Notas do Autor
Disclaimer: Todas as personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.
Alerta Gatilhos: Há descrição de violência e sangue neste capítulo.
Capítulo 20 - Sorrisos e Sangue
— Como foi o seu final de semana?
Olhei para cima, do meu lugar abaixo nos degraus da entrada do castelo, para ver Minerva se dirigindo a mim.
— Ótimas. Sempre são quando passo algum tempo com os Potters. E o seu?
Ela deu de ombros, descendo os degraus para ficar no mesmo patamar que eu, antes de me responder.
— Dormi muito. É um hábito de pessoas da minha idade. — Ela suspirou
— Ah, ótimo, eu acho. — Respondi, sorrindo.
Minerva fez um rosto agradável, mas não era bem um sorriso.
— Filha… — Seu tom de voz maternal fez o meu intestino imediatamente contrair, por já prever que haveria algo errado. — Mais fotos apareceram neste fim de semana. Quero ser justa, certo?
Eu virei meus olhos em sua direção, reunindo toda a verdade na minha voz.
— Somos amigos, Minerva. Apenas isso.
A expressão grave no rosto dela não era exatamente tranquilizadora.
— Eu acredito em você, querida. Acreditaria em você, até se me dissesse que viu Hagrid voando em uma vassoura, mas sei que Robards vai ficar chateado e há pouquíssima coisa que Vector possa fazer.
Meu estômago gelou. — O que está me dizendo, Minerva?
— Quero que você pense sobre o que está fazendo. — A diretora de Hogwarts colocou a mão no meu ombro. — Eu quero o melhor para você, Hermione. É a única razão pela qual não vou dizer nada. Mas não quero que você seja pega de surpresa.
Surpreendida pelo quê?
Antes de poder começar a juntar meus pensamentos e lhe pedir esclarecimentos sobre o que ela estava querendo dizer, Minerva continuou a descer os degraus e foi embora. Há pouquíssima coisa que Vector possa fazer. Pense sobre o que está fazendo. Não quero que você seja pega de surpresa. Era tão ruim assim levar um amigo comigo em um feriado?
Nós não tínhamos feito nada além de nos beijarmos. Eu sei que foi um beijo intenso, cheio de sentimentos e vontades reprimidas por anos, pelo menos da minha parte. Mas Severus imediatamente impôs uma distância respeitosa entre nós e se refugiou num hotel. Alugou um táxi para voltar para a Escócia para não cairmos em alguma espécie de tentação enquanto viajávamos de volta e não foi nada além de respeitoso quando nos cumprimentamos de longe hoje.
Mas, se meus palpites estavam no caminho certo, Minerva tinha acabado de me avisar que meu cargo em Hogwarts estava em perigo. Mesmo que ela soubesse que Severus foi comigo para iniciar um treinamento que ambos, ele e a própria Minerva, preferem que eu faça em segredo, ela ainda estava me alertando sobre uma possível dispensa da equipe de Hogwarts.
Talvez eu devesse entrar em pânico e chorar. Ou amaldiçoar o momento em que eu decidi ser amiga de alguém, que tão obviamente precisava de um amigo. Mas não fiz nenhuma dessas coisas. Nem mesmo perto disso. Eu sabia que Minerva estava apenas agindo com seus instintos protetores comigo, alertando sobre o que me aguardava, mas, de repente, eu me senti indignada. Realmente indignada.
Eu não fiz nada de errado. Claro que há uma cláusula no meu contrato de colaboração com a equipe de Hogwarts, sobre confraternização com orientadores, mas eu sei, no meu coração, que nem eu e nem Severus estamos "confraternizando'' um com outro. Ele praticamente me garantiu isso, quando usou as palavras "não alimento nada que não seja real" com ninguém.
Porque eu serei punida por sentir uma conexão com Severus? Eu gosto dele. Muito. Severus não é uma pessoa fácil de lidar, e ele me irrita na maioria das vezes, mas a proximidade que tenho com ele é algo que eu nunca tive com mais ninguém. Eu não quero com mais ninguém. Porque serei julgada por isso?
Isto é uma absoluta injustiça. E eu realmente queria amaldiçoar Robards. Repetidamente.
Tensão gritou através de meus ombros e braços. Eu cerrei meus punhos com raiva. Forcei meus pés a descerem os degraus, desistindo de ir até o meu quarto no castelo e seguindo direto para o campo de quadribol, usando um pouco da combinação de sol e vento gelado dos terrenos da escola, para abrandar a minha frustração com esta situação toda.
O fato de que apenas algumas poucas pessoas da equipe falaram comigo durante o treino, não tornou as coisas melhores. Todo o restante do pessoal me lançou olhares atravessados, mesmo que não dissessem nada para mim diretamente. Consegui manter minha boca fechada para evitar começar alguma discussão, mesmo notando que quando eles não estavam me dando olhares sarcásticos, dirigiram seus olhares para Severus, como se esperassem encontrá-lo com meu sutiã pendurado no pescoço.
Mas havia algo bom em estar "envolvida" com o meu orientador. E esse "algo bom" era que, enquanto eu precisava manter minha boca fechada, ele não. E é óbvio que Severus Snape não se manteve calado.
Ele havia percebido algo nos meus olhos, logo no início dos treinamento e franziu a testa. Sua carranca tinha continuado a se aprofundar durante toda nossa troca em transfigurações, mas ele não tentou me perguntar o que estava acontecendo, porém eu sabia que ele estava ciente que algo estava me incomodando, e que tinha a ver com o resto da equipe me encarando de cima a baixo.
