O vale proibido


7 – Novo lar: Início doloroso


Duo não conseguiu relaxar um momento sequer durante a viagem desconfortável.

Estavam naquela estrada fria há quase dois dias. Uma ânsia de vômito lhe arrasava o estômago de forma violenta. Aquilo não era uma vida aceitável. A carroça era muito velha, coberta com uma lona azul cheia de furos, os bancos eram madeira de lei com pregos por todos os lados. Era puxada por dois cavalos selvagens e chacoalhava rangendo as taboas a cada buraco da penosa estrada.

Duo encontrava-se encolhidinho em um catinho quieto. Heero até tinha tentado puxar alguma conversa, mas era inútil. Seus olhos roxos estavam tristes perdidos em um ponto qualquer lá fora, talvez nos arbustos que passavam rápidos à medida que a carroça se movia.

Em certo ponto da viagem o ogro se inquietou. Aquela dor toda que seu atual companheiro estava sentindo o estava desesperando. Não sabia como agir com Duo. Queria que ele sorrisse, que falasse alguma coisa. Mas nada, era como se estivesse ao lado de uma estátua. Sim, já havia pensando em dar meia volta e devolver Duo a seus pais. Mas não sabia responder porque não o fez. Seu maldito coração humano o estava traindo, aquele pequeno ao seu lado o excitava.

A noite estava fria até mesmo para Heero. Duo que vestia apenas umas roupas negras de tecido fino não reclamava. Ele nada falava. Mas o ogro notou que o pequeno corpo de Duo tinha espasmos de frio.

-Podia ter me dito que tinha frio! – Heero falou baixinho perto do ouvido do humano. - Posso esquentá-lo se quiser. – sem resposta por parte do outro o ogro pôs a mão na coxa do menino subindo lentamente até chegar a cintura onde apertou sensualmente aproximando os corpos.

Duo ouviu a voz grossa de Heero ao pé de seu ouvido. Em instantâneo todos os pêlos de seu corpo se arrepiaram e ele não podia dizer que era de frio, pois sentia algo quente em seu baixo ventre, mas ignorou por completo essa sensação. Ao sentir a mão grande e ousada do ogro, ele não pode evitar ter um acesso de pânico encolhendo-se mais ainda no cantinho, tentando mudamente se afastar daquele contato ousado.

Heero notou Duo se encolher todo, chegando bem para o cantinho, se espremendo contra a madeira da carroça. Sentir Duo se retesando ao seu toque fez algo dentro de si se quebrar. Era tão revoltoso saber que aquele menino o tratava daquele jeito. Duo tinha nojo dele, era o que parecia. O ogro se afastou com um olhar magoado, ele queria puxar aquele moleque humano pelos cabelos, lhe abrir bem as pernas e possuí-lo ali mesmo naquela velha carroça, mas não o fez. Não faria isso. Teria todo o tempo para ter Duo para si quando chegassem em casa. E o faria muito bem feito, na sua cama como achava que devia ser feito com alguém tão lindo e doce como seu pequenino marido.

-Duo! Olhe, não quero lhe fazer mal! – Heero falou hesitante. Outra vez falou sozinho e se aproximou tocando o rosto do menino delicadamente.

-Não toque em mim... – Duo falou baixo virando o rosto para o outro lado fugindo do toque do ogro.

Por Deus, o tom de Duo a se referir a Heero. O modo como virou o rosto, enojado, se livrando do contato da mão do outro. Aquilo despertou um ódio e mágoa dentro do ogro.

Heero se afastou cerrando os punhos violentamente. Trêmulo pensou como Duo era cruel, quem sabe não merecesse mesmo tudo que lhe aconteceu? Mesmo depois de Heero tê-lo aceito como companheiro, passando por cima de todo seu orgulho. Mesmo assim Duo ainda o repudiava, ele não tinha esse direito. Heero teve o ímpeto de jogar na cara do outro todas as acusações que lhe cabiam. Como por exemplo, já não ser mais virgem, ou coisa parecida.

