Notas do Autor


Disclaimer: Todos os personagens do universo Harry Potter, assim como as demais referências a ele, não pertencem ao autor desse texto, escrito sem nenhum interesse lucrativo, mas à JK Rowling.


Capítulo 31 - Confrontos e Traição


Eu sabia que algo estava errado quando eu percebi que Minerva estava evitando contato visual comigo, durante o treino na manhã seguinte, mas eu não tive certeza até que ela começou revendo a estratégia para a segunda exibição pública contra a Uagadou, a primeira havia sido há alguns meses. Desta vez, era previsto demonstrações de magia sem varinhas, prática comum na escola africana, então eu tinha como certa a minha participação, já que treinei individualmente com Severus esse tipo de magia.

— Nós vamos fazer algumas alterações para a formação da linha de frente.

Um alerta brusco e estridente soou na minha cabeça. Porra, eu sabia disso. Eu sabia até a medula dos meus ossos, o que estava prestes a sair da boca dela. Meu olhar atirou-se para meu parceiro, que estava ocupado olhando por cima do ombro da diretora, um sulco vincando a pele entre as sobrancelhas.

Minerva recitou os nomes dos bruxos: Dean e Justin, níveis nove. Cho e Sarah, níveis sete, e outros nomes mais. Ela falou todo e qualquer nome que não pertencia a mim. Descrença fez o meu rosto ficar quente, quando a única "mudança" para a lista estava na ausência da nascida trouxa mais poderosa de Hogwarts. A única nível dez da equipe foi simplesmente cortada.

— Não há nenhuma razão para não ser uma excelente exibição. — Minerva disse em uma voz confiante enquanto fiquei ali, humilhada e quase pronta amaldiçoar qualquer um que ousasse passar na minha frente.

Eu tentei dizer a mim mesma, enquanto ouvia a diretora proferir palavras de encorajamento que eu não deveria levar isso pro lado pessoal. Minerva me adorava, não era como se ela não quisesse me ver atuando. Ela sempre tinha sido muito mais do que simplesmente uma professora para mim, eu praticamente a adotei como minha mãe no Mundo Mágico pós-guerra.

Oh Merlin, eu precisava gritar. Outra pessoa poderia ter racionalizado que ela não estava me incluindo, porque eu tinha acabado de sofrer um ataque e seria sensato me deixar "de molho" seja por questão de saúde ou por segurança. Mas eu não conseguia pensar assim. Aliás, eu não podia, porque eu sabia que essa decisão tinha sido feita por outra pessoa.

Está tudo bem, me forcei a lembrar. Só porque eu não estava escalada para a exibição, não quer dizer que eu não poderia estar presente. Mas isso não era o suficiente para me consolar, não importa o quanto eu tentasse. Era uma maldita exibição de magia sem varinhas com uma escola tradicional nesse tipo de feitiço e eu não ia ter a chance de demonstrar meus dons. Seja adulta, isto não é o fim do mundo. Deixei escapar um suspiro trêmulo enquanto Minerva continuava o seu discurso.

Por cima de seu ombro, Severus estava olhando diretamente para mim. Seu rosto em branco, exceto para o quão proeminente a sua mandíbula de repente ficou. Eu sabia o que ele estava tentando transmitir com esse olhar. Ele estava me dizendo para não ser ele: "Não seja o jovem Severus Snape". Isso quer dizer que ele estava me ordenando que eu me mantivesse calma e não reagisse agora. Me dizendo que pensaríamos nisso juntos, como um casal.

Respire, Hermione. Respire fundo. Seja adulta. Paciência. Repeti para mim até ter o controle novamente das minhas emoções.

Foi Cho que veio até mim primeiramente, quando a equipe terminou de sair. Ela colocou a mão no meu ombro e baixou a cabeça.

— Hermione, isso é uma merda! — Ela xingou, no mesmo volume que ela teria usado se ela estivesse falando sobre o clima.

— Está tudo bem, Cho. — Respondi, mesmo não estando.

Realmente não estava. As veias em minhas têmporas latejavam pelo esforço em me manter controlada. Eu nem sequer sabia que fosse capaz de ficar tão irritada. Mas aquela situação me afetou muito.

— Foda-se! Não está bem. — Ela rebateu. — Eu vou dizer-lhe algo...

— Por favor, não. — Eu a cortei. — Não se incomode, realmente.

Fui pegar minha mochila e continuei repetindo o mantra de paciência para tentar me acalmar. Olhando para a expressão fechada de Cho, eu não pude deixar de sorrir para minha amiga. Ela estava ali comigo agora já por tanto tempo. Eu coloquei meus braços ao redor dela e a abracei.

— Quero dizer a você antes de todo mundo descobrir, eu soube por uma fonte segura que Robards está tentando me transferir.

