Sonhando para viver
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Grandes sonhos nos gastam muito tempo. É difícil sonhar por tanto tempo.
A noite já caia com um romântico céu estrelado surgindo. As pessoas saídas de seus trabalhos corridos agora pareciam diminuir o ritmo com conversas ao pé do ouvido, sorrisos largos e bebida com os amigos nos muitos bares espalhados pela orla.
Estava quente e abafado. O bar estava ficando cheio. As mesas barulhentas com pessoas sorridentes povoavam o local, porém mais ao canto havia uma mesa com um único componente.
Ele parecia agitado. Seus dedos tamborilavam sobre a toalha de papel forrada à mesa. Ele olhou o relógio pela milésima vez naquela noite. Os dedos alternavam entre o tamborilar da mesa e o alisar de seus cabelos cheios e rebeldes. O olho largo no tom azul turquesa dava um ar perfeito ao rosto de feições japonesas e pele morena. Que contraste imbatível.
Ele olhou ao redor como se estivesse num mundo à parte. Notava que todas as mesas havia alguma demonstração de carinho, um carinho que muitas vezes era invejado por ele.
Heero Yui era um jovem empresário que não conseguia ficar mais de uma semana namorando. Sua beleza e personalidade atraiam muita gente, mas nunca conseguia se envolver de verdade com alguém. O problema era que ele odiava ficar sozinho e vivia em busca do par perfeito, era no fundo um romântico incorrigível, mas aos olhos dos amigos não passava de um galinha.
-Droga. – Gemeu afrouxando o nó da gravata consultando o relógio novamente.
-Olá, Heero! – um rapaz alto desabou ao assento do lado sorrindo.
-Odeio esperar. – ele falou frio sem nem sequer olhar para seu recém chegado amigo.
-Relaxa, é sexta-feira e você não precisa mais ser um empresário arrojado.
-Trowa. Trowa. É sexta-feira. E olhe para esse bar, todos estão se divertindo. E olhe para mim. Estou sozinho. – ele falou batendo no peito levemente e abaixando a voz suavemente.
-Ahhh... A culpa é sua. A Su teria vindo se você não tivesse a tratado como um lixo. – Trowa o acusou.
-Não fala mais disso. A garota não servia para mim. – Heero comentou afundando as pedras de gelo de seu copo.
-Heero você tem mais amantes que qualquer outro. Um por dia. – o amigo brincou.
-Eu... Achei aquele cara mais interessante. Achei que ele era a pessoa certa para mim. É sério Trowa, eu estava apaixonado. – o oriental se defendeu.
-Sei. Como estava há um mês atrás pela Marie, e uma semana depois pelo Gef? – Trowa falou acenando para o garçom. –Você nunca vai tomar jeito. Esqueça. Eu não te apresento mais ninguém.
-Bem vindo ao time dos anti Heero Yui galinha conquistador barato. – Heero revirou os olhos.
Trowa sorriu. Ele conhecia aquele jovem descendente de orientais há mais de dez anos, eram amigos e sócios numa empresa de robótica. Mas Yui tinha um problema sério, talvez não chegasse a ser um problema, mas ele tinha um amante diferente a cada uma semana.
-Oi amor. – um loiro de olhos grandes de claros chegara sentando ao lado de Trowa e o beijando nos lábios. – era Quatre o namorado dele. –E olá para você, senhor conquistador. – ele sorriu ao amigo de seu namorado.
-Oi para você também, Quatre. – Yui virou o copo sorvendo todo o líquido forte.
-Onde está a Su? – Quatre falou. Ele sabia que Heero havia desperdiçado mais uma chance.
-Não o provoque ele está chateado. – Trowa beijou o namorado. –Como foi o plantão? – perguntou tentando desviar a atenção para si e evitar que Yui e Quatre discutissem.
-Cansativo. – Quatre sorriu leve, ele era ortopedista e fisioterapeuta num hospital público. O rapaz de família rica havia optado pela profissão para ajudar pessoas e vivia muito realizado, embora fosse dura e penosa.
-Mas você ama o que faz, isso é que importa. – Trowa falou voltando a beijá-lo.
-É sim. Mas falando em amar o que faz... Heero, semana que vem o diretor do hospital vai receber vocês dois. Ele gostou da sua idéia de usar os conhecimentos tecnológicos para ajudar pessoas com deficiência. – o médico informou ao oriental.