E a minha coisa favorita que ouvi naquela manhã foi um barítono suave, em um tom furioso dizer: "Eu não sei o quê em nome de Merlin vocês estão olhando, mas vou azará-los se continuarem sendo uns inúteis no treino!" Foi tão bruto e raivoso que eu não pude deixar de rir silenciosamente e, em seguida, tentar escondê-lo.
A longo prazo, porém, ele não me ajudou a ficar menos irritada. Todos ainda estavam falando de mim pelas costas e me dando olhares atravessados e não havia nada que eu pudesse fazer.
Alguém estava sentado na parte inferior das escadas que conduzem a minha casa, no momento em que cheguei em casa do Saint Mungus naquela noite. Levou uma fração de segundo, depois que eu saí do carro, para reconhecer os cabelos negros preso em um coque.
Severus se levantou, limpando a parte de trás de suas vestes e me esperou estacionar o carro alguns pés longe dele, e não disse uma palavra, quando abriu a porta do passageiro e pegou minha mochila dando uma olhada nas vestes verde-limão que eu ainda usava. Ele nunca tinha me visto em minhas roupas de trabalho antes, e eu não tinha me dado ao trabalho de arrumar o cabelo, que dobrou de volume desde quando nos vimos essa manhã.
— Ei você. — Cumprimentei com um sorriso, à medida que subimos os degraus para chegarmos à porta da frente.
Ele seguiu atrás de mim, trancando a porta assim que estávamos lá dentro e pendurou minha bolsa no gancho onde eu sempre a deixava. Sentei no puff e tirei meus tênis de trabalho, exausta demais para sequer tentar fazê-lo de pé. Ele esperou que eu terminasse e estendeu a mão para mim para me ajudar a levantar. Fiquei de pé, sem mover uma polegada, pois estávamos próximos demais um do outro.
Durante a segunda metade do dia, eu tinha tentado não ficar triste em constatar que a polêmica pela qual eu estava passando era, tecnicamente, culpa dele. Que se eu não tivesse sido boa para ele, não teríamos começado a passar um tempo juntos e nos tornado amigos. E se Severus fosse qualquer outra pessoa no mundo, ninguém teria dado a mínima para o que nós fazíamos juntos. Afinal, eu sou a Golden Girl, heroína de guerra e bruxa mais esperta da minha geração e eu tinha uma certa "folga" para fazer o que quisesse, mesmo que tivesse passado a minha vida adulta tentando dia após dia melhorar e não usar da liberdade da minha fama. Eu sempre fui cuidadosa e atenta com as minhas relações para evitar que elas manchassem meu nome. Até que Severus reapareceu na minha vida e condenou tudo isso.
Eu tinha colocado tempo e esforço na construção de uma relação de trabalho harmoniosa com a equipe de Hogwarts. Eu nunca fui tão popular quanto Harry e Ron, mas enfim consegui algumas conexões, após o baque que foi a perda da magia. E agora, todo esse trabalho estava praticamente perdido. Ninguém, exceto Dean e Cho, se preocupavam comigo.
Severus apertou a minha mão que eu nem tinha notado que ele ainda não havia soltado. Palma com palma, o polegar esfregou sobre a minha palma uma vez. Só uma vez.
— Se você espera que eu me desculpe, eu não vou. — Ele falou.
Eu fechei os olhos e fiquei ali, deixando-o segurar minha mão e não me permiti pensar demais sobre minhas dúvidas quando decidi que aceitaria tudo o que ele estava disposto a me dar.
— Sobre o quê você não quer se desculpar? — Perguntei-lhe com os meus olhos ainda fechados.
Seus dedos longos, apertaram minha mão novamente.
— Por forçá-la a ser minha amiga.
— Você não me obrigou a ser sua amiga, Severus. — Respondi, sorrindo levemente.
— Sim, eu forcei. — Ele argumentou.
— Não, você não forçou. Eu fui boa para você quando você ainda estava sendo um ditador idiota.
Ele fez uma pausa. — Isso foi antes ou depois que você me xingou de "bruto do caralho"?
Eu abri os olhos. — Antes, eu acho.
Os cantos de sua boca se curvaram num pequeno sorriso, antes de ficar sério novamente.
— Não permitirei que afastem você da equipe.
Eu assenti com a cabeça, olhando diretamente para o antigo espião de Voldemort e soltei um suspiro. — Tudo bem.
Palavras pairaram no ar entre nós enquanto eu me sentia comprimida pela pressão externa das expectativas das pessoas. E fiquei dividida entre saber que eu não ia lhe dizer para não me esperar à vista de todos nos degraus da minha casa, enquanto me perguntava se isso realmente valia a pena. Mas eu sabia da força do meu sentimento por ele. E isso compensa ser desprezada pelos meus colegas de equipe e estar na lista negra de Robards.
Subi na ponta dos pés e enrolei meus braços no seu pescoço, inalando o cheiro dele enquanto me acalmava. Ficamos alguns minutos nesse abraço, até Severus se afastar para pousar um beijo leve na minha testa e murmurar um boa noite, antes de ir embora.
E eu me apaixonava ainda mais quando ele agia assim, prevendo que eu precisava de espaço, sem que eu precisasse falar sobre isso.
Quase uma semana depois, no sábado, Dean convocou a nossa noite de pizza e vinho e eu deveria ter percebido que algo estava acontecendo quando chegamos no apartamento dele e Ivan não estava em nenhum lugar a vista, mas Cho sim, e Neville. Porém a maior surpresa era a presença de Ginny. O que significava que Dean tinha aparatado ou viajado via Chave de Portal até Bamburgo, e trazido ela de lá. Ele era o único deste grupo, além de mim, que conseguia fazer uma das duas coisas. Eu estava tão desconcertada pela presença de Ginny Potter que não consegui pensar num motivo para Dean imprimir tanto esforço nessa tarefa.
