazer pegar mais cartas a cada rodada.

Ginny sorriu novamente quando Severus lhe passou outra carta. — É só um jogo, Hermione.

Eu me certifiquei que Severus visse a raiva nos meus olhos quando me entregou a minha próxima rodada de cartas. Nunca foi só um jogo.

Ao final de nossa noite de cartas, Severus nos deu boa noite e seguiu para o quarto, e eu imediatamente ouvi a voz de Harry.

— Me diverti muito esta noite.

— Você? — Eu perguntei, incrédula.

Ele assentiu com a cabeça sério.

— Você sabe o quão difícil tem sido para mim, não contar a ninguém que Snape está hospedado na minha casa? Minha casa, Hermione! Dormindo no meu quarto de hóspedes, e cortou minha grama! E é seu amigo. Amigo! — Harry colocou a mão no peito e respirou fundo. — Ele é alguém que eu posso pedir perdão por ter sido injusto. Me faz bem saber que ele não morreu e eu posso, de alguma forma, honrar o herói que ele foi. Trazê-lo foi o melhor presente que alguém já me deu. — Ele fez uma pausa e olhou na direção da mulher ocupada em guardar a louça nos armários e baixou o tom de voz. — Não diga isso a Ginny.

E ele estava completamente sério ao final da última frase. Eu gargalhei, muito feliz que pelo menos ele estava atuando normal na minha frente e interagindo, mesmo que muito calado, com Severus.

— Tem certeza, Harry? Não quero que se sinta estranho.

— Se tenho certeza? Claro que sim. — Ele envolveu um braço sobre os meus ombros e me puxou para o lado dele. — Vou me lembrar disso para o resto da minha vida.

Eu ri e inclinei-me para ele. Ele ficou feliz só de ter Severus em casa, mesmo que não tenha falado com ele.

— Obrigada por não contar a todos, Harry. — Agradeci.

Ele e Ginny tinham decidido não chamar os Weasleys para vir no pequeno jantar de comemoração à James, e fazer uma festa à parte para eles somente após eu e Severus termos partido. Honestamente, fiquei um pouco aliviada. Eu realmente não queria que mais e mais pessoas soubessem sobre a nossa amizade.

— Você acha que ele tira uma foto comigo antes que vocês partam, para eu colocar junto com a de todos da Ordem?

— Sim. — Ele vai. Mesmo que eu tenha de obrigá-lo, pensei.

Harry assentiu com prazer e me deu outro abraço de lado.

— Mas você sabe que meu amor por você é maior que o meu fascínio pelo Snape, não sabe?

Assenti. — Eu sei.

— E que eu quero te ver feliz.

— Eu sei, Harry.

— O que ele quer dizer, é que vocês dois podem usar nosso quarto de hóspedes para praticar como os bebês são feitos. — Ginny acrescentou alegremente, sentando-se na cadeira em frente a minha.

— Ginny! — Gemi envergonhada.

— O quê? — Ela sorriu maliciosamente. — Amigos podem transar.

Harry concordou enfaticamente com a cabeça. — É bom ser casado com a minha melhor amiga.

— Vocês dois são terríveis. Eu e Severus não somos esse tipo de amigo. — Rebati.

Eu estava saindo da cozinha quando ouvi Ginny sussurrar audivelmente para Harry, a palavra "ainda".

Passei pela porta fechada do quarto das crianças e não contive meu suspiro de aborrecimento com Ron. Por um segundo, eu debati mentalmente se deveria bater na porta e dizer boa noite, mas decidi contra isso. Íamos sair para o jantar de aniversário de James no dia seguinte e precisava dele relaxado tanto quanto possível, para que a comemoração não se transformasse em um pesadelo.

Quando entrei no quarto de hóspedes, Severus já estava na cama com os lençóis puxados até o meio do estômago, as pernas escoradas e um laptop reclinado contra elas. Eu agarrei minhas roupas e coisas da minha mochila e voltei para o banheiro para tomar banho.

— Vamos treinar pela manhã. — Ele me informou do seu lugar na cama, uma vez que eu estava de volta ao quarto.

— Só se você não me atirar pedras mais uma vez. — Resmunguei para ele, colocando as roupas que usaria pela manhã em cima da minha mochila e me virei para vê-lo sorrindo para mim. Foi assustador, porque, pensando bem, as outras opções eram: me afogar ou atear fogo em mim, além de me atirar no meio de um furacão. Não dizendo uma palavra sobre a minha apreensão com o treinamento, pisquei e subi na minha cama.

— Obrigado por me ajudar com o jardim. Harry me pediu para lhe agradecer.

— Foi um prazer. — Severus respondeu, parecendo tranquilo e relaxado. Essa visão dele era refrescante, na falta de uma palavra melhor.

Dei-lhe um sorriso e sentei, rastejando debaixo das cobertas, eu mal tinha puxado elas até meu peito quando ele falou novamente.