-Você se julga melhor que os outros... – Heero começou. Ele estava farto, ia botar pra fora toda a frustração que estava sentindo, mas ao olhar nos olhos roxos perdeu as palavras, pois ali via apenas dor.
O humano estava encolhido. Ao ouvir o ogro o acusar de querer ser melhor que os outros encarou o esposo com um olhar de dor. Aqueles grandes olhos roxos marejados de lágrimas.

-Olhe pra mim! – Duo exigiu com um fiapinho de voz. -Acha mesmo que posso ser melhor que alguém? – Duo falou entre lágrimas.

-Então me deixe tocá-lo. – Heero pediu dolorosamente.

Duo nada respondeu. Ele apenas ficou ali olhando o ogro e permitindo as lágrimas caírem. Ele sabia exatamente que teria que se entregar a seu marido, mas na verdade ainda não tinha pensado nisso de coração. Não estava preparado para ser dele, um pânico de morte se instalara dentro do humano somente em pensar que seria tocado por alguém.

-Eu já sou seu, senhor Yui. Não precisa pedir nada! – falou bem baixinho olhando para fora da carroça.

Heero sabia que o que o marido havia lhe dito não era verdade, podia mesmo tê-lo tomado como companheiro, mas Yui sabia que estava longe de possuir aquele coraçãozinho ferido. Se quisesse podia exigir que Duo fizesse qualquer coisa. Ele agora era sua propriedade. Mas embora todas as evidencias levassem Heero a tratar Duo como seu objeto pessoal ele não queria que fosse dessa forma. Não era assim que tinha que ser. Queria realmente um companheiro. Foi isso que foi buscar quando foi atrás de Duo. Ele queria alguém para dividir seus dias. Alguém que o fizesse sorrir quando estivesse triste. Queria alguém doce e cúmplice, divertido e sonhador. Heero queria alguém que lhe ensinasse a didática do amor, alguém como o garoto lindo que encontrou naquela estrada. Mas esse Duo de agora... Esse não era o Duo que havia roubado seu coração.


-Finalmente em casa! – Heero anunciou soltando da carroça, batendo a poeira. Respirou fundo. -Ahhh... aqui agente pode respirar sossegado... Sem aquela poluição toda! – Heero sorriu extremamente comunicativo para um Duo cabisbaixo.

O príncipe já havia estado ali. Mas de fato não lembrava com riqueza de detalhes daquele lugar. Na verdade havia estado somente dentro da casa, que vista pelo lado de fora não passava de um casebre velho, e destelhado em algum ponto. Duo olhou aquilo, em torno do lugar havia tanta pobreza, tanta miséria.

Algumas crianças olhavam curiosas para a carroça e para o rapaz recém chegado. Duo as achou tão, tão sem oportunidade ali, abandonadas a própria sorte no meio do nada. Deus, ali só havia mato e poeira... Seu coração pareceu se apertar, como pode ir parar ali?

Tão envolvido na sua miséria pessoal Duo nem notou que Heero o estava esperando para entrar na casa. Outra coisa que fez o coração de Duo ficar pequenininho. Não era assim. Nunca fora isso, ele nunca sonhou que fosse desse jeito. Em seus sonhos ele entrava em um lindo palácio iluminado onde as pessoas esperavam por ele e seu noivo com festa e fogos. Ele pensara que seu noivo lhe traria no colo até o local das núpcias, e lhe tiraria os sapatos beijando seus pés. Fazendo carinhos, lhe tocando com todo cuidado do mundo...

Mas agora estava ali no meio do nada, carregando suas próprias malas, entrando na casa mais horrível que já havia visto, se é que Duo podia chamar aquilo de uma casa.

Mas as decepções não pararam por ai. Ao entrar ele se refreou, obrigando-se a parar e tentar fazer seu coração angustiado se acostumar com aquilo. O chão era de terra batida, as paredes de barro e bambu, sobre a casa não eram telhas o teto, como Duo achava e sim matos secos e folhas de bananeiras e palmeiras.

