Notas do Autor
Disclaimer: Todos os personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.
Capítulo 30 - Suspeita e Amadurecimento
Eu estava bocejando a cada dois minutos quando Severus finalmente voltou de onde quer que ele tenha ido encontrar Robards. Eu o olhei, curiosa, mas ele não me deu nada em troca sobre a sua reunião com o nosso superior.
— Pare de me dar esse olhar. Atravessaremos essa ponte quando chegarmos nela. — Ele disse finalmente, encerrando de vez qualquer pergunta que eu tivesse sobre o assunto. — Vou para casa hoje à noite, Draco precisa de ajuda lá. Você vai ficar bem?
— Estou na minha própria casa, Severus, óbvio que ficarei bem. Quantas proteções extras você colocou nela? Uma dezena?
— Você é absurdamente insuportável. — Ele respondeu em troca.
— Não sei como eu vivi toda a minha vida sem você e o seu tipo de palavras encorajadoras, Severus. Realmente. É um milagre eu ter sobrevivido tanto tempo.
Severus fez sua habitual carranca para a minha ironia, mas os cantos de sua boca se entortaram no sorriso que ele sempre reservava para mim.
— Nunca conheci alguém que precisasse menos de mim do que você. — Ele alcançou minha mão e me puxou para um beijo doce.
— Eu vou sentir falta de você na minha cama. — Murmurei no seu pescoço, enquanto ele me abraçava após terminarmos nosso beijo.
Ele assentiu enquanto caminhávamos de volta para a porta onde ele tinha acabado de entrar. Severus levou uma de minhas mãos até seus lábios, beijando-a.
— Vou voltar o mais breve possível.
— Eu sei. — Descansei minha testa contra a dele. — Fique o tempo que precisar para ajudar Draco. Ele está sobrecarregado com Narcissa e ainda há toda a preocupação com Scorpius e a profecia. Ajude-o, sim?
— Ok. — Ele murmurou.
— Só não me esqueça, tudo bem? — Eu disse, deixando um pouco da minha frustração escapar pela minha boca.
Severus afastou a testa da minha para encontrar meu olhar.
— Você acha que eu poderia esquecer você?
— Não sei, mas tenho certeza que você vai encontrar… — Eu quase disse "seus amigos", mas em que ponto Severus me deu a ideia de que ele considerava qualquer pessoa como um amigo, além de mim? Nunca. — Muitas distrações quando voltar para casa e eu sei como a vida às vezes fica no caminho. — Completei.
— Não perco meu tempo com coisas aleatórias da vida, Hermione. Compreende o que quero dizer?
Os pelos na parte de trás do meu pescoço se arrepiaram com sua voz rouca.
— Mais ou menos. — Sussurrei.
— Deixe-me dizer de outra forma. — Ele segurou meu rosto, deslizando os polegares pelas minhas bochechas e me encarou sério. — Eu não perco tempo. Assim que eu terminar tudo, volto imediatamente para você. Ok?
Um olhar determinado cruzou seu rosto, fazendo-me incrivelmente consciente de tudo à nossa volta: a noite gelada, o céu escuro e sem estrelas, a maneira como a pele dele cheira à ervas. Seus dedos apertaram meu rosto mais forte. Eu tinha visto seu rosto centenas de vezes, mas parecia nunca ser o bastante.
Depois que eu tinha superado a minha paixão adolescente por ele, eu me via desejando estar com alguém como eu: tão determinado que às vezes beirava até a agressiva, bom demais com as mãos, tranquilo, honesto e bom. Alguém que voltasse para casa depois de um dia de trabalho e fosse capaz de executar feitiços domésticos ou feitiços de cura simples. Imaginei esse homem como estável e confiável. Eu não tinha certeza de onde tinha criado essa fantasia, mas a tinha presa comigo. E Ron tinha sido assim. Nosso beijo do meio da batalha de Hogwarts o tinha feito parecer um personagem de romance, incrivelmente corajoso, bonito e altruísta. Em alguns momentos, eu nem achava que o lado romântico dele fosse real. Mas era.
Mas agora, olhando para um Severus Snape muito mais alto do que eu, mais velho, sério, taciturno e ao mesmo tempo completamente temperamental, eu não conseguia me sentir decepcionada por este ter sido o caminho onde meu coração me levou. Eu aprendi com a guerra a sempre esperar pelo pior, mas eu confiava nesse homem que estava me fazendo uma promessa sobre esperar o melhor.
Eu não perdi o olhar que ele deu na minha boca, nem o caminho que suas mãos traçaram do meu rosto até os meus ombros.
— Inferno de obrigações. — Ele murmurou quando se virou para sair.
Segurei o pulso dele e deslizei o meu polegar pelo seu ponto de pulsação, igual ele fez várias outras vezes em que quis me acalmar.
— Você sabe que eu sempre estarei esperando por você, certo? Agora vá embora, eu estarei aqui.
Eu deveria saber melhor sobre passar uma noite afastada de Severus. Minha cama parecia gelada demais e eu me revirei, por toda a noite, enquanto procurava pelo calor reconfortante claramente ausente ao meu lado. Desisti de tentar dormir às quatro da manhã e fui para o sofá, reler as anotações de Viktor sobre a história do Diretório Bruxo dos Sagrados Vinte e Oito.
