Boa noite, gente! Como estão nesse período maravilhoso de Copa do Mundo? Todos bem?
Trago um novo capítulo, com um pouco do início de Bella no hospital e um tico de Edward. Não sei quando o próximo capítulo vem, mas juro que me esforço.
Um beijo e espero que gostem! Comentários são sempre bem-vindos e até a próxima!
03 - it still shortens my breath
Jess – 09:36
Meu Deus
Vocês não sabem quem eu acabei de ver
Angie – 09:37
Quem?
Jess – 09:37
EDWARD CULLEN!
Lembram dele?
Aquele GATO do congresso que viemos!
Angie – 09:38
O que não foi pra sua festa?
Jess – 09:38
Pq vc faz questão de lembrar de coisas ruins?
E ele foi, só ficou pouco tempo
Angie – 09:38
Hahahaha
Foi o único quase contato que tivemos com ele
Além da apresentação, claro
Jess – 09:39
Talvez vc tenha um ponto
Mas enfim
Continua GATO
Pelo que pude ver debaixo da máscara, claro
Deve ser coleguinha de Bella
Bella
Angie – 09:39
Bella
Meu celular tinha vibrado a manhã toda. Tinha algumas mensagens de Charlie, umas de James, e essa no nosso grupo da faculdade.
Meu primeiro dia tinha começado apenas vendo pacientes da enfermaria, ou seja, os pacientes que já estavam internados. O primeiro dia era sempre pior, porque não conhecíamos ninguém, e mesmo assim tínhamos que apresentar o caso para os preceptores (chefes).
Para minha sorte, o interno que estava na minha enfermaria era bom; Benjamin não reclamou de nada, evoluiu bem os pacientes e tinha dúvidas apenas pontuais. Felizmente Benjamin já sabia o que fazer – eu certamente não lembrava da parte de como deveria orientar interno da apresentação ontem.
Enquanto eu passava os casos, meu celular vibrava. Ignorei o máximo possível, anotando as condutas dadas para os pacientes, comentários relevantes para estudar depois, dicas para passar melhor os casos, achados do exame físico importantes, exames de sangue e de imagem para pedir…
Minha cabeça definitivamente já estava cheia, e o celular vibrando no bolso não ajudou em absolutamente nada. Quando terminei a visita, olhei rapidamente as notificações e guardei o celular de imediato. Se elas estavam reagindo dessa forma só por ele ser bonito, imagina se soubessem…
Não era preciso imaginar, na verdade. Afinal, não haveria necessidade de falar para ninguém. Nós tínhamos combinado de ser aquela noite.
Além do mais, eu nem tinha visto Edward hoje. Não tínhamos trocado meia dúzia de palavras. Isso não me incomodava, inclusive.
Sacudi a cabeça e voltei a me concentrar nos pedidos de exames. Eu não ia deixar esse pequeno detalhe de um momento tão velho atrapalhar em absolutamente nada a minha residência.
Fiquei tão focada que quando uma mão tocou meu ombro, tomei um leve susto. Ao olhar para cima, encontrei Jess e Angie, sorrindo.
"Por que não respondeu o celular?" Jess perguntou de imediato. Mostrei o computador e minha lista de tarefas.
"Tudo isso no primeiro dia?" Angie parecia levemente surpresa.
"Sim, demorei um pouco mais justamente porque é o primeiro dia."
"Não vai almoçar?" Angie ergueu as sobrancelhas.
"Vou, já to acabando," prometi enquanto finalizava os pedidos do penúltimo paciente.
Angie e Jess sentaram ao meu lado e ficaram conversando. Estávamos em uma das enfermarias cirúrgicas; provavelmente tinham me achado por causa disso. Benjamin já tinha terminado suas tarefas, então o liberei – de que adiantava prender o garoto sem nada a fazer?
Quinze minutos depois eu guardei minhas coisas no armário do conforto da Cirurgia e desci com as duas para o refeitório.
"Agora diz, por que você não falou que Edward Cullen era residente aqui?" Jess perguntou quando entramos na fila.