Ela me empurrou para trás, seus olhos arregalados em choque.

— O quê? Não, não pode ser, porra!

— Sim. Você percebeu como ele obrigou a Minerva a me cortar. Você acha que ela me deixaria de fora desse "show"? — Suspirei. — Eu vou tentar sair, antes que seja tarde demais. — Expliquei, tentando o meu melhor para não parecer tão triste com isso. — É o nosso segredo. Eu tenho que dizer a Dean...

— Me dizer o quê?

Nenhuma de nós duas percebeu que ele estava chegando para completar nosso trio. Foi Cho quem respondeu.

— Robards está tentando chutá-la de Hogwarts.

Dean me olhou boquiaberto.

— O quê? Quem te contou isso? — Dei de ombros porque não importava. Lágrimas brotaram imediatamente nos olhos dele. — Para onde?

— Beauxbaton.

Nenhum dos meus amigos falou. Foi Cho quem quebrou o silêncio mais de um minuto depois. — Com aquela cadela da Chloe? Você não está cogitando isso Hermione, está?

— Pensei na Suécia. — Expliquei. — Talvez. Se alguém me quiser por lá…

— Todos querem você em qualquer lugar! — Cho rebateu ferozmente.

Dean fungou. — Você vai mesmo embora?

Oh Cristo!

— Estou deixando Hogwarts, não vocês. Vocês sabem que Robards nunca me suportou. Eu não estou realmente surpresa que ele finalmente decidiu se livrar de mim, mas não acreditei que ele fosse tentar me mandar para a França, de todos os lugares.

— Eles nunca vão te deixar ser a bruxa que você é lá. — Dean sacudiu a cabeça.

Uma mão segurou meu cotovelo, antes de passar por todas as minhas costas e o calor do corpo de um homem aqueceu meu lado direito.

— Você vai ficar bem. — Uma voz sedosa disse.

Demorou um segundo para o meu cérebro registrar o que estava acontecendo. Severus estava me tocando em público, no treino, na frente dos meus amigos e de quem mais entrasse no Salão Principal. Quando a mão dele deixou minhas costas e foi para o meu ombro mais distante, a tensão foi drenada de meus pulmões e ombros. Foda-se tudo, nós nem somos um segredo para Cho e Dean. Eu coloquei minha mão em cima da dele, mesmo correndo o risco de mais alguém nos flagrar.

— Espero que alguém me aceite em alguma equipe estrangeira.

— Eles vão. — Severus afirmou com total confiança e fiquei feliz que um de nós dois estivesse confiante assim. O olhar dele se estabeleceu em mim, como se ele mesmo não percebesse ou não se importasse que estávamos com outras pessoas. — Preciso falar com você.

Eu queria perguntar sobre o que, mas achei que era melhor esperar.

— Vejo vocês mais tarde? — Perguntei a Cho e Dean, que estavam me observando ainda desanimados pela minha iminente saída.

— Sim. — Ambos concordaram.

Severus não se incomodou de esperar até chegarmos ao meu carro. Eu estava precisando poupar minha magia para uma cirurgia mais tarde no hospital. Ele me parou no meio do jardim do castelo, um olhar excepcionalmente sério no rosto.

— Eles cortaram você da exibição.

— Eu sei, eu estava lá, Severus. — Devolvi com rancor.

Ele ignorou minha resposta malcriada.

— Se não fizermos nada, eles não vão deixar você participar de mais nenhuma exibição. E é importante que você seja vista, Hermione.

Tristeza e raiva eram tão semelhantes que era difícil distinguir qual delas estava esmagando meus pulmões.

— Eu sei.

Severus deu um passo adiante.

— Você confia em mim?

Se eu confio nele? Minha cabeça recuou um pouco e minhas sobrancelhas se ergueram. Ele já devia saber muito melhor que isso.

— Sim.

Suas narinas se alargaram e o queixo se inclinou para baixo. Ele parecia exatamente como o professor Snape num dos dias de fúria completa ao confrontar Sirius em Grimmauld Place.

— Vamos falar com Robards. — Ele declarou.

Eu tinha acabado de lhe dizer que confiava nele, mas eu ainda queria perguntar o que diabos estávamos indo falar com aquele idiota. Confiança, certo? Severus sabe o que estava em jogo. Quanto a mim, eu queria vomitar, mas em vez disso, me vi concordando com ele.

— Vou encontrá-la no Ministério. — Ele disse antes de voltar para o castelo.

Ok! Eu não tinha ideia do que diabos estávamos indo fazer, mas eu continuei até o meu carro, joguei minha mochila lá e subi até o escritório de Minerva, ela não estava à vista em lugar nenhum, mas eu tinha passe livre para usar sua lareira para emergências, e uma ordem de um Severus Snape furioso certamente é uma emergência.