Harry e eu conversamos por telefone ontem e ele me disse algo que fazia muito sentido: se o primeiro livro foi achado num local tão impróprio quanto uma câmara submersa, o segundo poderia estar em um local completamente próprio: na própria biblioteca do castelo. É fato que precisávamos que Theodore Nott quisesse nos entregar a cópia, mas ela estava guardada em algum lugar em Hogwarts. Todos concordamos que esse é um motivo forte para Voldemort ter levado a batalha final para lá.
Eu me convenci a voltar com Severus na tumba dos fundadores e ter uma última conversa com o fantasma de Regulus. Ele nos deu respostas muito mais concretas quando fui com Severus até lá do que em todas as vezes em que pisei naquele lugar sozinha. Quando terminei de escrever as perguntas que eu gostaria de fazer ao Black mais novo, passava das sete e meia e eu quase estava atrasada para ir ao treinamento.
Sinceramente, eu devia ter esperado algo. Severus tinha me prometido não matar Robards, e eu bem sei que qualquer pessoa em sã consciência tem medo do que o meu parceiro pode fazer com ela. Esse não parecia ser o caso do nosso chefe. Era isso, ou ele era um egocênctrico idiota. E pior, um idiota que amava plateia. Então, é claro que ele usou a mídia para me atingir.
"Um caso tórrido entre chefe e subordinada abala relações na equipe especial de Hogwarts".
Essa era a manchete estampada na primeira página do Profeta Diário nesta manhã, e abaixo dela, fotos de mim e Severus durante a visita a Harry e Ginny tantas semanas atrás. Imagens tão nítidas e próximas, que tive certeza que foram tiradas pela infame acompanhante de Ron naquele jantar no aniversário de James. As imagens que mais me chocaram foram as que mostravam Severus impassível enquanto manipulava o ar ao redor do meu ex-namorado, impedindo-o de respirar. Fiquei buscando nervosamente na imagem, qualquer traço que ligasse Severus ao ataque à Ron. Isso seria um desastre. O Departamento de Mistérios o intimou por uma aparatação, o que eles fariam se descobrisse que ele usou um feitiço para atacar Ron?
Dean entrou na minha cozinha e arrancou o jornal da minha mão.
— Você não deveria ler esse lixo. — Ele rosna. E não me dá a chance de responder, antes de me arrastar até a sala e empurrar o Flu na minha mão. — Vamos de Flu hoje. Escritório de Minerva! — Ele grita e as chamas verde esmeraldas o engolem.
Eu só me dou conta do porquê ele fez isso, quando vejo o professor Flitwick lançando feitiços de contenção na multidão de repórteres que invadiu os jardins do castelo. Meu professor de feitiços não me vê rápido o suficiente e eu escuto os gritos das pessoas antes que um feitiço silenciador seja lançado em direção à elas. "Há quanto tempo vocês mantêm esse romance?" "Como vocês lidam com a imensa diferença de idade?" "O quanto ele lhe favorece na equipe?" "Como é o sexo com alguém bem mais experiente?".
O olhar chocado em meu rosto em reação a essas perguntas absurdas, foi a fotografia que estampou a edição extra do Profeta, que saiu naquela tarde.
Mas não foi até o final do dia, que tudo atingiu um nível mais grave. Eu estava em pé perto dos aros triplos do campo de quadribol. Flitwick tinha o comando do treinamento, enquanto Hooch e Severus conversavam sobre qualquer assunto que eu não estava ciente. E, pensando melhor agora, eu certamente me distraí, curiosa demais, quando Hooch deu um dos seus poucos sorrisos em direção a ele.
A última coisa que eu estive ciente foi a dor aguda que rachou atrás da minha cabeça.
.
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Hermione!
Srta Granger!
Saint Mungus, agora!
Saiam!
SAIAM!
.
.
Eu não sabia que tinha ficado inconsciente, até que abri meus olhos e me encontrei deitada de costas, olhando para o rosto de Severus. Seus olhos estavam a centímetros dos meus e a respiração dele afastou um cacho que estava caído no meu rosto. Sua expressão era uma que eu não estava remotamente familiarizada.
— Para trás! Saiam! — Dean gritou de perto, e eu me encontrei piscando, tentando lembrar o que havia acabado de acontecer.
Um segundo depois, Severus foi empurrado por dois dos meus colegas Curandeiros, antes de sair de cima de mim, ele apertou levemente a minha mão. Eu não tinha percebido que, mesmo inconsciente do ato, eu estava me segurando nele. E quando ele soltou meus dedos, apaguei novamente.
— Já anoiteceu? — Pisquei, abrindo meus olhos e vislumbrando a janela escura ao meu lado.
Eddie, um dos meus colegas curandeiros, sorriu pra mim.
— Sim, já anoiteceu. Nós apenas estamos verificando o quanto o seu histórico médico pode interferir na sua recuperação. Madame Pomfrey ainda lembra de suas queixas com aquela dor crônica e essa foi uma concussão feia.
Claro que a curandeira chefe lembrava. E, por "histórico médico", Eddie se referia a minha submissão ao Cruciatus. Todo paciente que já foi torturado com essa maldição precisava passar por exames específicos sempre que desse entrada no hospital. Era uma norma estabelecida. E esta não foi a minha primeira ou segunda entrada no local onde trabalho. Madame Pomfrey ou Eddie sempre me atendiam em todas elas.
— Está bem. — Não suspirei porque teria feito eu me mexer e isso era mais do que eu podia. Meu pescoço ainda imobilizado me dizia que realmente tinha sido uma pancada feia.