"Primeiro, por favor, fala baixo," pedi, "depois, eu não achei relevante."
"Como não achou relevante?!" Jessica não falou mais baixo e senti meu rosto corando quando olharam para a gente, "o cara era muito gato. Oh, ele não é mais gato? Ele, tipo, engordou mil quilos? Ele é um bonito fake, que a máscara escondeu a feiúra?"
Meu rosto esquentou mais – fiquei agradecida que minhas bochechas estavam escondidas.
"Não achei relevante pelo motivo que Angie já comentou. Nós vimos o cara uma vez num congresso há anos atrás, você o chamou para uma festa que ele nem foi direito e ele ganhou o prêmio de melhor trabalho enquanto eu fiquei em segundo," expliquei, olhando ao redor rapidamente para checar que ninguém mais nos ouvia.
Jess estreitou os olhos.
"Ele definitivamente continua gato, então?", sem saber muito bem como responder objetivamente a essa pergunta, senti o fluxo de sangue aumentar ainda mais.
"Ele não mudou muito," foi a melhor fala que consegui arranjar, dando de ombros. Jess soltou uma gargalhada enquanto Angie ria e sacudia a cabeça. O humor delas me contaminou e sorri também.
Assim que sentamos numa das mesas, perguntei para Jess como estava sendo o dia dela e se ela achava que tinha feito a escolha certa ao mudar a residência. Angie piscou para mim, sabendo exatamente minha estratégia manjada.
Não que eu não me interessasse com o que Jess tinha a dizer; era só que eu tinha percebido que ela parava de falar coisas que eu não queria falar sobre se mudassem o assunto para ela.
Nós já tínhamos quase terminado de comer, e estávamos rindo da história que Angie falava sobre Ben, quando meu telefone vibrou de novo.
"Algum problema, Bella?" Jess perguntou enquanto lia a mensagem.
"Não, mas eu vou ter que sair," falei, terminando meu suco rapidamente, "vai ter uma cirurgia agora e chamaram todos os R1s."
"Alguma coisa especial?" Angie ergueu as sobrancelhas.
"Não sei ao certo, pode ter algo a ver com o fato de sermos novos," respondi. Não sabia o motivo real de terem chamado todos eles, mas não significava muito; na residência quando o chefe chama, os residentes vão.
Angie e Jess continuaram na mesa, e fui levar minha bandeja para o balcão.
"Bella! Indo pro centro cirúrgico?"
Olhei para o lado e vi Alice já com sua máscara, também devolvendo a bandeja.
"Sim. Sabe por que chamaram todos nós?" Perguntei enquanto caminhávamos juntas.
"Não encontrei ninguém, só vi o chamado," ela deu de ombros. "Você é de New York, certo?"
"Na verdade, eu nasci em Forks," expliquei sem olhar diretamente para Alice, "morei em Phoenix alguns anos com minha mãe antes de voltar para uma pequena cidade em Washington chamada Forks, e aí fui pra NYU."
"Phoenix?" Alice olhou confusa. Não era uma pergunta incomum.
"Eu sei que não parece, mas eu na verdade gosto do sol e do calor."
"NY e Forks devem ter sido difíceis, então," ela comentou.
"Definitivamente," concordei, "mas acabei acostumando."
Continuamos conversando até chegarmos no vestiário, onde pegamos a roupa privativa para entrar no centro cirúrgico. O Hopkins tinha salas de cirurgia com vidros para outro cômodo, perfeitas para mais pessoas observarem os procedimentos. Nos encaminhamos rapidamente para a "plateia" da sala 6, que já estava meio ocupada, mas sem nenhum interno à vista.
"Ah, por isso que chamaram todos," Alice comentou. Olhei para a sala e nossa presença maciça fez sentido: Dr. Cullen estava ajeitando tudo para iniciar uma cirurgia robótica.
"É o novo DaVinci," escutei Lauren comentar. Olhando ao redor, era possível ver que tinham outras pessoas na sala. Pela forma que conversavam com os R1 que já eram do Hopkins, imaginei que provavelmente eram os nossos residentes do segundo ano, os R2.