Desci no Ministério e não olhei para os lados enquanto seguia até o escritório de Robards. O elfo doméstico que tinha me levado lá da última vez, não estava em nenhum lugar à vista mas, sentada na mesa da ante-sala estava uma bruxa assistente, que me olhou curiosamente.

A bruxa parecia tudo o que se pode imaginar em uma secretária mais velha, cabelo arrumado, branco, cortado curto, uma túnica meticulosamente bem passada. Era quase fácil acreditar que ela era uma simpática senhora fazendo o seu trabalho, mas, tal qual o seu chefe, ela não era; pelo menos comigo ela nunca tinha sido.

— Olá, Sra. Rosier. Eu quero falar com o Sr. Robards, por favor. — Seja gentil sempre, certo? Pensei comigo mesma.

— Você precisa agendar um horário. — Foi a resposta rude que recebi de volta.

Respire, Hermione. Mantive uma expressão simpática no rosto. Eu posso fazer isso, sou melhor que eles.

— Será que consigo falar com ele agora? Por apenas cinco minutos? É muito importante. — Minha expressão simpática caiu quando me ouvi falando para ouvidos surdos, que haviam se afastado para se concentrar novamente no pergaminho sobre a mesa.

— Eu já expliquei, é necessário agendar uma reunião. Ele tem um espaço de dez minutos livres na segunda-feira às onze horas. — Ela afirmou, sem sequer me olhar.

— Não há nenhuma maneira de eu falar com ele hoje? — Perguntei, já sem nenhum calor em minha voz.

A senhora revirou os olhos e não se esforçou para ser discreta e me disse um seco "Não". Obviamente ela não me daria nada mais.

— Obrigada, de qualquer maneira.

Me virei e segui na direção por onde eu tinha vindo, com a intenção de encontrar Severus e deixá-lo saber que se ele queria mesmo falar com Robards, ia ter que conseguir que a assistente nos deixasse entrar. Antes mesmo que eu pisasse fora da ante-sala, Severus se aproximou, franzindo a testa.

— Ela não vai me deixar entrar para vê-lo. — Expliquei.

Severus elevou as sobrancelhas numa expressão desafiadora e depois agarrou minha mão, palma com palma, e me levou de volta até a mesa da bruxa assistente.

— Eu preciso falar com Robards. Agora! — Ele disse naquele mesmo tom de voz autoritário que usava em nossos treinamentos.

Ela tirou seus óculos sem armação, para ver quem estava falando e todo o seu rosto mudou daquela expressão desagradável para uma simpática quando avistou o meu orientador.

— Severus! Oh, desculpe-me, mas você realmente deve agendar uma reunião… — Ela gaguejou.

— Não Dominic, o que eu preciso é vê-lo agora. — Ele cortou.

Os olhos dela viraram-se para mim, e eu não perdi as rugas no nariz. Dominic Rosier era simpatizante das causas de sangue puro da era Voldemort, a família dela inteira era de Comensais da Morte e, pelo visto, ela não conseguia me enxergar com bons olhos, mesmo após tudo.

— Bem, deixe-me avisá-lo que você está aqui. — Ela seguiu para o escritório do coordenador dos programas de treinamentos mágicos e, não mais que quinze segundos depois, estava segurando a porta aberta e acenando-nos para entrar. — Ele vai ver você agora.

Robards estava sentado atrás de sua mesa, Severus foi à minha frente ainda segurando minha mão, me arrastando suavemente com ele. Eu sabia o que pareceria nós dois entrarmos assim, juntos, na sala do nosso superior, mas finalmente eu me permiti, e eu não me preocupei nem um pouco. Severus tomou o assento mais distante da porta e eu fiquei com o outro, os dedos dele se entrelaçaram aos meus e notei que Robards assistiu ao gesto com frieza.

— Como posso ajudar você? — O homem perguntou com uma expressão fechada, dirigindo-se exclusivamente a Severus.

— Vou aceitar o cargo em definitivo se você deixá-la nas próximas exibições. — Severus foi direto.

Minha cabeça virou para ele. O que? Aparentemente, eu não era a única surpresa com suas palavras.

Os olhos do Robards se arregalaram. — Isso é sério? Você vai ficar?

— Com duas condições. A primeira é que você deixe-a demonstrar a bruxa excepcional que ela é, o que só é possível se ela estiver participando das exibições. — Severus afirmou uniformemente.

O homem mais velho na sala pareceu considerar isso, quase surpreso por essa ser a exigência de Severus. — Essa é a sua condição?

— Uma parte dela. — Severus disse.

Mas ele não queria ficar depois do final do contrato de um ano. Ele tinha me dito isso. Então por que estava dizendo isso agora?