Foi preciso a primeira pergunta sair da boca de Ginny para que eu constatasse que a missão dos meus amigos tinha sido me encurralar. Literalmente. Quando sentei no chão da varanda de Dean e acomodei as almofadas nas minhas costas, só tive tempo de pegar minha taça de vinho antes de se ver cercada de ambos os lados, encaixada como um filhote solitário de cervo cercada por uma matilha de leões famintos. Ginny arrancou a taça da minha mão enquanto Cho acompanhava o movimento com um sorriso malicioso.
— Você gostou da festa do James? — Ginny começou.
Desorientada pela invasão dos meus amigos, pisquei e esfreguei poeiras imaginárias do meu suéter.
— Eu estava com você a maior parte da noite, então você sabe que sim. Mesmo com a desastrosa discussão com Ron, foi uma noite agradável. — Respondi, limpando a garganta ao saber que omiti o que foi mais tão agradável naquela noite.
Cho fingiu estar imersa em pensamentos, uma unha vermelha bem cuidada batendo em seu queixo.
— Eu soube por uma fonte confiável, que vocês se separaram uma ou duas vezes durante a noite do jantar. Certo, Weasley?
— Eu sou casada com Harry há quatro anos, você vai continuar me chamando de Weasley até quando? — Ginny revirou os olhos para Cho, que lhe deu um sorriso entusiasmado enquanto confirmava com a cabeça. — Mas sim, Hermione sumiu por um momento.
— Então… — Cho disse como se estivesse falando realmente sobre o tempo quando levantou os olhos pro céu, que exibia um pôr do sol discreto e nada parecido com a intensidade do que eu e Severus assistimos em Bamburgo. — Você conseguiu admirar o pôr do sol antes de escurecer?
Havia um sorriso alarmante e expectante no rosto de Cho que não me inspirava nada menos que medo. Primeiro, porque ela era enlouquecida como um serial killer. Segundo - e mais importante - porque eu de repente tive a certeza de que todos eles sabiam o que aconteceu. Tudo isso confirmava que essa noite de vinho e pizza era uma emboscada que eles planejaram juntos. E me levou a um profundo arrependimento por eles terem se tornado amigos e um desejo instantâneo de voltar aos dias em que Dean e Cho eram apenas os ex-namorados do casal Potter.
Eu calculei um plano de fuga que não tinha uma alta probabilidade de sucesso, mas foi tudo o que consegui pensar com tão pouca preparação.
— Acho que estou com dor de cabeça. — Eu disse, tentando levantar.
— Besteira, Granger. — Cho agarrou o meu pulso. — Ginny viu você.
Calor inundou minhas bochechas feito uma represa rompida, como sempre acontecia quando eu me sentia realmente fora de órbita. Respirei fundo, exalando o mais lentamente que podia. Esperançosamente, os vapores do álcool chegariam até mim antes que eu tivesse que contar a história. Talvez eles já estivessem trabalhando, porque eu me sentia fraca.
— Bem, eu…
— Você beijou o seu orientador. — Cho estalou os dedos com impaciência. — Ginny viu e agora vamos todos falar sobre como isso aconteceu. Sem desculpas. Se necessário, estou preparada para a violência.
Congelei pelo medo, quase como se tivesse levado um Petrificus Totalus. Era como se meu cérebro de repente tivesse uma onda de energia que se dividiu e se espalhou quando o pânico começou a crescer em meu peito.
— Ah, hum. Cho, sua agressividade está no nível dez. — Ginny me conhecia bem o suficiente para reconhecer o caos absoluto ocorrendo na minha cabeça. — Vamos diminuir para quatro.
— Hum. — Cho realmente pareceu considerar isso por um momento. — Não, eu não posso ir tão baixo. Talvez um seis... meu nível mágico?
— Cinco. — Ginny rebateu.
— Podemos dividir o…
— Vocês duas estão realmente negociando isso? — Minha voz soou muito mais histérica do que eu esperava. Isso me fez estremecer.
Cho piscou para mim e então voltou para Ginny. — Podemos fechar em meio ponto abaixo do meu nível. Cinco e meio.
— Já tive pesadelos melhores que isso. — Murmurei, acariciando minhas têmporas.
Houve uma pausa, então Ginny chamou Neville: a voz da razão.
— Só um minuto! — A voz suave do meu assistente no hospital flutuou da cozinha. — Vocês querem queijo assado? Acho que só as pizzas serão pouco. — Houve uma pausa ponderada. — Já que isso vai demorar mais do que eu pensava.
Provavelmente, pensei, até começar a rir, tentando escoar a tensão que corria por minhas veias. Ginny deu um tapinha no meu braço em solidariedade, o que teve o efeito abençoado de transformar meu pânico em irritação. Eu não precisava de conforto, pois sei o forte controle que tenho sobre as minhas ações e emoções. Eu estou bem - voz estridente e ansiedade nervosa à parte.
Além disso, sou uma adulta consciente e que posso beijar qualquer um que eu queira. Meu constrangimento interno tornou-se externo e completo apenas porque me permiti pensar no beijo. Sim, eu tinha pensado sobre isso antes, nas altas horas de cada noite desde então em que me via olhando para o teto assistindo a uma repetição interminável daquele momento ao pôr do sol.
Mas não tinha ninguém ao meu redor para assistir minhas duas respostas emocionais diferentes daquela cena: vergonha e perplexidade. Era o que me fazia vacilar ao pensar naquilo em frente aos meus amigos. Porque eu nunca me senti tão excitada ao pensar em um único beijo
— Vamos começar do início. — Ginny assumiu a liderança, cortando meus pensamentos. — Hermione, quando você estiver pronta.