— Foi a minha primeira vez usando um cortador de grama.

Eu sabia! Não disse isso, é claro, em vez disso eu soltei um muito adulto, "Oh, realmente?"

Houve uma pausa antes dele continuar.

— Eu gostei. É, de certa forma, relaxante. Entendo porque é um dos seus hobbies favoritos.

Espere um segundo. Eu sabia de fato que nunca tinha dito a Severus que jardinagem era um dos meus hobbies. Não havia qualquer dúvida na minha mente de que nunca tinha mencionado essa informação.

— Como você sabe sobre os meus hobbies? — Perguntei-lhe casualmente, tendo a certeza de que estava fazendo uma expressão meio confusa.

— Eu procurei. Você tem no seu perfil. — Ele disse sem pular uma batida.

O que? Sentei novamente e olhei na direção da cama dele.

— Você procurou? — Perguntei, sentido meu coração acelerar em curiosidade.

Mesmo estando do outro lado do quarto, reconheci que ele assentiu.

— Sim.

— ...Você tem um perfil? Numa rede social trouxa? — Perguntei, me esticando para olhar a tela do seu laptop, de repente muito interessada no que ele estava mexendo.

Ele me olhou de soslaio.

— Você vai ter um torcicolo se continuar bisbilhotando desse jeito.

Soltando uma risada envergonhada, saí rapidamente da minha cama e fui me sentar borda de seu colchão, muito interessada.

— Você usa rede social?

Severus olhou para mim. — Sim. — Em seguida, ele acrescentou: — Eu tenho uma conta falsa.

— Não! — Eu gritei, rindo.

— Sim. — Ele confirmou.

— Posso ver isso?

Severus olhou como se quisesse negar meu pedido, mas finalmente assentiu com a cabeça e, um minuto depois, me entregou o computador. A página azul e branca tinha "SS Prince" e nenhuma foto de perfil. Apenas um álbum com algumas poucas imagens genéricas de paisagens. Seu número de amigos? Vinte. Eu olhei para ele por cima do laptop e senti meu coração parar, só um pouco. Algo aguado concentrou-se na minha garganta, enquanto devolvia o computador para ele.

— Não entro muito, mas você pode me adicionar como amigo, se quiser. — Ofereci em voz vacilante.

— Sim, será um prazer — Ele disse com um pequeno sorriso, então eu soube imediatamente que ele não quis dizer isso como um idiota.

Olhei para a tela novamente.

— Quem mais você tem de amigos aí?

— Alguns conhecidos, Draco. — Ele colocou meu nome na pesquisa e uma vez que a minha página surgiu. — Você.

Foi a minha vez de acessar uma aba no seu computador e aceitar o convite dele. Assim que devolvi o computador, ele já estava ocupado navegando no meu perfil.

— Você é sempre tão curioso? — Perguntei.

Ele resmungou, clicando na minha página principal e a rolou para baixo, navegando nos meus scraps e, em seguida, nas fotos. Não disse qualquer coisa enquanto olhou todas elas, até que de repente ele parou de rolar.

— Vocês namoraram? — Ele perguntou.

Eu não lembrava de já ter postado fotos de Ron na rede trouxa, mas, lá estávamos nós dois. Eu em seu colo e ele com o braço em torno de minha cintura.

— Logo após a guerra. Não durou muito. — Expliquei para ele, enquanto imaginava como Severus podia não saber sobre eu e Ron, se éramos notícias nos jornais quase semanalmente enquanto estávamos juntos.

Ele continuou sua análise das fotos, enquanto eu voltava a me sentir triste por não ter tentado mais conversar com Ron desde que cheguei. Nós éramos amigos de infância e ele tinha sido a pessoa exata que precisei e queria naquela época.

— Quanto tempo estiveram juntos? — Ele perguntou, uma vez que tinha rolado todas as fotos.

— Quase dois anos.

— E ele continua um idiota. — Ele disse em seu tom irritante de quem estava fazendo uma declaração óbvia.

Levei um momento para compreender o que saiu da sua boca, mas isso me fez rir, uma vez que finalmente fez efeito. Toquei-lhe com o cotovelo.

— Você é grosseiro. Ele não era um idiota, ele era muito bom.

Os olhos negros dele me escanearam e não pareciam nada divertidos. Na verdade, sua mandíbula estava apertada e ele parecia um pouco irritado.

— Você está defendendo ele? — Parecia que ele não podia acreditar.

— Sim. Ele era muito bom. E é o único homem que namorei a sério, Severus. Provavelmente ainda estaríamos juntos, se eu quisesse ter filhos logo que isso foi sugerido pela comunidade bruxa. — A cabeça dele virou-se completamente para mim. — O quê? — Perguntei, surpresa com sua expressão.

— Voltaram a ficar juntos? — Sua voz estava tão baixa que eu não conseguia entender, e dei-lhe um olhar estranho.

