Entre o céu e o inferno


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No Éden o clima era tenso. A situação não podia ser mais caótica. Aquela história toda teria que ser muito bem explicada.

Heero havia tido uma crise nervosa por causa de Duo e agora estava dormindo em um dos quartos da Torre mestra. Agora estava Adiviel, Wufei e Zechs sentados à sala central para conversarem sobre os fatos.

Avidiel respirou fundo passando as mãos nos cabelos loiros os desarrumando. Estava tenso com tudo aquilo.

-Então Zechs. Um anjo com experiência secular decide se divertir por uma noite de forma carnal e teve para si um demônio. – o arcanjo olhou o filho com reprovação. – E não atentou se esse demônio era de família, ou não? – suspirou.

-Pai...

-Zechs. Não sei se entende a gravidade da situação. Mas o que está me dizendo é que retirou a virgindade de um demônio hermafrodita, filho caçula da mais influente família de demônios do inferno, e ainda engravidou esse jovem que se diz apaixonado por você. – ele não podia acreditar que um anjo como Zechs podia ter feito tal coisa. – Como pode fazer isso a uma quase criança?

-Senhor. Entendo que Duo teve sua culpa, Zechs não o obrigou a nada. Mas e agora como fica? – Wufei encarou o pai do anjo. Seus olhos escuros tinham um brilho sério. Ele cruzou os braços sobre o peito esperando uma resposta.

-Ahh... Entendo. O rapaz não vai ficar desamparado. – Avidiel considerou.

-Se a barriga de Duo começar a crescer e nada for feito, papai vai tomar as providências dele, que serão péssimas. Duo não vai ser poupado. – Wufei avisou.

-Sei como é difícil a posição de seu irmão nisso tudo. De todos ele é o menos culpado. – os olhos de Adiviel desviaram para o filho com severidade. – Zechs terá a hombridade de reparar tal mal causado. – ele afirmou.

-Reparar? – Zechs estreitou os olhos. O que seu pai queria dizer com reparar? – Nada do que façamos vai mudar... – ele falou.

-Você é louco ou bobo? Você não ouviu? O garoto está grávido e diz que ama você. – o pai lhe recriminou.

-Mas... Eu não sei onde quer chegar. – claro que sabia exatamente aonde todos ali queriam chegar. Afinal fora isso que Wufei e Heero vieram fazer ali. Cobrar uma reparação.

-Quando possuiu esse garoto, sabia que ele era virgem. – Avidiel falou baixo. – O engravidou e o deixou com esperanças de alguma coisa, afinal o próprio irmão disse que o menino o ama. – ele concluiu. – Você vai reparar esse mal. O jovem não vai ficar sem amparo. Esse filho vai ter pai e nome. – Avidiel informou.

-Mas... Zechs. Quer isso? – Wufei o interpelou. – Duo o ama. Jamais vai aceitá-lo por causa do filho. Então. Se não quiser nada com ele... – Chang sustentou seu olhar. Não estava ali mendigando alguma coisa estava cobrando a honra de seu irmão.

-Eu... Quero. Avise seu pai que o anjo que tomou o filho dele tem nome e sobrenome, e que esse bebê que Duo espera vai levar meu nome e meu sobrenome. – o loiro falou seguro.

As coisas não caminharam como Zechs queria, porém era o mais sensato a fazer. Reparar aquele mal entendido e impedir um mal estar maior entre as partes era a melhor solução.

Findada aquela conversa, Wufei foi dividir o quarto com Heero. Afinal ele também estava muito cansado. Na manhã seguinte eles retornariam para o inferno levando aquela boa nova.

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Avidiel subiu ao ponto mais alto da torre naquela noite. Precisava ficar mais perto de Deus.

Hoje descobrira que seu filho não era o posso de segurança que sempre imaginara, era ainda jovem e inconseqüente como todo os jovens eram. Outra coisa que muito lhe feria, era a idéia de saber que seu filho havia possuído um demônio virgem e principalmente que esse demônio era o filho mais novo de seu ex-noivo e isso lhe traziam lembranças ruins. Ele sabia que não tivera culpa de se apaixonar por uma humana quando estava na terra, apenas havia acontecido e contra as verdades do amor nada se pode fazer. Mas sabia que havia feito muito mal a Zebu, havia o ferido para sempre.