— Severus… — Sussurrei.

Ele virou-se para mim com um tipo de olhar que me lembrou que eu tinha prometido confiar nele. Droga.

— Sim ou não? — Ele exigiu de Robards.

— Eu… — Nosso chefe gaguejou. — Não posso tê-los na equipe ao mesmo tempo. Os rumores despertaram queixas de outros membros...

Severus levantou a mão para pará-lo, atirando-me um longo olhar significativo, que eu não entendi até depois que ele terminou de falar. — Vou me afastar das próximas duas exibições. — Ele ofereceu, me observando enquanto falava.

Por esse breve momento, o tempo parou.

Robards tinha ideia do que tinha acabado de sair da boca dele, claro, ele ouviu as palavras, mas ele não entendeu o significado por trás delas. Já eu, ouvi as palavras e tinha compreendido.

— Não. — Eu disse a ele.

Ele nem uma vez quebrou o contato visual comigo, confirmando que ele queria que eu realmente ouvisse o que ele estava querendo dizer, o que ele queria que eu entendesse.

— Sim.

— Severus, você é o coorientador da equipe, você fez todos nós subirmos de nível com dois meses de trabalho, você não pode ficar de fora das exibições.

Ele me deu um olhar duro, seu rosto estampava uma expressão feroz e serena ao mesmo tempo. — Eu nunca tive mais certeza de nada.

Oh diabos malditos.

— Você vai ficar de fora para deixá-la exibir-se? — A ênfase de Robards na última palavra era quase um deboche, como se ele quisesse dizer que eu fazia questão de demonstrar o poder que eu tinha como forma de continuar famosa e não da forma que eu e Severus já tínhamos conversado antes: como um símbolo de esperança para quem esperava pelo fim da escassez mágica.

Com nenhuma hesitação e ainda olhando diretamente para mim, meu namorado respondeu ao chefe: — Sim, vou. Temos um acordo?

O outro homem pareceu pensar em sua resposta por um minuto.

— Ok. Você tem um negócio, desde que sua próxima demanda não seja um absurdo.

Não pude deixar de olhar para Severus. Todo o meu corpo inteiro concentrado nele, em suas palavras, no rosto e no inchar em meu peito que queria espremer minhas cordas vocais até se arrebentaram.

— Bom. A outra coisa que quero é que você dê uma olhada no contrato de Hermione com o Ministério Britânico. Estou pagando a multa dela por sair antes do final do mandato e preciso saber quanto devo transferir da minha conta em Gringotes para isso. — Severus explicou. Antes que eu pudesse argumentar, ele certificou-se que eu sabia que ele estava falando comigo e não com Robards. — Não discuta. Você faria isso por mim.

— Só porque eu faria...

— Eu faria qualquer coisa por você. — Ele me cortou.

Ah, merda, Severus estava me fazendo uma declaração de amor bem na cara de Robards? Meu coração estava batendo uma batida que ele nunca tinha conhecido antes. Ele simplesmente disse ao próprio chefe que ia ficar de fora das próximas exibições mágicas, manter-se em um emprego que claramente detestava e pagar a multa rescisória do meu contrato para que eu fosse liberada. Tudo isso enquanto estávamos em busca de uma guerra mágica contra rebeldes e caçando livros mágicos protegidos por feitiços mortais. Ele não sabe o que ele está dizendo. Ele não sabe o que está fazendo, eu repetia para mim mesma, tentando meu melhor para não me descontrolar aqui.

— Robards, temos um acordo?

Nenhum de nós estava olhando para o dono do escritório, então perdemos o olhar incrédulo em seu rosto. Como este bruxo idiota não fazia ideia da profundidade da declaração de Severus para mim naquele momento, não nos importávamos com a presença dele. Isto era entre Severus e eu, e o coordenador era só um ruído de fundo, para chegarmos onde queríamos.

— Pagar a multa dela? — A risada de Robards deu uma vantagem a ele. — Claro, Sr Snape, você é mais do que bem-vindo.

Se eu não estivesse tão deslumbrada com o movimento que Severus fez por nós dois, eu poderia ter ficado ofendida com a facilidade com que este idiota me dispensou.

— Não estavam juntos... — Robards zombou baixinho.

— Agora estamos. — Severus disse friamente.

— Eu ouvi os rumores, mas achei que uma garota jovem fosse apenas uma distração, não sabia que você tinha se apegado tanto a ela. — Robards pousou os olhos em mim. — Como seu amigo, Severus, eu tenho que dizer... a garota é muito pouco para você.

Notei os olhos de Severus escurecerem com aquela nuvem de ódio que ele costuma ter em situações em que a Oclumência precisa ser forte para não fazê-lo perder o controle.