— O que quer dizer agora mesmo. — Cho completou.
Minhas duas amigas se entreolharam como gatos enquanto eu tentava juntar meus pensamentos para formar palavras coerentes. Foi difícil. Toda a experiência era algo que eu ainda estava tentando explicar para mim mesma. Usar minha própria voz mental e ouvi-la em voz alta para convencer outras pessoas, era muito diferente. Muito mais concreto e real.
— Ele já estava no mirante quando cheguei lá. — Mantive uma explicação clínica, desprovida da energia nervosa que sentia. — Nós assistimos ao pôr do sol e conversamos. Aconteceu por acidente…
— O quê? — Cho gritou alto o suficiente para eu e Ginny taparmos os ouvidos por um segundo. — Você acabou de dizer que beijou Snape por acidente?
— Sim eu fiz. — Respondi, colocando um cacho de cabelo atrás da minha orelha. — Fui me despedir dele como faço com qualquer um dos meus amigos, dando-lhe um beijo na bochecha e ele virou a cabeça acidentalmente.
Cho piscou várias vezes antes de cair na gargalhada; Ginny se juntou também. Dean e Neville soltaram um sorriso mais contido, solidários a mim.
— Isso foi…
— Nada. — Eu finalmente explanei minha irritação. — Não foi nada.
O sorriso de Cho desapareceu lentamente e sua expressão voltou ao normal.
— Não pareceu que era nada, Hermione. — A descrença na voz de Ginny era palpável. — Nenhum de vocês dois sequer me notou. — Limpei minha garganta duas vezes antes de desistir e sair. Era como se vocês dois estivessem perdidos em…
— Eu não preciso da imagem mental. — Eu a cortei. — Eu estava lá, obrigada, e nós dois concordamos em não discutir isso.
— Snape disse isso? — Foi Dean quem perguntou, arqueando uma sobrancelha. — Com essas palavras?
— Não importa se ele fez ou não. — Não deixei Dean falar mais uma palavra. — No final das contas, ele é meu orientador, vocês dois… — Inclinei meu queixo em direção a Cho e Dean. — Sabem que não posso me envolver com ele. É um pesadelo ético e esse beijo não deveria ter acontecido.
— Ok, eu posso entender isso. — Ginny apoiou o cotovelo na coxa. — Seu chefe não reagiria bem, dada a forma como ele a está pressionando.
Um eufemismo.
— Mas se tivesse sido qualquer outra pessoa? — Cho conseguiu diminuir um pouco sua agressividade. — Você teria baixado a guarda? — Eu dei a ela um olhar afiado. — Sim, Granger, eu tenho audácia. Não é uma característica exclusiva de ex-grifinórios.
— Você está realmente trazendo rivalidades das nossas antigas Casas à tona agora? — Perguntei, sem conseguir acreditar que Cho trouxe isso como argumento apenas para provar um ponto.
— Sim. — A única ex-aluna da Corvinal, entre nós, confirmou.
— Tudo bem. — Eu sabia que a chave para vencer qualquer batalha era ter uma defesa forte. — Para responder à sua pergunta, eu não opero com base em antigas rixas de Casas.
— Ótimo momento de experimentar agir assim. — Ginny me deu um olhar divertido. — Se fosse outra pessoa, o que você teria feito? Como você teria reagido?
Puxei a trança pendurada sobre meu ombro. Meu lado arrogante que nunca se importava em ser introspectivo gritando para que eu dissesse a todos que não daria nada a quem queria se meter em minha vida, tal qual eu fazia com a imprensa e os membros da equipe que me ridicularizavam. Mas aqui, eu sabia que estava entre amigos verdadeiros, e eu sei sobre a necessidade deles de me fazer "se abrir mais", embora eu não achasse que isso era algo necessariamente bom. E também havia o fato reconhecido de que se ele fosse qualquer outra pessoa, eu não estaria pensando nos riscos do nosso envolvimento. Mas esse era um luxo que eu não podia ter com relação a Severus. As variáveis estavam todas contra nós. Meus dois amigos ainda estavam olhando para mim, então percebi que precisava redigir uma resposta adequada.
— Eu seria lógica e sensata, como sempre. Não saio assumindo relações por aí. Eu e Viktor transamos há anos e não vejo nenhum de vocês me pedindo para tomar uma decisão de assumi-lo. — Retruquei.
— Mione, você não gosta do Viktor. Por que pediríamos para você assumir algo que é claramente apenas físico? — Foi Neville quem perguntou, a seu modo tímido.
— E quanto a usar a lógica e sensatez, isso nunca se estendeu a Snape. Você o amaldiçoou pelas costas. Isso é claramente perder qualquer uma destas características. — Cho insistiu.
Eu dei a ela um longo olhar, que Cho apenas sorriu em resposta. Sentindo-me frustrada e exposta, esfreguei as mãos no rosto algumas vezes antes de falar.
— Ok, eu não estava pensando em nada quando o beijei, mas vocês sabem que eu não sou do tipo que simplesmente me jogaria em algo por causa de um bom beijo.
— Um bom beijo, hein? — A boca de Cho se torceu em um sorriso malicioso antes dela tomar um longo gole da sua bebida. — Conte mais.
— Uh… — Esfreguei o lado do meu pescoço, ainda nervosa. — Foi…
Como misturar fogo e gasolina para que servissem de catalisador para a explosão entre nós, que resultou em todo aquele calor. Eu pensei, lembrando de cada sensação. Não conseguiria esquecer, mesmo que tentasse.
— Tenho certeza de que você não quer ouvir sobre mim beijando nosso orientador. — Eu tentei uma última vez.
