Entre o céu e o inferno
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No Éden Zechs havia finalmente assumido suas tarefas, porém tudo parecia caótico demais. Aquele lugar sem o arcanjo loiro nada era.
A mesma balburdia no imenso balcão de mármore Zechs encontrou quando chegou pela manhã. Ao vê-lo todos vieram em sua direção aos gritos, cada um parecia mais urgente que o outro, cada um queria algo o mais rápido possível.
O loiro suspirou dando atenção a todos, ouvindo e aconselhando, resolvendo o que podia, o que não podia anotava prometendo tentar fazer algo.
Era apenas mais um dia normal no Éden. Porém não continuaria assim no que dependesse de Wufei e Heero.
Os demônios iam até o Éden e tentariam falar com alguém responsável a fim de localizarem o maldito anjo tarado.
Assim saíram bem cedo do inferno seguindo o percurso até o lago negro. Havia pressa e urgência, nenhum dos dois prestara muita atenção nas imagens que surgiram nas águas quando passaram, finalmente chegando à ponte. Parados sem coragem de atravessar. Os dizeres eram claros, assim eles sabiam não poder voar para o outro lado.
Conheciam as histórias dos ventos sagrados que derrubavam anjos e demônios que tentavam cruzar com asas aquele abismo sem fim. Era arriscado atravessar, uma vez que tinham intenções nada agradáveis. Eles sabiam que a ponte era segura apenas para as almas puras, que tinham no coração as mais amáveis intenções.
Eles se olharam.
-Escute, Chang. Eu não quero fazer mal a ninguém no Éden. Eu quero apenas que o anjo que usou nosso doce irmão repare o mal que fez e o assuma com o bebê dele. Isso não é querer fazer mal. – Yui se justificou. – A ponte é justa. Ela sabe que terá que nos deixar passar, é para fazer o bem a um coração que está despedaçado lá em casa que agente quer ir ao Éden. – Ele completou.
-Eu sei, mas e se esse tal anjo nos jogar na cara que ele só teve o Duo porque o próprio se ofereceu? E se não quiser reparar o erro? Se para esse anjo tiver só sido uma farrinha com um demônio vadio? Por que lamento muito falar isso, mas nosso irmão agiu como um...
-Não. Eu pensei isso no início. Mas o Duo só se entregou porque o amava. – Heero o cortou.
-Então? O Duo o ama e você acha que ele o amava também? Então porque nunca o procurou? – Chang falou. –Se for mesmo isso eu não vou poupar esse maldito e a ponte sabendo disso pode não nos deixar passar. – Ele comentou.
-Eu sei. Mas eu vou tentar assim mesmo. Vou pelo Duo e se eu morrer aqui vou morrer feliz. – Heero falou com coragem.
Tomados de coragem eles se anteciparam. Cada passo dado a ponte tremia insegura. Estavam no meio quando ela começou a balançar com mais vigor. Heero se segurou com força nas cordas que faziam a vez de corrimão. Ele fechou os olhos pensando em seu irmão menor chorando por causa daquela desilusão. Heero acreditou que poderia tentar falar com o desconhecido anjo e poderia fazê-lo querer ficar com Duo. Isso ao menos ia trazer um sorriso naquele rostinho triste de seu irmão.
A ponte voltou a se equilibrar e finalmente eles pisaram na grama macia do Éden para seu alívio.
Caminharam assustados. Ambos já haviam ido ao menos uma vez naquele jardim, mas era sempre uma surpresa muito bonita. O Éden era um lugar que dava prazer de estar.
Se não tivessem em um momento tão sério e se não fossem tão fechados ambos poderiam sair cantarolando por aqueles jardins, porém não convinha. Estavam contra o tempo, tinham que achar o tal anjo.
Assim eles seguiram pelos jardins e quando o tempo se esgotava usaram as asas para voar pelo gostoso ar do Éden, sentindo o vento fresco e a brisa delicada em seus rostos.
-Como é lindo esse lugar. – Heero comentou distraído quando passaram sobre um rio cristalino. Eu gosto muito do Sol. – Ele completou.
-Em pensar que nosso lugar já foi assim também... Ao menos é o que diz a lenda. – Wufei comentou.
Trocaram algumas palavras enquanto voavam. Mas ao se aproximarem de uma enorme construção ficaram calados e concentrados.