Os moveis eram em sua maioria de fabricação artesanal, havia também uma cozinha onde Duo viu uma montanha de panelas de barro imundas, pratos e copos também de barro... A coisa era grave por ali, ele nem quis saber como era o banheiro daquele lugar...

-Por Deus, como alguém pode viver aqui? – Duo falou para si mesmo com asco.

-Vamos! Leve suas tralhas para o quarto... – Heero falou impaciente.

Duo atendeu prontamente ao que mais lhe soou como uma ordem. Já conhecia aquele quarto, mas achava dolorosa demais a idéia de que aquele lugar seria seu lar de agora em diante. Algumas lágrimas lhe vieram, porém ele se obrigou a travá-las, não queria que Heero lhe visse chorando, isso podia aborrecê-lo. Aquele ogro havia lhe dado uma chance e estava disposto a agarrá-la com unhas e dentes. Afinal podia ser sua última chance de ser feliz.

-Senhor Yui. Posso ir ao banheiro, eu precisava tomar um banho... Mas eu não vi banheiro no quarto... – o humano falou tentando sorrir voltando à sala.

-Você não viu porque simplesmente não tem. – Heero disse desinteressado.

-Sim, mas eu não vi em nenhum lugar da casa? – Duo insistiu agora conseguindo a atenção do marido.

-É lá fora, Duo! – Heero falou soando impaciência.

-Como disse? – de fato devia ter ouvido errado. Ou esse era um lado de seu marido que não conhecia, nunca soube que ogros gostavam de fazer brincadeiras, mas a julgar pela cara séria de Heero aquilo não era uma piada.

-Lá fora... Lá! – Heero levantou abrindo a porta apontando para o que Duo imaginou que fosse um buraco no chão coberto por folhas e depois apontou para um riacho que passava atrás da casa.

-Por Deus! – os olhos de Duo se encheram de lágrimas. Sentiu que não ia segurar. Aquilo era uma fossa... Por Deus, seria obrigado a fazer suas necessidades ali no ermo num buraco no chão? – Ohhh, meu Deus! – Duo exclamou em choque.

-Venha! Pegue suas coisas íntimas... E rápido eu tenho muito que fazer hoje. – Heero notara o choque que o humano tomou com todas as novidades. Ele sabia que era tudo muito simples, era tudo sujo e largado um pouco, tinha que admitir, mas ele achava que Duo só estava chocado pelo fato de vir de L2, onde era tratado como uma bonequinha de louça. O ogro achou que um pouco de vida real faria bem ao menino mimado que tinha como esposo.

Em alguns minutos Duo voltou trazendo uma pequena mala, onde trazia a toalha, outras roupas, e os seus produtos para tratar o imenso cabelo.

-Você arrasta as folhas, puxa a tampa, se agacha aqui e faz, depois se limpa com aquelas folhas que vai jogar dentro do buraco também, depois pega a pá ali e joga terra em cima de tudo, tampa de novo e cobre com as folhas. Pra tomar banho é só ir ao riacho ali atrás e se lavar. Tome cuidado, o lugar é muito freqüentado. Todo mundo dessa região toma banho ali... – Heero falou rápido como se dissesse as coisas mais normais do mundo. Talvez fossem para ele, mas não para Duo. -Entendeu tudo? – o ogro perguntou.

-Sim senhor. – Duo respondeu tristemente. –Eu... eu... Acho que... – Duo olhou em volta desalentado. –Acho que se o senhor não ficar chateado... Eu queria fazer minhas necessidades, sozinho. – ele havia corado levemente ao pedir que Heero se retirasse. Jamais faria nada daquilo com alguém o olhando.

-Claro, claro... eu não aprecio ver ninguém nessa hora. Ahhh... Você sabe, acho que até você deve ficar feio fazendo isso... – Heero falou casualmente e saiu.