— Excelente. Neville insistiu em ser o curandeiro auxiliar mesmo que, magicamente, ele não possa. Aperte o botão Sonorus se você precisar de qualquer coisa. — Eddie disse e eu sorri para o meu assistente, confortavelmente sentado na cadeira do meu outro lado. Em toda estadia minha no hospital, Neville sempre ficava plantado lá, não importava a quantidade de dias que eu precisasse para me recuperar. — Um representante da equipe de Hogwarts está lá fora, vou deixá-lo entrar.
— Obrigada, Ed. — Respondi e vi a figura alta dele recuar, apenas esse mísero movimento fez a minha cabeça zunir com dor.
Alguém bateu na porta, mas não abriu até que eu autorizasse. A cabeça de Vector apareceu através da porta, antes que ela entrasse.
— Olá querida, como se sente? — Ela perguntou, havia uma pequena planta em suas mãos que despertou o imediato interesse de Neville.
Eu tentei esconder a minha decepção em ter visto a relações públicas da equipe como a representante de Hogwarts e não quem eu esperava que viesse.
— Estou bem. Embora eu me sinta bem dolorida, está tudo bem.
Ela sorriu e deixou a planta na mesinha ao lado do meu assistente.
— Estou feliz em ouvir isso. O que o curandeiro disse?
— É uma concussão, mas ele quer que eu passe a noite, por segurança.
Vector soltou um assobio.
— Você nos deu um baita susto, isso é certeza. Existe algo que possa fazer por você?
— Estou bem, mas não consegui encontrar minha varinha…
— Alguém deve tê-la pego quando você caiu. Vou localizá-la para você. — Ela sorriu. — Bem, se não houver mais nada, eu devo voltar agora. Eu queria saber se você estava bem.
— Estou sim, obrigada.
— Certo, deixarei avisado com Papoula que me envie um Patronus, para o caso de você precisar de mim, e também vou garantir que tragam sua varinha. — Ela assegurou.
— Obrigada, Septima.
Ela foi embora, e fiquei ali no quarto silencioso, finalmente pensando nas consequências dessa concussão.
— Vector ainda é a relações públicas da equipe? — Neville perguntou.
— Sim. Ela é.
— Então ela seria a pessoa ideal para ser a porta voz das notícias.
Eu olhei para Neville que ainda examinava com curiosidade a planta que Vector tinha me presenteado.
— Que notícias?
— Foi um ataque. Aurores estão vigiando o corredor.
— Ataque? — Minha voz tremeu.
— Ele estaria aqui se não houvesse tantas complicações, você sabe. — Neville disse suavemente.
Eu apenas fiquei lá, olhando para ele e me fazendo perguntas que não sabia as respostas. Quem me atacou no meio do treinamento? Alguém da equipe? Ou Lucius conseguiu infiltrar-se novamente no castelo? Eu não conseguia imaginar como diabos um membro da equipe podia ser atingido dentro dos terrenos do castelo. Hogwarts deveria ser o lugar mais seguro, especialmente agora que a segurança foi reforçada após o sequestro de Minerva.
E quanto a mim? Eu sabia o que acontecia quando um membro da equipe se machucava em treinamento. Robards o afastava pelo tempo necessário de uma recuperação. Mas, era eu. A atual pedra no sapato dele. Por quanto tempo ele me afastaria de Hogwarts? Independente do que Papoula sugerisse e a própria Minerva decidisse, é óbvio que ele me afastaria da equipe pelo tempo que quisesse. Essa era a última coisa que eu precisava agora.
Merda, merda, merda!
Um minuto de lamentação sempre foi o máximo que me permiti, e tentei fazer o mesmo agora. Tão logo os sessenta segundos acabaram, eu respirei fundo e afirmei para mim mesma que eu tive sorte, poderia ser pior. Eu poderia ter sido atingida por uma maldição da morte, certo? No final, uma concussão não era o fim do mundo.
Estendi a mão e pedi a Neville o telefone dele, mesmo que isso tenha me deixado um pouco tonta; digitei o número de Harry.
— Alô? — Ele praticamente gritou no telefone.
— Harry, sou eu.
Na mesma hora ele gritou para longe do telefone, "É ela!".
— Você está bem? — Ele perguntou em um tom de preocupação único, que apenas os irmãos e pais são capazes de fazer.
— Sim, estou bem. É só uma concussão — Disse a ele.
Harry soltou palavrões e eu podia ouvir fracamente Ginny ao fundo, dizendo-lhe para se controlar.
— Eu quase desmaiei, você pode perguntar à Ginny. — Ele lamentou. — Você realmente está bem? Nenhum dano no cérebro?
— Harry, se eu tivesse algum dano no cérebro eu não lembraria nem o meu nome, muito menos seu número de telefone. Acredite em mim, eu sou uma curandeira, lembra? — Ele resmungou algo na linha e eu sorri levemente. — Nenhum dano cerebral, prometo que estou bem. Eu queria ligar e te dizer, antes que você desperdiçasse um frasco da poção furta-cor para voar até aqui. Eu vou sobreviver.
Ele soltou uma sonora expiração.
— Ah, que bom que você é como a Ginny então; quando jogávamos quadribol, eu nunca me preocupava com balaços atingindo-a, você sabe, a cabeça-dura...