-É aqui? - Heero perguntou desconfiado descendo ao chão.
-Parece. – Chang respondeu também pousando e olhando a imensa escadaria que se seguia.
Estavam numa escadaria sem fim. Ali não era permitido usar as asas, por isso era necessário ter fôlego. Estavam indo para a delegacia celestial.
O prédio tinha seu ar de imponência, era um palacete branco com detalhes dourados. As janelas redondas e as torres baixas lembravam uma fortaleza charmosa.
-Pegue a senha e espere. – Uma anja falou séria. Ela encarou os dois e coçou os cabelos presos em dois coques. Seus olhos se tornaram nada agradáveis. –São... Demônios? – Ela quase gritou.
-Somos. Queremos uma retaliação sobre um grave erro cometido por um de vosso povo. – Heero a encarou com frieza.
-Não vão conseguir nada aqui. Mas... Peguem a senha e esperem. – Ela terminou com eles já se dirigindo a outros recém-chegados.
Wufei suspirou pegando e seus olhos sem seguida se arregalaram ao ver o número contido ali naquele pequeno pedaço de papel. –Heero, nós vamos morrer aqui. Nós pegamos o número 1.749.553. – O mais velho quase gritava nesse momento. -É piada de mau gosto. – Wufei sentou-se vencido na imensa sala de espera. Estava lotada.
Havia de tudo. Anjos, diabretes, shinigamis, almas penadas, almas evoluídas, crianças, animais... Havia toda espécie de seres possíveis.
O tempo parecia não correr naquele lugar, bem como aquela sala parecia nunca esvaziar. Wufei havia conversado com algumas almas que também estavam na espera. Uns lhe disseram que estavam ali há mais de três anos, elas ainda se baseavam no tempo dos humanos uma vez que estavam esperando uma vaga no purgatório, pois as suas haviam sido negociadas por um falso anjo que lhes vendera falsas vagas.
-Heero, quanto tempo já devemos estar aqui? –Wufei falou baixo desconfiado.
-Não sei... Mas muito tempo. – Ele comentou.
-Vamos embora... –Wufei gemeu.
-Tenho uma idéia melhor.
Yui estreitou os olhos. Da forma que ele havia pensado iam ser recebidos o quanto antes por alguém.
Assim fizeram, embora Wufei tivesse relutado muito em tal loucura, mas ele já havia entendido que por Duo Yui fazia qualquer coisa e de bom grado.
Dessa forma estavam agora os dois passeando calmamente pelos corredores da delegacia completamente nus. Se não fosse por um ato quase desesperado de dois irmãos querendo ajudar o caçula aquilo até seria engraçado.
De qualquer forma teve o efeito esperado, pois logo estavam cobertos por lençóis na sala de uma inspetora que os olhava com reprovação.
-Ora onde já se viu andarem assim por ai? Vocês sabiam que tivemos senhoras indo para enfermais de tanto... De tanto... Esqueçam. –A mulher que lhes falava corou levemente. –Eu sou a inspetora celestial Sally Pô. Ela se apresentou olhando fixamente para Wufei. O rapaz-demônio era interessante, assim como o outro e ambos tinham um grande porte, ela pode notar. –Sabem que vão ficar detidos, mas antes eu preciso saber a sua defesa.
Wufei e Heero explicaram seus motivos para tal loucura. Ela não pode deixar de se comover com a história toda.
-E então o irmãozinho de vocês está lá chorando com um filho na barriga? E o coitadinho acha que ele vai o procurar? –ela perguntou chorando dramaticamente enxugando o nariz num lencinho de papel.
-Mas ou menos. –Wufei respondeu sem jeito.
-Por ai. –Yui revirou os olhos de forma impaciente. Aquela mulher ia ajudar ou ia ficar chorando o dia todo?
-Bom... Vejamos. –Ela sorriu jogando o lenço fora e olhando para os demônios. –Sabem o nome desse anjo? Estado civil, endereço, brevê de vôo rasante, idade, numero do registro angelical? Ahh o tipo sangui... –ela seguiu falando.
-Não! –Heero quase gritou olhando para aquela mulher. Seus olhos frios estavam prestes a matá-la.
-Bem... O que sabem sobre ele? – Ela levantou uma sobrancelha.
