Notas do Autor


Disclaimer: Todos os personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.


Capítulo 25 - Prazer, Viktor


Passava de uma hora da madrugada quando nós voltamos para minha casa. Severus cedeu a dele para Narcissa, e Andromeda tinha se oferecido para ficar com ela enquanto decidíamos sobre todo o resto. Ele poderia ficar em Hogwarts, todos temos aposentos reservados para nós lá. Mas da mesma forma que foi natural nos abraçarmos aos pés da cama de Minerva no hospital. Foi natural para nós apenas ficarmos juntos aqui.

— Você vai ficar comigo de agora em diante. — Afirmei quando o vi deitar com uma leve rigidez nas costas e se aninhar no meu travesseiro.

— Tudo bem. — Ele sussurrou, quando lhe entreguei um frasco de poção calmante. — E só para você saber, eu não iria embora. — Ele concluiu.

Sorri levemente, antes de esticar o braço sobre a cama para pegar a mão dele.

— Eu sei. Você me ouviu quando prometi que tudo o que fizermos, faremos juntos.

— Como bons soldados. — Ele afirmou.

Desviei o olhar dele por um momento para evitar mostrar que não era isso o que eu quis que significasse e fiz sinal para que se deitasse de bruços. Severus inspirou longamente antes de remover a camisa e se abraçar com o meu travesseiro.

— Você quer falar sobre isso? — Perguntei, antes de mergulhar meus dedos no pote de unguento e começar a espalhar sobre os ferimentos nas costas dele.

Demorou um tempo para que ele respondesse.

— Não. — Finalmente disse numa voz que saiu abafada por causa da posição de sua boca, enterrada na fronha.

— A dor está num nível muito alto? — Não foi uma pergunta doce, mas um comando da minha profissão. Ser uma curandeira me tornava clínica demais por algumas vezes.

— Sim. — Ele soltou, estremecendo quando meus dedos passaram na ferida mais profunda.

— Sei que Minerva é importante para você. — Falei baixinho. — Mas não devia ter ido até o hospital nessas condições. Se tivesse me avisado, eu teria dado um jeito de colocar seus ferimentos mais graves em êxtase por tempo suficiente para você ir vê-la. Eles não teriam reaberto e lhe deixado neste limite.

Severus não respondeu. A respiração dele ainda oscilava e eu sabia que a poção calmante ainda não tinha surtido o efeito completo. Terminei de aplicar o unguento sobre suas costas, me levantei para lavar as mãos e apanhei os frascos de poção de alívio da dor e sono sem sonhos do meu estoque no banheiro.

Ele estava de olhos fechados quando voltei ao quarto. Me ajoelhei junto a ele com os frascos das poções em uma mão e uma toalha fina com um feitiço refrescante aplicado sobre ela, na outra. Severus se elevou num dos cotovelos para beber os líquidos, voltando em seguida a sua posição de bruços e eu cobri suas costas com o tecido gelado.

— Você vai parar de ser a pessoa que não pede ajuda e faz tudo sozinho ou isso vai destruir você. Vai reconhecer os sinais de que precisa de apoio e falar comigo antes de ser tarde demais. — Não era uma afirmativa, mas um comando. — Nunca mais fará com que ferimentos seus não pareçam nada, Severus. E não toque na magia elementar até ter descansado o suficiente. Entendeu?

Ele balançou a cabeça, assentindo em concordância. Eu me assentei na poltrona ao lado da cama para ler um pouco e reaplicar os feitiços de resfriamento no tecido nas costas dele a cada quinze minutos. Reapliquei o feitiço por mais três vezes, até que enfim a respiração dele se estabilizou e Severus finalmente dormiu.

Removi a toalha fina de suas costas e o cobri até a cintura com a manta da cama. Apaguei o abajur antes de me juntar a ele sob as cobertas, e mesmo mergulhado no sono induzido da poção, Severus me puxou delicadamente para si e minhas costas se aconchegaram em seu peito. Eu me dei conta de que essa posição podia se tornar a minha maneira favorita de adormecer.


Eu soube dois dias depois que Hogwarts ainda o reconhecia como diretor, pois Severus nos aparatou diretamente para o escritório de Minerva. Com a diretora fora, ele precisava assumir os treinamentos da equipe, mesmo que ainda estivesse se recuperando.

Descemos a escada em espiral e seguimos para os corredores abaixo enquanto eu recitava o quanto era incrível que a magia da escola não o tenha destituído do cargo. Severus apenas ouvia e mantinha o rosto impassível. Continuei questionando-o sobre todos os benefícios que ele tinha por ter acesso ao castelo como diretor, até que ele se irritou e me puxou de encontro a ele perguntando o que era necessário fazer para que eu calasse a boca.

