--Esse capítulo é dedicado em memória à minha mãe, Alair Maria Prestes da Silva, falecida em 29 de Abril de 2005, por parada cardíaca... Vai com deus minha mãezinha... Eu vou sentir sua falta...--
Capítulo 21: Não pode ser...
Um dia comum. Era isso que todos achavam. Um dia comum. Um dia, porém, que traria uma dor cataclísmica à equipe.
Parque da cidade. Um lugar bonito aonde as famílias e grupos de amigos vão para se divertir no final de semana. E, como seria de se esperar, os Jovens Titãs não são exceção.
Apinhadas estavam, perto a uma árvore, as coisas do time. Cesta de piquenique, uma grelha, coisas assim. A equipe tinha se separado em pequenos grupos. Na mesa de madeira que estava posicionada perto da árvore, Estelar e Robin conversavam. Ciborgue e Mutano discutiam quanto a qual seria o almoço...
-sem essa Mutano! Hoje você não vai me privar do prazer de comer meus 2 quilos e meio de costelinha! - disse Ciborgue em tom de reclamação.
-Falo sério, eu não deixo e pronto. Eu que paguei a grelha nova depois do seu "acidente com o disparo sônico", e nós vamos comer os meus cachorros quentes de tofu! - respondeu Mutano irritado.
Não muito longe dali, em cima de um tronco de árvore caído, Cole estava sentado ao lado de Estrela Negra, lhe oferecendo algo.
-ah! É lindo Cole! - a Tamaraniana exclamou, ao ver o lindo pingente de cristal que recebera do rapaz.
-aqui, deixa eu te ajudar... - ele diz, prendendo-o ao redor do pescoço da jovem. - é, ficou perfeito.
-obrigada - disse a garota agradecida, enquanto beijava o rosto de seu namorado.
Sarah não era difícil de se fazer notar no parque. Um monte de rapazes estava sentado em frente a uma mesa com ela, desafiando-a para queda de braço. O total de derrotados aumentava a cada segundo. Sarah bocejava com um sorriso ao ver as patéticas tentativas dos garotos em tentar vencê-la.
-próximo? - disse ela.
-eu serei o próximo. - disse um grandalhão, músculo puro, estilo Stallone, parado em frente a ela na mesa. Ele se sentou, arregaçou a manga da camisa, mostrando um braço anormalmente desenvolvido.
-ok. Vejamos então. - Sarah ergueu o braço e apertou firmemente a mão do rapaz. Um dos rapazes deu o sinal e começaram. O rapaz não perdeu tempo e cerrou os olhos, aplicando força máxima sobre o braço da garota, mostrando o resultado de anos de musculação... Porém logo notou algo estranho. O braço dela permanecia no lugar, como ele viu ao abrir os olhos. Ela nem estava suando!
-acaba logo com ele Sarah! - os rapazes começaram a gritar.
-tudo bem... - disse ela calmamente, puxando o braço para seu lado... E conseqüentemente arremessando o musculoso garoto para o outro lado do lago do parque... A uma distância de mais ou menos 19 metros. Sarah se levantou, todos os garotos apavorados com ela.
-xi... Acho que exagerei um pouco... - disse ela sarcasticamente. Os rapazes saíram correndo.
Afastada do grupo, perto de um grande carvalho, estava Ravena. Sentada em meditação, flutuava levemente acima da grama, de olhos fechados, repetindo as incansáveis palavras mágicas:
-Azarath Metrion Zynthos... Azarath Metrion Zynthos...
Sua concentração era plena. Nada interrompia sua meditação. Exceto talvez um objeto que insistia em flutuar em frente de seu rosto. Descendo sobre a grama, ela move a mão e segura o objeto. Uma maçã. Ela então ouve a voz do garoto.
-com fome? - Luiz disse sorrindo, deitado sobre o galho do carvalho.
-um pouco. - disse ela de forma suave, mordendo a maçã lentamente.
-dia calmo esse não? Nada de ruim acontecendo... - comentava Luiz, levitando maçãs da cesta que havia pendurado no galho do carvalho.
-depende. Calmo representa aturar as discussões ridículas de Mutano e Ciborgue sobre quem cozinha o quê? - questionou Ravena calmamente, seu manto azul-claro esvoaçando conforme ela levitava para o galho próximo de Luiz.
-não. Calmo é o dia em que posso ficar sentado te admirando... - respondeu Luiz com um leve sorriso. Ravena corou levemente.
-você gosta disso não?
-do quê?
-me deixar sem graça... - disse Ravena sorrindo levemente.
-eu não faria se não gostasse - Luiz responde rindo.