Ginny gritou algo no fundo e eu tive que lutar contra a vontade de rir para que outra onda de dor não me atingisse.
— Guarde suas piadas para amanhã. Não tenho meu telefone comigo, nem minha varinha, mas eu vou ter certeza de te ligar assim que eu pegar minhas coisas de volta. Se precisar de algo, estou no St Mungus, Neville está comigo e você pode ligar para ele. Mas estou realmente bem, então não se preocupe demais, ok?
— Ok, amor. Me ligue assim que eles te liberarem. Eu te amo. Se precisar de mim, eu não me importo em desperdiçar outro frasco da poção, ok? Estarei aí em instantes.
Eu sorri deste lado da linha. — Obrigado, Harry. Eu também te amo. Tchau.
Ele disse "adeus" em troca e desligamos. Algumas batidas soaram na porta assim que devolvi o telefone de Neville, então eu ouvi o que só poderia ser Cho e Dean conversando do outro lado. Cho empurrou a porta e deu uma volta no quarto, seguida por Dean e outras três pessoas.
Cho olhou ao redor do quarto. — Eu esperava um aposento melhor. Você não trabalha nesse hospital?
— Oi, Cho, Dean. — Cumprimentei, acenando para Ivan, Sarah e Justin.
Dean sentou-se na cama com os olhos brilhantes.
— Você assustou o inferno para fora de mim. — Ele agarrou minha mão suavemente. — Por um instante, eu pensei que estivesse morta.
Cho sempre delicada como era, sentou-se aos meus pés e deixou os outros conjurarem cadeiras para si próprios. — Eu vi acontecer, mas sabia que você estava bem.
— Disseram-nos que você teve uma concussão. — Disse Justin.
— Uma moderada. — Neville completou.
O estremecimento foi visível ao redor da sala. Todos sabiam que significava um afastamento temporário, e nenhum deles tentou me animar com palavras amáveis. A situação já era horrível por si só.
— Sim. — Confirmei, suspirando. — E não vou incomodar ninguém perguntando se vão me deixar viajar na próxima apresentação. Só vou me irritar quando me disserem 'não'.
Dean apertou minha mão. — O que importa é que você está bem. Eles se certificaram que você não tem qualquer hemorragia?
Como eu poderia não sorrir com isso?
— Dean… — Eu apontei o meu prontuário ao meu lado. — Eu trabalho aqui. Eu sei ler minha condição.
Todos sorriram com isso. Eles ficaram por quase uma hora, fazendo-me sorrir sobre histórias das nossas Salas Comunais quando éramos estudantes e prometeram voltar para me visitar no dia seguinte. Dean me tranquilizou de que foi ele quem tinha levado meu celular e minha varinha, que já estavam na minha casa.
Quando eles se levantaram e começaram a sair, Cho se inclinou e sussurrou: "você quer que eu mate quem fez isso?"
Eu acariciei a bochecha dela com carinho.
— Não, meu bem. Eu estou bem, só vamos deixar nas mãos dos aurores, certo?
Ela me olhou. — Se você tem certeza...
— Tenho certeza. Embora, eu realmente aprecie isso.
Cho me olhou com desconfiança quando ela saiu, como se esperasse que eu mudasse de ideia e pedisse a ela para lançar uma maldição da morte em meu nome.
De repente percebi que quando Robards me cortasse, eu não estaria apenas deixando a equipe de Hogwarts. Pela primeira vez, desde que eu tinha me convencido de que meu chefe usaria isso para finalmente me expulsar, a realidade de deixar os meus dois amigos mais próximos pelos últimos anos, realmente mexeu comigo.
Engoli a melancolia e lembrei-me que eu precisava fazer o que era melhor para mim.
— Olá… — Minerva chamou, empurrando a porta aberta.
— Entre. — Respondi.
Sua cabeça grisalha foi a primeira coisa que notei. Eu estava de olho na porta esperando Severus vir por trás dela, mas não havia ninguém lá. Bem, isso foi decepcionante.
— Estou feliz em ver que sua cabeça ainda está em seu pescoço. — Ela disse suavemente, tomando o assento vazio de Neville que tinha descido com os outros para jantar alguma coisa na cantina do hospital.
Eu sorri para ela, apenas parcialmente. Desde que Viktor me falou sobre discutiram minha transferência, eu não tinha certeza de como agir em torno dela. Ela sabia? Duvidei que soubesse, especialmente porque Minerva me comunicaria de algo assim, sem sombra de dúvida.
— Ei, obrigada por ter vindo.
— Eu tinha que te ver, garota. Filius e todos os outros enviam seus melhores votos de recuperação. Como se sente?
Dei de ombros levemente. — Um pouco frustrada, mas tudo bem.
— Não esperava nada diferente de você. — Ela sorriu.
— Eu soube que foi um ataque. Alguma pista? — Perguntei.
A expressão dela se fechou e uma sombra perpassou pelos seus olhos.
— Nenhuma. Há algumas suspeitas óbvias, mas os aurores não querem divulgar nada ainda. — Ela pousou o olhar no relógio na parede acima da porta enquanto falávamos de amenidades, até que finalmente sentou-se em linha reta. — Eu preciso ir andando, há algumas coisas que preciso fazer antes de partirmos amanhã para a apresentação fora do país. Papoula vai me avisar quando tiver certeza que você estará liberada, mas me avise também e eu envio alguém aqui para pegá-la.