"Ah, será que finalmente nós vamos poder usar o DaVinci?" Uma ruiva perguntou. Ela era extremamente bonita, os cabelos com um tom tão vivo que era possível identificar mesmo embaixo da touca.
Os outros R2 concordaram com ela, animadamente. Lauren e Mike comentaram também, e logo começou um burburinho na sala. Pelo que ouvi, os preceptores tinham passado por treinamento durante o ano passado, então os residentes ainda não podiam ser treinados por isso, mas Dr. Cullen havia prometido que esse ano começaríamos a usar os simuladores.
Eu estava tão entretida, tentando entender como seria o nosso contato com a principal novidade do mundo cirúrgico, que só percebi que alguém havia sentado ao meu lado quando Alice falou.
"Oi, Edward!"
Tentei disfarçar a surpresa com a presença dele na cadeira à minha esquerda; Edward respondeu Alice – a familiaridade entre os dois era muito clara – e depois se virou pra mim. Eu não tinha como ignorar seu olhar, principalmente quando ele abaixou a máscara e direcionou seu meio-sorriso para mim.
"Porque você parecia precisar de uma distração, e eu não consegui ignorar seu silencioso pedido de socorro."
"Olá, Bella," ele disse, sua voz aveludada a mesma de anos atrás.
"Edward," respondi, acenando a cabeça.
"Oh, é verdade, vocês se conhecem," Alice lembrou, sua voz do meu lado direito, "tinha esquecido disso. Deve ter sido um ótimo congresso."
"Ninguém mandou você achar que queria dermatologia," Edward replicou, seu tom de provocação deixando claro que ele estava brincando. Alice mostrou a língua, e com certeza iria rebater, contudo Dr. Cullen chamou a nossa atenção lá de baixo.
"Boa tarde a todos. Hoje vamos iniciar o programa de cirurgia robótica durante a residência do nosso hospital. A cirurgia robótica já é presente no Hopkins há alguns anos, mas conseguimos uniformizar e garantir que todos os preceptores estejam devidamente capacitados, então vamos iniciar o treinamento de vocês também."
Isso seria um importante diferencial em nossa carreira. Fiquei tentada a pegar um caderno para anotar as coisas que Dr. Cullen falava, mas olhei ao meu redor e percebi que ninguém fazia isso, então preferi ficar na minha.
Ele estava explicando como funcionava o DaVinci, as vantagens da cirurgia robótica, as dificuldades associadas – enquanto isso, outros cirurgiões preparavam tudo. Dr Carlisle então se sentou no console e começou a manipular o robô.
Era incrível – não havia outra palavra. A fluidez dos movimentos era impressionante. Minha admiração deve ter ficado estampada, porque logo Edward sussurrou em meu ouvido, "ele foi um dos primeiros a testar o DaVinci quando lançou. Ele é entusiasta de novidades e tecnologias."
"Ele não é cirurgião do trauma? Pensei que não fosse se interessar tanto por robótica," respondi brevemente.
"Bem, sim. Mas ainda opera outras coisas de cirurgia geral."
Assenti e continuei olhando para frente, observando a maestria do homem que me inspirara a fazer medicina.
*.*.*
"Nem te procurei pra almoçar porque imaginei que fosse estar ocupada."
James estava deitado no sofá, com o controle remoto na mão enquanto algum jogo de Baseball passava na televisão. Eu estava fazendo sanduíches para jantarmos – não estava muito a fim de cozinhar após chegar oito da noite em casa.
"Tudo bem," respondi, levando a janta para o sofá. Ele aceitou com um sorriso, "tive que ir pro centro cirúrgico de qualquer jeito."
Contei rapidamente a James sobre a demonstração, e ele ouviu com atenção, sua expressão tomando um quê de divertimento.
"Ora, ora. Pelo jeito que você fala de Dr. Cullen, vou acabar ficando com ciúmes."
Revirei os olhos; ele sabia o motivo de eu admirar tanto Dr. Cullen, e só estava falando para me provocar.
