Teen Titans

Capítulo 20: Risos

"Com a alma em febre, eu novamente entrei no quarto e, de repente, mais forte, o ruído recomeça e repercute nos vitrais. "É na janela" - penso então - "Por que agitar-me de aflição? Conserva a calma, coração! É na janela, onde, agourento, o vento sopra. É só do vento esse rumor surdo e agourento. É só o vento e nada mais.

Abro a janela e eis que, em tumulto, a esvoaçar, penetra um vulto: - é um Corvo hierático e soberbo, egresso de eras ancestrais. Como um fidalgo passa, augusto e, sem notar sequer meu susto, adeja e pousa sobre o busto - uma escultura de Palas, bem sobre a porta; e se conserva ali, no busto de Palas, empoleirado e nada mais."

Luiz fechou o livro calmamente, marcando a página para pode continuar depois. Ravena estava calmamente ao seu lado, meditando. Mesmo tendo se passado dois dias desde... aquilo... as roupas de Ravena permaneciam com o tom azul claro. Apesar disso, ela ainda meditava todos os dias. Não por ter que controlar os poderes, mas porque gostava de relaxar após um dia estressante. Luiz se tornara uma ótima ajuda ao relaxar, pois o jeito calmo embora teatral com que lia as passagens do tomo antigo agradavam e muito a jovem Ravena. Ele olhou para o rosto calmo e sereno da garota que amava. Conseguia ouvir sua mente repetindo as já comuns palavras mágicas: Azarath Metrion Zynthos. Ele quis lhe chamar a atenção de alguma forma. Olhou em volta, e então se inclinou para a frente, para perto dela.
O olho de Ravena abre e focaliza em Luiz.

-não. - diz ela friamente.
-ok tudo bem! - responde o garoto sacudindo as mãos.

Os dois não resistem a comicidade da cena e começam a rir.

-relaxando? - perguntou Luiz com um sorriso.
-sim. Cada dia me impressiono mais com seu talento em leitura poética. - respondeu ela com sinceridade.
-hehe, ainda vou ganhar um oscar! - disse ele rindo.
-o oscar é para atores, não poetas. - comentou Ravena.
-Ah... é... - lembrou Luiz sem graça.

Ravena o olhou por uns instantes antes de deixar sair mais uma leve risada. Ela repousou sua mão no rosto de Luiz.

-gosto quando você me faz rir... seu humor é contagiante... - e ela subitamente mudou o tom. - diferente de um certo metamorfo que conhecemos.
-seria um baixinho, com roupinha roxa e preta, que tem cor de vegetal e cheiro de deus-me-livre-não-digo-o-que? - disse ele rindo.
-é. Digamos que sim. - respondeu Ravena com um sorriso.
-opa, olha a hora. Melhor eu voltar pro meu recanto. Não dorme tarde tá legal? - Luiz disse com um sorriso, antes de teleportar.

De volta ao seu quarto, Luiz rapidamente trocou-se com seus poderes, e colocou-se embaixo das cobertas, caindo velozmente em um sono pesado. Antes porém, percebeu que deixara a janela aberta, mas mudou de idéia quanto a levantar. Nunca acontecia nada mesmo né?
Ledo engano. No dia seguinte, após uma noite tranqüila de sono, ele se levanta e a primeira coisa que vê é um pacote de presente sobre a escrivaninha. Indo direto a ele, e o abrindo, Luiz achou um atraente anel dourado(ou de ouro falso, tanto faz). Encantado, ele o coloca de imediato. Um estranho calafrio percorreu o corpo de Luiz, mas ele ignorou. Ele abriu a porta... e deu de cara com um boneco inflável enorme com a cara do Mutano... no dito cujo, havia um bilhete grudado. A letra era de Cole.

-"Luiz, eu e os outros Titãs recebemos um chamado fora da cidade. Ravena ficará com você pro caso de alguma emergência... ah é, boa sorte garanhão!"

Luiz amassou o bilhete e caminhou ainda com sono para a cozinha. Viu Ravena sentada em uma poltrona, de costas para ele quando entrou no salão.

-bom dia. - ele disse com um bocejo.
-bom dia. - ela respondeu sem se virar.