— Escreva seu número para mim. Dean está com minha varinha e meu celular. — Ela anotou no mesmo papel que Vector tinha usado anteriormente. — Já me sinto melhor. Tenho certeza de que verei vocês amanhã.
Ela saiu, e pela primeira vez desde que acordei, me vi sozinha. Não me permiti pensar em Severus, ou no porquê dele não ter vindo me ver ainda. Se o que passei foi mesmo um ataque, ele deveria estar com as mãos cheias.
Eddie voltou para me dar mais poções e deixar a recomendação de que eu tomasse a Sono sem sonhos assim que decidisse dormir. Passava das nove da noite quando finalmente perdi a esperança de que ele fosse vir me ver. Nós somos algo. E por algo, quero dizer que estamos completamente envolvidos, mas a imprensa ainda não sabe disso, nem mesmo a equipe de Hogwarts, certo, eles nos viram juntos quando Severus voltou de sua auto-exclusão ao estúdio de Fox mas, exceto pelo nosso círculo de amigos íntimos, ninguém sabe ao certo o que somos um para o outro. E, com certeza, ele soube por outra pessoa que eu estava bem.
Desci da cama e fui lentamente até o banheiro, tomei um banho cuidadoso e vesti minhas roupas de volta, me recusando a usar a bata de pacientes.
No instante em que abri a porta do banheiro, eu sabia que alguém mais estava no quarto. Na poltrona bem ao lado da minha cama, estava um Severus Snape carrancudo e irritado, com uma cesta de frutas em seu colo. Ele virou lentamente a cabeça na minha direção.
— Oi. — Ele me cumprimentou.
— Oi. — Respondi, passando pela poltrona dele e me sentando na borda da cama, de frente para ele. Seus olhos pareciam cansados quando ele olhou para o meu rosto, mas sua expressão não era amigável e nem particularmente feliz por me ver. Era o oposto do homem que se despediu de mim ontem. — Qual é o problema? — Perguntei quando ele continuou me encarando.
Ele não respondeu, cruzou um pé sobre o outro e continuou a me examinar com o olhar. Certo. Eu olhei para a cesta em seu colo. — Trouxe isso para mim?
Os olhos dele se estreitaram, mas ele ainda assim não respondeu. Quando eu tentei alcançar um morango de dentro da cesta, ele a tirou do meu alcance.
— Sério, Severus? O que há com você? — Perguntei.
Ele manteve a mesma expressão fechada. — Eu liguei pra você, Hermione.
Eu pisquei. — Eu estava muito ocupada sendo carregada até o hospital e apagada na maior parte do tempo para ir até minha bolsa e pegar meu telefone. — Eu disse, mais em tom divertido do que irônico.
— Eu vejo. — Ele respondeu secamente.
— É por isso que você está louco?
— Eu não estou louco.
— Correção, você é louco. — Brinquei novamente.
— Eu não sou.
— Severus, não sou cega. Você está chateado. Só me diga o porquê disso. Eu estou bem, ok? Tenho certeza que alguém da equipe já disse isso a você.
Até este exato momento, eu não sabia que era possível ver uma memória sem usar uma penseira ou legilimência, mas Severus acenou um complicado movimento de varinha e uma memória se solidificou diante de nós, quase como se estivéssemos vendo-a projetada numa televisão. Eu não tive tempo de me maravilhar com o feitiço dele, as narinas de Severus estavam alargadas, quando ele apontou o queixo para a imagem.
— Assista!
Eu estremeci quando vi a minha nuca ser atingida com força total por um balaço e eu caindo em seguida como se estivesse mesmo morta. Agora eu entendi os olhos marejados de Dean quando me visitou mais cedo.
Gritos ecoaram na memória enquanto meus colegas curandeiros abriam caminho até mim para ver a gravidade do que tinha acabado de acontecer. No canto da memória, um corpo masculino entrou correndo no campo de quadribol e deslizou de joelhos ao lado do meu corpo no chão. Era óbvio que aquela lembrança não era de Severus, mas de alguém que nos assistiu, provavelmente Hooch.
"Você sabe que algo é realmente ruim se é o professor Snape quem está ali verificando a saúde de alguém." Uma voz que parecia muito com a de Sarah ecoou na lembrança.
A cena mudou quando o dono da lembrança se aproximou mais de nós e focou em Severus agarrando minha mão, colocando a palma da mão livre bem ao lado da minha cabeça. Seu rosto estava angustiado, e vê-lo assim fez aquela sensação de calor pulsar em minhas veias. Eu me sentia assim sempre que ele estava sendo amoroso e cuidadoso comigo.
— Não se atreva a desmaiar no maldito campo outra vez. — Ele rosnou.
Virei meu corpo para ele, que estava sentado lá ainda me olhando carrancudo.
— Você estava preocupado comigo. — Eu afirmei.
Parte de mim esperava que ele explodisse e me chamasse de idiota por achar que ele não se preocuparia com a própria namorada, mas o tom controlado e assustador que ele usou foi ainda pior do que o habitual temperamento cruel dele.
— Me ofende você parecer surpresa em constatar isso, Hermione.
— Você foi a última pessoa a vir me visitar. — Eu disse em voz baixa. Eu não queria parecer infantil agora mas, acho que, finalmente, a vulnerabilidade do que sofri, me atingiu com força quando me vi na segurança da presença dele.
Severus manteve a carranca em seu rosto.