"Fiquei sabendo que o filho dele é residente," ele continuou, mudando o canal da TV. Ergui uma sobrancelha.
"Como sabe disso?" Perguntei, surpresa. Ele deu de ombros.
"A fofoca corre rápido no hospital, Bells."
"Fofoca?"
"É, bem. Todo mundo fala sobre como a família Cullen está metida no Hopkins. Todos eles fizeram residência ou trabalham lá. Carlisle é o chefe da cirurgia…"
"Sim, meu chefe," assenti.
"... e agora o filho dele é um dos poucos a passar sendo de fora."
"E eu sou a outra," argumentei. "Se estão falando que Edward passou porque é filho de Dr. Cullen, o que estão falando de mim?"
James franziu o cenho.
"Você já conhece o cara?" Ele perguntou.
"Sim. Além de sermos colegas de residência," ressaltei, como se ele precisasse ser lembrado dos seus anos como residente, "nós competimos no mesmo congresso. Lembra, aquele que eu fiquei em segundo lugar? Ele ficou em primeiro."
"Hm," ele disse, ainda me olhando.
"O trabalho dele foi fantástico, então ele mereceu ganhar," dei de ombros, "certamente também mereceu passar no Hopkins."
James focou no resto do seu sanduíche, pensativo.
"Estão dizendo que ele teve ajuda do pai?" Perguntei depois de alguns segundos.
"Bem, sim. Até porque, segundo a fofoca, tem outra Cullen que também é sua colega…?"
"Sim, Alice. Ela é um amor de pessoa," confirmei.
"Acharam bem… peculiar, dois Cullens passando na prova, com o pai deles sendo o chefe."
Mastiguei meu sanduíche lentamente. Não era uma completa surpresa para mim. Eu mesma não ouvira isso de Lauren? Eu só não sabia que era uma fofoca contada em todo o hospital.
"Acho que as pessoas falam demais," concluí, "estamos no segundo dia. Ninguém sabe como nenhum dos dois se preparou para passar, nem se eles realmente merecem."
James terminou de comer e pegou meu prato vazio.
"Você tem um ponto. Mas sabe como é fofoca, né? Quando começamos a sair, metade do hospital já estava comentando no dia seguinte."
A lembrança veio enquanto ele lavava os dois pratos e voltava para o sofá, um sorriso no rosto.
"Por que isso te incomoda?" Ele não precisava nem perguntar se eu estava incomodada; meu sentimento estava estampado em meu rosto como o livro aberto que eu era.
"Porque acho injusto", justifiquei, "imagina o que não falam de mim, James. Eles ao menos têm o nome da família. Eu sou apenas uma forasteira."
James sentou ao meu lado e sorriu.
"Devem achar que você é incrivelmente foda de ter passado, linda. Não se preocupa com isso," ele disse, dando um beijo em minha bochecha.
Fui dormir não muito tempo depois – James ficou vendo televisão na sala -, pensando sobre a nossa conversa. Eu ainda não tinha refletido sobre como eu seria vista na residência; estava muito preocupada em me preparar para a residência. Era estranho pensar no quanto detalhes pessoais podiam ser falados num ambiente de trabalho.
O resto da primeira semana se passou com certo estresse: a residente do segundo ano (R2) que deveria estar comigo estava afastada por COVID, então eu estava sem tanta orientação, ainda tendo que ajudar o coitado do Benjamin. Meu pai tentou falar comigo algumas vezes, mas não conseguimos encontrar um horário e ficamos por mensagem, com a promessa de que no final de semana faríamos uma chamada de vídeo. James estava pegando alguns plantões extras, já que eu não parecia estar muito em casa.
Jess e Angie me chamaram para sair na sexta-feira, mas como eu iria para o hospital no final de semana, achei melhor ficar em casa com James. Tampouco consegui passar muito tempo com elas, no próprio hospital ou fora. Isso não me surpreendeu muito (eu já estava preparada para essa quantidade de trabalho), mas percebi que Jess achou que eu estivesse apenas dando desculpas.