-Será bem interessante. – ele respondeu com um ar distante. Estava justamente se queixando com Trowa sobre sua solidão antes de Quatre chegar e ficar com aquela demonstração pública de felicidade, não que Heero tivesse inveja, mas às vezes ver as pessoas felizes lhe apontava uma certa insegurança e medo de nunca encontrar a pessoa certa, como seu amigo havia encontrado.
A empresa que Heero e Trowa fundaram há três anos atrás ia de vento em poupa. Heero tinha idéias mirabolantes e a última tinha sido um projeto com hospitais públicos, ele tinha o sonho de ajudar pessoas com deficiência usando seus conhecimentos em tecnologia. Era uma boa pessoa, um belo jovem arrojado e sonhador, mas que não tinha sorte no âmbito do amor.
-Nossa... Tudo isso é porque levou o fora? – Quatre provocou saboreando sua bebida.
-Não faz isso, jóia. Ele está chateado. Hoje no escritório estava tão chateado que me pediu que arrumasse uma pessoa completamente diferente dessa vez... Sei lá. Alguém que ele pudesse passar o dia dos namorados juntos.
Quatre quase se engasgou com a bebida. Era engraçado demais. Heero Yui, queria passar quase seis meses com uma pessoa? Sim, porque estavam no dia 13 de janeiro, e o dia dos namorados era apenas em 13 de junho.
O loiro observou a expressão séria do oriental, mas não podia ser verdade. Yui devia estar com febre.
Mas ele viajou por sua mente vasculhando todos os seus amigos. Conhecia gente muito sofisticada e bonita, da forma que Heero gostava de ostentar nas festas, mas ele queria uma pessoa diferente? Talvez nem tão vazia com todas as outras.
-Sabe, Quatre. Heero estava querendo alguém que seja diferente dessas mulheres... ahhh.. Alguém romântico e meigo... Sei lá. Aquela sua colega... – Trowa observou.
-Ela está morando nos Estados Unidos há três anos, Tro. – Quatre cortou.
-Ahh... Eu já sei. O Duo! – Trowa bateu na mesa sorrindo. – Claro, é a pessoa que o Heero precisava. Está certo. – ele sorriu para Heero balançando a cabeça positivamente e sorrindo debilmente.
-Não. Nunca. Isso nunca. – Quatre coçou seus cabelos loiros e engoliu o sorriso. Ele não Trowa.
-Porque não? Ele é perfeito. – Trowa insistiu.
-Não! O Duo jamais vai suportar ser usado pelo Heero. – o médico falou sem se importar com a presença do oriental.
-Ele não vai usá-lo... – o outro rapaz defendeu o amigo.
-Vai sim. Como usa todas as pessoas que entram no caminho dele. Trowa, o Duo é doce demais para isso. – o médico estava revoltado.
-Ei. Quatre. Eu não sou esse monstro. – Heero finalmente se meteu. Ele não conhecia a pessoa da qual estava falando, mas o loiro já passava dos limites da ofensa.
-Você não respeita as pessoas! – Quatre suspirou olhando para Heero.
-Não é bem assim. Eu apenas estou tentando achar uma pessoa certa para mim, mas é que ninguém é exatamente o que eu espero. – ele se defendeu.
-Heero, eu sei que está buscando uma pessoa certa, mas enquanto não encontra você está deixando um rastro de dor por onde passa. As pessoas têm sentimentos, sabia? – era uma acusação.
-Mas... – Yui ia ainda se defender, mas Trowa o chutou na canela piscando no processo. Quando seu namorado dizia não, era preciso lhe dá alguns dias, trabalhar melhor as idéias. Eles tentariam novamente, mas por hora era bom fazer Quatre acreditar que havia tido a última palavra.
Assim seguiu a noite. Quatre aos beijos e confidências com Trowa e Heero tomando sua bebida em silencio. Não conhecia a pessoa citada por Trowa, mas no mínimo já estava curioso, afinal o loiro havia o defendido de uma forma tão imediata. Talvez valesse apena um encontro com essa pessoa.
Uma semana havia se passado desde que Trowa e Quatre haviam se encontrado com Yui no bar. Desde então o rapaz havia ficado com uma moça que conhecera naquela noite e já trocara por um rapaz que lhe fora entregar uma pizza e atualmente estava sozinho em busca de uma pessoa diferente.
Era um domingo ensolarado quando Quatre acordou desperto pelo barulho da radio relógio.
-Merda, Quat. Porque ligou essa coisa? Hoje é domingo. – Trowa resmungou virando-se para o outro lado na cama.