— Tentei me acalmar o suficiente para que eu não chegasse aqui e gritasse com você.
— Eu fui atacada! O que você esperava que eu fizesse? — Eu de repente me irritei porque parecia que ele estava me culpando por ser atingida por um balaço. — Eu acho que você deveria estar orgulhoso que eu sobrevivi depois de ser atacada por uma bola de chumbo!
Ele se virou para mim, e eu apenas ouvi.
— Você me assustou pra caralho, Granger!
Uma imagem de uma píton pronta para o bote surgiu na minha cabeça e por algum milagre eu não sorri.
— Isso é um hospital e você está gritando. — Eu disse muito calmamente, no fundo amando a explosão dele.
— Claro que estou gritando! Eu estava gritando quando você estava parecendo morta naquele campo. — Ele retrucou, seu rosto ficando vermelho. — Eu pensei… — Severus me deu um olhar penetrante que quase me assustou. — Nunca mais faça isso comigo novamente, sua pirralha. Eu sou jovem demais e bruxo demais para morrer de um ataque cardíaco.
Eu não resisti e sorri porque absolutamente amei a reação louca dele, mesmo que ela fosse tão insana a ponto dele me acusar por ter sido atacada. Suspirei, apesar da dor aguda que surgiu na minha cabeça.
— Eu diria que afirmar "eu sou jovem demais" é um ponto discutível, você não acha?
Severus olhou para cima e amaldiçoou algo baixo e longo em espanhol.
— Você foi trazida a este mundo para ser a minha penitência, não foi? — Isso me fez soltar um riso ainda maior, e que doeu como o diabo, mas eu não conseguia parar. — Por que você está rindo, Granger? Isso não é uma piada.
— Você faz parecer como se eu fosse tivesse sido enviada do mundo trouxa até o mágico apenas para arruinar sua vida, Severus. É engraçado, mas, por favor, não diga coisas como essa agora, minha cabeça dói demais.
— Pare de rir então! — Ele exigiu. — Vai fazer a dor piorar.
Eu belisquei a ponta do meu nariz e tentei me acalmar. Levou mais tempo do que o necessário para eu me conter, mas consegui. Finalmente sóbria, eu sorri suavemente para ele e peguei sua mão na minha.
— Significa muito para mim que você esteja tão preocupado e irritado comigo.
— Mas isto não é para ser engraçado. Por que você está sorrindo?
Mordi meus lábios e dei-lhe um olhar.
— Eu fui sua aluna por alguns anos, Severus. Você ficava irritado com os acidentes em poções ou com as contusões de membros da Sonserina quando eles jogavam quadribol, mas sua irritação era pela estupidez deles. Faz com que eu me sinta realmente especial que você se importe tanto comigo.
— Não é só com você que eu me preocupo. — Ele argumentou.
— Oh? Sério? Com quem mais você se importa?
— Scorpius.
Meu coração aqueceu mais com aquela declaração. — Certo, porque você seria uma pessoa horrível se não se importasse com uma criança que é seu "afilhado-neto". Quem mais?
— Aquele seu gato estupidamente velho.
Meu peito se aqueceu ainda mais e tenho certeza que uma lágrima escorreu do meu olho. Severus piscou lentamente e não disse nada por um longo tempo, seu indicador percorreu a palma da minha mão que ainda estava junto a dele e ambos olhamos para o ponto onde nossas peles se tocavam. As palavras simplesmente saíram de mim desenfreadas e sem mácula depois de um tempo.
— Você significa muito para mim, você também sabe.
Severus não quebrou o contato visual, quando se aproximou e roçou o nariz no meu, antes de me beijar suavemente. Ele recuou rápido demais para mim, mas eu entendi que o local onde estávamos não permitia exibições tão públicas de afeto. Ele alcançou a cesta de frutas e finalmente a estendeu para mim. Apanhei um dos morangos e o inspecionei.
— Você comprou isso na xepa?
— Não. — Ele fez uma pausa. — Por quê?
Eu lancei um olhar para ele antes de dar uma mordida. — Metade da fruta está faltando.
Ele estendeu a mão e pegou um para ele também. — A fruta veio inteira. Fui eu quem a mordi.
Apertei os olhos fechados para não rir. Ele percebeu e inclinou uma sobrancelha em minha direção, me repreendendo silenciosamente para não rir e forçar mais dor a vir para minha cabeça.
Uma hora ou algo assim se passou, e ele ainda não tinha ido embora, quando a assistente de Eddie veio me checar.
— Srta. Granger, como está se sentindo? — A pobre senhora se calou e seus olhos se alargaram quando viu Severus sentado confortavelmente na poltrona, agora com os pés plantados na cama, bem ao meu lado. A ruga em sua testa era visível quando ela correu os olhos entre nós dois.
— Ah, não tinha ideia que você estava com visita. — Ela limpou a garganta. — Já passou do horário de visitas, mas… — Pigarreou novamente e suas bochechas ficaram vermelho brilhante. — Eu posso guardar um segredo, desde que vocês também possam.
Os olhos dela se fixaram em mim, evitando encarar o homem taciturno ao meu lado. Ela saiu alguns minutos mais tarde, após fazer uma rápida verificação para certificar-se de que eu não estava exibindo nenhum sinal de complicações iminentes.
— Se você estiver planejando ficar mais tempo aqui, eu sugiro mudanças na poltrona para que ela recline e tenha apoio de pés. — Fiz uma pausa. — Você está planejando ficar?