"Ela sente saudades," Angie disse, quando nos encontramos no corredor – ela estava indo avaliar um paciente na minha enfermaria, "ela achou que fosse te ver mais vezes."
"É a primeira semana, Ang. Eu ainda não consegui me adaptar pra fazer tudo na velocidade ideal. Eu levo muito mais tempo do que os meus R iguais pra fazer tudo, e eu não posso pedir ajuda a eles, porque eles estão igualmente ocupados. A R2 que deveria estar comigo está afastada por COVID, então estou basicamente tendo que me virar. Os preceptores estão sendo compreensivos, mas ainda assim o mais tarde que cheguei essa semana foi às 5 da manhã."
Angie fez uma careta e apertou meu ombro.
"Eu entendo isso, Bella. Mas a gente não sabia que estava tão ruim assim. Você sabe que pode conversar com a gente se precisar, certo?"
Dei um sorriso em resposta, mesmo que coberto pela máscara.
"Sei, sim. Eu desabafo com James quando chego, mas tenho estado tão cansada que eu basicamente apago logo depois de comer e tomar banho."
"Certo, então. Se você estiver livre esse final de semana, avisa. Ela está com saudades," Angela repetiu.
Assenti e continuei no computador, enquanto ela seguia para um dos quartos. Com um suspiro, voltei a checar os exames de um dos pacientes – amanhã eu iria passar visita com todos os preceptores, incluindo Dr. Cullen, e todos os residentes que não estivessem no pronto-socorro ou especialidades, então dizer que eu estava nervosa era pouco. Toda sexta-feira tínhamos essa visita maior, e era onde discutíamos de forma mais acadêmica os casos, cada R1 sendo responsável pelos casos da sua enfermaria – os internos também participavam, mas sem passar casos.
Era fim de tarde de quinta-feira, e não tinha mais pendências para resolver na enfermaria. Era o primeiro dia que eu tinha conseguido realmente terminar tudo que eu precisava fazer sobrando tempo antes das sete da noite. Os exames solicitados pela manhã já tinham sido liberados, e eu estava anotando para adiantar amanhã. James estava de plantão até 19h, então eu preferia esperar um pouco mais aqui do que em casa sozinha. Para ajudar a me concentrar, coloquei um fone de ouvido e fui revisando todos os casos, já tirando da lista os pacientes de alta e acrescentando os que tinham sido internados hoje para as cirurgias de amanhã.
Acabei ficando tão focada, que só percebi Alice sentando ao meu lado quando ela riu ao me ouvir soltar um xingamento baixinho.
"Opa, desculpa, não quis te assustar," ela disse quando dei um pulo na cadeira.
"Sem problema, os fones me distraíram," repliquei. Como de costume, estávamos com as máscaras abaixadas, e o sorriso dela era elétrico.
"Precisando de ajuda? A minha enfermaria tá vazia," ela ofereceu.
"Ah, obrigada. To apanhando do sistema, só. Consegui terminar tudo de hoje, mas quero adiantar algumas coisas pra visita amanhã."
"Esse sistema pode ser horrível mesmo. O que não tá dando certo?" Ela perguntou, olhando para a tela com o cenho franzido.
"Preciso achar o resultado do anatomopatológico desse paciente, e não consigo de jeito nenhum."
"Ah, isso fica escondido mesmo, você não é a única que não acha. Não fica no mesmo lugar dos exames laboratoriais, olha aqui…"
Alice pegou o mouse e mostrou exatamente o que eu estava tentando achar há dez minutos. Anotei o resultado e agradeci profusamente.
"Se você já terminou, por que ainda está aqui?" Perguntei.
"Edward entrou numa cirurgia e viemos juntos. Vamos jantar com nosso pai depois," ela explicou.
"Não sabia que vocês são irmãos," comentei.
"Eu sou mais bonita né, fala aí," Alice falou rindo, "é, somos irmãos sim. Sou um ano mais velha do que ele, mas estava na dúvida entre dermatologia e cirurgia plástica. Acabei fazendo dermatologia porque não queria fazer cirurgia ano passado. Não sei o motivo," ela deu de ombros, ", era um.. feeling, mas esse ano parecia certo. Acho que no final fiz a escolha certa. Edward sempre quis cirurgia, você deve imaginar, já que estavam no mesmo congresso. Ele sempre foi uma miniatura do nosso pai."