— Oh, eu absolutamente quero. — Os olhos de Cho brilharam com malícia. — Quero dizer, eu vi a memória de Weasley disso, mas…
Eu recuei. — Você o quê?
— Sim, sim. — Cho acenou para mim. — Dean tem uma penseira. Todos nós demos uma olhada, exceto Neville. — Todos trocaram olhares. Ginny assentiu como se ter doado uma memória privada, não fosse nada antiético. O sorriso de Cho mudou de astuto para afetuoso, então ficou muito largo. — Agora continue.
— Eu não vejo por que isso é necessário, já que vocês dois assistiram à isso como se fosse um maldito filme trouxa. — Chiei irritada.
— Apenas uma fração, Granger, já que Ginny só estava lá por um minuto. — Cho deu de ombros. — E você certamente parecia... disposta.
Ginny fez um barulho simulado de explosão e gesticulou com as mãos. Nenhuma delas não tinha ideia de quão preciso aquele momento foi.
— Nossos ânimos estavam exaltados pela discussão anterior, de certa forma. — Expliquei. — Acontece. Poderia ter sido assim com qualquer um.
— Mas foi com ele. — Cho reafirmou.
— Sim, foi, o que torna meu argumento válido. — Franzi a testa para Cho. — Eu nem vou me incomodar em trazer o ponto de que Severus me viu criança; isso não seria justo já que hoje em dia ambos somos adultos e posso reconhecer que já passamos por coisas demais para que ele não me veja mais dessa forma. O fato é que as complicações de nos envolvermos agora são absurdas. Não consigo nem pensar em calcular o risco profissional disso, é ridículo.
— Ninguém disse nada sobre vocês dois assumirem algo publicamente. — Cho apontou revirando os olhos. — Só estamos perguntando sobre o beijo que você desfrutou clara e entusiasticamente.
Estremeci internamente com a verdade nas palavras de Cho.
— Mas não estamos surpresos por seu cérebro acadêmico pensar muito à frente. O que achamos interessante é que você tenha pensado tanto em algo que classificou tão rapidamente como nada. — Dean reiterou, me dando uma piscadinha.
— Não é uma classificação. Eu…
— Passei sete anos fazendo movimentos para me convencer que não era gay, Hermione. Eu sei como é beijar alguém e não sentir nada. E vocês…
— Foi um momento! — Interrompi.
— Você pode realmente classificar aquilo como "um momento"? — Uma Ginny perplexa ainda estava fazendo gestos que aludiam ao que ela havia testemunhado. — Havia um monte de mãos e ele levou empurrou você na coluna de madeira e…
— Um momento! — Repeti com uma carranca feroz. — É exatamente assim que eu vou descrever porque é isso que foi. Um único momento. Um lapso de bom senso que eu culpo totalmente a emoção de vê-lo me defender tão ferrenhamente do imbecil do seu irmão.
— Se a discussão foi mesmo tão ruim como você sugeriu, eu acredito quando você diz que foi ela quem baixou a sua guarda. — Neville disse em sua voz tranquilizadora, antes de se sentar ao lado de Ginny com uma expressão pensativa. — Mas não acho que uma única discussão com Ron pode criar uma conexão que antes não existia com Snape.
Cho se inclinou em direção a Neville, pousando um beijo estalado na sua bochecha.
— E é por isso que eu gosto de você. — Meu assistente exibiu um sorriso radiante e balançou o vinho em seu copo antes de prová-lo. — O que ele disse. — Cho apontou para Neville e eu sabia que essa discussão estava longe de terminar. — Discuta isso, Granger.
Eu estava preparada e pronta para fazer exatamente isso quando Ginny metaforicamente me golpeou na cabeça com mais fatos.
— Além disso, você se referiu aos presentes dele para o James como "de nós dois". — O olhar penetrante de Ginny fez pouco para aliviar o meu desconforto. — E vocês dois foram convencidos muito facilmente a dividirem um quarto. Eu esperava protestos.
— Isso é porque somos amigos, Ginny. — Contestei.
Ginny considerou o meu ponto. — Você sabe que todos aqui acreditamos em você. São os jornais que insinuam o contrário.
— Só porque eles são uns porcos sensacionalistas. Nós nunca demos nenhum motivo para insinuarem tais coisas. — Eu rebati.
— Minha declaração continua de pé, embasada pelas interações de vocês dois na minha casa. — Ginny devolveu.
Cruzei os braços sobre o peito. Por mais que eu quisesse discutir e negar, Ginny não era cega e nem estava errada. Mas, abençoadamente, ela e Dean se mantiveram quietos sobre o meu terrível crush adolescente por Severus, desde a época onde ele era o nosso professor. Neville e Cho provavelmente não estavam cientes dessa parte do meu passado.
Mas hoje em dia, minha paixão por ele era muito mais palpável e real, só que isso é algo que agora eu preciso lutar para esconder, já que há toda uma animosidade da imprensa e do meu chefe, sobre nós.
E ainda há o fato que eu posso falar sobre Severus que é o lado dele de ser seletivo sobre com quem passa o próprio tempo e manter distância de qualquer pessoa fora de seu círculo social como se elas tivessem alguma doença contagiosa. A parte romântica do meu cérebro me indica que eu deveria ficar feliz em ser uma das pessoas que ele escolheu para passar o tempo e ofertar sua amizade. Somado a isso, ainda há o fato de que fiquei completamente rendida pelo beijo dele, e ele também confessou que não pediria desculpas sobre isso, prova de que gostou do que fizemos, deveria me fazer ter certeza de que ele estava muito interessado.