-Bom... É alto, loiro e tem asas, ahhh... E no dia estava vestido de braço. –Wufei tentou.
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Cabisbaixo eles foram quase enxotados da delegacia. Sally ficara furiosa. Afinal seria impossível procurar por um anjo loiro de asas e vestido de branco. Eles agora caminhavam lentamente pelas ruas do Éden e viam que em todas as partes havia alguém com essa descrição.
-Heero. Temos que voltar. Agente tenta ficar na frente do Duo quando papai o atravessar com aquela katana que ele guarda no escritório. –Wufei fez uma tentativa de piada, mas falhou miseravelmente, o caso era mesmo muito grave.
-Eu não vou voltar. Nós prometemos a Duo e a papai. – Ele falou pensativo.
-Mas...
-Lembra da Relena? Ela pode nos ajudar. – Heero falou.
-Relena? –Wufei olhou para o irmão com pena, ele devia estar mesmo muito desesperado para ter uma idéia dessas. –Pretende se ajoelhar aos pés dela? – O mais velho comentou derrotado.
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No inferno Duo não saía de casa. Mais exatamente não saía do quarto. Desde que os dois irmãos partiram em busca de seu amado anjo que ele havia ficado naquele estado.
Não comia, não sorria, não falava. Apenas mantinha-se largado sobre a cama. Às vezes deixava seus olhos tristes se vidrarem am algum ponto do teto, às vezes chorava.
Sua mãe entrou no quarto finalmente. Desde que havia descoberto que o jovem não era mais virgem e que de quebra estava esperando um filho que nem o pai nem a mãe lhe falavam. Porem Heeriana sabia que Duo estava há muito tempo confinado naquele quarto e no mais ele precisava se alimentar muito bem. Afinal um bebê-demônio consumia muita energia da mãe, nesse caso do pai. Ela entrou em silêncio no quarto carregando uma bandeja com uma sopa extremamente cheirosa.
Duo a olhou. Estava tão fraco. Mas seu estômago reclamou aquela comida assim que ele sentiu o cheiro maravilhoso da sopa.
-Meu querido. Tem que se alimentar para nutrir o bebê. A mamãe já lhe havia falado que os bebês-demônio são muito exigentes com suas mamães, eles consomem toda a energia que podem... Eu já vi caso da mãe padecer por cauda do bebê. –ela falou, mas logo percebeu o quanto estava sendo desapropriado. Era uma mulher gorda e divertida, mas não era hora para brincar daquela forma.
Duo a olhou com decepção.
-Perdão, meu doce. –ela sorriu sincera. –Você é muito forte. Tenho certeza que esse bebê vai ser cheio de saúde. –ofereceu a sopa ao filho, que prontamente aceitou.
Heeriana sorriu ao vê-lo comer com tamanha gana. Ela ficou o olhando meigamente e enquanto ele comia, ela dava dicas diversas sobre bebês, sobre as roupas que o nenê deveria usar. Sobre Duo começar a fazer o enxoval da criança.
A matriarca notava que enquanto ela ia falando de bebês os olhos de Duo brilhavam, apesar de tudo ele já amava esse filho, e isso era bom. Ao menos sairia da depressão se sentisse o quanto era importante aquela criança estar bem.
Heeriana soube a grande ajuda que seria para Duo essa reaproximação, e assim passaram a tarde toda trocando informações sobre crianças, sobre os cuidados com o primeiro banho, sobre amamentação, etc. Duo estava agora distante das preocupações, falar em seu filho era algo que lhe animava muito.
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No Éden Wufei e Heero chegaram ao palácio de cristal. As torres mais altas sumiam nas nuvens.
Heero ficou parado por um tempo olhando tamanha grandiosidade. Ele não entendeu os motivos de tanto luxo e beleza, porque os anjos necessitavam daquilo? Porque? Se eles eram apenas à vontade de Deus?
-Tsc... Eu não sei como esses seres podem se considerar a bondade e vontade de Deus. Eles perdem mais tempo com sua confortável vida que pensando nos humanos. – Ele comentou voando para o topo de uma das altas torres.
Wufei o seguiu, ele achava que Heero tinha razão ao criticar a forma de vida dos anjos, porém ele achava que seu pai tinha razão em dizer que os demônios sim, eram a melhor criação de Deus, uma vez que, eram desprovidos de luxos, céticos no trabalho de ensinar algo aos humanos, e humildes ao deixar que todas a glórias caíssem sobre os homens.