A resposta dele foi tirar os próprios sapatos, revelando meias tão pretas quanto suas vestes.
— Você se acalmou mais sobre sua transferência? — Ele perguntou e eu me vi surpresa por ele iniciar um assunto novo.
— Um pouco. Eu li um histórico sobre os pesquisadores suecos que me pareceu interessante. — Respondi e uma vibração gelada passou por minha barriga. Suécia. Eu ainda não tinha assimilado nem minha transferência na cabeça, mas já estava vendo uma opção.
— Os que pesquisam Magia Antiga? — Ele perguntou casualmente. Confirmei com a cabeça e ele assentiu. — É uma boa opção, nível dez. — Não perdi o fato de que ele tinha me chamado pelo apelido que ainda usava comigo nos treinamentos. — E quanto à França? África? São escolas bem conceituadas.
— Eu sei sobre os trabalhos de magia sem varinhas da Uagadou, mas não sei se eu toparia uma mudança de continente, e França, apenas não. — Eu mexi os meus dedos debaixo do cobertor fino que estava usando, me lembrando que até Viktor sabia sobre Chloe, enquanto que Severus, não, e isso fez eu me sentir culpada. Ele estava aqui, preocupado comigo, estamos em um relacionamento firme e eu ainda não lhe disse a verdade.
— Severus?
— Sim?
— Você lembra quando ouviu Chloe de Lapin me chamando de prostituta e eu não quis lhe dizer por quê?
Ele estava folheando uma revista que apanhou na minha mesa de cabeceira quando respondeu.
— Eu sei o porquê.
Minha cabeça latejou em resposta a sua declaração.
— O quê?
— Uma birra estúpida apenas porque o marido dela é um mentiroso e você deixou por isso mesmo. — Ele olhou para mim. — Agora que estamos falando sobre o tema, eu tenho que te dizer o quão idiota você foi. Essa situação não foi sua culpa, e você deveria ter ido à imprensa declarar a verdade e não deixá-los pensar errado sobre você... Mas você é teimosa e infantil quando quer ser.
Severus soou tão indiferente, através de seu discurso; enquanto que eu não conseguia nem manter minha cabeça em torno do que ele estava declarando, obcecada apenas sobre o fato de que ele já sabia a história.
— Como você descobriu? — Era suposto ser um segredo, certo?
Ele levantou um ombro. — Eu costumava ser um espião.
Minha boca abriu-se em descrença. — E você me espionou?
— Você é terrivelmente convencida de que tudo gira em torno de você, Hermione. Tenho certeza que isso é fruto da sua convivência com "O Escolhido". — Eu bufei e ele levantou uma sobrancelha irônica em minha direção. — Eu fiz um esforço para conhecer a equipe da força-tarefa de Hogwarts enquanto me convencia a aceitar retornar. Em uma pesquisa sobre a equipe, descobri. Não franza a testa para mim. Mesmo se não tivesse descoberto, cada orientador da equipe, sabe. Eu descobriria de qualquer forma.
Meu rosto ficou quente e tentei racionalizar o que ele estava querendo dizer.
— Isso é ótimo. — Eu resmunguei.
Recusando-se a olhar para mim, ele me acusou: — Eu lhe perguntei uma vez, você não quis falar.
— Eu precisava de um tempo, sequer éramos amigos naquela época, Severus.
— Você acabar o meu estoque de unguento, não fez de mim seu amigo?
Oh Merlin, Severus é absurdamente irritante.
— Isso é tudo que tem a dizer?
— Sim. Eu já disse que você foi uma idiota por não lutar contra eles, mas não há nada que eu possa fazer sobre isso agora. Se ela fizer algo assim com você agora, minha reação seria bem diferente de apenas expulsá-la de um jardim. Ninguém nunca vai chamá-la de vagabunda na minha frente, você sabe disso, certo?
— Exceto os jornais. — Respondi amarga.
— Os jornais são lixo. — Ele declarou ferozmente.
Por alguma estranha razão, sua raiva me deixou radiante. Não importava mais. Estava no passado e ele já sabia sobre e não fez nenhum barulho sobre isso, então, por que eu deveria? Talvez fosse mesmo a hora de deixar a Chloe e seu marido idiota para trás.
Respirei fundo e olhei seu perfil lateral e sua barba por fazer.
— E você, Severus? Já decidiu sobre o que você vai fazer no futuro? Caso devolvamos a magia ou não.
Ele girou seus olhos negros para mim. — Não. Ainda não decidi nada.
— Robards lhe pediu para ficar por mais um ano?
— Sim. — Ele sorriu levemente para mim. — Você acha que o termo "vá para a puta que pariu" foi uma resposta apropriada?
Eu abri um sorriso e estendi a mão para tocar seu pé, envolvendo sua meia macia. — Eu acho que amo o som disso.
Seu telefone tocou novamente.
— Se você não atender, eu vou. — Eu o ameacei, sem me afastar e mantendo os olhos na janela encantada, verificando o tempo do lado de fora.
— Nenhum de nós vai atender. — Ele declarou.
O telefone tocava a cada cinco minutos e o som irritava.
— Quem é? — Finalmente perguntei.
— Kingsley. Robards. Septima.
— Vector?
— Sim. Ela.
