Capítulo 6: Temendo o próprio medo

Magi rolou por baixo das pernas do monstro gigante feito de gosma. Por pouco não fora esmagado pelo enorme punho do gigante conhecido como Plasmus. Ele correu até uma distância segura e copiou o poder de Mutano para transformar-se em Cheetah e correr em volta do monstro visando confundi-lo. Estelar, Bullseye e Ciborgue disparavam rajadas de longe, cujas quais não causavam muito efeito pois eram absorvidas por Plasmus.

-Mutano! Vá e corra em sentido anti-horário ao redor do Plasmus! - ordenou Robin.

Mutano viu Magi lhe emulando e transformou-se em Cheetah também, correndo no sentido oposto ao de Magi. Ambos eram incrivelmente rápidos e esguios, não sendo acertados por Plasmus que ficava cada vez mais confuso. Robin sorriu. O plano de batalha estava dando certo. Ele só precisava se aproximar o suficiente e atirar seu novo Crio-Bumerangue para causar-lhe congelamento instantâneo.

Porém, Magi nem ao menos sabia do que se tratava o plano, ou, se sabia, ignorava. Só sabia-se que naquele momento, ele saíra da formação e começara a emular o canhão de plasma do Ciborgue.

-ei monte! Quer saber do que você é feito? Digamos que é algo que desce pela privada! - gritou ele para Plasmus. Ele, ao ouvir o insulto caminhou em direção ao jovem meta-humano. O canhão de plasma carregava sua energia, pronto para disparar.

Robin achou que ele endoidecera. O que estava pensando? O canhão de plasma do Ciborgue não era eficiente contra Plasmus. O que ele estava tentando fazer? Então, Robin olhou para o prédio logo atrás de Magi. Havia uma grande caixa d'água no topo. Ele pretendia disparar contra a caixa d'água para que ele congelasse o monstro com o bumerangue. Porém, ele não percebia que do local que estava, seria impossível atingir a caixa d'água sem atingir o prédio também, e pedaços do prédio iriam cair sobre ele!

-Estelar, vai lá e tira o Magi de lá! - gritou Robin.

Estelar voou em rasante, tentando alcançar Magi antes que fosse tarde. Plasmus chegava mais perto. Magi sorria. Ele ergue seu braço o máximo que pode e disparou. Estelar surge de surpresa e agarra Magi, tirando-lhe de baixo de Plasmus. Largos pedaços do prédio caem sobre ele. Plasmus agarra os pedaços com suas mãos e os arremessa na direção de Estelar. Ela, vendo o movimento atrasada, joga Magi para cima do prédio mais próximo, sendo empurrada para cima de outro prédio. Os largos pedaços do prédio a esmagaram contra o chão.

-ESTELAR!!! - gritou Robin.

Robin, movido por instinto, arremessou seu Crio-Bumerangue contra Plasmus, que ficara instantaneamente congelado. Ele então correu, saltando de prédio em prédio, chegando até onde Estelar estava. Os outros Titãs chegaram também e começaram a remover os escombros de cima de sua companheira. Robin olhava o corpo caído de Estelar, que permanecia desmaiada. Ele se levantou, carregando Estelar em seus braços.

-Robin... - disse Magi.

-Titãs, retirar... - disse Robin, enquanto descia do prédio.

Já de volta á T-Tower, os Titãs permaneciam do lado de fora do quarto médico. Ciborgue saiu, depois de aproximadamente 15 minutos, da sala, pronto para informar o status de Estelar.

-e então Ciborgue? Como que a Estelar está? - perguntou Robin aflito.

-ela está bem. Só vai precisar ficar um pouco no quarto médico. Creio que em dois dias ela estará pronta para ação novamente.

-olha Robin... desculpe eu ter... bom, tentado fazer o que eu tentei... eu não pensei...

Tudo aconteceu rapidamente. Em uma fração de segundos, Robin havia dado um soco no rosto de Luiz, que fora ao chão sem problemas. Mutano e Ciborgue seguravam Robin para que não continuasse.

-ISSO É CULPA SUA!!!

-Robin, se acalma cara! - dizia Mutano.

-SE NÃO TIVESSE FEITO AQUELA IDIOTICE A ESTELAR NÃO TERIA SE FERIDO!