Duo não acreditou no que o ogro havia acabado de dizer. Seria aquele monstro grosso e estúpido que serviria até o fim de sua vida? Ninguém nunca o havia tratado com tanta indelicadeza. Na verdade, nunca em toda sua vida pôs os pés em um chiqueiro daquele. Ele olhou para o conteúdo do buraco que lhes servia como sanitário, seu estômago se embrulhou.

-Ohh... meu Deus. Eu não mereço isso... não mereço... DEUS! – agora sozinho chorou amargamente. Sua cabeça estava a mil, tantas coisas novas... Tantas mudanças bruscas... Suas lágrimas tinham um gosto doloroso de abandono e desespero.

Do lado de dentro da casa Heero viu Duo tombar de joelhos em um choro compulsivo. Ele queria ir lá e abraçar o humano, mas não faria, não queria que Duo se sentisse observado ou pressionado.

-Será que nunca vou conseguir fazê-lo esquecer essa dor? – Heero se amaldiçoou em culpa por não ser capaz de fazer Duo feliz...


Até que não fora lá tão ruim assim fazer as necessidades... Duo assim tentava pensar quando refazia o caminho de volta para casa. Mas não era assim que se sentia. Fora horrível. Nojento, desagradável e humilhante. Havia insetos por toda parte sem contar o frio insuportável... Duo tremia descontroladamente. Um vento muito forte corria por aquele terreno amplo. E aquele riacho com águas gélidas, e muito disputadas, vários animais locais bebiam água por ali.

Heero notou que Duo tremia quando este entrou em casa. Achou que ele só não estava acostumado, devia tomar banhos quentes em L2, mas com o tempo logo esqueceria das mordomias que tinha por lá.

O ogro o olhou de cima abaixo. Ele tinha mesmo feito uma boa escolha. A imagem da pessoa que estava ali parada dentro da casa era algo aproximado ao divino. Lindo, com aqueles enormes cachos molhados pendendo em volta de um corpo todo arrepiado, com curvas perfeitas, e exalando um fantástico cheiro de flores. Heero não lembrava de ter sentido nada assim antes. Ele sorriu em antecipação, logo mais a noite ia fazer amor com aquela criatura, Deus, aquilo fez seu pênis dar sinal de vida. Levar Duo para cama e possuí-lo de todas as formas possíveis seria perfeito.

-Ahh... vou lá fora cortar lenha... você pode ir fazendo o jantar... Tem tudo que precisa para a comida na cozinha... – Heero falou e saiu apressado, seu pênis estava em riste somente com a imagem de Duo completamente nu sobre a cama.

Duo ficou apenas olhando Heero sair, sem nada entender.

A cozinha era um caos, mas estava se sentindo tão mal que cozinhar podia lhe ajudar. Quando vivia em L2, foi ensinado a cozinhar. Ele tinha todas as qualidades para ser uma "boa dona de casa", mas não haviam lhe ensinado a cuidar de uma casa de ogro. Nunca havia mexido em um fogão a lenha e as únicas coisas que tinha a mão era uma perna de carneiro seca, pois não tinham geladeira, algumas espigas de milho e sal.

Não daria para fazer grandes coisas com aquilo, mas tentaria. Era cedo ainda e ele se dedicou à limpeza da cozinha. Enrolou toda a louça de barro com uma enorme toalha que cobria a mesa e a levou com muita dificuldade, devido ao peso, para lavar no riacho.

Havia encontrado uma enorme barra de sabão escondida por baixo daquela cacaria toda.

Heero estava do outro lado cortando a lenha quando viu a movimentação na casa. Sorriu ao imaginar que ao menos aquilo podia preencher a cabeça de seu pequeno marido por um tempo. A casa estava imunda e ver Duo animado em limpar fez Heero sentir seu coração cheio de uma felicidade genuína. Aquilo queria dizer que o garoto estava preocupado com a casa que também era dele, Duo seria um ótimo esposo e companheiro zeloso, alguém como Heero sempre sonhou...