Assenti – eles realmente se pareciam.
"Eu sei o que as pessoas estão falando," ela continuou, revirando os olhos, "mas nosso pai fez questão de não participar de nada do processo seletivo, justamente para não desconfiarem. Obviamente, isso não falam."
"Eu acho que as pessoas falam demais," comentei simplesmente, "mesmo que Dr. Carlisle tivesse feito parte, não significaria nada."
"Bem, sabíamos que iriam comentar muito, mas começaram antes do que eu imaginava."
Assenti, em concordância.
"As pessoas podem ser cruéis por inveja."
Ficamos em silêncio por alguns segundos, até que suspirei e fechei a página de login.
"Nossa, olha isso. Te atrapalhei," Alice disse.
"Nah, relaxa. Só faltava basicamente aquilo mesmo."
"Como você tá se virando sem R2?" Ela perguntou.
"Ah, com dificuldade," repliquei e rimos juntas, "na verdade, Dra. Carmen, a preceptora que entrou esse ano, está me ajudando bastante. E Benjamin, ele tem sido um anjo."
"Ah, jura?! Carmen foi pupila de meu pai, ela é ótima!"
"Sim," concordei fervorosamente, "ela sempre me pergunta se preciso de algo depois da visita, me ensinou várias coisas do sistema, e me deu o número pessoal dela pra caso eu precisasse."
"Nossa, que sorte de estar com ela."
"Eu provavelmente estaria perdida se não fosse por Dra. Carmen," confessei. E era a mais pura verdade. Quando começamos a residência, não temos quase nenhum conhecimento específico do que estamos lidando – vamos aprendendo com os dias. Daí a importância da hierarquia da residência: R1 precisa do apoio do R2, que precisa do apoio do preceptor, e daí por diante.
"Minha R2 é Maggie," Alice disse, "ela é ótima, e como toda R2, ela não evolui ou prescreve," ela continuou. A evolução, ou seja, avaliação de como o paciente ficara durante as últimas horas, e a prescrição (as medicações do paciente) ficavam sob responsabilidade do R1, revisando o que os internos haviam feito, para que aprendêssemos a fazê-los, "mas a ajuda e a orientação que ela dá são essenciais."
Continuamos a conversar sobre nossas rotinas e percebi que definitivamente eu e Alice seríamos amigas.
"Como assim você ainda não entrou em nenhuma cirurgia?!" Ela exclamou.
"Nas duas que tiveram até agora eu estava presa aqui," expliquei, "porque apanhei do sistema. Benjamin ficou comigo. Dra. Carmen disse que terminaria as prescrições por mim, mas não concordei, claro."
"Amanhã você vai entrar, nem que eu tenha que fazer por você," Alice afirmou.
"Acho que amanhã eu terei terminado a tempo. Hoje eu terminei, mas não tinha nenhuma eletiva."
Continuamos conversando até Edward chegar. Ele, assim como eu, ainda estava com o pijama cirúrgico – os scrubs – e abaixou a máscara de imediato quando nos viu.
"Você não precisava ter me esperado, Alice," ele disse, franzindo o cenho, "oi, Bella."
"Não foi nenhum sacrifício, Bella esperou comigo. Mas vamos antes que mamãe mate a gente."
Nós três fomos caminhando até a salinha da cirurgia. Alice bombardeava Edward de perguntas sobre absolutamente tudo, e ele respondia com o máximo de paciência possível, às vezes com um revirar de olhos.
O que eu consegui perceber mesmo foram os olhares que ele lançava para mim ocasionalmente. Eu não estava exatamente evitando Edward – não seria possível, sendo do mesmo grupo de residência –, mas não estava o procurando diretamente.
Era um reflexo, mais inconsciente do que pensado; contudo, não ponderei sobre minhas ações. Pensar nisso teria que me fazer pensar naquela noite do Congresso, que me levaria a pensar em várias coisas que circundaram aquele evento, e eu simplesmente não tinha tempo para isso.