-Hoje é dia de palestra no hospital e eu quero participar. – o loiro limpou os olhos se esticando.
-Mas você não é psicólogo, nem nada. – Trowa levantou a cabeça com os olhos vermelhos e o cabelo assanhado, um topete torto e desembrenhado. –Você é louco... Trabalha naquilo a semana toda, dia e noite e ainda quer ir ao fim de semana, mas essa palestra é aquela sobre a deficiência? – ele perguntou parecendo se interessar.
-É sim, porque? – Quatre deu de ombros.
Sem Quatre saber seu namorado havia combinado com Heero de aparecer no hospital naquele domingo, finalmente Yui ia conhecer Duo. Fariam tudo parecer uma coincidência simpática e Heero podia dar uma olhada no tal amigo de Quatre e assim, se o rapaz lhe interessasse podia marcar alguma coisa com o jovem.
-Eu vou com você, então. – Trowa anunciou.
O médico o encarou sem entender, mas não questionou. Eles passavam a semana toda bem distante, por isso seria muito bom ficar mais um pouco com o namorado.
À tarde como combinado o carro importado de Heero estacionou numa das vagas do amplo estacionamento do Hospital de auxílio e luz. Antes de sair do carro o oriental vaidoso deu a última olhada no retrovisor conferindo o visual, sorriu satisfeito com o que via.
Ele olhou o relógio e saiu apressado. Estava atrasado para o ocasional encontro. A recepção era ampla, um balcão de pedra polida com uma bela loira lhe sorrindo.
Para não perder viagem Yui lhe dera seu cartão e conseguira de quebra a sala aonde acontecia a reunião.
Ele varreu os corredores vazios deixando seus olhos azuis turquesa nas portas largas. O clima de um hospital em nada lhe agradava. Estar ali lhe enjoava o estômago. Lembrava de seu passado quando era tão novo, e nos corredores de um hospital deixara para trás mais de dois anos da sua infância.
-Pensando no seu pai? – Trowa se aproximou dele apertando seu ombro com força.
-É inevitável. –Heero falou seco. –Lembro dele definhando até a morte. Até festinha de aniversário eu passei num quarto de hospital com ele. – os olhos do oriental se lubrificaram de forma dolorosa e ele fungou não querendo chorar ali na frente do amigo. Já havia muito tempo daquela perda, era preciso deixar para trás.
-Já falamos sobre isso. Fizeram o que foi preciso por seu pai. – Trowa falou triste.
-Trowa. Não vamos falar disso, tá? – Heero afastou a mão amiga de seu ombro.
-Tudo, bem. Eles estão lá na sala. Se quiser deixar isso para outro dia eu vou entender.
-Não. – Heero forçou o riso. –Eu até já consegui me dá bem com a recepcionista, deve ser meu dia de sorte.
-Há, não, Yui. Eu arrisco o meu pescoço com o loirinho para te mostrar o amigo dele e você me vem com a recepcionista? – Trowa gemeu vendo que o oriental não tinha mesmo jeito.
-Mas a mulher por trás daquele balcão é linda... O que eu podia fazer? – ele sorriu divertido.
Trowa sorriu e Yui gargalhou. Eles saíram pelo corredor no exato momento que a porta de uma sala se abria e saiam lentamente algumas cadeiras de rodas, e pessoas mancando de forma estranha.
Heero trocou olhares com Trowa sem nada entender?
-Não se preocupe. Eles não mordem. –Trowa sorriu para um Yui completamente chocado. –Não me olhe assim, como quer produzir material para eles se não conhece as dificuldades deles? Venha! Venha! – Trowa falou o puxando.
Heero entrou em silêncio. Havia cadeiras formando um circulo largo. Mais ao canto estava uma pequena mesa. Quatre estava arrumando uns papeis e sorria distraindo conversando com uma moça que o oriental já de cara achara atraente. As roupas podiam valorizar mais as curvas, mas mesmo assim era uma mulher bonita com uma trança grossa numa tonalidade de marrom dourado.
-Que garota bonita. Mesmo de costas... Que bunda! – Heero pensou imediatamente. –Mas e o tal do Duo? Eu só vejo Quatre e essa... – ele arregalou os olhos.
-Onde está o garoto? – Yui cochichou ao ouvido de Trowa, a garota não era bem uma garota, ele percebera agora.
-Ali na frente, você é cego? – o amigo lhe deu uma cotovelada.