-Não quero repetir o erro de vê-lo chorar mais uma vez, Zebu. – ele gemeu para si.

-Achei você não ficava triste. – Treize se sentou ao seu lado.

-Acho que todos temos uns rompantes humanos de vez em quando. – ele confessou.

-Sei... – o amigo respeitou seu momento, mantendo-se fiel ao seu lado sem nada dizer.

Ficaram em silêncio banhados no escuro da noite. Avidiel não queria aquele casamento. Na verdade tudo que menos desejava era uma aproximação entre as duas famílias, porém não podia admitir que o pobre garoto ficasse sozinho numa situação daquelas. Mas talvez se Zechs não tivesse a obrigação de casar, se ao menos essa criança não existisse, mas existia. Zechs e Duo haviam a feito existir e agora teriam que assumir seus atos.

O tempo que se passava tanto no céu quanto no inferno, não era contabilizado.
Assim Wufei e Heero voltaram para casa e informaram ao pai que dentre em breve o anjo que tocou Duo viria a sua casa para lhe tomar a mão do jovem.

Zebu não pode deixar de ficar triste com tudo isso. De fato, nem ele e nem Heeriana haviam sonhado com tal futuro para o jovem filho, porém atualmente nada podiam fazer. Seria uma opção matar o anjo e fazer Duo abortar aquele bebê, mas uma vez que o próprio Duo se dizia apaixonado pelo anjo e mais apaixonado ainda pelo filho dentro de si não era justo fazer tal maldade. Assim apenas tiveram que esperar pelo dia que Zechs veio ao inferno pedir a mão do jovem.

Foi bem simples e rápido. A visita foi programada para uma noite de lua cheia. Zechs veio com o pai até as construções rudimentares dos demônios. O loiro não pode deixar de reparar no contraste imenso que havia de uma realidade para outra. Era até de surpreender que Duo tivesse saído de um lugar como aquele.

Pai e filho estavam na sala quando a família Zebu veio a seu encontro. Wufei e Heero à frente, Zebu e Heeriana, e em seguida, atrás de todos, com um semblante triste vinha Duo.

Zechs viu seu mundo se alegrar, como se Duo tivesse acendido um facho de luz intensa. Era como se a chegada do jovem àquela sala tivesse a capacidade de colorir um mundo que antes era cinza. Zechs sorriu sentindo seu coração pular dentro do peito.

Ele não se refreou. Sorrindo passou por todos os familiares e abraçou Duo.

Não trocaram palavras. Apenas aquele abraço, por instantes demorados, sem se incomodarem com seu pais e irmãos que os observavam.

-Perdão. – Zechs falou baixinho ao ouvido do demônio.

-Achei que não vinha. Eu sei que não me prometeu nada, mas meu coração estúpido não pode deixar de se enganar. – Duo respondeu se sentindo miserável por ter se apaixonado.

-Naquela noite eu não queria que passasse daquilo, mas no dia seguinte toda minha alma e meu corpo exigiam você, mas eu tive tantos problemas. Fiquei tão envolvido em meus trabalhos que não pude vir... – Zechs falava baixo enquanto mantinha Duo em seu abraço.

-Eu sei. Wufei me falou. Você teve que ajudar outro anjo. – Duo havia sido esclarecido dos motivos de Zechs em não vir atrás dele antes. –E ainda mais que nem sabíamos aonde começar a procurar um pelo outro.

-Eu sei. No dia seguinte fiquei tão louco comigo, eu não sabia seu nome, não sabia como te ver de novo. Fiquei muito impressionado quando soube pelos seus irmãos que você se tratava do filho mais jovem dos Zebu. – Zechs sorriu.

-Eu também não esperava que você fosse um arcanjo tão poderoso no Éden. – Duo também sorriu.

-Eu não sabia se como um anjo, eu podia dizer isso, mas hoje eu sei o que meu coração sente. – Zechs se separou do jovem o olhando nos olhos. – Eu amo você. – Ele falou sorrindo com extrema verdade.

Duo ficou paralisado. Ele sabia que anjos não manifestavam aquele tipo de sentimentos.

-Senhor e senhora, Zebu. – se virando para os pais do demônio Zechs fez as mesuras de praxe. Já sabem os motivos que me levaram a não procurar seu filho antes. Mas lhes devo um pedido de desculpa. Afinal esses motivos foram agravados por minhas dúvidas e inseguranças, porém hoje sei que não posso viver sem seu filho.