Minha mão estava em seu peito e eu estava prestes a dizer que apenas se ele me beijasse e me deixasse sem fôlego isso seria possível, quando uma tossida à nossa frente nos assustou. Severus me afastou dele imediatamente.

— Eu sei que não é meu lugar dizer nada… — Cho disse. — Mas achei que a diferença de idade entre vocês seria um empecilho, mas vê-los ao lado um do outro faz todo o sentido. Vocês dois juntos ficam fodidamente bonitos.

Eu sorri para Cho, mas antes que eu lhe respondesse, outra pessoa virou o corredor e Viktor me deu um sorriso sincero. Não perdi o segundo passo que Severus deu se afastando ainda mais de mim, ou a cara que ele fez quando fez isso. Sua testa estava enrugada e ele me deu um olhar de lado que era quase repulsa.

Que diabos? Meu coração não deixou de notar quão horrível suas duas últimas ações me fizeram sentir. Certo, então. Aparentemente aquele momento na enfermaria com Minerva, onde ele se permitiu ser abraçado em público por mim, era um caso à parte. Senti o sorriso que dei à Cho murchar no meu rosto por um segundo, antes de colocar um maior em cima dele e sorrir para ela e Viktor novamente. Olhei para trás, para Severus por um segundo, ainda tentando decifrar por que ele estava sendo estranho.

— Obrigada por ter vindo, Viktor. — Falei com uma animação um pouco suspensa pela decepção com Severus.

Segurei o sorriso em meu rosto enquanto o esperava me abraçar. Ele sempre me cumprimentava assim. Viktor não me deixou esperando e passou os braços em volta de meus ombros em um suave abraço.

— Foi um prazer vir vê-la, Hermionini. — Ele me afastou e sorriu de novo, me encarando nos olhos. — Sempre é.

— Obrigada. Eu sei que a viagem a modo trouxa pode ser um pouco estressante. — Olhei para o meu relógio e fiz uma careta. — Precisamos mesmo conversar e não posso me atrasar para o plantão no hospital.

Dei mais um passo para trás e sorri para os dois jovens, antes de voltar minha atenção para Severus, que estava parado de braços cruzados sobre o peito e estampando um olhar irritado enquanto nos observava.

O que diabos ele tem para estar com raiva? Eu era quem deveria estar com raiva pela inconsistência dele. Severus sabe que Cho é uma das minhas amigas mais próximas mas não se permitiu ser visto junto a mim na frente dela? Eu desconsiderei isso e ignorei a expressão dele.

— Eu não ficarei para o treino. Preciso me reunir com Viktor e depois quero ir até o hospital para monitorar Minerva quando ela despertar dos efeitos das poções do sono. — Disse a ele clinicamente, antes de me virar de volta na direção de Viktor e seguir com ele em direção a um dos escritórios vazios.

— Então, você disse que tem uma teoria? — Comandei quando nos sentamos nas poltronas.

Viktor confirmou com a cabeça.

— Livros. — Viktor disse simplesmente. Vendo a confusão se espalhar pelo meu rosto, ele continuou. — O livro de admissão. Nele, a pena mágica escrevia os nomes das crianças que seriam admitidas ao completar onze anos. Mas, após a magia desaparecer, o livro desapareceu junto e a pena de aceitação também.

— Mas você se referiu a "livros", no plural. — Eu assinalei.

— Sim. Porque além dele, acho que o diretório de puro-sangue explica mais um pouco do que aconteceu. Acredito que há um livro, como o diretório, onde constam os nomes de todas as famílias mágicas do mundo e que este livro tenha sido amaldiçoado, junto com o livro de admissão. Eu lhe dei alguns exemplares com árvores genealógicas e recebi uma informação que me fez refletir sobre isso. — Explicou Viktor.

— Que informação? — Questionei.

— Que Snape é um bruxo de magia plena. — Viktor me fitou, esperando que eu dissesse algo sobre isso, mas me mantive quieta. — Com essa informação, eu comecei a questionar o porquê dele ter mantido a magia e me dei conta de que a mãe dele foi queimada de sua árvore. Ainda não consigo explicar a relação mas, se qualquer nascido trouxa que teve seu nome escrito pela pena de admissão, manteve seus poderes, eu imaginei que Snape seria considerado um, já que, se houver mesmo um livro com registro das famílias bruxas que esteja amaldiçoado, o nome de Snape não está escrito nele

Nem o de Scorpius, pensei.

— Faz sentido — Concordei. — Deve haver um livro com um registro histórico de herança mágica e que as únicas exceções nele seriam os nascidos-trouxas. Se Voldemort sabia algo sobre esse livro, poderia ter associado a sua morte de alguma forma ao livro e bloqueado toda a magia de quem está descrito lá.