Eu mal tinha tempo para comer ultimamente.
Mais uma vez, afastei qualquer pensamento que envolvesse Edward Cullen da minha cabeça, pensando no jantar da noite enquanto me trocava. James gostava de pedir comida quando voltava de plantão, mas eu ia chegar mais cedo hoje, então já estava planejando fazer uma lasanha.
"Obrigada por me fazer companhia, Bella," Alice disse enquanto caminhávamos juntos para o estacionamento.
"Não foi nada. Obrigada pela ajuda com o sistema. Eu juro que um dia vou conseguir me acostumar," respondi, fazendo com que eles rissem.
"Eu ainda estou perdendo essa luta também," Edward balançou a cabeça em negação, "se Demetri não me mostrasse como mexer nessa porcaria, eu ainda estaria evoluindo os pacientes do primeiro dia."
"Mal posso esperar pra Tanya voltar, honestamente," acrescentei, "toda vez que tenho que pedir ajuda a Dra. Carmen me sinto um lixo."
"Você está com Carmen?" Edward perguntou, com um olhar interessado, "ela é uma ótima pessoa. Já se formou há algum tempo, mas ainda assim é a mais nova dos preceptores, junto com Eleazar."
Franzi o cenho, tentando me lembrar de onde conhecia esse nome. Seu sorriso – visível novamente desde que saímos do hospital em si e as máscaras ficaram penduradas em nossos pescoços – me encontrou rapidamente.
"Foi ele que moderou nossas apresentações no Congresso," ele me explicou. Senti meu estômago remexendo e assenti, olhando para a frente novamente.
"Como você se lembra que ele estava na de Bella?" Alice perguntou, franzindo o cenho, "você é estranho, Edward."
"Eleazar veio falar comigo depois," Edward explicou, "ele mencionou que estava muito honrado em ter sido o moderador dos dois melhores trabalhos do grupo de estudantes. Por isso lembrei."
"Ele foi muito gentil," comentei, "e moderou muito bem."
"Vocês viram a apresentação um do outro?" Alice perguntou, quando nos aproximamos do carro que deveria ser deles. Um Volvo.
"Ah, sim. Tínhamos que ver a concorrência, certo?" Edward disse, seu meio-sorriso me atingindo completamente, da mesma forma que sempre atingia: me lembrando que ele ainda continuava absolutamente lindo, que aqueles lábios já estiveram grudados nos meus e em outras partes do meu corpo, e, por fim, que tudo isso deveria ficar no passado.
"Não tínhamos outra opção, na verdade," concordei depois de alguns segundos, desviando meu olhar para Alice enquanto ele ria. Alice revirou os olhos e me abraçou, enquanto Edward acenou de longe e eu continuei a caminhar para meu carro.
O sorriso dele e suas repercussões continuaram em minha mente até eu chegar em casa e começar a fazer a lasanha; cozinhar geralmente era uma atividade que me relaxava e tomava toda a minha atenção.
Quando James chegou, ele me abraçou por trás e depositou um beijo no meu ombro.
"Lasanha? Alguma ocasião especial? Aconteceu algo diferente hoje no hospital?" Ele perguntou. Me virei em seus braços e seu sorriso me alegrou de imediato.
"Consegui terminar tudo que eu precisava na hora certa," repliquei e ele sorriu mais, "então tive um tempinho extra."
"Que ótimo, Bella. Sabia que tudo iria melhorar," ele comentou, me libertando para que eu terminasse de montar a lasanha, "as pessoas reclamam demais da residência, mas acho que é exagerado. É só se adaptar."
Ele não esperou minha resposta; saiu de volta para o quarto, me deixando pensar no que ele falara. Será que eu estava reclamando demais? Pus-me a refletir sobre os últimos dias, ponderando a consideração dele.
Um certo meio-sorriso surgiu na minha mente, e sacudi a cabeça, focando na lasanha que eu estava fazendo pra James. Aquele meio-sorriso não importava.