— Um… — Severus rosnou. — Você não é meu amigo. Dois, não é da sua conta.

As sobrancelhas de Robards se ergueram em surpresa.

— Certo. Para onde a adorável senhorita Granger planeja ir quando estiver fora de Hogwarts? Bem, eu suponho que é uma boa notícia para Beauxbaton.

— Beauxbaton? — Foi minha vez de reagir. — Não irei para a França.

— Ah não? A senhorita Chloe de Lapin me deu a entender que há um histórico seu por lá. — Robards soou quase divertido. — Ela sugeriu que você estava disponível para… ─ Ele pareceu pensar melhor em suas próprias palavras. — Honestamente, senhorita Granger, o que você acha que a maioria dos jornalistas franceses pensa sobre você?

— Se você ofender a minha mulher, você morre. — A voz feroz de Severus alcançou meus ouvidos. — Da próxima vez em que você pensar em insultá-la, afogarei você em seu próprio sangue. E farei isso, sorrindo.

Seis longos segundos de silêncio se estenderam enquanto eu encarava Severus, em choque. Ele nunca tinha se imposto tão mortal assim na minha frente.

Robards se recuperou da sua surpresa e levantou-se da sua mesa, contornando-a e parando ao lado de Severus, pousando a mão em seu antebraço esquerdo. Eu me perguntei se ele lembrava-se do que estava estampado ali, antes daquela tatuagem colorida que havia por baixo da sua manga.

— Certamente não há razão para essa animosidade? Fazer ameaças contra um superior?

— Tire sua mão de mim. — Severus disse suavemente.

Mas Robards não o soltou enquanto se dirigia a mim: — Você está dispensada desta sala, senhorita Granger. Saia.

Eu foquei o meu olhar na mão dele que segurava o antebraço de Severus. — Tire sua mão dele! — Ordenei.

— Eu posso fazer o que quiser e ainda sou o seu superior, então, se a bruxa mais inteligente da sua geração tem algum senso, ela vai sair do meu escritório antes que eu…

Chamas irromperam e o grito de Robards ecoou pelo ambiente. O fogo se envolveu em torno do braço dele e ele soltou o antebraço de Severus para tentar apagá-las. O Aguamenti que ele evocou com sua varinha nada fez para aplacar o fogo consumindo a manga de sua túnica e alcançando rapidamente seu tórax. Os olhos dele estavam arregalados quando ele se virou para Severus e implorou: — Não me deixe queimar!

Mas Severus o ignorou, voltando os olhos para mim. — Não é minha magia.

Os olhos de Robards voltaram-se assombrados para mim e eu sorri para ele.

— Se você ameaçar qualquer inferior seu com o poder deste cargo de merda que ocupa, vou me certificar de encontrá-lo e fazer essas chamas consumi-lo. — Eu disse docemente. — E da próxima vez que tocar em Severus sem a permissão dele, vou derreter seus ossos antes que você tenha a chance de gritar.

Robards estava pálido enquanto as chamas continuavam a dançar em sua túnica e a única coisa entre a pele dele e o fogo era o meu controle sobre elas.

Eu olhei de volta para Severus, sorrindo. — Você é o meu superior.

Severus parecia estar tentando o seu melhor para não sorrir de volta, embora fosse evidente a diversão dançando em seus olhos quando ele estudou Robards, que mal se movia, mal respirava.

— Solte-o e vamos almoçar.

As chamas se apagaram tão rápido que era como se elas nunca tivessem existido. Robards se inclinou, apoiando o braço sobre a sua mesa de trabalho e vomitou no chão, sob o olhar de horror de sua assistente que tinha vindo até a sala, certamente atraída pela pequena discussão do nosso grupo. Nós dois saímos da sala e a deixamos lá para lidar com a bagunça feita pelo chefe.

— Seu controle das chamas… Eu acho que seu apelido vai ser nível onze, agora. — Severus disse divertido, enquanto atravessamos o Átrio.

— Será um problema quando eu chegar em doze e atirar todas aquelas pedras de volta em você, Severus? — Brinquei de volta.

Ele soltou minha mão e seu braço me envolveu pelos ombros, enquanto sua outra mão alcançava o Flu ao lado da lareira e eu ouvi o som de uma suave gargalhada nos acompanhar enquanto rodopiávamos nas chamas verdes.


A minha cirurgia terminou rápido naquela tarde. Talvez minha economia de magia, mesmo que eu tenha tido uma explosão furiosa de magia do fogo com Robards, tenha sido muito eficiente e em duas horas eu já estava livre do meu trabalho em Saint Mungus.