-Tem certeza, anjo? Tem certeza que pode fazer Duo feliz? – Zebu o encarou.

-Eu o amo. Com toda minha força. – Zechs falou.

-Hum... Cuidado. A sua tarefa não vai ser fácil. Terá que enfrentar o preconceito de demônios e anjos e ainda vai ter a responsabilidade de cuidar da minha maior relíquia. Duo é o maior tesouro do inferno. – Zebu falou. –Ele é a estrela prometida que veio para mudar as coisas... – Ele completou dando vazão à crença.

Zechs nada falou, mas sabia quanto aquele garoto demônio era especial. Sabia que seria para Duo um amante, um amigo fiel e um escudeiro. Não seria fácil, mas o faria em nome do sentimento forte que se via sentindo pelo lindo hermafrodita. Quanto às lendas Zechs achava que parte era crendice, e não pensava muito sobre isso desde que o conselho pediu que esquecessem o assunto. Ele hoje sabia que Duo era aquela criança demônio, que alarmou meio Éden no nascimento, porém todos achavam um alarme falso, uma vez que o conselho havia dito para esquecer, pois o bebê era apenas mais um bebê demônio.

Por hora estava mais interessado em Duo. Em ficar com ele. Beijá-lo e acariciá-lo. Ouvi-lo falar sobre o bebê e sobre o futuro. Assim, uma vez que tudo estava acertado, eles se afastaram caminhando pela terra seca do inferno.

-Quero falar com você. Definitivamente. – Avidiel encarou Zebu.

-Pois diga. – Beel abraçou com força a esposa dando a entender que fosse lá o que dissesse seria na presença dela, uma vez que não havia segredo entre eles. Nada constrangido Avidiel apenas pediu desculpas por todos os males que causara na vida do ex-noivo.

-Não se desculpe. Se não fosse por você eu não tinha essa família linda que tenho. – Beel sorriu, havia ainda mágoa, mas não rancor. Havia apenas uma réstia de dor.

-Eu sei. Por isso estou engolindo essa história de nossos filhos juntos, uma vez que melhor que ninguém eu seu que o superior acerta por caminhos tortos. – o arcanjo o encarou. Ele não escondia que se fosse preciso teria obrigado Zechs a assumir Duo, mas ainda assim, não gostava da idéia de ter Zebu como seu parente.

-Eles se amam, vi nos olhos deles. Tem que dá certo. – a mulher falou confiante.

-Anjos não amam. – Beel olhou para o loiro a sua frente, era como uma acusação.

-Tolice. Deus nos ensina que o amor é maior que tudo. – Heeriana sorriu.

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Selado o trato de honra entre o céu e o inferno Zechs passou a levar sua vida de forma normal e Duo a dele. Com a diferença que todo entardecer eles se encontravam e conversavam sobre tudo que desse na cabeça. Ambos aos poucos foram entendendo que um formava a outra parte que completava o outro. Combinavam-se e se amavam. Antes de amantes, descobriram que eram amigos e companheiros inseparáveis.

A barriga de Duo crescia lentamente respeitando o tempo lento e natural de uma gestação como aquela. O jovem sentia-se esgotado pelo bebê que lhe exigia quase todas as forças, porém Duo era mesmo um demônio fantástico. Ele tinha uma força que pareceria nunca se esgotar e assim ele seguia sustentando aquela gravidez de forma perfeita.

Mas nem tudo eram flores. Em meio àquele quase conto de fadas veio um golpe que abalou tanto Duo quanto Zechs. Quando o fato de se amarem se tornou público tanto o inferno como o céu lhes dera as costas.

Os anjos amaldiçoavam aquela união, assim como os demônios rogavam as mais baixas pragas.

A situação chegou ao conselho supremo, que reunido em assembléia decidira por deixar as coisas seguirem, afinal Deus agiria na hora certa. Mas isso estava deixando Duo bem chateado. Sua família continuava o amando como sempre, porém os demais, os muitos amigos que tinha no Inferno o tratava com uma espécie de nojo ou asco, assim os anjos faziam com ele também, acreditando que não era bom o suficiente para casar com um deles.