Os olhos de Viktor se semicerraram, tornando-se fendas, devido ao interesse crescente em mim.

— Se Voldemort bloqueasse os dois livros, o livro de admissão e o diretório de famílias bruxas, ele extinguiria a magia de todos. Os bruxos mestiços mantiveram seus poderes por causa da parte que vem do pai ou mãe trouxa, por isso o poder deles foi reduzido em cinquenta por cento. — Continuou ele. — E vocês, nascidos-trouxas, não são registrados nesses livros, pelo menos não até que tenham um descendente para construir sua própria árvore, ou estejam associados a outra árvore de uma família já registrada.

— Como Voldemort poderia saber de tudo isso? — Me perguntei, alto o suficiente para que Viktor também me ouvisse.

— Em Durmstrang costumavam apontá-lo como um bruxo com inteligência acima da média. — Viktor disse. — E isso explica como ele supôs que precisava bloquear o livro de admissão também, ou qualquer criança nascida trouxa poderia ser mágica.

— Mas esses livros, se eles são tão poderosos, deviam ser bem protegidos. — Comentei.

— E eram. Os livros de admissões das escolas, pelo que pesquisei, nunca foram tocados por mãos humanas desde que os dois primeiros os colocaram lá…

— Espere, o quê? — Eu o interrompi, a voz de Regulus ecoando na minha cabeça, meses atrás: "Os dois primeiros, você sabe de quem eu falo". — O que você disse?

— Que os livros nunca foram tocados por mãos humanas. — Viktor repetiu.

— Não, isso não. Sobre "os dois primeiros", o que isso quer dizer?

Viktor me olhou quase como se não pudesse entender como eu não sabia do que estava falando, mas ele pigarreou e varreu a expressão do seu olhar, antes de recomeçar a falar:

— É como se referem a dois dos fundadores de Hogwarts, Rowena e Salazar. Há uma lenda que diz que os dois eram… um par poderoso. Diziam que se eles se mantivessem juntos, seriam imbatíveis. Havia um cuidado por parte dos dois outros fundadores da escola de evitar que eles continuassem como um casal, porque se Salazar conseguisse convencer Rowena de suas convicções puristas e somasse a influência dele com a inteligência dela, os nascidos-trouxas não teriam a mínima chance de manifestar sua magia. Muito menos de aprender sobre elas. No fim, não precisaram se preocupar tanto. Rowena era tão inteligente quanto adorável e não se submeteu à astúcia dele. Mas claro, nunca deixaram de ser um casal. — Viktor concluiu. — Por que se interessou pela expressão? — Perguntou.

— Eu ouvi essa expressão uma vez, não muito tempo atrás. — Expliquei e pisquei os olhos para afastar a lembrança do meu encontro com Regulus da minha cabeça. — Sobre os livros, há alguma pista de onde estejam?

— Meu palpite é de que estejam aqui. — Viktor respondeu. — Não foi à toa que Voldemort nunca se afastou desse castelo. E tenho uma forte intuição de que para a maldição ser ativada nos livros, ele precisaria morrer próximo deles. Então, se ele achou que Harry Potter tinha uma chance de matá-lo na noite da batalha final, suponho que ele tenha garantido que a maldição fosse ativada quando isso acontecesse. — Ele pareceu ter se perdido em memórias antigas; então, sacudiu a cabeça e terminou: — Reúna alguns dos melhores bruxos da equipe e comece as buscas pelo castelo. Com sorte, vocês encontram os dois livros e conseguem desfazer o feitiço que bloqueou a magia.

O meu celular tocou assim que Viktor terminou sua sugestão. Era Neville me informando que Minerva parecia estar prestes a acordar e que eu deveria ir até St. Mungus se quisesse presenciar isso. Agradeci a Viktor e parti em seguida, vislumbrei a equipe no campo de quadribol quando saí em direção aos portões e aparatei para o hospital com a mesma sensação incômoda pelo afastamento de Severus mais cedo.

O dia que me aguardou no hospital foi cansativo, porque quando eu estava prestes a terminar o meu plantão, às nove da noite, uma leva de pacientes chegou de repente. Treze pessoas no total e todas elas mordidas por lobisomens. A lua cheia mal tinha acabado de nascer, quando eles atacaram uma estação do metrô trouxa. Eu precisei ficar por mais quatro horas em St. Mungus, até conseguirmos medicar todos e garantir o mínimo de humanidade possível neles para que passassem pela transformação.

Dean tinha sido um dos bruxos que previram o ataque, mas chegou tarde demais para ajudar. Os inomináveis estavam seguindo o rastro do bando que trabalhava sob as ordens de Lucius, mas eles mudaram o local do ataque no último minuto e isso atrasou a interceptação dos aurores. Ele me acompanhou até em casa e ficou no quarto de hóspedes enquanto eu segui para o meu.