O loiro levantou o olhar distraído vendo que tinha um par de visitas inesperadas. Ele estava sorrindo, mas ao ver quem estava parado dentro da sala seu sorriso morreu.
Trowa engoliu em seco, sabia que Quatre não o ia perdoar por levar Heero até ali.
-O-oi, amor. Eu... Eu... Vim... – Trowa não soube o que dizer.
-O carro... ahhh. Hoje quando Trowa lhe deixou aqui no hospital, Quatre. Ele foi me encontrar na empresa, você sabe algumas pendências, bom, demorou mais do que eu esperava e ele acabou ficando lá... Então como ficou muito tarde... ahhh... Ele me deu uma carona até minha casa, mas o carro... ahhh... O carro. – Heero falou parando para pensar o que dizer ao loiro que o fitava furioso.
-Isso... Meu Deus. O carro. Quatre. O Carro. – Trowa quase gritou exagerado trocando um olhar alucinado a Heero. – o que ia dizer?
-Então... ahhh.. O carro dele... Morreu. Assim de repente. Quando me deixou em casa. Fiquei tão culpado que decidi o trazer até aqui. – Heero suspirou sorrindo forçado. –É... Foi isso. – confirmou inseguro. Trêmulo.
-Heero Yui e Trowa Barton. – o loiro estava pálido. O quadro formado pelos dois amigos era no mínimo ridículo. –Eu não acredito que vocês vieram mesmo aqui. E pra quê? – o médico estava trêmulo. Era séria sua atitude. Ele temia que Duo fosse usado da mesma forma que o empresário fazia com todos que passavam em sua vida, e tudo que o loiro queria era defender o amigo disso tudo. –Heero Yui, você não precisa disso. Sabemos que pode ter quem quiser, você não precisa fazer isso. – ele completou chateado.
-Quatre, do que está falando? É claro que ele precisava me trazer até aqui. Eu estava sem carro. – Trowa falou num quase grito tentando convencer a si mesmo daquela história fantasiosa e cheia de lacunas que o oriental havia contado.
-Eu não acredito que você fez tudo isso só para vir até aqui e... – um Quatre transtornado ia falando quando Duo se virou falou.
-Para vir até aqui trazer um amigo. – Duo suspirou sorrindo.
Heero pela primeira vez olhara para o rosto do rapaz. Esteve muito ocupado inventando aquela história horrível que não havia ainda olhado o rosto.
O fato era que olhara agora e não soube definir o que viu. Lindo. Era essa a definição imediata, os olhos grandes de uma cor tão extraordinária, violetas, o rosto em formato de coração com os lábios finos, as bochechas rosadas num sorriso infantil e delicado.
-Que amigo dedicado. – Duo sorriu cumprimentando Heero. E a forma que ele mexera a cabeça fazendo seus cabelos caírem no rosto fez Yui se interessar.
Quatre girou os olhos azuis. É claro que alguém como Duo ia cair facilmente no papo do empresário.
-Esse é Heero Yui, amigo do Trowa.
-Olá, Heero. Eu sou Duo Maxwell. – o rapaz sorriu.
-Olá... – Yui respondeu encantado. Seus grudados em Duo.
- Trowa. Leve seu amigo daqui agora. – Quatre falou para o namorado num tom de extrema fúria. Ele estava com o rosto corado de tanta raiva.
-Mas... – Heero ia falar alguma coisa.
-Sai. – o médico bateu na mesa olhando para Trowa de uma forma tão ferida.
Heero não queria ir, mas o amigo o arrastou a contragosto.
Assim que saíram Duo se voltou para Quatre sem nada entender. Era ingênuo demais para ter notado qualquer malícia de Yui sobre sua pessoa.
-Que foi? Você estava tão animado. Não gosta do senhor Heero?– Duo perguntou fazendo uma cara de preocupação.
-Nada, Duo. Esqueça, ta? - o medico pediu. – Olha, como ficou tarde eu vou te levar em casa. – ele completou amenizando a expressão.
-Mas e o seu namorado? Eles vieram aqui para levar você... Eu não quero atrapalhar. – Duo falou solícito.
-Gracinha. – Quatre observou o jeito doce de seu amigo. –Eu não quero você andando sozinho. Pegando esses ônibus. Enfrentando essa noite violenta. – o médico sorriu arrumando a mesa rapidamente. –Pronto. Vamos! – falou para o rapaz assim que terminou de empilhar os formulários.
Duo não insistiu. Apenas sorriu para o médico fechando a porta. Caminharam lentamente pelos corredores com Quatre andando lentamente para que Duo pudesse o acompanhar.