-Papai tem razão quando admira os demônios. É necessário ser forte e consciente quando se ouve tudo o que os humanos falam a respeito de nós, quando no fundo somos os que mais os ajudam. – Wufei falou pousando na varanda ampla da torre.
-Mamãe que diz certo. Nunca espere muito dos seres humanos. – Heero comentou, seguindo o irmão.
Quando entraram no imenso salão ficaram imóveis. O que viram ali era um verdadeiro engarrafamento de anjos. Era o caos. Havia asas brancas batendo para todos os lados, gritos, empurrões, falatórios. Papeis, etc. Era simplesmente um verdadeiro caos.
No meio de toda aquela confusão parecia haver um anjo loiro e alto que tentava por fim aquela quase zona.
Ao lado desse anjo havia a moça loira que eles procuravam. Relena era a mais agitada de todas, ela parecia cobrar alguma coisa ao anjo loiro.
-Sinto muito, Relena. Mas a resposta é não. – Zechs falou quase aos berros e se voltando para outros anjos deixou a moça falando sozinha. O que Heero e Wufei agradeceram, afinal puderam se aproximar dela.
-Relena. – Heero a chamou com certo cuidado, sabia que a moça não admitia muito bem sua presença.
-Heero? – Relena lhe sorriu.
-Ah... Olá. – Yui piscou sem entender. Wufei o seguiu, afinal ambos acreditavam que a moça os arremessaria daquela torre com apenas um grito, porém ela estava ali sorrindo de forma quase doce.
-Quanto tempo. – A moça completou. –Soube que foi para a Terra e passou três anos lá...
-Heero, irmão. –Wufei o puxou de lado. –Ela não te odiava? –ele perguntou baixo entre os dentes.
-Ahhh... –Heero sorriu sem jeito fazendo um aceno para Relena que o olhava insistentemente enquanto ele sussurrava com o irmão. –Eu achava que sim... Mas você sabe como são as mulheres, e, mais sendo um anjo... – Yui explicou.
-Aproveite. –O mais velho o empurrou para mais junto na moça.
-Ahhh? Que? –Heero o olhou como se não estivesse acreditando.
-Vamos, você pode convencê-la a ajudar Duo. –Wufei sorriu.
De todas as criaturas no mundo não havia ninguém mais repugnante que Relena, mas a idéia de vê-la se interessar em ajudá-los a localizar o aproveitador de seu frágil irmão valia apena.
-Duo, Duo. O que eu não faço por você? – Ele se penitenciou se aproximando da moça.
A única vontade de Yui era realmente sair daquele lugar o quanto antes, sair de perto daquela garota insuportável, mas a única razão no mundo que o fazia ficar plantado como um imenso idiota era o fato de que aquela Relena podia o ajudar a localizar aquele maldito anjo que havia feito tanto mal a seu pequeno irmão.
Wufei se sentou numa escadaria sozinho enquanto via seu irmão praticamente esmagar uma maçaneta de um aporta onde estava encostado ao falar com Relena. Pela expressão de Heero a conversa não era muito agradável.
Quando Heero se reaproximou de Wufei não disse uma palavra. Com algum tempo ele finalmente informou que deviam esperar ali até a noite chegar para poder falar com o irmão dela, o anjo loiro que estava cercado de outros anjos tentando organizar a confusão. A expressão de Yui evitou que o irmão lhe fizesse perguntas.
Assim deixaram a noite cair. Mantiveram-se sentados no chão frio de mármore enquanto o salão se esvaziava. Já era noite feita quando o último anjo nervoso deixou o salão.
O anjo loiro se apoiou no mármore do balcão. Estava cansando e sua cabeça rodopiava. Queria dar descanso a sua alma, a sua mente, e talvez a seu corpo. Zechs caminhou lentamente para a janela, tudo que queria era voar para seu quarto e dormir um pouco.
-Por favor, espere. – A voz grave e séria de Heero cortara o silêncio da sala vazia. Ele não era acostumado ao pedido, mas a situação exigia cautela.
Zechs se virou encarando os dois rapazes. Há quanto tempo estariam ali ele não sabia, porem pareciam cansados e ansiosos.