Zechs ministrava melhor a situação, uma vez que era mais forte e mais severo. Mas ainda assim se sentia um tanto quanto injustiçado, porém devia esperar isso deles, uma vez que os anjos não gostavam de sentimentos humanos. Para eles demonstrar esses sentimentos os tornavam quase humanos. Uma regressão.

Hoje Zechs achava que eles eram uns tolos. O amor era a única coisa capaz tornar um ser algo melhor.

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Nesse entardecer como em quase todos os amantes passavam juntos. Agora eles tinham uma autorização especial para transitarem livremente entre os dois mundos, assim tanto Duo vinha ao Éden ou Zechs ia ao inferno sem os problemas temperamentais da ponte.

Hoje estavam em um dos muitos jardins do Éden. Duo encostado ao peito do loiro que acariciava sua tímida barriga. Não havia um tempo de gestação, apenas Duo saberia quando chegasse a hora, e essa ainda estava longe, ao menos ele sentia assim. Era aquele momento gostoso de curtir. Uma gravidez ao lado do homem amado, fazer planos para o futuro, sonhar nos braços quentes e confortáveis do amante. Era melhor que o sonho de felicidade mais ousado de Duo.

-Você está preocupado. – Duo comentou.

-Trowa. Aquele anjo que lhe falei... – o loiro respondeu.

-O que tem ele?

-É aquele da história dolorosa, da paixão pelo humano. – Zechs falou.

-Sei. Ele sofre com isso. Mas você mesmo é prova que esse amor pode dar certo. Seu pai e sua mãe. – Duo sorriu se voltando para olhar os olhos do loiro.

-Mas, não foi fácil para nenhum dos dois. Mamãe teve um destino doloso por causa desse amor.

Duo se entristeceu. A história de seu amado era um tanto quanto comovente. Seu pai havia vivido um amor proibido por uma humana, uma vez condenado esse amor, ele a esperou durante anos humanos... E depois anos seculares. Assim a alma dessa mulher um dia entrou no Éden e novamente eles viveram aquela paixão proibida quando humanos, assim consumaram um lindo amor carnal da qual a moça engravidou.

Foi um verdadeiro drama, em resumo a mãe de Zechs morrera lhe dando a vida. Sua alma se esvaira pelo universo se tornando parte de tudo que era vivo, assim como parte de Zechs também. Ela havia dado a sua energia ao filho o fazendo viver ao parto difícil.

-Eu sei que foi... – Duo sorriu fraco. –Mas e o Trowa? – ele perguntou.

-Vai cometer uma loucura em nome desse amor. Relena me disse que Quatre, o menino que ele ama, e que estava no inferno, lá no vale dos suicidas vai voltar a Terra para uma segunda chance. E Trowa pediu para cair. – Zechs informou.

-Cair? – Duo o olhou com susto.

-Ele está decido. Quer cair para encontrar com Quatre na Terra. – Zechs informou.

-Que lindo. O admiro pela coragem. Deve ser um amor muito forte, afinal Trowa nunca mais voltará a ser anjo. E mais ainda pode nunca encontrar com ele na Terra. – Duo ponderou. Era extremamente arriscado o plano de anjo Trowa.

-Ele está abdicando desse direito para ser um humano, um simples humano. – o loiro comentou chateado.

-Um humano apaixonado. Lembre-se. O amor é o mais fiel dos escudos. – Duo o beijou.

-Ele vai ao vale dos suicidas amanhã tentar ver o menino antes de ele encarnar. Vai tentar combinar alguma coisa para se cruzarem na Terra. Mas, acho que não vai conseguir. Ninguém consegue achar ninguém naquele lugar, mas já tentei persuadi-lo do contrário. – Zechs falou.

Duo o beijou calorosamente numa doce investida fazendo que suas línguas se tocassem daquela forma gostosa que sabiam fazer. O jovem dava mostra que já haviam perdido tempo demais falando sobre outros amores.

Eles se beijaram derramando seus corpos sobre a grama macia, mas Duo não havia deixado de pensar no caso de Trowa. Ele era mesmo assim, havia dentro de si uma necessidade de ajudar os outros. Faria alguma coisa por aquele amor proibido se tivesse ao seu alcance.

Quando ele e Zechs se deitaram na grama deixando a tarde passar os pensamentos do demônio vagaram para o caso de Trowa e se o anjo ia ao vale dos suicidas n dia seguinte Duo o ia ajudar.


Beijinhos,

Hina