-Robin, tenta se controlar... - dizia Ciborgue.

-EU DEVIA TER DEIXADO O PLASMUS ACABAR COM TUA RAÇA SEU TRANSFORMADO!!!

Nessa hora, todos ficaram em silêncio. Até mesmo Robin, que estava gritando de raiva, calou-se com o que ele mesmo dissera. Mutano ajudou Luiz a se levantar. Luiz olhou para Robin incrédulo, e então foi andando para seu quarto. Lentamente os outros Titãs também foram embora. Robin permaneceu em seu lugar, imóvel.

Mais tarde, Robin estava em seu quarto, sentado em frente ao computador. Ele olhava fixamente para o monitor, mas não estava nem ligado. Seu olhar era distante, e ao mesmo tempo, deprimido.

-tudo bem Robin? - ouviu-se a voz de Cole.

Cole entrou no quarto de Robin. O quarto era completamente escuro, com a parede repleta de fotos e recortes de jornal com criminosos. Cole foi até onde Robin estava e encostou-se na parede próxima.

-você não quis dizer aquilo sobre o Luiz não foi? - perguntou ele de braços cruzados.

-...não. - disse Robin.

-então por que disse?

-eu...

-você gosta muito da Estelar não é?

-é tão aparente assim? - perguntou Robin surpreso.

-meio difícil não perceber isso levando em conta como você reagiu quando ela foi soterrada.

-eu não queria ter chamado ele... bom, daquilo que eu chamei ele... mas ele agiu muito impulsivamente em batalha.

-olha Robin, se eu me lembro direito, você mesmo ensinou ele a agir por intuição. O que ele fez foi o que ele achou que deveria fazer. - disse Cole.

-eu sei... eu me sinto péssimo... nunca na vida chamei ninguém de um nome ofensivo como eu fiz com ele...

-quem deve se sentir pior é ele. E não é por causa do nome.

-não? - questionou Robin.

-não. Luiz é um garoto legal. Ele já viu o que tem de ruim no mundo e não se deixaria abalar por algo assim. O que aconteceu foi...

Cole ficou em silêncio por um tempo, respirou fundo e continuou.

-o que acontece é que ele próprio não tem certeza sobre sua vida. Veja bem, ele se tornou um herói por puro acaso. Ele se convence que ele tem a obrigação de lutar. Mas justamente seu maior medo é falhar com os seus companheiros. Isso já aconteceu uma vez quando a Sarah deslocou a perna no mês passado quando enfrentávamos meta-humanos. Isso acontece por que ele não controla seus poderes. Essa falta de controle lhe conduziu ao medo.

Robin apenas acenou com a cabeça, indicando que compreendera.

Mais tarde, ele foi até a sala principal, onde todos os Titãs estavam reunidos. Robin caminhou até Luiz, que estava conversando com Mutano.

-Luiz...

-sim Robin? Se quer que eu peça desculpas para você por causa do modo que eu agi, eu peço, não tem problema, eu sei que...

-não. - interrompeu Robin. - eu sei que você fez o que achava melhor. Você tem coragem de arriscar falhar em combate para tentar vencer seu medo.

Luiz mirou Cole com o canto do olho, tendo certeza que ele estivera falando com Robin.

-entretanto, mesmo assim, você colocou a missão e a vida da Estelar em risco. - completou Robin. - e por meio disto, eu me sinto obrigado a declarar a seguinte coisa...

O silêncio que se seguiu fora muito incômodo.

-Magi, você está suspenso. Proíbo você de tomar parte em qualquer missão futura até que sua suspensão seja reavaliada. Até lá, permanecerá na T-Tower e não terá qualquer participação em missões. Eu fui claro? - disse Robin calmamente.

Luiz, aparentemente chocado demais para tentar responder, confirmou com a cabeça. Ele rapidamente colocou seus óculos escuros e caminhou para fora da sala. Ele seguiu devagar até o quarto médico. Ele abriu a porta, entrou no quarto e a fechou. Estelar continuava deitada na cama, inerte como antes. Luiz sentou-se em uma cadeira próxima a cama.

-Estelar... eu sinto muito... por minha culpa você está aqui... será que você pode me ouvir? Não... claro que não...