-Ahh... Se ele for tão bom assim na cama...– Heero não pode evitar pensar... Estava mesmo se tornando um maníaco sexual de primeira linha. De fato desde que vira Duo decidiu que este lhe serviria na cama. Como era um ogro que sempre conseguia o que queria, ali estava ele casado com o garoto humano e preste a possuí-lo conforme seu desejo.


Quando o ogro entrou em casa não pode acreditar sua cozinha estava arrumada, tudo no seu devido lugar. E o cheiro que vinha de lá era ótimo. Quanto tempo não sentia um cheiro assim.

-Senhor Yui, o senhor pode tomar seu banho lá no riacho, logo o jantar estará pronto... – Duo falou ao notar a presença do ogro.

-Banho? Mas eu não estou fedendo tanto assim? Eu já tomei banho sábado passado. – Heero se exasperou... Não tomavam banho todos os dias por ali.

-Mas temos que tomar banho para sentarmos a mesa. – Duo estava chocado.

-Não estamos em L2 e esta é a minha casa! – Pronto. Estava feito. Tinha estragado tudo.

Desde que Duo havia sido estuprado havia perdido o direito ao trono de L2 e conseqüentemente ao lugar que chamava de lar. Ter um marido significava ter uma nova vida para ele, um novo lar. E ele até parecia conformado com isso, estava cuidando daquele lugar como se fosse seu, mas aquela frase de Heero o jogou duramente na realidade de que aquela não era a sua casa. As lágrimas lhe vieram aos olhos de forma incontrolável, foi besteira achar que Heero dividiria alguma coisa com alguém como ele.

-Certo, eu... me perdoe... Eu vou ver o assado. – Duo se apressou em inventar alguma coisa. Não queria chorar na frente do Ogro.

Heero se amaldiçoando mil vezes pela bobagem que falou sem pensar. Viu a temporária alegria de Duo se esvaindo após a frase. Seus olhinhos ficaram tristes e seu rosto pareceu surpreso antes de mudar para triste.

Como fora tão idiota? Não custava fazer um agrado. Estava casado agora, teria que ceder am algumas coisas. Pegando um sabão foi para o riacho.


-Isso está com um cheiro de... Queimado! – Heero se exasperou quando voltou de banho tomado entrando na casa e vendo a fumaça que vinha da cozinha.

-Eu sinto muito... ohhh... meu Deus... Meu Deus! – Duo se exaltou se apressando para tirar a perna de carneiro do forno. Seus olhos estavam rasos d'água. Ele não sabia como aquilo podia ter acontecido. Distraíra-se por um minuto e aquele maldito forno a lenha havia queimado a refeição. Nunca havia usado aquilo antes.

-DEUS! VOCÊ QUASE TOCA FOGO NA MINHA COZINHA! – Ponto para Heero Yui. Mais uma vez havia conseguido deixar Duo ainda pior.

-Mas... eu... eu não tive culpa... Esse forno... – o humano tentou falar lutando contra a sensação de fracasso e culpa.

-O Forno está ótimo! Foi você que queimou meu jantar... Estou faminto e agora? – Heero berrou raivoso socando a mesa.

Duo apenas o olhou com medo. Os enormes olhos roxos arregalados. Ele fora de fato o culpado. O que podia fazer ou falar? Um pedido de desculpa não traria o alimento de volta. Ele dessa vez não segurou as lágrimas que escorreram pelo seu rosto.

-Eu... me... perdoe senhor Yui. Juro que não fiz por mal... eu... Perdão... – Duo saiu correndo se trancando no quarto para poder chorar em paz.

Heero podia ter rido de si mesmo. Ou então podia ter se socado. Como pode levantar a voz para aquela criatura? Tão meiga e tão doce. O dia havia sido tão desgastoso para o pobre menino. Exposto a mudanças tão radicais e mesmo assim havia trabalhado tanto, limpado a casa feito, a comida...