Mas no fundo, Luiz não estava tão feliz quanto parecia... Ravena sabia disso, mas não queria tocar no assunto. Luiz ainda não sabia muito bem sobre como deveria ser quando ele confrontasse sua mãe novamente. Enquanto seus pensamentos vagavam livremente, ele sentia como se houvesse algo tentando surgir em sua mente... Ele sentia como se tivesse esquecido de alguma coisa importante.
-Luiz? - em algum lugar fora de sua mente, o garoto ouviu a voz de Ravena. Ela flutuava sentada em frente a ele, com os seus olhos azuis olhando diretamente para ele. Luiz sentiu seu rosto corar.
-o quê? - ele disse, meio rindo, meio surpreso. A garota sorriu de volta.
-tentando lembrar algum compromisso? - ela disse suavemente.
-sim... Espera. Acho que acabei de lembrar. Desculpa Ravena, preciso ir... Tudo bem? - ele perguntou, levemente desconcertado pela mudança repentina de atitude que acabara de ter.
Ravena simplesmente se aproximou, tocando levemente a face do garoto. Ele sorriu, levando sua própria mão até a mão de Ravena, segurando-a perto do rosto.
-então é esse o compromisso...? - ela disse simplesmente.
-sim... Volto antes do fim do dia tá legal? - Luiz informa, levemente beijando a mão de Ravena. - avise os outros por mim.
-tudo bem.
Dito isso, Luiz evaporou no ar, literalmente. Ela apenas se calou, terminando de comer a maçã antes de descer lentamente ao chão, indo em direção aos outros.
Em algum lugar perto da cidade de Dakota, havia uma velha igreja. Era pequena, recentemente reformada por causa das doações dos muitos que a visitavam, pois seus parentes eram mantidos a salvo no cemitério ao lado da igreja. Luiz caminhou entre as lápides, indo em direção á uma em especial. A lápide de sua mãe. Ele se ajoelhou, colocando um arranjo de rosas brancas em forma de coroa pendurado sobre a pedra. Então uniu as mãos e começou a rezar.
Por oportunidade, o padre responsável pela igreja notou o garoto. Ele caminhou lentamente até onde Luiz estava, segurando a bíblia em suas mãos.
-buscando iluminação para um ente querido meu jovem?
-...Sim. - Luiz disse em voz baixa. O padre se abaixou para ver a lápide.
-ah sim... Pobre senhorita Julia... Deixou-nos a todos chocados quando ascendeu para a casa do senhor... Embora seja confortante saber que sua alma descansa ao lado do messias, não deixa de ser triste... - o padre diz, em um tom que demonstrava compaixão.
-eu sei... Lembro que ela sempre me trazia aqui... Mesmo quando eu não queria... Arrependo-me... Pois agora daria tudo para que ela estivesse aqui ao meu lado... - respondeu Luiz, um tom de tristeza dominando cada palavra.
-meu jovem, você por acaso seria... Quem eu penso que é? - perguntou o padre.
-aliás, você ainda tem cheiro de água benta padre Michael... - disse Luiz, se levantando e encarando o padre.
-Jesus cristo... É você mesmo Luiz? O pequeno Luiz? - disse o padre, com um sorriso surpreso. Ele abraçou o jovem paternalmente. - eu já pensava que estivesse longe daqui... O que veio fazer aqui?
-vim prestar homenagem a ela... Não vim aqui um dia sequer desde o dia... Desde aquele dia... Muita coisa aconteceu, mas eu precisava vir aqui antes de fazer uma coisa que pode mudar minha vida.
-bom saber que o jovem Luiz está agora um homem, com sua vida própria... Agora, me dê licença, mas devo voltar para minha casa. Apareça aqui novamente, adoraria ouvir suas histórias novamente Luiz. - disse o padre gentilmente.
-tentarei padre Michael. Tenho histórias que deixariam o senhor espantado...
-mal posso esperar. Passe bem meu filho.
-o senhor também...
Tão logo o padre deixou a igreja e desapareceu rua abaixo, Luiz se levantou. Ele olhou por cima do ombro, em direção á um antigo carvalho. Ele usou seu poder e atirou uma lápide em branco sobre um dos galhos, quando a pessoa que o espionava desviou, descendo ao chão... A Mãe de Luiz. Os longos cabelos morenos moviam-se com o vento que soprava fortemente, anunciando uma tempestade. Seus olhos inexpressivos focalizaram os olhos vermelhos do garoto, que expressavam um misto de tristeza e raiva.
-mamãe.-é você mesma?