Resolvendo seguir o conselho de Harry, voltei ao castelo via Flu e fui para a biblioteca em busca de pistas sobre o Diretório Bruxo. Com nada mais do que um palpite de que o pergaminho original estaria aqui, eu apanhei uma cópia de Hogwarts, uma história e comecei a ler tudo que ele falava sobre a fundação do castelo e a construção da biblioteca. Se eu forçasse um pouco minha mente, este livro estava praticamente decorado página por página dentro dela, mas conferir linha por linha não faria mal, já que não havia nenhum indicativo de por onde eu deveria iniciar essa caçada.

Não sei por quanto tempo fiquei lá, absorta em minha leitura e tomando notas em um dos meus pergaminhos.

— Olá. — Disse uma voz suave.

Levantei meus olhos do livro, fitando a figura etérea que sorria para mim.

— Você faz visitas fora da tumba, agora? — Resmunguei, tentando não demonstrar o quanto a entrada repentina do fantasma de Regulus na biblioteca tinha me assustado.

— Não — disse Regulus, simplesmente, como se ele não estivesse neste exato momento visitando-me em um lugar que não se parecia em nada com o sacórfago dos fundadores. — Mas é mais forte que a minha vontade, essa inclinação para ajudá-la.

— Me ajudar? Você troca informações por outras, Regulus.

— Não seja ingrata, eu lhe dei o meu medalhão, não dei? — Ele sorriu docemente e eu não respondi. — Acredite em mim, mais cedo do que pensa, ele a protegerá.

Cruzei meus braços, soltando um longo suspiro. Os enigmas de Regulus me cansavam mais do que essa busca insana pela quebra do bloqueio mágico.

— Os fundadores me enviaram com uma mensagem. — Afirmou Regulus. — Eles frisaram que eu teria que entregá-la a você sozinha, por isso a minha visita aqui hoje à noite. Suspeito que o seu homem territorialista não a deixaria descer até a tumba sem a companhia dele. — Ele sorriu novamente para mim, os olhos brilhando em malícia. — Eu sei como Severus pode ser, Granger.

Eu tive a sensação de que estava diante de uma onda alta, esperando que ela rebentasse mas, embora minha curiosidade sobre o passado em comum de Severus e Regulus estivesse aguçada, aquilo poderia esperar, a mensagem dos fundadores poderia ser algo importante para a libertação da magia. Minha curiosidade poderia esperar.

Fechei o livro e fitei o rosto bonito e jovem do Black mais novo. Eu vi o olhar curioso dele pousar sobre a capa do meu exemplar.

— Este livro não vai me ajudar, não é? — Perguntei.

— Não. — Disse o fantasma, num tom de voz mais baixo do que antes.

A famosa estaca zero, parecia que era nela que estávamos há semanas, desde que eu e Severus achamos o livro de admissão. Desviei os olhos de Regulus e vislumbrei a escuridão abraçando os terrenos do castelo, quebrada apenas pelo luar pálido da lua minguante.

— Vamos ouvir a mensagem deles. — Eu disse por fim, suspirando.

Regulus pigarreou, então falou com uma voz que soava bizarramente como um som de muitas vozes juntas:

— Se pudéssemos deixá-la em paz, deixaríamos. Mas você descobriu aos onze anos que ser uma bruxa faz com que você jamais escape de alguns fardos. Há uma profecia sobre você que sela o seu destino ao futuro da magia. Seu caminho já se cruzou com o dos outros pilares mágicos que podem libertar o nosso mundo, então agora você está em posição de fazer a diferença na vida de muitos.

Meu estômago se revirou ao ser lembrada do peso dessa responsabilidade.

— O item perdido que você procura está perto. — Regulus continuou.

— Estou tentando encontrá-lo. — Murmurei, mesmo não tendo certeza se os fundadores podiam me ouvir.

— Haverá pistas que a levarão a ele. Sinais que você deve seguir.

Olhei para as estantes ao nosso redor.

— Eu segui um palpite até aqui, a biblioteca de Hogwarts. Está tudo conectado ao castelo, não está?

— Você já sabe a resposta a isso, Hermione Granger. — As vozes vindas do fantasma de Regulus ecoaram.

Meu coração dela batia acelerado — com medo, com raiva, porque não, eu não sabia.

— Vocês quatro ainda são claramente poderosos se conseguem, mesmo depois de mil anos, se manter vinculados ao castelo. Por que não encontram o que bloqueia a magia?

— É seu destino e sua responsabilidade. — Foi a primeira vez que apenas uma das vozes falou. Era de uma mulher, mas eu não sabia dizer se era de Rowena ou Helga.

— Meu destino? — Eu consegui me controlar o suficiente para não cuspir as palavras.

— A bruxinha que foi salva de uma Quimera apenas porque a força da Casa dela em Hogwarts a compeliu até nossa tumba e fez sua espada aparecer para salvá-la não me parece ser grata. — Zombou a voz de um homem.