Severus dormia profundamente virado de lado, quando me aconcheguei atrás dele, exausta demais pelo dia para sequer me sentir chateada com a sua atitude naquela manhã. Eu apenas me deitei ao seu lado e adormeci instantaneamente, e quando acordei, ele já havia ido embora para Hogwarts.

Suspirei frustrada e fui dirigindo até o castelo, aproveitando o vento frio no rosto e o momento de concentração com o trânsito, para me distrair dos problemas ao meu redor.


— Vocês acordaram esta manhã e decidiram que iam se portar como completos imbecis? — A voz de Severus ecoou pelo campo de quadribol, ainda sem dirigir uma palavra a mim desde que cheguei, mas claramente se dirigindo ao grupo onde eu estava.

Cho e Dean se entreolharam, mas se mantiveram quietos, e quando Justin começou uma fraca tentativa de explicar a falta de concentração de todos, Severus o cortou e dispensou todos nós.

Eu voltei para dentro da escola para apanhar os livros que separei com Madame Pince, antes de seguir meu caminho pelos jardins até o local onde tinha estacionado, quando o avistei me esperando, disfarçado nas sombras. Me preparei mentalmente para qualquer insulto que estava prestes a sair da boca dele quando meu instinto me avisou que estávamos prestes a discutir quando parei a alguns pés de distância dele.

— Há alguma coisa que você queira dizer? — Perguntei, um pouco mais ríspida do que eu pretendia.

Severus deu-me aquele piscar lento, vagaroso de desprezo, típico de quando ele era o mestre em poções de Hogwarts e eu apenas uma de suas alunas irritantes.

— Onde estava a sua concentração hoje?

— Estava concentrada no fato de que Justin estava sendo um boçal e não o bruxo habilidoso que é. — Dei de ombros para ele. — Qual é o problema com isso, professor?

— Por que está me chamando de "professor"? — Ele surtou, pegando o meu sarcasmo.

Eu olhei para ele por um segundo e então fechei meus olhos, dizendo a mim mesma para me acalmar. Tínhamos acabado de ter um treino de merda e eu ainda precisava fazer um plantão de doze horas no hospital, não havia necessidade de me irritar agora.

— Não importa. Eu sei que todos atuamos mal e estou muito cansada para discutir com você.

— Não estamos discutindo. — Ele disse ríspido demais para quem não queria que isso parecesse uma discussão.

Fechei os olhos em um pedido claro de paciência para os deuses acima de nós.

— Tudo o que quiser. Não estamos discutindo. Eu vou entrar no meu carro agora, vejo você mais tarde.

— Desde quando você foge dos seus problemas? — Ele segurou o meu pulso quando eu comecei a virar.

Eu parei e olhei-o, a raiva agora fervendo nas minhas veias.

— Eu não estou fugindo dos meus problemas, só sei quando não vou ganhar um argumento. Neste momento, não vou ganhar contra sua droga de humor bipolar.

— Não sou bipolar. — Ele rosnou.

— Ok, você não é. — Concordei irônica.

— Você está sendo irônica.

Eu quase belisquei meu nariz.

— Sim, estou sendo irônica, porque eu não sei se eu estou falando com você, meu amigo que entenderia por que gritei com Justin durante um treino, ou com o meu orientador que eu mal conheço e quem não dá a mínima para nada. — Explodi finalmente, mas balancei a cabeça para afastar minha raiva. — Estou cansada e vou levar tudo o que você está dizendo com a equipe para o lado pessoal. Me desculpe, se for possível.

Ele murmurou alguma coisa em uma língua que eu não entendia bem, mas foi o suficiente para me irritar ainda mais. Eu me virei e dei uma boa olhada nele.

— A única coisa que eu sei com certeza, é que eu não sei qual é o seu problema ultimamente, mas já chega!

As narinas de Severus se alargaram e uma veia pulsou no pescoço dele.

— Meu problema? — Ele perguntou com raiva.

— Sim! Seu problema. O que quer seja que enfiou no seu rabo, precisa sair.

— Não há nada entalado no meu rabo! — Ele rosnou ameaçador.

— Lamento discordar. — Afirmei com uma calma que eu não tinha. — Você é meu melhor amigo em um minuto e no próximo você me olha com nojo quando estamos na frente de outras pessoas. Não vou deixar que você escolha quando somos amigos ou algo mais, e quando não somos. — Eu não tinha planejado falar sobre o assunto assim com ele, mas saiu, e era tarde demais para pegar as palavras de volta agora. — Mas eu entendo. Está tudo bem e nós podemos continuar com o que quer que isso entre nós seja, apenas em particular, mas não em público. — Eu engoli o bolo na minha garganta. — E há definitivamente algo incomodando você, mas não quer conversar comigo sobre isso. Tudo bem.