— Sim, mas não tinha como ser mais sério. Ele se ressente pela magia. E também fica com muitas mulheres, desde que nos separamos. Não sou uma dessas garotas que acham que os homens que dormiram com dezenas de mulheres são sexys. Não gosto da ideia de muitas delas saberem como o pênis de alguém que amo, se parece. Você gosta?

Um músculo na mandíbula do Severus saltou e ele desviou completamente o olhar do meu, mas não me respondeu. Então, eu percebi que ele poderia ser um desses homens e ter se sentido ofendido.

— Nenhuma ofensa a você. É da sua conta, o que você decide fazer com você mesmo. Eu é quem sou antiquada e exigente e esse é provavelmente o motivo de não estar em um relacionamento desde então. Não aguentaria saber que dezenas de pessoas sabem os sons que o meu parceiro faz quando atinge o clímax. — Notei seu olho contorcer definitivamente naquele momento, e me senti mal por estar, aparentemente, chamando-o de devasso. — Olha, me desculpe, Severus. Não é como se eu não pudesse ter intimidade com alguém que não amo, não há nada de errado com isso. Só que em grande escala, não é mesmo para mim.

O olho dele contorceu-se novamente e não perdi a forma como ele mordeu com força e fez sua bochecha dobrar.

— O que foi? — Perguntei quando ele não disse nada.

Ele deitou a cabeça para trás apoiando-a na parede e fechou os olhos, os dedos dele da mão direita dele indo para a ponta de seu nariz. Inalou, expirou e repetiu o movimento mais três vezes. O que diabos há de errado com ele?

— Severus, você está ok? — Perguntei, me preocupando que ele estivesse passando mal por uma indigestão.

Ele abriu os olhos, encarando o teto acima de nós.

— Pare de falar sobre sexo! — Ele rosnou, irritado.

Oh, Merlin!

— Ok. Sinto muito. Não sabia que você era um puritano. — Eu comentei segurando a vontade de rir.

Ele engasgou, me olhando incrédulo. Fiquei esperando ele fazer outro comentário, mas nada saiu da sua boca. Eu realmente não tinha pensado nele como uma pessoa que iria ficar ofendida tão facilmente pela palavra sexo, que sequer tinha saído da minha boca. Então não entendi por que ele estava tão torcido e fora de seu feitio. Quando ele continuou a não dizer nada e olhou novamente para cima, resolvi nervosamente mudar de assunto, mesmo ele não encontrando o meu olhar.

— Você está pronto para dormir?

— Vou ficar acordado e assistir um filme aqui. — Ele explicou, gesticulando para o laptop. Não pude ver o seu rosto quando ele falou novamente, antes que eu comentasse algo. — Você gostaria de assistir?

Eu estava exausta pelo treinamento da manhã e nosso dia de atividades? Sim. Mas...

— Claro, ao menos até começar a cochilar. — Concordei.

Ele deslizou um centímetro inteiro e aproximou a parte superior do corpo em relação a mim, próximo o suficiente para que nossos cotovelos estivessem se tocando. Severus apoiou o notebook em seus joelhos dobrados e eu puxei a bainha da minha camiseta entre minhas coxas antes de fixar o travesseiro nas minhas costas e relaxar na cama, apoiando um pouco do meu ombro no seu bíceps.

— O que nós vamos ver? — Perguntei.

Era um thriller de suspense recém-lançado, interessante, mas eu acho que provavelmente assisti apenas vinte minutos de filme, antes de adormecer com o calor do seu corpo de um lado, mesmo através da barreira do lençol que ele tinha puxado sobre si mesmo e a confortável cama abaixo de mim. Fui acordada pelos sons da ação final do filme para descobrir que meus joelhos dobrados tinham caído e estavam descansando no quadril de Severus e minha camisa tinha de alguma forma passado das minhas pernas e exibia uma boa parte do minúsculo short do pijama. Uma das minhas mãos estava apoiada no seu peito e todo o lado direito do meu corpo estava encolhido no lado esquerdo dele.

Tentei agir naturalmente com a intimidade da posição em que estávamos e me sentei ao mesmo tempo em que ele soltou um bocejo de sono.

— Vou para a cama. — Murmurei sonolenta. — Boa noite, Severus.

Ele roçou o polegar na minha palma, antes de me deixar sair.

— Durma bem, Hermione.

Acho que posso ter adormecido com um sorriso no meu rosto ao pensar no calor do dedo dele enquanto me mandava dormir bem.


Notas Finais

Segunda parte do capítulo da viagem. Severus finalmente revelou o motivo de ter vindo junto e teve mais dessa slow burn que está me matando de ansiedade. Semana que vem, temos a terceira e última parte dessa gostosura de final de semana.

Usei de novo a licença poética para sugerir que o orkut era uma rede social usada na época desta história.