Pelo teor do diálogo, eu identifiquei-o como Salazar Slytherin. Ofendida, levantei da minha cadeira, me afastando do fantasma de Regulus.

— Eu sou a garota que passou anos lutando uma guerra invocada por suas crenças. — Sibilei. — Eu sou a bruxa que sabe que você foi o bruxo que não se importava com as vidas dos nascidos-trouxas e disseminou o ódio contra os meus iguais. — Eu encarei os olhos de Regulus, rezando para que Salazar pudesse enxergar a minha raiva através dele. — Pensando bem, não consigo me lembrar de por que eu deveria me incomodar em ajudar os bruxos puros-sangues a recuperar sua magia, quando o ídolo supremo deles obviamente nunca se importou com alguém como eu.

— Porque você não é igual a ele, querida. — Disse outra voz feminina, e pelo tom bondoso em sua voz, eu assumi que essa era a voz de Helga Hufflepuff.

— Posso ser. — Afirmei, segurando mais forte na minha varinha. — Vocês podem encontrar outra pessoa, uma que se deixe ser comandada por um fantasma sem questionar.

— Você precisa encontrar o Diretório… antes que seja tarde demais. — Finalmente a quarta voz ecoou. Godric Gryffindor.

— Por que vocês só se importaram agora? Travamos essa busca há anos! — Estreitei meus olhos em direção a ele, esmagando a dor dentro de mim em um canto escuro da minha mente. — Há outro louco matando pessoas em nome da magia que ele nem possui mais! O mundo está em ruínas, e só agora vocês decidiram intervir?

Os olhos de Regulus pareceram se suavizar, como se ele pudesse enxergar o que tentei esconder dentro de mim.

— Sinto muito pelo que perdeu. — Disse a própria voz de Regulus dessa vez. — E sinto muito pela morte do seu amigo Ronald Weasley. Ele foi...

— Jamais fale dele! — Meu grito saiu alto no silêncio da biblioteca e meu braço direito apontou a varinha bem para o rosto etéreo de Regulus. — Não dou a mínima se você é o fantasma lacaio dos fundadores desse castelo. Se falar sobre Ron de novo, vou invocar um demônio para arrastá-lo ao inferno que possa existir para fantasmas de bruxos!

Regulus apenas piscou em minha direção.

— Você está nessa busca há tempo demais, Hermione, não finja que não se importa. Acredite em mim, eu sei o que falo quando digo que você quer libertar a magia mesmo que os sangues-puros não mereçam.

— Você vai me dizer algo concreto, Regulus? — Rosnei, a varinha ainda apontava em sua direção.

— Desça de onde está, bruxinha. — Ele disse e se dissipou no ar, me deixando na escuridão de uma biblioteca vazia.


Havia uma pessoa parada na porta da biblioteca quando eu saí, eu estava furiosa demais por mais um encontro frustrado com o fantasma de Regulus Black para me preocupar em identificar quem era; só tive tempo de a ouvir tomar fôlego repentinamente antes de ver um lampejo de metal. Minha varinha ainda em minha mão lançou um Incarcerous em um segundo — mas não foi rápido o suficiente para evitar a picada na minha costela e enquanto a pessoa caía no chão de pedra, eu podia sentir uma linha fina de sangue escorrer pela minha lateral.

— Ninguém quer você sendo uma heroína novamente. — Uma voz odiosa soou embaixo do capuz, antes de cuspir em meu rosto.

Enxuguei o líquido nojento com as costas da mão e com um movimento da minha varinha arranquei o tecido que ocultava suas feições, me vendo cara a cara com a minha antiga professora de Aritmancia. O choque deve ter ficado espantado no meu rosto porque ela zombou da minha expressão e eu forcei minha varinha mais forte em sua garganta até que ela cedesse à ameaça não dita. Mas, mesmo imobilizada, ódio emanava em ondas dela em minha direção.

— Você nos traiu? — Perguntei, minha voz saiu mais baixa do que eu gostaria, ainda abalada pelo choque de ter sido atacada pela relações públicas da equipe de Hogwarts.

Séptima se agitou contra as cordas, sem se incomodar em responder, impulsionando o corpo para cima, tentando soltar-se. Eu lancei um segundo feitiço de contenção, imobilizando-a e desta vez ela deu uma risada baixa.

— Não quer saber o que tem na minha lâmina? — Vector perguntou, um sorriso reluzente estampado em seu rosto.

Em um movimento ágil, peguei a adaga caída ao nosso lado e inalei. Eu agradeceria mais tarde a Severus por nos fazer identificar venenos pelo cheiro porque foi só por causa das aulas práticas dele que eu pude identificar aquele: batracotoxina. Oriunda de sapos colombianos, é um veneno que ataca os nervos e causa paralisia total.