-Olhem. O horário de expediente já acabou. Eu sinto muito, mas vão ter que voltar amanhã. –o arcanjo lhe deu as costas de forma desinteressada.
-Nosso caso é urgente! –Heero se aproximou.
-Sinto muito, todos vocês tem urgência. –O loiro não lhe deu importância.
-Não pode fazer isso. Viemos de muito longe. –o demônio de cabelos rebeldes insistia.
-Escute, garoto. Lido com tipos como vocês durante o dia todo. Chegam na última hora e querem ser atendidos. –a paciência de Zechs estava se esgotando. Ele já havia pedido que os rapazes voltassem no dia seguinte, mas o mais jovem deles parecia ser bem mais persistente que qualquer outro necessitado que já lhe aparecera por ali.
-Mas... –
-Estou cansado. –Zechs o cortou definitivamente com impaciência.
-Não se importa com os problemas dos outros? Não me soa como um anjo. – Wufei finalmente se envolveu na conversa. Ele estava furioso, afinal tinham cruzado uma longa distância e o mínimo que mereciam era encontrar alguém que os ouvisse.
-Eu não sou um anjo. Sou um arcanjo de ordem maior. E estou cansado. Trabalho duro para resolver esses problemas. Agora saiam. –a voz de Zechs se alterou nitidamente.
-Não vou sair. Vim aqui pedir ajuda e não movo minhas asas até alguém me ouvir. – Heero tomou uma postura arrogante o encarando com bravura.
-Maldição. Vocês anjos tem que aprender a ouvir a palavra não...
Heero estava farto. Ele e seu irmão haviam passado por muito sacrifício. Não fazia seu estilo, mas gritaria se fosse preciso. Berraria louco até que aquele anjo maldito que desgraçou sue irmão aparecesse.
Ele fechou seus olhos fazendo imensas asas negras brotarem de suas costas.
Zechs apenas o olhou surpreso ao ver as asas negras do rapaz arrastarem ao chão. Era belo, porém, era um demônio? Um demônio na torre?
-Não sou um anjo, sou um demônio. E demônios não estão acostumados a ouvir não como resposta. –ele sorriu frio se aproximando. Seus olhos tinham uma cor forte de azul cobalto. Ele agora parecia outro, bem diferente do que até há pouco tempo pedia por atenção. Agora seus passos firmes exigiam atenção.
Zechs engoliu as palavras. Aquele demônio o estava amedrontando?
-Eu quero ajuda. –Yui falou frio e lento o que o anjo apenas consentiu com um menear de cabeça. –Eu tenho um irmão muito jovem, é apenas uma criança inocente. Mas é belo, talvez o ser mais belo de todos os mundos, eu não estaria sendo exagerado. – Heero prosseguiu.
-O que há com esse seu irmão? –o loiro falou vencido. Talvez fizesse sentido ouvir aquele demônio, afinal tinha que ser alguma coisa realmente grave para um demônio se abalar do inferno, pôr os pés na terra sagrada do Éden.
-Ele foi estuprado. –Wufei se antecipou. Ele sabia que Duo não havia sido em momento algum forçado a nada, mas na sua ótica de irmão mais velho e protetor até a morte, ele via Duo como a grande vítima da situação.
-E o que tem o Éden com isso? – O arcanjo os olhou sem entender.
-Cale a boca, Wufei. – Heero bufou. –Ele não foi estuprado. Fizeram mal a ele. –Agora Yui explicou a Zechs a situação.
-Deus. Vocês saíram do inferno, cruzaram meio Éden para me dizerem que seu jovem irmão manteve relações sexuais? Eu nada estou entendendo. eEra justo que os demônios lhe dissessem de uma vez por todas o que significava tudo aquilo. –Venham. –Finalmente vencido Zechs os chamou para uma sala à parte.
-Temos que achar o anjo que desvirginou nosso irmão mais novo. -Heero falou.
-Sei. Então, vamos por partes. Vocês são demônios e dizem que o irmão de vocês, um demônio, manteve relações sexuais com um anjo. –o loiro os encarou. –Acaso não são os irmãos Zebú? Aqueles que viviam a nos perturbar quando crianças? –o arcanjo não pode deixar de lembrar dos dois que fazia sua irmã Relena ter crises histéricas.