-Decidiu o que fazer, Duo? – o loiro perguntou.
-Ainda não. Isso me faz achar que sou mais aleijado do que pareço. – Duo respondeu chateado enquanto se esforçava para andar o mais normal que podia. Porém não podia, ele mancava da perna direita.
-Duo. – Quatre o parou tocando seu rosto com os dedos. –Já conversamos sobre isso. Hoje mesmo no grupo de aceitação social. Você tem uma especialidade que às vezes torna as coisas mais difíceis para você, mas não impossíveis. – o médico falou de forma tão doce.
-Eu sei, mas é que dói. As pessoas me olham com tanta pena. Eu ainda não decidi. Pode dar errado eu piorar ainda mais. – ele comentou triste.
-Eu sei. Não há 100 de chances numa cirurgia tão delicada como essa em sua perna, quando tantas coisas podem dar erradas. – o médico concordou.
-Mas às vezes tenho vontade se arriscar. Sabe quando as pessoas têm pena de mim?
-Eu sei disso, e você sabe que vai acontecer sempre. Quem faz isso jamais vai entender. Elas sentem pena porque desconhecem o sacrifício que é para vocês levarem uma vida normal, se elas tivessem a sensibilidade para entender isso, teriam um grande orgulho dos campeões que vocês são. – Quatre concluiu.
Duo sempre se sentia mais animado com as palavras daquele amigo. Ele seguiu em silêncio. Sua mente trabalhava a mil por hora numa lembrança quase triste do passado. Quando podia deslizar nas quadras gingando feliz com uma bola de basquete nas mãos. Ele se lembrava tão bem que podia sentir as sensações de uma partida.
Quando Duo estava com a bola ninguém o parava, quando disparava na sua dança encantada e seus olhos violetas miravam o aro, suas pernas, antes potentes, lhe davam um impulso tão forte que ele parecia voar pelos ares. Sim, naquela época ele parecia voar. Suas asas viam um futuro brilhante. Chegara a ser considerado a maior promessa de todos os tempos.
Voava nas quadras do sucesso quando um acidente de carro cortara suas asas e o confinara por dois anos numa cama de hospital.
Mas de fato Duo era um campeão e gingando deixou para trás a morte, uma vez recuperado travou longa batalha para voltar a ter os movimentos das pernas, queria voltar a jogar basquete.
Mas na última cirurgia os médicos lhe disseram que haviam consumido todas as esperanças, ele mancaria puxando da perna direita para o resto da vida, era um fato. Devia ter ficado feliz, uma vez que já lhe fora diagnosticado que não voltaria a andar.
Para quem não jamais tornaria a andar, mancar era excelente, mas para quem queria voltar a voar, mancar era terrível.
-Eu vou pensar nessa nova cirurgia, Quat. – ele comentou finalmente chegando ao carro do loiro.
Quatre apenas lhe sorriu, entendia como era doloroso para Duo. Jogar profissionalmente era a vida dele e por saber disso o loiro sempre que tinha alguma novidade sobre fisioterapias ou cirurgias deixava Duo bem animado, mas seria muito difícil tudo que podia ser feito pelo rapaz já fora feito, ele andava, mancava muito ainda, mas andava.
Heero havia deixado Trowa em casa e agora estava na estrada voltando para casa. Os pensamentos vagos voavam para imagem de Duo sempre que ele se desligava um pouco da direção.
Os olhos dele. Era alguém tão maduro. Tão diferente de todos. Certo que não tinha nenhuma informação sobre Duo, Trowa não sabia muita coisa sobre aquele amigo de seu namorado e isso havia deixado Yui um tanto quanto ansioso. Ele fazia o tipo que adora saber tudo sobre a pessoa, saber sobre a família, os gostos e desejos, idade, cor preferida... E agora com Duo só conhecia o nome e a cor dos olhos e dos cabelos.
Yui entrou em seu apartamento se jogando no sofá. Estava sorrindo feito bobo. Talvez em tantos anos nunca tivera se sentido assim em relação a alguém. Sim, porque ele mantinha dentro de si uma sensação excitada, como um adolescente apaixonado que acredita pode abraçar o mundo.
Se fosse mesmo uma paixão seria daquelas onde mais se imagina do que se faz, mas Heero apenas se deixou curtir o novo sentimento instantâneo.
Uma semana após aquele encontro no hospital Heero voltara a ser atolar no trabalho e a colecionar seus amantes.