— O que querem? — Meu telefone ainda estava em casa. Eu tinha usado novamente o de Neville para avisar à Minerva que tinha recebido alta naquela manhã e disse que estava livre para ir acompanhar a equipe na apresentação no exterior, mesmo que não fosse me apresentar. Mas levou ainda mais duas horas para Papoula Pomfrey me liberar, então não consegui sair a tempo de pegar a Chave de Portal. Minerva concordou com a ausência de Severus desde que ele dispensou a troca por Filius como representante de Hogwarts lá.
— Eles não querem que saiamos do hospital juntos.
Isso me fez virar rapidamente de frente para ele e uma dor leve atravessou minha nuca.
— Você está aqui como representante da equipe já que eu me machuquei no castelo. Por que eles pediriam isso?
Ele fez uma cara que dizia o quão estúpido ele pensou que tudo isso era.
— Para não alimentar mais fotografias.
Eu suspirei resignada. — Ah, certo, eles.. acho que eles tem razão. Eu posso sair sozinha.
— Não comece, Hermione. — Ele resmungou, sem olhar para mim.
— Eu entendo a Vector, ela é a relações públicas de Hogwarts. Mais fotografias significam mais porcarias públicas para ela ter que lidar.
Ele me olhou por cima, sua boca em uma linha fina.
— Não se refira a sermos vistos juntos como "porcaria". Não vou fingir que não me importo com você. Estamos aqui como profissionais, eu não sou uma criança e você também não é. Foda-se cada um deles.
Vendo a verdade em seus termos, eu me senti uma idiota culpada. Eu odiava dizer que Severus estava certo, mas era a verdade. O que tínhamos a esconder se estávamos aqui não como um casal, mas como orientador e orientanda que tinha se ferido em um treinamento sob sua supervisão?
Eu olhei para os olhos intensos de Severus e me lembrei que ele foi a pessoa que tinha passado a noite em uma poltrona pequena demais para ele e que acordou todas as vezes que Eddie ou Madame Pomfrey vieram me verificar. Isso me fez sentir ainda mais culpada por querer me esconder de ser vista com ele. Admirei aquele rosto de pouco mais de quarenta anos, um rosto que tinha sido tão importante na minha vida quando eu era mais jovem e que agora tinha de alguma forma se tornado tão próximo de mim e constatei mais uma vez o fato de que não há muito que eu não fizesse por ele também. Eu entrei num covil de rebeldes para resgatá-lo das garras de Lucius Malfoy, pelo amor de Merlin! Nosso relacionamento florescia para algo muito sólido, por que então eu cogitaria não ser vista ao lado desse homem?
Agora eu entendia quando ele me chamava de pirralha. Acho que, às vezes, realmente me falta maturidade para aceitá-lo como sendo meu. Como o homem que faz parte da minha vida. Um homem que eu respeito e que me respeita, e ele não se importa que o mundo especule ou saiba que significamos algo um para o outro. Nosso relacionamento não foi dado a qualquer um de nós, tivemos que trabalhar para conquistá-lo. Então, sim, eu não iria deixar que alguém diminuísse nada do que havia entre nós. E, se uma dessas pessoas era o Robards, nem fodendo que eu daria esse gostinho a ele.
— Me desculpe. Você está certo. — Outro pensamento me passou pela cabeça. — Será que a Vector vai conseguir me odiar ainda mais se sairmos juntos?
— Septima odeia a maioria das coisas, Hermione, não se preocupe com ela.
Não foi muito reconfortante, mas tudo bem. Eu sorri para ele, antes de deixar que a ansiedade se instalasse no meu estômago quando lembrei que deveria haver mesmo jornalistas no saguão. Por que eu sempre tinha que ser esse poço de sentimentos ruins?
— Por que está carrancuda? A cabeça está te incomodando? — Ele perguntou em um tom preocupado, enquanto caminhávamos pelos corredores.
Sim, eu posso fazer isso por ele. Eu repeti isso a mim mesma, no instante em que pisamos no saguão do Saint Mungus e a primeira câmera disparou um flash em nossa direção. Meu rosto ficou ruborizado por toda atenção sobre nós. Eu nunca vou me acostumar com essa porcaria de fama. Mas, se eu iria viver com Severus pelo resto da minha vida, isso seria parte integrante de nosso dia-a-dia.
Meu namorado caminhou em toda sua altura, em nenhum momento me deixando passar a frente ou para trás dele. Andou milimetricamente ao meu lado e sua expressão fechada manteve os repórteres distantes, mesmo que suas perguntas ecoassem ao nosso redor. Eu apenas mantive o foco no homem ao meu lado e não deixei que minha ansiedade ficasse estampada em meu rosto. Ele lançou o Pó de Flu na lareira e quando as chamas verdes nos envolveram, ele finalmente se permitiu segurar a minha mão e minha respiração se tornou normal outra vez.
Sim, não há muito que eu não faça por ele também.
Notas Finais
Feliz aniversário, Harry! Sem você, não haveria história para a gente contar.
Gostaria muito de agradecer os leitores do Wattpad que fizeram essa semana Novo Mundo alcançar 2k de leituras. Vocês são incríveis!
Obrigada a minha fiel escudeira munjaaay por me apoiar tanto. E a JessInTheDungeons pela tradução incrível para o inglês. Vocês duas não imaginam o quanto sou grata a vocês.
E como vocês já estão acostumados: depois de uma calmaria…
Estamos em reta final. O que será que nos aguarda no próximo?
Beijos, pessoal!