Ele, ainda meio sonolento, vagou até a cozinha e abriu a geladeira para pegar leite. Ele então ouve Ravena:

-ah, poderia pegar meu chá de ervas? Está aí em cima da mesa.

Luiz viu o dito cujo, então voltou para dentro da geladeira. Logo após, ouviu Ravena de novo.

-Luiz? E o meu chá? - ela perguntou.
-ué, eu já teleportei ele pra você. - disse Luiz distraído.
-não mandou não.

Era verdade. O chá permanecia onde estava. Ravena olha para Luiz e diz com um ar de surpresa.

-e por que você ainda está de pijama?
-que?

Luiz olhou para si próprio. Estava ainda com o pijama.

-ué... eu tinha certeza que tinha usado meu poder pra trocar a roupa no automático.
-espere. - disse ela se aproximando dele. - o que é isso em sua mão?
-sei lá. - disse ele, erguendo a mão com o anel. - tinha um pacote no meu quarto de manhã, e tinha isso nele.

Ravena cruzou os braços pensando.

-acho que esse anel deve ter alguma coisa a ver com o fato de seus poderes estarem falhando... vamos tirar uma prova. Faça alguma coisa que só consiga fazer com seus poderes. -ok. - disse ele, tentando ver o que poderia fazer.

Luiz fechou os olhos e se concentrou em voar... voar como a Estelar... e abriu os olhos. Permanecia no chão.

-está aí. O anel tem que ter algo a ver com...

Ravena é interrompida pelo som do interfone. Os dois se entreolham curiosos. Não era comum terem visitas tão cedo na manhã. Eles pegaram o elevador e desceram até o térreo. Foram então abrir a porta. Havia uma garota no lado de fora. Ela vestia uma blusinha rosa claro e calças jeans. Uma tiara rosa cruzava o topo de seus longos cabelos loiros. Ravena olhou ela, tendo lembrado quem era.

-Você não é a Kitten? - perguntou ela.
-meow! - respondeu a garota, imitando um gato. - eu mesma. -o Robin não está aqui, nem quer qualquer coisa com você. - ela respondeu secamente. -é, certo, como se eu fosse vir aqui para falar com ele tendo cinco super heróis poderosos me cercando. Achei que você fosse a mais esperta da turma. - respondeu Kitten com desprezo. Os olhos de Ravena faíscaram em fúria. - eu vim ver foi você!

Ela ergueu o dedo indicador direito e apontou para Luiz.

-cuma? - exclamou Luiz em surpresa. -posso entrar? - respondeu ela em um tom alegre, embora mantivesse o tom de convencida.

A contragosto, Ravena assentiu com Luiz e deixou a garota entrar. Chegando no salão, Luiz sentou-se no sofá, e Kitten sentou bem próximo dele. Ravena permaneceu de pé, com os braços cruzados, ainda irritada.

-então... hm... kitten não é? - a garota afirmou. Luiz a olhou curioso e intrigado. - o que exatamente você deseja de mim?
-você fica tão bonitinho com essa sua cara de dúvida - disse a garota em um tom de adoração. - é simples. Sabe esse lindo anel que você está usando? Ele é um presente meu para você. Vai ser o símbolo de nosso compromisso!
-mas hein? Que compromisso?
-sejamos francos. Você não tem namorada, isso é um fato. Seja por ser super herói ou não, você não conhece ainda o amor. - a garota foi falando - por isso, eu, que devo admitir me sinto atraída por você, decidi que vou ser sua garota por um dia, para você saber como é amar. O que acontece depois é por você. Eu estarei mais que disposta a ser sua namorada para sempre se você quiser. - terminou ela com sorriso. Luiz estava boquiaberto, mas retomou a postura.
-espera só um minuto aí. Eu não quero ser seu namorado. Tem mais, eu nem te conheço ainda!
-exatamente tolinho. - disse ela, empurrando o rosto dele de leve com o dedo - vamos sair juntos no dia dos namorados. Teremos um dia inteiro para você me conhecer - ela se aproximou mais dele.
-mas eu não quero sair com você! Eu... - olhou para Ravena tímidamente - vou estar ocupado no dia.
-NÃO QUERO SABER! - berrou escandalosa a garota. - Você vai sair comigo ou nunca vai ter seus poderes de volta! Esse anel foi feito para anular seus poderes de metahumano docinho, e só eu tenho o mecanismo que permite que você o tire!