Luiz continuou ali, olhando entristecido para sua companheira. Ele gentilmente segurou a mão de Estelar, com muita tristeza, esperando que ela respondesse e apertasse sua mão. Mas nada. Ele lentamente soltou sua mão de volta na cama, levantou-se e lentamente foi de volta para seu quarto.

Luiz sentou-se no batente da janela de seu quarto, observando lentamente o sol se pôr no horizonte. Ele sabia que tinha feito uma grande besteira. Ele não discordava da decisão de Robin. Ele apenas, sentia-se mal.

-eu sou um idiota... nunca deveria ter achado que podia ser um herói...

-vai fugir então? - perguntou Cole, entrando no quarto.

-não sei...

-escuta Luiz, você não precisa lutar se não quiser.

-preciso sim! Eu tenho esses poderes. Tenho que usá-los.

-não. Me diz, se você quisesse, você seria um garoto normal como antes?

-...não.

-não?

-quando eu era... normal... eu tinha uma vida horrível. Os garotos da escola viviam tirando sarro de mim... ninguém nunca prestava atenção que eu existia... nunca cheguei a conversar com alguém por amizade... quando ganhei meus poderes e me tornei o Magi, podia ser conhecido. As pessoas me olhavam, me agradeciam, me admiravam... eu ficava feliz com isso... como Magi, eu pude ser... feliz.

-entendo. Mas tem algo errado. Tudo bem você querer ser feliz. Mas você não precisa do Magi para isso. Afinal, tudo que Magi fazia, era o que você fazia.

-inclusive ter machucado a Estelar?

-não fique se culpando Luiz. A Estelar estava cumprindo o dever dela e você também.

-é. Eu sei.

-vamos, se anima rapaz. Já sei, que tal irmos jogar videogame depois? Eu dou 2 pontos de vantagem pra você.

-ah, mas bem capaz! Como seu eu precisasse de vantagem pra te vencer Bullseye.

-ah precisa, pois se a gente jogar Perfect Dark, você VAI precisar. Lembra? Eu nunca erro o tiro...

-ei, a gente não ia jogar F-Zero? Eu tinha certeza que era!

-mas bem capaz, eu detesto jogo de corrida!

-ok. Vamos jogar Perfect Dark. Mas eu quero usar a FarSight-XR20!

-não, ce fica apelão quando ta com ela. Aquela droga de mira raio-x é muita trapaça...

Mais tarde, depois de perder umas 80 vezes pro Cole no videogame, Luiz voltou para seu quarto e foi dormir. Mas aquela noite estava longe de terminar. Naquela noite ele sonhou algo estranho. Ele se viu segurando uma corda. Pendurados na corda, estava todo o time. Ele usava de seu poder para ter a força de Ciborgue, tentando segurar a corda para evitar que seus amigos, que estavam sem poderes, caíssem em um abismo sem fundo. Ele tinha que segurar com as duas mãos, pois era peso demais para ele. Porém, subitamente, a corda transformou-se em uma lâmina fina. Luiz sentiu a dor horrível da lâmina deslizando em sua mão, cortando-lhe e de seu sangue escorrendo até o cabo da lâmina. Teve o ponto em que ele não pôde mais agüentar e soltou a lâmina. Seus amigos desapareceram no escuro do abismo. Luiz olhou para trás, e viu-se cercados de vilões. Ele saltou para o abismo, tentando copiar os poderes da Estelar e voar para longe, mas percebe que seus poderes, assim como seu uniforme, haviam desaparecido. Ele afunda na escuridão...

Luiz acorda assustado. Ele respirava com dificuldade. Um relâmpago cortou o ar no lado de fora. Ele foi até a janela e fechou o vidro que ele esquecera aberto. Quando ele largou o vidro após fechá-lo, vira o batente branco tingido de vermelho. Ele olhou para suas mãos e uma expressão horrorizada surgira em seu rosto.

Os cortes de seu sonho. Estavam ali, reais como ele próprio.

Ravena estava meditando, expirando e inspirando devagar. Esvaziava sua mente, com o espelho de sua mente colocado na mesa á sua frente. Nada rompia sua concentração até que ouvira uma batida leve na porta. Ela ergue-se da almofada na qual estava sentada e caminha até a porta. Ela abre a porta, encontrando Luiz com um rosto aterrorizado.