Mas o lado racional do meu cérebro me dizia que a lógica de Severus passar tanto tempo comigo é que isso é algo situacionalmente necessário, na melhor das hipóteses. Ele é meu orientador e o bruxo com o maior poder conhecido, é óbvio que naturalmente seria designado a mim por Minerva. Ele confessou que foi comigo para Bamburgo porque ela o enviou para me treinar. Então faz todo o sentido a proximidade dele comigo, já que em algum momento, iremos para longe, treinarmos só nós dois. Eu não sou nada para ele, Severus confessou com sua boca que era pago pelo Ministério para nos treinar, então é isso.
Exceto por aquele momento no pôr do sol onde suas paredes caíram e suas emoções correram soltas… Um neurônio disparou, empurrando aquele momento do nosso beijo de uma célula para outra; o que me fez pensar que talvez eu fosse muito mais que uma orientanda para ele. Não. Não vou me iludir com ele de novo.
Eu já tenho que lidar com problemas emocionais suficientes ao longo dos anos, especialmente no que dizia respeito a Ron. Problemas com os quais eu ainda estou lidando, que dizem respeito a minha missão com a comunidade mágica. Eu não tenho capacidade para assumir qualquer outra coisa.
— Você parece pensativa, Hermione. — Ginny descansou uma mão paciente em meu ombro. — Nós vamos falar sobre isso novamente quando você…
Cho gritou como um pássaro em desacordo veemente.
— Mas eu estava prestes a dizer…
— Ela não está pronta. — Ginny lançou um olhar para Cho e passou agora todo o braço por sobre o meu ombro. Suas próximas palavras foram baixas, ditas apenas para os meus ouvidos. — Mas quando você estiver pronta para conversar, nós seremos todos ouvidos. — Eu não sabia como se sentir quando o sorriso de Ginny assumiu um brilho sinistro. — De qualquer forma, acho que é hora de mudar de assunto. — Ginny anunciou. — Houve outra coisa que eu soube através de uma carta. Você e meu irmão. — Ela apontou para Cho, que ofegou dramaticamente.
— Aquele traidor!
Eu lentamente me animei agora que não era mais eu quem estava sendo julgada. — Estou definitivamente interessada em ouvir esta história.
Cho bufou. — Só para desviar a atenção de você mesma!
— Tenho certeza de que é uma história convincente. Você ainda me deve depois de roubar todas as barrinhas de cereais da minha bolsa.
— Bem, eu não sou tão reticente quanto você em expor minhas aventuras. — Os olhos de Cho brilharam de malícia. — Não tenho certeza de como ele conseguiu isso. Mas já que vocês estão morrendo de vontade de saber, nós ficamos e estamos... indo devagar, nos descobrindo, eu suponho.
— Indo devagar? — Eu perguntei, fazendo a conexão com algo que Cho recebeu esta semana no castelo. — Foi ele quem lhe enviou as rosas!
Com um encolher de ombros, Cho verificou as unhas. — Ele é tão romântico quanto é irritante. Deve ser coisa de Weasleys. — Ela respondeu, olhando para Ginny, que sorriu brilhantemente.
— Espere, eu e Neville estamos um pouco perdidos. Ginny tem muitos irmãos. De qual deles estamos falando? — Dean questionou.
— O único bem-sucedido, óbvio! — Cho chiou.
— George? — Neville quis a confirmação.
— Sim. — Ela confirmou, voltando sua atenção para a cozinha. — E eu acho que não me importo com uma orelha a menos…
— Você gosta dele! — Eu a acusei.
— Bem, tudo bem. Eu gosto que ele me dê liberdade e me deixe definir o ritmo. Nenhum de nós está com pressa. Somos pessoas ocupadas. — Um leve rubor cobriu as bochechas de Cho. — Além disso, ele continua tão em forma. E estou bastante certa de que ele é adotado. Exceto pelo cabelo ruivo, de jeito nenhum George pode ser relacionado a algum de seus irmãos. Quero dizer, vocês já viram a bunda dele?
Ginny cobriu os ouvidos, visivelmente angustiada. — Ok! Esse é o meu irmão, porra!
— Foi você quem perguntou. — O sorriso de Cho era sem remorso e retaliatório.
— Eu nunca vou cometer esse erro novamente. — Ginny resmungou em resposta.
— Vejo que não. — Cho finalizou, dando uma piscadinha marota para mim.
Todos caímos em risadas e os tópicos foram gerais e leves após isso. Uma noite de pizza, vinho e queijo assado muito necessária entre amigos. Eu quase me senti de novo no Salão Comunal da Grifinória em um sábado à noite na frente do fogo. E quase senti saudades daquela época. Quase.
A noite com os meus amigos foi refrescante, após eles pararem de insistir que eu deveria me explicar sobre o beijo em Severus. Mas eu devia saber melhor sobre momentos leves e felizes, porque, na minha vida, eles sempre antecederam tempestades. E foi o que eu enfrentei assim que pisei no castelo e recebi a informação de que Robards me esperava no escritório da diretora de Hogwarts.
Quando cheguei, Severus já estava lá, cercado por várias pessoas que eu não reconhecia, todos vestindo túnicas roxas com um corvo bordado em linha preta. Vestes rebeldes. Como eles entraram aqui? Meu coração acelerou e enfiei a mão no meu bolso, sacando minha varinha.
— Você não usará magia contra nós. — Ordenou uma voz gélida, vinda da mesa da diretora, parcialmente escondida sob a multidão de pessoas pro pequeno espaço circular. — Eu tenho a diretora de Hogwarts sob a ponta de uma espada, você usa a varinha, e o feitiço detector de magia que foi colocado neste espaço, vai avisar aos meus demais soldados que a matem.