Luiz a olhava incrédulo. Ele puxou com toda força, mas o anel não quis sair de seu dedo. Ele tentou com os dentes, mas só conseguiu uma dor de dente.

-...eu não tenho escolha tenho? - disse ele tristemente.
-tem não! - disse Kitten, brincando com os fios de cabelo de Luiz. - espero você no festival que vai ter no pier hoje a noite. E lembre-se: comporte-se como meu namorado ou nunca vai receber seus poderes.
-de volta, já sei. - disse ele amargurado.

Kitten se levantou com um saltinho, se inclinou e deu um beijinho na testa de Luiz, indo então para o elevador. Ravena a acompanhou com os olhos, ferozmente. Então virou-se para Luiz. Ela tentou usar sua magia para tirar o anel, mas ele não saía. A maldita tinha criado um anel bem potente.

-e agora? - perguntou ela.
-não tenho escolha mesmo... vou ter que ir. - respondeu ele com a voz baixa.

Era óbvio para ambos que aquilo não era bom. Luiz não queria ter que fingir que gostava de uma total maluca, nem Ravena queria ter que assistir de braços cruzados Luiz ser usado por aquela maníaca por atenção. Luiz se levantou e caminhou lentamente até seu quarto. No cair da noite, o pier já estava movimentado de pessoas. Casais de namorados caminhavam alegremente entre as várias atrações do festival. E, encostada em um poste de luz, estava Kitten, com os braços cruzados, batendo seu pé impaciente no chão. Estava com um vestido rosa de seda pura, sapatos de salto brancos. O longo cabelo loiro estava cuidadosamente penteado e alisado. Ela olhava de um lado para o outro, se perguntando quando que ele chegaria. Ele iria se arrepender sériamente se a deixasse na mão. De repente, ela sentiu uma mão tocando em seu ombro. Ela sorriu radiante e olhou para trás. Era Luiz. Para alguém que nunca tinha saído num encontro, ele estava muito bem arrumado. Os cabelos selvagens estavam muito bem penteados para trás. Vestia uma calça jeans novinha, junto com uma camiseta vermelha e uma jaqueta preta. Parecia algo saído de um filme romântico adolescente.

-boa noite. - disse ele em um tom animado. -boa noite docinho! - ela exclamou, saltando em cima dele num abraço. As pessoas em volta caminhavam rápido para evitar Kitten... ela era conhecida por causar confusão em eventos deste tipo.
-ei, calma. Temos uma noite inteira, não precisa me abraçar como se eu fosse embora daqui a pouco. - disse Luiz, tentando se livrar do abraço.
-isso mesmo Luiz docinho. Vamos? - disse ela, se levantando e estendendo o braço para ele.

Luiz e Kitten caminharam então pelo festival. Kitten se esfregava no braço dele(fazendo jus ao nome dela...), ronronando(novamente...) e ocasionalmente, soltando um miado gracioso(preciso dizer mais?). Eles passaram perto de um daqueles jogos de tiro ao alvo. Luiz parou, vendo que Kitten estava com os olhos brilhando sobre um gatinho de pelúcia.

-você quer que eu ganhe ele pra você? - perguntou.
-sim! - ela afirmou.

Luiz pagou o sujeito do balcão e recebeu uma arma com três tiros. Olhou firme para o alvo, com a arma em mãos. Disparou o primeiro tiro, acertando em cheio no centro do alvo. Os dois tiros que seguiram acertaram um de cada lado de onde acertara o primeiro. O sujeito do balcão deu para Luiz o gatinho, e junto deu um lobo cinzento. Luiz agradeceu e deu o gatinho para Kitten.

-aqui, está feliz? -sim! Mas, e esse lobo aí? - perguntou a garota curiosa.
-vou guardar pra mim, pra lembrar de quando saímos juntos pela primeira vez.
-ah! Eu te adoro! - ela saltou em cima dele de novo. - você é tão cavalheiro!