— Quem disse que não quero estar com você em público? — Ele parecia surpreendentemente indignado.

— Você fez. Quando Cho nos encontrou, você simplesmente me largou lá e assim que Viktor apareceu, deu outro passo de distância, lembra-se? Estamos sempre juntos. A imprensa nos aponta como um casal há semanas, mas de repente era óbvio que não estava tudo bem para você continuar com isso quando estávamos na frente dos meus amigos. Eu sei que nós não conversamos sobre isso e nem rotulamos nada, mas não achei que você iria se afastar assim. Fiquei envergonhada e eu não me embaraço com facilidade, certo?

As mãos de Severus se fecharam, e então ele as levou para cobrir os olhos.

— Granger… — Ele amaldiçoou baixinho.

— Voltamos aos sobrenomes? — Perguntei irritada. Severus bufou.

— Diz que somos… amigos, mas não pensou em me dizer que ia passar um tempo com ele?

Isso foi uma piada? Eu fiz o possível para me acalmar.

— O que diabos você acha que nós estávamos fazendo, Severus? Eu troco informações com Viktor há anos! E pedi que ele viesse até aqui porque eu estava cheia de coisas nas minhas mãos com você e Minerva doentes e não queríamos ter aquela conversa por telefone ou carta, correndo o risco de termos a informação vazada. Você nem ao menos sabia sobre o que íamos conversar mas já começou a agir como se eu tivesse a peste e por algum motivo que eu não entendo. — Expliquei, tentando controlar o estresse.

Aqueles olhos negros piscaram em direção ao céu antes dele olhar novamente para a frente e focar em mim.

— Ele e você já estiveram juntos! — Ele soltou abruptamente.

Meus olhos se arregalaram e eu tive que respirar fundo para controlar minha raiva.

— Eu vou perguntar de novo: O que diabos você pensou que eu e Viktor estávamos fazendo? — Perguntei lentamente, com uma calma letal.

Mas era Severus quem estava irritado agora.

— Eu não tenho ideia, porque você não me contou! — Ele gritou.

Paciência. Puta que pariu! Eu precisava encontrar um monte dela, mas é óbvio que nasci sem e ninguém tinha despejado um caminhão de paciência ao meu redor, então não a encontrei. Pelo contrário, perdi até a pouca que eu reuni ao longo da vida.

— Estávamos discutindo uma teoria para o desbloqueio da magia, seu idiota! Qual é o problema com isso? — Gritei com ele.

— Então por que vocês dois estavam sendo discretos? — Ele rosnou, fúria iluminando seus olhos. — Chang foi para o treino e você se reuniu com ele por uma manhã inteira em algum lugar deste castelo.

Meu olho começou a tremer.

— Nós fomos para um dos escritórios do terceiro andar. Ele me contou sobre suas suposições e nós discutimos algumas teorias, seu idiota. Viktor me disse que eu deveria montar uma força-tarefa com os melhores bruxos da equipe para vasculhar o castelo em busca de dois livros perdidos. Essa é a grande conspiração, o grande segredo. Ele também me explicou sobre uma história dos fundadores que eu não fazia ideia e ninguém nunca me explicou, porque claramente todos pressupõem que bruxos nascidos-trouxas sabem tudo sobre a magia, mas várias histórias que são bobas para esse mundo, nós não fazemos ideia, porque só somos apresentados à magia quando conhecemos Hogwarts! — Eu não poderia devolver para dentro de mim a raiva vulcânica que irrompeu. — Que diabos você acha que estávamos fazendo? Dormindo juntos?

Severus olhou para mim por tanto tempo que tive a minha resposta. Meu Deus do céu! Eu não conseguia superar essa suposição. O que ele estava pensando?

— Eu não posso acreditar que você… Quem você acha que eu sou? Nós dois estamos envolvidos, Severus, quer tenhamos declamado isso para o mundo ou não. Você acha que eu vou dormir com Viktor depois de tudo o que passamos? Você só pode estar brincando comigo!

— Escolher bruxos da equipe para uma missão? — Ele parecia prestes a explodir uma junta. — Você poderia ter falado sobre isso a qualquer momento!

— E quando você me deu a oportunidade de falar com você? Claramente não foi quando fugiu da minha casa hoje esta manhã. — O acusei.

— Você podia ter pedido para interromper o treino e falado comigo sobre isso. — Ele retrucou.

— Ah sim, claro, eu só iria chegar no treino e pedir a você para interrompê-lo, porque tudo o que você mais quer é mostrar favoritismo por mim na frente da equipe de Hogwarts. Não é mesmo, professor?