Eu não sabia ainda de quem era a voz me ameaçando, até que alguns dos rebeldes deram um passo para trás e revelaram a figura de Lucius Malfoy, sentado atrás da mesa da diretora. Mas não foi isso a imagem dele quem fez o meu coração saltar pela boca. À sua esquerda, Draco estava acossado em um canto, não só ele, como uma mulher que eu não conhecia.
— Informação interessante o que os jornais apontam sobre vocês dois. — Falou Malfoy, olhando de mim para Severus. — A pupila mais talentosa de Hogwarts é descoberta saindo de fininho pela Escócia e fotografada, sendo que para as coletivas de imprensa do Ministério ela sequer se incomoda em participar. E, de alguma forma, apesar de anos de hostilidades, se torna amiga próxima do meu ex-comensal da morte favorito. Enquanto isso, o meu filho — Eu não invejei o sorriso que Lucius deu a Draco — aparentemente está envolvido com trouxas. De novo.
Draco grunhiu e retorquiu: — Considere suas palavras com cuidado, Lucius.
— Ah? — Lucius ergueu uma sobrancelha. — Soube por uma fonte segura que está planejando se casar com essa trouxa. Por que sequer faria tal coisa? Será que não aprendeu nada com o que aconteceu com a última?
Vi o pomo de adão de Draco oscilar, mas a cabeça dele continuou erguida. — Você não tem nenhum direito de opinar com quem me envolvo. Não sou mais seu filho, você me baniu da sua linhagem. O que eu faço ou deixo de fazer com a minha vida, não é mais da sua conta.
Eu não pude deixar de admirar Draco por aquilo, por enfrentar o homem que fez da sua vida um inferno e matou sua mulher. Ele era corajoso. Mas, talvez isso não bastasse para o que eu achava que aconteceria aqui.
— Vejo que não aprendeu nada. — Respondeu Lucius. — Você vai entender, Draco, que não importa se eu o risquei da linhagem, você tem o meu sangue correndo nas veias. — Seu pai gesticulou com a mão, e, antes que eu pudesse dar um aviso, os lacaios separaram Draco e a garota. Quatro deles seguraram Draco, e dois obrigaram a mulher a se ajoelhar com um chute atrás dos joelhos. Ela gritou ao atingir o piso de pedras, mas ficou em silêncio — todos na sala, inclusive eu, ficamos em silêncio — quando um terceiro puxou uma espada e a colocou de leve em sua nuca.
— Não ouse. — Grunhiu Draco.
Eu olhei para Severus, mas ele estava congelado no lugar. Talvez tão surpreso quanto eu em ver rebeldes dentro de Hogwarts. As túnicas eram aquelas dos homens que tinham matado a família de Sarah. Tinham os mesmos olhos revoltos, e uma crueldade que eu só tinha visto antes nos olhos de comensais da morte. Quando o meu olhar encontrou o de Severus, eu senti a pontada de legilimência cutucar a minha mente.
Se aproxime de Draco e quando eu disser agora, lance-se sobre ele, eu vou lançar o Protego mais poderoso, sobre vocês dois. Em hipótese nenhuma use a sua magia, pense em Minerva.
A voz dele ecoou dentro dos meus ouvidos, como se tivesse falado em voz alta. Eu nem sabia que era possível que ele tivesse tal poder. Acenei discretamente com a cabeça e dei um passo para me aproximar mais do local onde Draco estava.
— Se fosse você, escolheria as palavras seguintes com cuidado, filho. — Lucius disse para Draco com desdém na voz.
Severus não poderia começar uma reação agora, não com aquela espada apoiada na nuca da garota. E embora a ordem dele para mim fosse sobre Draco, o que eu quero mesmo é tirar a mulher daqui com vida. Eu tenho certeza que Lucius não matará Draco, algo dentro de mim diz que ele não tem essa coragem, e suspeito que isso esteja relacionado à Narcissa.
— Solte-a e farei qualquer coisa. — Draco disse entre os dentes trincados. — Ela não tem nada a ver com isto.
— Mas você ainda tem? Ainda sabe sobre o que acontece no mundo mágico? — Lucius deu o mesmo sorriso frio de antes. Havia um pedaço entalhado, redondo e de pedra negra sobre a mesa na frente dele. De longe, eu não conseguia ver o que era, mas meu estômago se revirou mesmo assim. — Diga, filho: o que Severus e a usurpadora da magia tramam quando se encontram?
— Não sei. — Draco rosnou.
Lucius estalou a língua, e o lacaio ergueu a espada para golpear. Consegui me aproximar mais um passo em direção ao fundo do escritório quando a garota respirou fundo.
— Pare! — Draco estendeu a mão.
— Então responda à pergunta! — Lucius rugiu. — O que Severus tem em comum com essa escória nascida-trouxa?
— Estou respondendo! Seu desgraçado, estou respondendo! Não sei por que estavam se encontrando!
A espada do lacaio ainda estava levantada, pronta para descer antes que eu pudesse me mover mais um centímetro.
— Sabe, Draco, há um espião em minha resistência há vários meses. Alguém dando informações para o Departamento de Mistérios e tramando contra mim com alguém aqui deste castelo. Você sabia disso?
Merda. Ele pode muito bem estar falando de Ron. Meu sangue rugiu em meus ouvidos.
— Apenas me diga quem, Draco, e pode fazer o que quiser com sua amiga. — Lucius continuou. — Eu sei que você mantém uma rede de informantes no Ministério e aqui. Se há algo acontecendo, você está ciente.