Agora estava em seu escritório no centro da cidade. Esteve sentando em sua cadeira por quase quatro horas seguidas estudando as telas de um programa na qual estava trabalhando. Seus olhos queimaram e sua cabeça rodou cansada.
-Trowa e aquele programa? – ele perguntou desinteressado ao amigo quando esse passou pelo corredor em frente a sua sala.
-Qual dele Heero?
-Aquele para pessoas com problemas auditivos usarem um micro. – ele respondeu sem tirar os olhos da tela.
-Parado. Esbarrando nos embargos contratuais... – Trowa veio até sua sala se sentando na cadeira disposta a sua frente, para receber os muitos clientes.
-A máquina do governo é lenta e falha. – Heero respondeu enquanto analisava o projeto.
-Está tendo progresso nesse ai? – o amigo de Yui perguntou interessado, afinal o japonês havia perdido a manhã toda ali sentado.
-Nenhum. – Yui resmungou. – Mas... Mudando de assunto. E Quatre? – ele quis saber. Aquele era o segundo assunto predileto de Heero.
-Heero. Seja sincero. – Trowa pediu. –o Duo, não tem importância? Ou seja, você acha mesmo que seria capaz de se apaixonar por ele?
-Ei. Porque não? – Heero se levantou muito sério.
-Heero. – Trowa também ficou sério também. –Não brinca com isso cara. Se você estiver interessado nele tem que ser pra valer...
-Aonde quer chegar? – Yui parecia muito ofendido. –Porque eu não me interessaria por Duo? Ele é lindo... Eu não conheço muito da pessoa dele, mas eu acho um cara lindo, divertido e muito legal. Sabe, nada nele me desaponta... O que vale nas pessoas é a personalidade, Trowa.
-Heero. – o outro rapaz ficou o tempo em silêncio. –Então... Se o Quatre desse uma chance, você ia fundo com o Duo?
-Claro.
-Fechado. – Trowa falou sorrindo.
-Como assim. – Heero arriscou um sorriso.
-Quatre acha que vai te dar um voto de confiança. Mas, olha lá em Yui. Não vai magoar o menino. – ele aconselhou.
Heero não conseguiu se concentrar naquele programa e em mais nada. De repente era como se tudo tivesse perdido a importância restando somente a imagem bela de Duo. Heero sorriu aquele sorriso sincero que a alma consegue dar quando só ela sabe uma coisa muito especial: Que se está apaixonado.
Duo em sua casa se olhou no espelho. Quatre o havia convidado para sair essa noite.
Não que o amigo nunca tivesse chamado, mas agora era diferente. O loiro ia com seu namorado Trowa e esse ia levar um amigo que estava sozinho e segundo o médico, estava interessado em conhecê-lo.
-Meu Deus. Um cara quer me conhecer. – ele falou se olhando no espelho. –Há tanto tempo não saio com ninguém... e conheço tão pouco dele. – duo falava se olhando no espelho. –Quatre e disse que ele é empresário, é oriental, gosta de namorar, não tem um humor muito aberto... – o rapaz divagava.
Estava nervoso. Por alguma razão aceitara o convite. Talvez fossem apenas os olhos daquele amigo de Trowa. Tão lindos.
Quando finalmente o relógio marcou 19 horas daquela sexta-feira Duo novamente se olhava no espelho. Quase trêmulo ele arrumou os cabelos.
Fazia um frio de outono por isso usava uma calça de tecido grosso numa tonalidade escura. Uma camisa azul forte quase vileta que realçava seus olhos e um blazer elegante também escuro. Simples e elegante, assim estava Duo quando ele saiu de casa mancando pela noite com sua trança marrom dourada serpenteando.
Meia hora depois desceu com certa dificuldade do ônibus. Tinha que andar uma pequena distância até o bar onde Quatre marcara. A rua estava movimentada quando ele passou.
-Eiii.. Olha que manquinho mais gostosinho. – algo falou maldosamente, mas Duo não dera atenção, estava acostumado com aquele tipo de piadas de muito mau gosto e no mais, não ia estragar a noite que tinha tudo para ser perfeita por causa daquilo.
A fic fala de limites que existem apenas para o corpo, se acreditar como toda força de nossa alma que somos capazes de fazer qualquer coisa, essa vai se tornar possível.
Quando escrevi essa estava passando um momento daquele que se vai ao fundo, quebrado até a alma... somente o tempo pode trazer de volta a paz que a vida nos tira.
Aos amigos,
Hina