Julia desapareceu no ar, e Luiz desapareceu no último segundo antes de Julia surgir por trás, desferindo um golpe com a espada katana que carregava. Luiz reapareceu sobre sua mãe, tendo seu chute aparado pela mão dela, que logo em seguida o agarrou firmemente e lhe arremessou no chão de pedra. Luiz não teve tempo de reagir, seu corpo se chocando contra a superfície sólida. Momentaneamente desorientado, ele não teve tempo de reagir quando Julia saltou no ar e caiu de joelhos sobre o estômago do garoto. Luiz sentiu a dor horrível no estômago, como se acabasse de ter estourado algum dos órgãos. Atordoado pelo golpe, o jovem não pode perceber que as mãos de sua mãe estavam agora apertando firmemente seu pescoço, tentando cortar-lhe o suprimento de ar...
"Não... está difícil... respirar... tenho que me livrar das mãos dela...".
Ele olhava, desorientado, ao redor. A chuva caía pesadamente sobre o cemitério. Acima dele, só havia o rosto sem expressão e os olhos frios de sua mãe. O frio cobria cada centímetro de seu corpo, conforme ele sentia a morte se aproximar... A sensibilidade dos braços se esvaía, lentamente desistindo de tentar puxar as mãos dela para longe do pescoço.
Tudo ficou silencioso... Tudo ficou escuro... Ele não mais conseguia distinguir se estava vivo ou morto...
Algo aconteceu. Ele sentia algo fresco penetrando seu corpo. Ele conseguia respirar! O que estaria acontecendo? Lentamente, seus sentidos retornaram, e ele pode ver que seus amigos estavam em sua frente, protegendo-o de sua mãe... Ravena estava ao seu lado, olhando para seu rosto com uma expressão preocupada. Ela provavelmente ouvira seus pensamentos de agonia.
-Ra...vena... - ele disse com uma voz fraca. Ravena colocou o dedo indicador e médio sobre os lábios de Luiz.
-não fale. Você ainda está fraco. Nós cuidaremos dela... - disse Ravena em resposta, enquanto Sarah desferia seguidos golpes com sua katana, os quais a mãe de Luiz desviava com agilidade sobre-humana.
.
-o que foi Luiz?
Luiz se levantou com dificuldade, e tudo ocorreu numa fração de segundos. Os titãs, que estavam valentemente combatendo o aparentemente invencível adversário, foram arremessados para o ar, onde um tipo de globo de energia os prendia.
-mas que diabos? - exclamou Cole, olhando para todos os lados, vendo-se preso no globo.
-droga, ela nos prendeu! - Ciborgue disse, socando com força a resistente barreira.
-cara, to achando que não foi ela não... - disse Mutano, a voz levemente trêmula.
-por que diz isso? - Estelar foi perguntar, mas logo, ao ver a expressão tensa no rosto de Ravena, ela pode concluir o mesmo que Mutano.
Logo abaixo deles, Luiz, ainda um tanto fraco, concentrava toda sua força mental para aprisioná-los... Isolá-los.
-Luiz! Solta a gente! - gritou Robin, tentando chamar a atenção de Luiz.
A mãe de Luiz encarou-o com a mesma expressão fria e sem emoção. Luiz a encarou diretamente... E então ficou completamente de pé, abrindo os braços. Os titãs encararam seu companheiro, todos tensos...
-Mãe... Você é minha mãe... Não é?
Um segundo. Foi o tempo necessário para que a lâmina da espada de Julia perfurasse o coração de Luiz. Para que os olhos do jovem se abrissem totalmente em reação à dor. Para que os titãs ficassem paralisados de choque. Julia desapareceu no ar. O globo de energia desapareceu no ar. Os Titãs desceram pelo ar, em direção ao corpo de Luiz. Ravena o segurou em seus braços, Luiz ainda vivo, mas não por muito tempo...
-Por quê? - ela perguntou.
-não pode ser... - disse Cole, em um estado de choque ainda maior.
-não... - Estelar, a beira das lágrimas, a mão cobrindo o rosto chocado.
-como...? - Robin, seus olhos arregalados em pavor.
-ele não... Não pode... - Sarah, que pela primeira vez parecia demonstrar alguma preocupação por alguém.
-por favor, diz que não é verdade... - Mutano dizia, de joelhos.
-... - Ciborgue, chocado demais para uma reação apropriada.
-Por quê? - Ravena perguntou novamente, quase chorando também.
Luiz, no que parecia ser um último esforço, ergue sua mão e acaricia o rosto de Ravena... Então, deixa a mão cair sobre o seu peito, cobrindo o buraco.
-Ra... vena... Eu...
O que for que Luiz quisesse dizer, não foi ouvido, conforme sua cabeça pendia para trás, a vida deixando seu corpo para trás... Em algum lugar da cidade, Slade gargalhava triunfante...
Continua...