— Eu disse para não me chamar assim! — Ele rosnou.

— Isso é o que você é, aqui no castelo! — Devolvi, minha voz soou dura, tal qual minha mandíbula e eu não conseguia conter o desgosto na minha voz. — Não posso acreditar que você achou que eu estava dormindo com Viktor. E eu realmente já dormi com ele, se você precisa saber disso, mas.. — Cerrei meu punho quando chamas dançaram nas pontas dos meus dedos e respirei fundo para me controlar. — Eu realmente, quero muito incinerar você por sugerir que eu faria isso quando estou completamente envolvida com você.

— E eu não acredito que você estava planejando algo que diz respeito ao nosso trabalho e não pensou em falar comigo sobre isso. — Ele devolveu.

Dei um passo de volta, deixando suas palavras afundarem na minha mente. Eu não iria deixar Severus me fazer sentir mal por ter pensado em aceitar a sugestão de Viktor sem falar a ele sobre isso.

— Eu não fiz planos com Viktor, ele apenas sugeriu esse plano de ação e eu seria uma grande idiota se não o levasse em consideração. — Senti-me de repente insegura. — Por que você está assim? Achei que ficaria feliz se alguém nos desse uma pista para seguir e que melhore nossas chances contra o bloqueio mágico. Minerva sabe que troco informações com Viktor e apoia. E você, como um ex-espião, também deveria entender.

— Eu pensei que você me diria qualquer coisa, a qualquer hora que quisesse, Hermione. Eu poderia me importar menos com o que a imprensa, Robards ou qualquer um dos seus amigos pensa. Você, de todas as pessoas, não deveria pensar que meus atos eram por vergonha de ser visto com você.

Merlin, este homem... — Me desculpe, Severus, mas eu sou um legilimen? É suposto eu saber que você iria se comportar como um idiota ciumento de catorze anos? Acredite em mim, Ron fez esse papel no baile de inverno do meu quarto ano e não foi nada legal.

— Não me compare aquele imbecil! Você é teimosa e uma dor de cabeça constante para mim. — Ele retrucou.

— Eu sou uma dor de cabeça? Você é um pé no saco! — Gritei para ele. — Eu tento e tento com você, e para quê? Para você ser um idiota comigo quando está frustrado ou chateado? Talvez você esteja acostumado com as pessoas lidando com esse seu temperamento de merda, mas eu não vou levar tanta coisa na cara e ficar bem com isso. Eu gosto de você, adoro como nos damos bem às vezes e eu amo beijar você, mas eu não sei nada sobre você, além do que já me mostrou, e realmente não foi tanta coisa. Você só me deu alguns vislumbres seus quando está de bom humor ou quando me defende de outras pessoas, às vezes até de mim mesma, mas quando fica irritado, você não me diz nada. — Reclamei. — Ou então, você me dá aqueles olhares de desprezo e me ignora sem nenhum motivo aparente. Como é que você acha que me sinto? Eu compartilhei minha família com você, minha cama; eu já lhe disse coisas que eu não disse a outras pessoas. E acredite, tentei e eu estou bem com isso, mas você precisa se abrir para mim também e não apenas me entregar esse seu humor instável.

Eu respirei fundo quando terminei e o observei, esperando. Esperando por algo. Por alguma garantia, alguma promessa de que ele iria tentar manter a sua instabilidade sob controle, ou pelo menos tentar mais. Em vez disso, seu rosto assumiu uma expressão dura.

— Estou velho demais para mudar, Granger. Eu sou o que sou. — Ele finalmente disse, numa voz nítida.

— Não estou pedindo que mude. Tudo o que quero é que você confie em mim um pouco. Não vou atormentá-lo mais, mas não gosto de desistir das pessoas, e só não quero ser tratada mal. — Eu respondi, de forma exasperada.

Severus não disse mais nada, nem uma única palavra. Embora eu prefira muito mais atitudes do que palavras, já que são as ações de uma pessoa que realmente dizem o que importa, eu desejava que Severus dissesse alguma coisa. Qualquer coisa. Minha cabeça deu um pulsar maçante, um aviso de um início de dor de cabeça por tensão quando percebi que essa conversa não estava indo a lugar nenhum. A exaustão derramou-se pelos meus músculos e eu me senti derrotada.

Odiei a sensação, mas chega uma hora que você tem que ouvir a sua intuição e não o seu coração, e eu fiz só isso.

— Talvez nós dois tenhamos muita coisa acontecendo agora. Estou sobrecarregada e não tenho idéia do que estou fazendo, e você tem sua própria merda para lidar. Acho que você precisa descobrir o que quer fazer sobre isso… — Eu disse apontando entre nós dois. — Antes de nós podermos continuar. Se você ainda quiser ser meu… amigo depois disto.