E a noite continuou. Luiz estava sendo realmente melhor do que Kitten esperava dele. Era gentil, cavalheiro e prestativo. Perto do final da noite, deram uma volta na roda-gigante. Um espetáculo de fogos de artifício explodia nos céus, formando imagens coloridas de corações. Kitten aconchegou-se contra o peito de Luiz, que passou um braço em volta dela. Kitten sentia-se muito feliz, mais até do que sentira-se com qualquer outro rapaz. Após o fim da noite, ela e Luiz saíram andando pela margem do rio.

-eu adorei a nossa noite! - disse ela radiante.
-eu também... mas, você vai cumprir a sua palavra não vai? Vai me devolver os meus poderes?
-o que? Hah, bem capaz. - disse ela, retomando o tom convencido. - se eu devolver seus poderes, você vai me largar. Eu conheço vocês heróis. Portanto, sem trato.

Luiz a encarou com um olhar vazio.

-eu... realmente gostei de nosso tempo juntos. Sem brincadeira. Eu te achei especial... mas agora, descubro que você não me ama de verdade. Pode ficar com meus poderes... eu não ligo.

Luiz caminhou em direção oposta a que ela ia, cabisbaixo. Kitten o mirou por um instante. O garoto realmente parecia estar sendo sincero. Olhou para si própria refletida na água e sentiu nojo de si própria. Então ela correu até onde Luiz estava.

-espera. Eu acredito em você. Aqui... - e entregou um mecanismo semelhante ao controle de uma garagem. - aperte esse botão e o anel cairá. -mesmo? Excelente.

Ele faz como ela lhe disse, e sente o poder retornando. Então, ela se aproxima dele, mas é impedida ao sentir a mão dele empurrando-a para longe.

-não chegue perto de mim. - disse ele. O olhar dele era repleto de frieza.
-mas, você acabou de dizer que me amava! - exclamou Kitten entre surpresa e raiva.
-eu não amo você. Posso nunca ter tido uma namorada, mas ainda assim, não sou estúpido para ficar com uma garota tão desprezível e sem coração como você. Você me enoja. De todas as garotas que conheci, você é a pior delas.

E dito isso, Luiz evaporou no ar em teleporte, deixando Kitten em estado catatônico. Um pouco mais tarde, já na Torre dos Titãs, Luiz estava com Ravena no quarto dela.

-então o plano deu certo no final? - perguntou Ravena.
-sim. Funcionou brilhantemente. Ela não suspeitou de nada até a hora que dei o bote. - respondeu Luiz. -realmente, você tem talento para o teatro... - comento a garota com um sorriso, lembrando-se do comentário que fizera ainda de manhã. -é, pareço ter.

Luiz olhou para Ravena por um instante. Havia algo que ele estava formigando para perguntar.

-hoje... - e Ravena voltou a olhar para ele quando ele começou a falar. - quando eu estava com a Kitten... eu ouvi a sua voz mais de uma vez.
-ouviu? - disse Ravena em um leve tom de surpresa. -você.
-sim. Eu não parei de pensar em você. - respondeu ela por ele. -por quê?

Ravena gentilmente acariciou o rosto de Luiz, olhando para ele com um sorriso.

-como eu disse de manhã, eu gosto quando você me faz rir... não quero que você pare. -Ravena...

Como se lembrando de algo repentino, ele olhou em volta, e pegou o lobo de pelúcia que ganhara. Ele o estendeu para Ravena.

-o que é isso? - perguntou ela.
-bem... feliz dia dos namorados Ravena. Fique com ele pra se lembrar de mim. - disse ele timidamente. -obrigada. - Ravena segurou o lobo nas mãos e o fitou Luiz. - está usando sua habilidade teatral de novo para me encantar? - perguntou ela com um sorriso.
-está funcionando? - perguntou Luiz.

Ravena inclinou-se para mais perto dele, e repousou a cabeça contra o peito dele, enquanto ela era abraçada por ele. Luiz beijou carinhosamente o topo da cabeça de Ravena.

-Feliz dia dos namorados Luiz...

continua...