-você? - disse ela com um tom leve de surpresa.

-por favor... preciso da sua ajuda... posso entrar? - disse ele pausadamente.

Ravena abriu a porta um pouco mais, deixando Luiz entrar. Ela fechou a porta logo após. Luiz sentou-se na frente da mesa japonesa que estava no quarto de Ravena. Ela sentou-se de frente para ele.

-e então? - questionou Ravena.

-veja... - disse Luiz, mostrando-lhe suas mãos.

-oh céus... - exclamou ela com a voz baixa. - o que houve com suas mãos?

-Ravena... eu acho... que estou perdendo o controle de meus poderes...

-por que diz isso?

Luiz respirou fundo, e contou á Ravena tudo que acontecera em seu sonho. Ela ouvia atentamente. Ao fim, Luiz sentia seu coração batendo rápido. Tinha certeza que se falasse mais uma vez sobre seu sonho iria começar a chorar. Ele viu Ravena pegar uma vasilha e enchê-la com um líquido incolor. Ela trouxe até a mesa e disse:

-coloque suas mãos dentro.

Luiz fez o que ela pedira e sentiu alívio imediato quando a água cercou suas mãos e fez contato com seus cortes. Ele suspirou aliviado.

-agora... sobre você perder o controle de seus poderes... me diga, já aconteceu antes de você sonhar alguma coisa e algo do sonho ocorrer no real?

-bem... teve uma vez... quando eu recém tinha conhecido a Sarah... mas sinceramente, é muito impróprio para mim mencionar isso...

-tente. Eu não estaria surpresa depois de ouvir as idiotices do Ciborgue e do Mutano... - respondeu ela secamente.

-ok. Bem... eu devo confessar que quando eu vi a Sarah pela primeira vez... eu... bem... nunca tinha visto uma garota tão bonita como ela... aquela noite... eu tive um sonho... bem... muuuuito apimentado... e no dia seguinte, acordei e vi a Sarah do meu lado, só de calcinha.

-eu imagino... - disse Ravena, descobrindo um excelente motivo pelo qual Revenge odiava Magi.

Seguiu-se um silêncio sublime. Luiz olhava para suas mãos, vendo que lentamente seus cortes iam cicatrizando.

-eu tenho uma teoria... - disse Ravena subitamente. - eu creio que seus poderes tenham relação com suas emoções. Quando você sente felicidade e confiança, você controla seus poderes. Mas imagino que ter sido suspenso por ter ferido a Estelar tenha causado uma queda de confiança do time em você não estou certa?

-sim...

-então... você deveria aprender a controlar suas emoções... portanto, acredito que posso lhe ajudar nesse ponto. Se você quiser minha ajuda... venha ao meu quarto toda noite depois das 10 horas.

-essa não é a hora que você medita?

-exatamente... vou lhe ensinar o conceito da meditação. Se meditarmos juntos, você aprenderá a esvaziar sua mente dos sentimentos e manter a calma e o estado sublime da mente.

-Ravena, se isso puder me ajudar, eu faço qualquer coisa!

-ótimo. Agora... sugiro que saia do meu quarto... se Mutano estiver acordado, provavelmente irá começar a fazer uma de suas piadas sem graça sobre os motivos que levariam um garoto deprimido ao meu quarto tarde da madrugada...

Luiz levantou-se e caminhou até a porta. Ele parou na frente, segurando a maçaneta.

-Ravena?

-sim?

-obrigado... - disse ele sorrindo, e fechando a porta, não percebendo que Ravena sorrira levemente de volta.

Luiz foi caminhando pelo corredor, voltando para seu quarto, recitando a segunda parte de um poema:

"ah, distintamente eu lembrei que era no triste Dezembro,

e cada brasa que extinguia-se separada fazia no chão um fantasma .

Audaciosamente pedi pelo amanhã, -- em vão tentei emprestar

De meus livros o arrependimento -- arrependimento pela esquecida Lenora --

Pela rara e radiante dama cujos anjos nomearam Lenora --

Sem nome aqui, para todo o sempre."

Continua...