Assim que as palavras saíram da minha boca, ele me olhou indignado. Absolutamente indignado.

— Você está brincando?

Eu neguei com a cabeça, mesmo que uma dor descesse em mim com tal força que me fez querer chorar. — Não. — Respondi rouca.

Ele abriu a boca e em seguida fechou-a, e um segundo depois ele balançou a cabeça e aparatou.

Severus não veio à minha casa, naquele dia ou no próximo, que era um sábado e não tínhamos treino em Hogwarts. E quando eu comecei a me sentir dominada pela culpa na tarde do domingo, enviei-lhe uma mensagem de texto:

"Sinto muito pelo que disse. Estou sob muita pressão e eu não deveria ter terminado a nossa discussão assim. Você é muito importante para mim e não vou desistir de você."

Ele não respondeu, e na segunda-feira, ele não estava no treino e foi Flitwick quem comandou a equipe. Nem na terça. Ninguém perguntou onde ele estava e eu garanti para mim mesma que não ia ser a única a fazê-lo, mas mandei outra mensagem.

"Você está vivo?"

E de novo, não houve nenhuma resposta.


Na quarta-feira, Severus enfim assumiu o treinamento da equipe de volta. Ele estava envolvido em uma discussão com Filius e Hooch quando cheguei, apontando para algo na folha e ambos professores estavam balançando a cabeça com entusiasmo para ele. Soltei minha mochila na área reservada e caminhei até onde o resto da equipe estava, próximo aos três orientadores. Hooch dividiu a equipe em duas para iniciar um duelo entre elas e me informou que eu devia ficar com Severus para um treinamento individual. Eu o olhei com cuidado antes de me aproximar.

— Você está bem conosco trabalhando juntos? — Perguntei a ele, agradecendo a Merlin por eu ter essa insana coragem grifinória dentro de mim.

Seus olhos estavam diretamente nos meus quando ele acenou positivamente.

— Nós fazemos uma boa dupla. Já duelamos antes e você sempre fica bem.

Sua voz era suave, clara, mas ainda assim eu o olhei um pouco incerta. Em troca, ele pousou uma mão no meu ombro, que teria me feito sorrir, se não fosse por ele ter me evitado nos últimos dias. A expressão facial que fiz foi fraca, um sorriso aguado que você dá a alguém que você não achou particularmente engraçado, mas não queria magoar seus sentimentos, mas é óbvio que Severus sabe me ler como ninguém, porque ele imediatamente franziu a testa e sua outra mão agarrou a minha mão e a pousou em seu próprio ombro.

Antes que eu tivesse tempo para pensar sobre o que ele tinha feito, Severus deu um passo em frente e envolveu seus braços ao redor de mim, trazendo-me para junto de si e meu rosto foi pressionado contra seus peitorais. Santo Merlin! Severus Snape estava me abraçando enquanto eu só fiquei lá com meus braços de lado, completamente congelada no lugar por estar atordoada demais pelo ato dele na frente da equipe inteira de Hogwarts.

— Me abrace de volta. — Sua voz aveludada exigiu de cima.

Suas palavras enfim sacudiram minha paralisia e eu envolvi os meus braços ao redor de sua cintura e nossos peitos reuniram-se em um abraço sincero. Alguns segundos se passaram até que minhas mãos foram da sua coluna na parte inferior das costas, até os braços dele e nos afastamos para nos encararmos.

— Eu estou morrendo e não sei disso? — Perguntei.

Ele suspirou, colando sua testa na minha e fechando os olhos. — É melhor não.

Eu ainda mantinha os meus olhos abertos e me afastei um pouco para encará-lo de novo, completamente insegura sobre essa atitude.

— Você está morrendo? — Perguntei de novo.

— Não. — Severus tinha a mesma expressão séria que era tão inata para ele; mas eu conseguia ver um pouco de emoção estampada em suas íris. — Lamento tê-la magoado. Eu sou um idiota quando me sinto ameaçado. — Ele olhou rapidamente ao nosso redor para verificar se alguém tinha se aproximado, antes de seu olhar estampar um misto de determinação e tristeza que eu nunca vi antes. — Não quero que meu temperamento de merda a afaste de mim, também. — Eu sabia o que esse também significava, e meu peito se apertou por ele. — Você é a pessoa que mais importa na minha vida, Hermione. Você consegue entender isso? — Ele perguntou sério.

Se não tivéssemos em torno de toda a equipe de Hogwarts, que sem dúvida nos assistia agora, eu poderia ter começado chorar. Mas reuni forças e consegui dar um pequeno sorriso para ele.

— Eu posso beijá-lo? Ou você já esgotou seu estoque diário de afeição pública?

