O vale proibido


6 - Heero: a luz no fim do túnel


Um mês. Exatos trinta dias haviam se passado desde aquela maldita noite onde Duo sofrera tanto. Seu corpo havia se recuperado, porém havia algo ainda. Era como se algo tivesse quebrado sem conserto. Era estranho para o menino que ainda tentava entender tantas modificações em sua vida tão de repente. Da noite para o dia tudo mudou de forma trágica.

Alguma coisa muito preciosa lhe fora tomada de forma suja.

Duo estava vivendo num poço de dor frio e escuro, sentia-se abandonado e sozinho na sua dor. Treize não sabia como agir com o filho, o que tornava tudo muito doloroso. Aquele sempre fora seu pai mais afetuoso e dedicado, mas desde que acordou daquele horror o homem não lhe tratava com o mesmo carinho. Quase nunca olhava nos olhos do filho e isso cortava Duo por dentro. Às vezes tinha o ímpeto de puxar o pai e o sacudir pelos ombros, lhe explicar que não tinha culpa pelo maldito estupro, mas a vontade morria perto da vergonha e humilhação que sentia.

Wufei metia-se em mil reuniões e planejamentos táticos a respeito do reino e quase nunca tinha tempo para conversar, tudo bem que estava mais amigo do filho, mas Duo achava que tanto trabalho era alguma espécie de fuga. Talvez o chinês estivesse mesmo fugindo dele...

De amigos não restaram quase nenhum. Somente Quatre vinha lhe fazer um visita sempre que passava por L2 e Duo sabia que o loiro vinha para ver um certo capitão de topete com quem mantinha algum tipo de relacionamento secreto.

Segundo as tradições locais, como ninguém havia aparecido para reclamar a mão do rapaz violado, ao fim de um mês era hora de uma decisão ser tomada a respeito de seu destino. Uma opção para amainar a vergonha da família era ser entregue à religião, porém, seguir uma vida religiosa não lhe era atraente, não tinha vocação. Era um menino lindo e vivaz, que gostava de rir alto e falar alto. Gostava de sair livremente e tomar banho nos lagos à noite completamente nu, definitivamente seu jeito não combinava com o de um sacerdote religioso.

De qualquer forma essa noite o destino de Duo seria selado.


-É hoje... Calma Heero Yui, calma! – o ogro falou com sua imagem refletida no espelho.

Estava muito nervoso. Há horas na frente do pequeno caco que chamava de espelho usava sua melhor roupa, que era um paletó feito de lonas quadriculado, curto demais e mofado. Tentava de todas as formas abaixar os cabelos que teimavam em apontarem para todos os lados.

-Chega! – ele bufou desistindo da luta contra os fios revoltos, sem perceber a chegada de mais alguém no cômodo.

-Ainda acho que você não devia fazer isso! – uma voz arrastada falou.

-Já decidi... – Heero resmungou.

-Você foi enfeitiçado... Aquele menino não vale apena, mas que me adianta falar alguma coisa, sou só um velhote... – J soou magoado.

-Você vai gostar dele... –o ogro fez uma cara de impaciência. Aquele velhinho podia ser bem chato quando queria.

Heero dispensou os comentários e saiu apressado indo para o terreiro buscar uma velha carroça. Subindo acenou para o velhinho ranzinza. Ele ia buscar aquele lindo menino de olhos roxos que tanto lhe encantava.

-Duo... Estou indo... – Heero sorriu por dentro. Finalmente.


Era noite fria em L2. Treize e Wufei haviam decidido sobre o destino do filho. A decisão era pesarosa, mas tinha que ser tomada. Duo seria entregue aos cuidados de um cético religioso muito distante dali.

Estavam os dois reis reunidos quando um murmúrio de vozes que iam aumentando gradativamente se fez ouvir. Em alguns segundos seguintes a sala se via invadida por um sujeito sem modos e mau vestido.

Sim, Heero Yui estava ali.

-Vossas majestades! – Yui falou com sua voz fria e rouca.

-Desculpem, senhores, mas ele insistiu. – Trowa se desculpou.

-O que você quer, ogro? – Wufei mais ou menos sabia exatamente o que o ogro havia vindo fazer ali.

-Duo... Eu o quero! – ele foi direto e indelicado.

-Escute aqui. Ele não é um objeto ou... – Wufei ia falar mais foi interrompido pelo marido.

-Você está mesmo disposto? – os olhos de Treize brilharam furiosamente com a possibilidade de Duo casar.

-Sim... eu estou! – Heero falou friamente. Estava decidido.

-Certo! Será feito! – Treize sorriu satisfeito.

-Mas... e o Duo? Ele deve ser consultado e... – Wufei ia protestar. Na verdade não queria ser parente de um ogro.

-Duo não está em condição de escolher marido, Wufei! – Treize se antecipou. - Tem minha total aprovação. Podemos fazer os votos... – Treize ia completar, mas parou bruscamente. Seu filho não tinha mais necessidade de prestar votos.

-Não é necessário esse constrangimento... – Yui logo em seguido o cortou.

-Os votos são nossa tradição e não um constrangimento... – O chinês de fato não havia gostado da idéia de ver seu único filho casado com um ogro, mas ele não tinha outra escolha.

-Eu vou casar sabendo que ele já... já... ahh... Que Duo já foi... – Heero não teve palavras para explicar sem ofender. Ele só queria dizer que as tolas tradições de L2, não se fariam necessárias.

-Oh sim... Você quem sabe, então. Quando vai levá-lo? – Treize falou rápido evitando maior exposição da imagem do trançado.

-AGORA. – Heero era direto e assustadoramente grosso.

-Mas... Assim? – Wufei se exaltou.

-Eu tenho pressa... – Heero manteve um tom sério.

-Mande chamar o príncipe imediatamente. – Treize ordenou a um dos guardas.

Heero estava ali exigindo que trouxessem Duo para ele. Há algum tempo atrás não se imaginaria naquela situação. Na verdade, tudo que ouvira da boca de Duo quando se declarou, ainda lhe magoava. Ainda pensava em vingança, em tornar a vida do trançado alguma espécie de pandemônio, mas a verdade era que sabia que Duo já estava por demais machucado com tudo que lhe havia acontecido e Heero não tinha direito de fazê-lo sentir ainda pior. Ele podia não saber ainda, mas amava Duo, o amou desde o primeiro dia que o viu.

O ogro queria muito ter aquele menino pra si. Queria protegê-lo e fazê-lo entender que ainda era possível ser feliz apesar de tudo. E agora teria essa oportunidade. Duo será seu.


Eitha... Mais um postado. Nossa! Essa fic é tão velha, mas adoro escrevê-la...

Mas, gente! Muito obrigada pela revolta com alguns capítulos e com minha pessoa particular. E muito obrigada pelo amor e demonstração de carinho. Vocês são maravilhosos, mas vamos conter o ânimo, certo?

Warlla, eu amo você, estamos no barco há muito tempo, mas deixe que o povo fale, todos temos o direito de expor nossas sensações, embora isso não signifique que ninguém tenha o direito de falar bobagens sobre a vida particular de ninguém, mas tenho certeza que nossos amiguinhos já tiveram a resposta deles, não se preocupe!

Beijos,
Hina