Eu respirei fundo, preparando-me para dizer o que Lucius Malfoy queria ouvir. Palavras que provavelmente condenariam Ron, mas que eu daria um jeito de avisá-lo antes, para que pudesse se proteger. Mas foi Severus quem falou, antes que eu pudesse.
— Você quer informações, Lucius? — Indagou o homem com quem eu estava envolvida, com a voz suave e letal que era uma das suas características mais marcantes. — Quer saber quem o espiona? Sou eu mesmo, sou um excepcional mestre em poções, caso você tenha esquecido. Polissuco é uma das minhas especialidades. Sou eu quem tem descoberto e estragado os seus preciosos planos. Então pergunte diretamente a mim, não a Draco. Quer saber por que Granger e eu nos encontramos? Ela beija bem, e faz outras coisas também, os jornais estão certos. E quer saber mais uma coisa? — Severus sorriu para todos, o mal encarnado em seus olhos. — Todos vocês, supremacistas de merda, vão queimar no inferno. Porque a minha mulher gosta de satisfazer meus desejos e ela é a bruxa mais poderosa da atualidade e, quando recuperarmos Minerva, pedirei que ela empale todos vocês nas paredes externas desta droga de castelo. E mal posso esperar para estripar vocês como os porcos que são. — Severus cuspiu aos pés de Lucius. E era impecável o ódio, a arrogância e o triunfo em seu olhar, mesmo que algumas das coisas que ele disse, fosse mentira.
Contudo, Lucius Malfoy não titubeou.
— Acho que vou reforçar minha segurança em torno daquela velha. — O loiro mais velho respondeu, seus olhos deslizando brevemente para a varinha em minha mão. — Talvez ela mesma não aguente um ou dois meses no calabouço em que a joguei. Recomendo que sejam breves. A lua cheia será em breve. — O sorriso arrogante dele voltou.
Lobisomens. Eu estremeci de medo por Minerva, sentindo meu sangue começar a ferver. Severus grunhiu.
— Se conseguirem chegar até ela, apenas depois disso — Ameaçou Lucius, olhando de mim para Severus —, será preciso raspar o que sobrar dela das paredes. — Então ele desviou os olhos de nós, voltando-se para Draco e a garota, que mal pareciam respirar. Ela continuava ajoelhada no chão e não ergueu a cabeça quando Lucius se agachou na sua frente, apoiando os antebraços nos joelhos e falou: — E o que você tem a dizer por si mesma, trouxa?
Ela estremeceu, sacudindo a cabeça.
— Basta! — disparou Draco, o suor reluzindo na testa. — Severus confessou, agora a deixe ir.
— E porque eu deveria soltar o verdadeiro motivo para eu ter rastreado você, filho?
Eu não conseguia parar de tremer ao ouvir aquilo. Tudo o que Draco me contou sobre Diana estava invadindo minha cabeça. Tudo.
— Deixe-a em paz. — Grunhiu Draco.
Foi o suficiente para fazer a jovem começar a chorar. Com o rosto banhado em lágrimas, ela ergueu a cabeça e mesmo com a boca tremendo, encarou os olhos de Lucius.
— Você merece tudo o que ele disse que virá sobre você. — Disse ela. Eu sabia que ela se referia ao que Severus tinha prometido. Então a garota olhou para Draco, cujos olhos estavam também rasos em lágrimas e o rosto branco como osso. — Você me disse para não amá-lo. Mas amei. E há tanto que eu desejo... que pudéssemos ter feito juntos, visto juntos.
Eu conseguia ouvir a dor na voz dela. Draco desviou o olhar dela, encarando seu pai.
— Diga seu preço. — Disse ele ao pai. — Peça o que quiser de mim, mas deixe que ela vá. Qualquer coisa, diga, e será feito.
Tanto eu quanto a garota começamos a balançar a cabeça, tentando indicar que Draco que não fizesse uma oferta dessa ao seu pai, mas ele não nos olhou.
Lucius encarou o filho por um bom tempo. Depois olhou para mim e Severus, tão silenciosos, quanto nervosos. Então olhou de volta para o filho, e finalmente respondeu.
— Não.
Eu não lembro se ouvi a palavra "agora" de Severus dentro da minha cabeça, mas eu sabia que aquele "não" de Lucius, mudou tudo. Assim que a voz do patriarca Malfoy entoou a negativa, o golpe poderoso da espada do lacaio cortou o ar e decepou a cabeça da mulher.
O grito que irrompeu de Draco foi o pior som que eu já ouvi. Pior ainda que o estampido úmido e pesado da cabeça dela atingindo piso de pedra. Severus rugiu e lanças de gelo saíram de suas mãos e se enterraram na garganta de metade dos lacaios, antes deles perceberem quem os tinha atacado. No instante da confusão eu dei mais três longos passos em direção ao alcance de Draco e me lancei sobre ele, sentindo no mesmo instante o Protego de Severus ser lançado sobre nós. Eu estava abismada demais para fazer qualquer coisa a não ser observar o restante do corpo da garota cair no chão. Enquanto segurava Draco, ainda gritando, de se arrastar pelo sangue na direção de nós.
— Matarei qualquer uma que você ousar se envolver. — Lucius rugiu a promessa, antes de apanhar a pedra escura sobre a mesa, e sumir do escritório. A pedra era uma Chave de Portal.
Notas Finais
Tentem não me matar e Lembrem-se: QUEIMA LENTA.
A cena da conversa entre amigos foi escrita em homenagem a minha beta munjaaay. Ela queria muito uma "noite das garotas". Acabou virando uma noite de amigos, mas acho que ela vai gostar mesmo assim.
Este capítulo, mais uma vez, foi betado pela incrível mrenata19. Muito obrigada por nos salvar no sufoco, Marcela. Te amamos.