Severus pareceu exasperado.

— Já disse a você que se parece com uma farpa da mão que eu não consigo remover, Granger? Você é incrivelmente chata.

— Isso é um sim? — Eu pisquei pra ele.

— Isso é uma pergunta estúpida, Hermione. — Severus afirmou.

— Qual das duas? — Eu perguntei, sorrindo para sua carranca enquanto me inclinava em sua direção e o beijava suavemente na boca. Eu me soltei e sorri para ele, apertando sua mão. — Vamos começar, está bem?

— Sim. — Ele não quebrou o contato visual. — Vamos começar.

Ficamos nos olhando, ainda com os dedos de nossas mãos nos segurando. É engraçado como as coisas funcionam, às vezes. Eu tinha aprendido e aceitado meu lugar em Hogwarts anos atrás e havia lutado uma guerra que me fez crescer e aceitar que a vida era algo muito efêmero e que eu deveria aceitar o que viesse, pois podia não haver um futuro para mim, e eu sabia que esse homem na minha frente, pensava da mesma forma.

Então, o destino decide que esse homem, que havia desaparecido após a guerra, por algum motivo, decidiu entrar novamente em meu círculo e devagar, nos tornamos amigos e fez acordar todo o sentimento que um dia eu nutri por ele dentro de mim. E eu o perdoava tão facilmente por se alternar no papel de meu cúmplice e meu antagonista quase o tempo todo por uma única explicação: eu sou completamente apaixonada por este homem.

E não há razão nisso. Porque eu gosto de pensar que tomei decisões sábias na minha vida, mas reavivar minha adoração de adolescência por ele com certeza é uma das coisas mais idiotas que eu poderia ter me permitido fazer. Mas, obviamente, eu não podia lutar contra ele, pois meu coração nunca esqueceu de como era me sentir assim por ele, não importa o quanto eu tenha tentado fingir o contrário, ou tenha crescido, ou tenha tido outros amores por aí.

Porque foi Severus Snape quem eu amei quando nem sabia o que era esse sentimento. Mas eu virei adulta, aprendi e cresci e agora eu sei que eu não poderia amar alguém que não merecesse isso. E Severus merece. Porque ele me defendeu de mim mesma quando eu me rebaixei para caber na expectativa do meu ex-namorado. Ele cuidou de mim quando uma mantícora me atacou. Ele enviou presentes para os meus afilhados. E ele me amarrou pelo pescoço quando criou uma poção que deu a Harry o poder de lutar por mim de novo. De ser um bruxo. E ele está comigo agora, aqui, expondo para todas as pessoas que ele não dá a mínima para o que elas falam. Então, eu não poderia não ser apaixonada por ele.

E que Merlin me ajude, mas eu ainda quero chorar por essa constatação porque não há como eu escapar dessa verdade quando ela está me encarando a poucos centímetros de distância de cabelos soltos, olhos brilhantes e toda suas polegadas de altura.

— Mas antes de começarmos, preciso perguntar algo. — Ele disse suavemente, ainda me olhando nos olhos.

— Só responderei se não for quebrar esse momento. — Eu sussurrei.

— A ideia de um relacionamento comigo é agradável para você? — Ele foi direto.

— O quê? — Eu perguntei, trêmula.

Severus sorriu levemente.

— Eu sei que você me acha atraente já que gosta de homens mais velhos. — Ele completou com um toque de humor, lembrando da minha obsessão por House. — O que acha sobre um relacionamento com alguém tantos anos mais velho que você?

Eu acordei naquela manhã pensando que esse ia ser um dia como todos os outros. Aparentemente não. O que diabos eu deveria dizer?

— Por que está me perguntando isso, Severus? E aqui, dentre todos os lugares onde podíamos conversar sobre a nossa relação.

— Porque se vamos levar isso adiante, precisa me prometer que vai parar de se preocupar com o que todo mundo pensa. Você e eu seremos as duas únicas pessoas que importam nesse relacionamento e eu preciso ter certeza de que é isso mesmo o que você quer, antes de fazer o que eu tenho que fazer. — Ele respondeu, ainda mais sério do que antes.

— E o que seria isso? — Sussurrei para ele, nossos olhos ainda trancados um no outro.

— Vou fazer amor com você e lembrá-la repetidamente que você é minha. — Ele sussurrou de volta, antes de seus olhos arderem em fogo e ele completar: — E depois disso, eu vou trepar com você e fodê-la até que essa verdade esteja impregnada em você.


Notas Finais


1. Novo Mundo será traduzida para o inglês! Eu queria compartilhar essa notícia incrível com todos vocês e agradecer a JessInthedungeons e a minha beta maravilhosa munjaaay que estarão juntas nesse projeto. Vocês são incríveis!