-Ahh... Claro. Você o irmão mais velho da Relena. Ao visto continua o mesmo arrogante de sempre. –Chang alfinetou. Nunca fora muito de seu agrado a presença de Zechs.
-Então você ainda se lembra? – Heero se surpreendeu. – Nós merecemos mesmo, Wufei. – O mais jovem cutucou o irmão, afinal, não era o momento de levantar antigas rixas.
-Como poderia esquecer? Relena ficou gritando no meu ouvido durante duas semanas por causa daquelas cegonhas que vocês roubaram. –Zechs sorriu relaxando mais e dando àquela conversa um tom menos denso.
Heero suspirou. Estava esgotado. Afinal aquela situação com seu irmão estava o arrasando, mas era bom saber que aquele arcanjo que lhe falava não era má pessoa, uma vez que sentia todo o clima tenso daquele momento e ainda assim tentava apaziguar tudo com aquelas lembranças de infância.
-Zechs. Ele ainda é só uma criança. Eu não digo que ele não tenha a parcela de culpa dele em tudo isso, mas mesmo assim. Eu acho um filho um fardo pesado demais para ele sozinho. E ainda mais ele sofrendo desse jeito, ele diz que ama o maldito anjo. – Yui falou abaixando a cabeça.
-Eu sinto muito... Mas... Esse demônio? O irmão de vocês... Ele está grávido?
-Duo é um hermafrodita. –Wufei explicou.
Alguma coisa pareceu fazer mais sentido naquela história. Zechs se levantou como quem perde fôlego. A cor lhe fugira das faces quando ele seguiu até a janela ampla dando as costas aos dois irmãos. Precisa de ar, de tempo... As idéias foram se assentando na sua cabeça.
Aqueles dois vinham em busca do anjo que tivera o irmão novo deles, o jovem tinha engravidado. Zechs jamais se esqueceria dele, do corpo dele, da beleza, da inocência. Era um hermafrodita o jovem demônio que ele havia tomado como seu no meio da grama do jardim do limbo.
É claro. Só podia ser ele, seu demônio quente. Zechs apoiou as mãos no vidro de uma das janelas, estava pálido.
-Zechs? Algum problema? – Wufei se dirigiu até ele.
-Acho que... Esse anjo que... Vocês... Procuram... Eu. – Ele olhou para o irmão mais velho de Duo. –Sou eu. – Anunciou. Fosse como fosse devia isso a eles.
Heero e wufei ficaram por um segundo sem reação.
Mas Heero foi o primeiro a retomar as atitudes.
-Você? O arcanjo perfeito do Éden? Você usou Duo? – Heero se levantou.
Talvez ele não estivesse agindo de forma correta, mas depois de tanto sofrimento com essa situação tudo o que ele queria era poder desabafar. Pôr para fora tudo que estava lhe embrulhando o estômago.
-Heero... Eu não sabia. Eu vou explicar tudo. – Zechs tentou ser convincente a ponto de explicar os motivos que o impediram de procurar aquele demônio.
-Seu maldito aproveitar. –Heero partiu para cima de Zechs. Ele nem mesmo tinha noção do que faria, apenas queria deixar seu corpo agir. Wufei entendia o irmão e seu desespero, porém ele era o mais velho e o mais sensato quando se tratava de Duo. Ele segurou o irmão mais novo o impedindo de avançar sobre o anjo.
-Não. Deixa, Wufei. Deixa! –Heero gritou. Era a primeira vez que Chang via Yui agir daquela forma. Na certa ele havia chegado ao estopim de suas emoções.
Os gritos de Heero foram altos. Havia dúzias de acusações sobre o arcanjo.
-Zechs! O que está acontecendo aqui? – Avidiel foi atraído pelos gritos.
-Heero... Eu posso te explicar. Não é nada disso que você está pensando. Eu amo o Duo também, apenas nos desencontramos... Eu juro. – Zechs se apressou em falar tentando sobrepor os gritos do demônio.
-Você me paga... Por fazê-lo chorar... – Yui gemeu perdendo a coincidência. Estava esgotado.
Avidiel o olhava acusadoramente par ao filho. Seus olhos urgentes exigiam uma resposta à presença de dois demônios da sala da torre.
(6x2-6x2-6x2)
Beijos,
Hina