O sorriso de Vector se tornou triunfante ao ver meu horror com a identificação do que eu tinha sido infectada.

— Há apenas o bastante para fazê-la apagar até que meus companheiros cheguem e a levem para outro local mais reservado. — Ela declarou.

Desgraçada! A quanto eu tinha sido exposta? O corte era superficial, mas eu me senti sangrar, o que quer dizer que a lâmina infectada tinha entrado, mesmo que pouco. Mas a batracotoxina de uma das espécies era capaz de matar vinte pessoas de uma vez, eu não podia ficar tranquila com isso. Eu podia sentir o veneno agindo no meu corpo. Eu preciso pedir ajuda. Agora.

Ergui minha mão da varinha para estuporar Vector, mas meus dedos pareciam duros; minha magia falhou e as cordas se soltaram do seu redor. Aproveitando-se da minha lentidão de movimentos, saiu debaixo de mim, me lançando com tanta força no chão, que meu crânio pareceu se partir quando se chocou com a pedra e o ar foi sugado dos meus pulmões.

O veneno estava agindo rápido demais. Um lampejo de pânico percorreu meu corpo, mas me concentrei nos movimentos treinados em combates corporais que Dean e eu sempre treinamos juntos e levantei minhas pernas e chutei o rosto dela com força.

— Sua vadia de sangue ruim! — Ela rugiu contra mim.

Seu grito chegou aos meus ouvidos no mesmo instante em que meus dedos da mão esquerda, que ainda funcionavam, se fecharam ao redor do cabo da adaga envenenada. Um segundo depois, Séptima Vector agarrava o próprio pescoço enquanto o sangue jorrava em cima de mim e desabou ao meu lado, fazendo ruídos gorgolejantes.

Mesmo tendo sido traída e atacada por ela, eu queria ter tido tempo para usar de compaixão e matá-la mais rápido, mas meus segundos estavam contados e cambaleei até ficar de pé. Eu corri o mais rápido que pude pelas escadarias, em direção à Ala Hospitalar, torcendo para que minhas pernas não se paralisassem até lá, mas podia me sentir perdendo o controle do meu corpo a cada pulsação que impulsionava o veneno em minhas veias.

Eu caí quando alcancei o corredor da Ala Hospitalar, mas ver as portas convidativas do reduto médico me deu forças para me arrastar pela pedra fria do chão. Com a visão embaçada e os dentes trincados, forcei meus braços a me arrastar pelo piso.

Apenas mais um pouco...

As portas estavam entreabertas e eu sequer notei que já as havia cruzado e quando a luz do espaço queimou meus olhos, só tive consciência de que eu estava do lado de dentro. O som de vozes me alcançaram e, na minha névoa de veneno, eu lembrei que hoje os membros da escola desafiante já estavam no castelo.

Eu preciso contar a alguém que antídoto me dar — apenas contar a alguém...

Com uma das mãos apoiada no chão, eu tentei levantar minha cabeça para chamar por alguém, mas minha língua falhou quando meu fôlego forçou-se sôfrego, e embora ele parecesse alto para mim, pela falta de ar nos meus pulmões, ninguém sequer olhou na minha direção.

Forcei mais uma vez o meu corpo a se arrastar mais dentro dos limites da enfermaria e me aproximei do primeiro par de pés ao meu alcance, tocando-o com meus dedos gelados. Um pequeno grito foi ouvido seguidos de arquejos de preocupação, antes que mãos suaves me erguessem e eu piscasse a névoa dos meus olhos para vislumbrar os familiares olhos negros de Cho olhando-me boquiaberta em preocupação.

Um ruído engasgado saiu da minha garganta.

— Severus… — gemi, tentando tocar a minha amiga, mas meus dedos duros recusaram-se a agir.

Mas ele já estava disparando em minha direção, gritando o meu nome. Quando meus joelhos cederam e eu caí no chão, arrastando Cho comigo, eu encontrei as orbes escuras do meu namorado e aguentei tempo o suficiente para sussurrar:

— Batracotoxina.

Então a minha visão ficou preta.


Notas Finais


Setembro é o mês previsto para o fim de uma era. Novo Mundo está se despedindo de nós, mas ainda tem coisas importantes a acontecer. Dois pontos importantes que foram questionamentos de algumas pessoas, foram respondidos neste capítulo: 1. Sim, o Ron morreu e 2. O traidor entre eles foi revelado. Lucius jamais teria conseguido invadir o castelo se não houvesse alguém de dentro, agindo.

Gostaram?

Espero que em vinte dias eu consiga concluir esta saga mas, perdoem essa autora se houver algum atraso, há uma mudança de apartamento no meio deste caminho.

Beijos, pessoal!