-Como pude ser tão imbecil? – o ogro se perguntava. –Era só carne, como fui ser tão irracional? – ele sentia-se um... Um ogro. Um ogro grosso e estúpido. – o coitado não sabe mexer nessa joça de lenha. – Heero se arrependia.

-Meu Deus... meu Deus... como fui ser tão descuidado? Eu quero minha vida de volta. Não vou suportar esse inferno. Esse animal estúpido... Esse lugar imundo. – Duo chorava desesperado sobre a cama, encolhido numa "trouxinha".


Algumas horas depois Heero havia se alimentado das espigas de milho, únicas sobreviventes que não queimaram. Já era tarde e ele contava poder reparar todo o mal que havia feito para seu pequeno marido durante o dia.

-Duo! Abra a porta, eu quero entrar. – o ogro pediu delicadamente notando que a porta do quarto estava trancada.

Duo ouviu mais fingiu que dormia. Não queria ver ninguém especialmente o ogro.

-Abra essa DROGA de porta ou eu arrombo! – era irônico o ogro ter que arrombar a porta do próprio quarto. –Abra! Estou mandando... Eu quero entrar agora! – ele falou preparando-se para arrombar quando Duo abriu a porta sem olhá-lo nos olhos.

-Não sou bom com essas coisas... – Heero entrou no quarto e começou a falar. –Mas quero que me desculpe por ter gritado... – Heero falou sem encarar o rosto de Duo.

-Eu... que lhe peço desculpas, senhor... Eu devia ter tomado mais cuidado... – Duo foi silenciado pelas mais fortes do ogro.

-Não diga nada! Apenas que me desculpa? – Heero tocou o rosto macio.

-Sim, senhor... – Duo respondeu. Seu corpo estava trêmulo por estar nos braços do ogro.

-Quero lhe pedir outra coisa. – Heero se aproximava cada vez mais de Duo. –Me chame apenas de Heero... – ele pediu aproximando sua boca dos lábios pequeninos e delicados.

Duo sabia o que aconteceria a seguir, ele tentou se livrar do abraço do outro, mas era difícil. Heero o pressionava contra seu corpo. Apertando as partes macias do frágil menino em seus braços. Era tão bom sentir aquele pequeno corpo perfumado se encaixando lentamente as curvas graves do seu. Duo era tão quente, tão macio, tão cheiroso. Não se continha de tanta excitação. As mãos do ogro pousaram sobre a longuíssima trança acariciando. Desceram pelas costas fazendo círculos, até chegarem aos quadris, ali sem cerimônia nenhuma apertou vigorosamente cada nádega as separando. Aquela era uma sensação por demais excitante, o ogro ficou um tempo avaliando a consistência daquelas nádegas, sentindo Duo tremer em seus braços.

Não podia negar que apesar de tudo Heero Yui sabia como tratar alguém nessas horas. Eram toques tão diferentes daqueles que sofreu nas mãos brutas dos tarados. Heero tinha uma pegada forte, porém não violenta, sabia exatamente como e onde tocar. Mas Duo mantinha firme em sua mente as lembranças do horror que passou nas mãos dos malditos vândalos quando fora estuprado de forma cruel. Aquele medo novamente assaltando sua alma de forma gélida. Aquilo o deixou paralisado, quase em choque. Seu coração batia acelerado, todo o seu corpo gritava não, mas ele simplesmente não tinha forças para reagir. Queria berrar, empurrar Heero para longe de si, correr, mas nada disso acontecia, ao contrário, estava ali completamente sem ação sendo praticamente comido vivo. Sentia as mãos nervosas do ogro removendo sua roupa como um louco, a língua, os lábios juntos em chupões, estava sendo apalpado em todas as partes.

Heero por sua vez via-se alucinado com aquele belo corpo quente e macio a seu dispor. Cego de desejo ele derrubou o pequeno menino sobre a cama montando sobre ele atacando os pequenos mamilos, com as pernas se ajeitou abrindo levemente as de Duo buscando uma posição melhor. Nessa hora esbarrou no membro do humano que pendia adormecido para um lado, depois notou que estava praticamente machucando os mamilos e Duo não emitia uma única reação, ao levantar os olhos azuis para o rosto do garoto o coração de Heero se partiu mais uma vez. Duo mantinha em semblante inalterado e um olhar vidrado em um oceano de dor. Era como se... Como se ele não estivesse ali e isso arrebentava com o coração do ogro. Queria possuí-lo, sonhou com isso desde quando o viu pela primeira vez, mas queria tê-lo por inteiro, de corpo e alma, e naquele momento era só um corpo que estava ali. Não sabia onde Duo havia mandado sua alma.

O ogro se levantou abandonando o corpo morno e amolecido sobre a cama. Horrorizado demais para alguma coisa Heero apenas foi se afastando havia lágrimas em seus olhos. Fazia tanto tempo que não chorava dessa maneira. A realidade dura de saber que Duo nunca ia vê-lo do jeito que ele queria, Duo nunca ia se deixar tocar por mais ninguém desde aquela maldita noite. E era tudo sua culpa, podia ter feito algo naquela noite, mas nada fez e agora tanto Duo como ele pagavam um alto preço por seus erros.

O humano foi removido de seu transe ao sentir seu corpo ser aliviado da carga que o prendia. Duo piscou tremendo. O pânico estava passando, ele tinha sido tocado mais que o seu limite permitia. Ele estava chorando completamente nu, não lembrava quando começou a chorar muito menos quando se deixou desnudar. Olhou para Heero desesperado buscando um olhar de compreensão, será que seria perdoado por se mostrar apático diante do ato, se amaldiçoou, podia ter fingido, podia ter gemido e chamado pelo nome do ogro, tinha que ter fingido que estava gostando... Mas não fez.

-Heero... Perdão. – ele falou com uma voz bem fraquinha com olhos cheios de lágrimas.

-Duo... Eu acho que... – Heero também derramou algumas lágrimas, mas logo as limpou.

-Heero... venha! Podemos tentar de novo... Vamos! – Duo falou, mas seu medo era tão imenso. Ele jamais conseguiria escondê-lo. Por mais que quisesse.

-Não, Duo. Não quero apenas sexo... Eu quero fazer amor. – Heero falou frio. Ele não queria apenas uma transa. Ele queria uma noite quente de amor. Não queria apenas um ânus para encaixar seu falo e depositar seu sêmen queria um corpo quente e macio que chamasse por seu nome, que gemesse a cada toque, que lhe abraçasse e acariciasse, queria beijos apaixonados.

-Heero... Eu prometo que vou fazer tudo que você me pedir pode vir. – Duo insistiu deixando mais lágrimas caírem. Seu coração o traía. A verdade era que não queria se entregar ao ogro, não se sentia pronto.

-Eu não quero. Eu vou esperar que você me peça isso com o coração, Duo. – Heero estava tão magoado, mas uma vez Duo o magoava dessa forma tão grave. – Um dia você ainda vai ser meu, Duo. E vai pedir pra que eu te possua. – Heero falou antes de deixar o quarto.

Heero não conseguiria dormir aquela noite. Estava frustrado demais.

Duo também não dormiria. Ele se encolheu na cama cobrindo sua nudez.

-Eu já sou seu, idiota! Só que não consigo... Não consigo. – ele falou para si depois que Heero saiu se entregando ao choro compulsivo com seu corpo sacudindo por causa dos violentos soluços.


Ahhh... Que casal mais difícil... Sabe, eu vê logo o lemon entre os dois, mas ta difícil...

Gente, agradeço a todos os comentários, dicas, dúvidas criticas, elogios..
Um beijo grande...

Hina