Entre o céu e o Inferno
Trowa caminhou triste pelo Éden. Gostava daquele lugar. Afinal havia se acostumado a chamar aquilo de seu lar. Hoje, enquanto caminhava em silêncio, um filme ia passando diante de seus olhos.
As lembranças boas e ruins que havia tido ali. Os muitos amigos, outro tanto de companheiros de jornada, irmãos na luta pela evolução. Mas agora parecia que tudo se findaria. Tudo estava finalizado por um sonho de amor. Mas Trowa tinha que saber. Ele tinha que jogar sua condição de anjo pela janela e tentar viver seu amor humano.
Ele deu uma última olhada no Éden. Aquele anjo tinha uma autorizarão de Avidiel para voar até o inferno, uma vez que estava preste a cair e já não era mais regido pelas leis dos anjos. Ele sabia aonde ia. Seu destino era outro senão o vale dos suicidas, um lugar tenebroso e temido até pelos demônios. Mas Quatre estava lá, em algum lugar Trowa tinha que vê-lo.
Assim ele voou na direção do inferno.
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No inferno havia uma novidade. Chang Wufei era o mais velho dos três filhos de Beel Zebu e era chegada uma hora importante. O Éden necessitara de alguns agentes infiltrados na Terra, ainda era tudo segredo, porém era necessária a ida de alguns anjos para esperarem entre os humanos por um momento de grande tribulação. E a surpresa era essa. O conselho supremo reunido pediu ao inferno que mandasse um demônio nesse grupo. Mas não um demônio normal. Um que fosse capaz de estudar antes de agir. Um que tivesse nos olhos a cética sede de justiça.
Beel cogitara enviar Heero, uma vez que o modo destemido do jovem filho era propício àquela missão e outra que Heero já havia estado alguns anos na Terra. Porém o filho do meio se recusara.
-Eu não vou. – Yui falou fechando um livro. Estava sério e frio como sempre.
-Como assim? – Beel o olhou.
-Eu não quero ir...
-Mas... – O demônio maior teve em seus olhos um brilho vermelho e intenso, ele sempre se surpreendia como Heero tinha o ímpeto de desafiá-lo.
-Eu tenho um compromisso com Duo ainda aqui no inferno. Estou preso aqui por ele. E até que esteja livre necessito esperar, aqui. – Yui o olhou saindo da sala. A conversa estava encerrada com o pai.
-Querido. Você deve saber que todos temos nossos destinos. Respeite o do Heero. Se ele tem algo para com Duo ele deve ficar. – Heeriana se aproximara delicadamente.
-Eu vou mandar Wufei... – Beel falou pensativo.
-Tem certeza? – a esposa o olhou triste. – Ele vai sofrer muito lá. – coisas de mãe, ela sempre tentava defender seus filhotes.
-O que sei que os humanos vão enfrentar quando se der o tempo da tribulação vai ser difícil demais. Tenho certeza que Chang vai ser útil nessa missão. – ele falou sério.
Assim foi decido que Wufei ia para Terra. O próprio demônio não quisera despedidas, não gostava de grandes demonstrações de afeto. Porém olhou com carinho a mãe que lhe pediu que fosse forte, o pai lhe apertou a mão com força, e Heero apenas lhe deu um olhar considerável. Duo o abraçou chorando.
-Duo. – Chang sabia que era típico dele. – Menino bobo. – Wufei temia pelo irmão, se um dia ele se visse obrigado a ir a Terra numa missão semelhante, ele sofreria muito antes de começar a agir de forma mais dura e fria. Ele era emotivo demais...
-Espero te ver em breve. – Duo o beijou no rosto.
-Fique bem. Cuide desse pequeno e seja feliz. – Wufei sorriu fraco.
-Nos reencontraremos bem antes do que você pensa, Duo. – Chang sorriu para si como se soubesse de algo. Com esse pensamento ele voou para o Éden, de onde partiria para a Terra.
Os Zebus ficaram em silêncio. Havia temporariamente perdido um membro daquela família.
-Nós temos os filhos para o mundo. Nosso mais velho pode não voltar tão cedo. Pode ficar engajado nessa tarefa de defesa humana por muito tempo – Heeriana comentou triste, porém no fundo tinha uma ponta de orgulho daquele filho.
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No dia seguinte à partida de Wufei a família Zebu estava conformada, afinal o demônio era motivo de grande orgulho para todos no inferno.
Duo saiu cedo, na verdade sumira voando pelo sempre escuro reino, sem que nem mesmo Heero pudesse lhe acompanhar. Ele ia para o local onde Zechs lhe informou que estaria Quatre, o amado humano de Trowa. E Duo sentia que precisava ajudá-los.
O jovem demônio cruzava com suas asas os horizontes conturbados, enfrentava as torrentes de vento. Ele tinha pressa, afinal sabia que o amigo de Zechs ia se dirigir ao vale dos suicidas, uma vez que esse anjo havia mantido uma forte história de amor com um humano que se encontrava perdido pelo vale. Duo sabia o quão difícil era encontrar uma alma naquele labirinto de dor, que era o vale. Ele tinha que fazer alguma coisa para ajudar.
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Trowa estava exausto como se seu corpo tivesse ganhado o peso de uma tonelada. Ele finalmente aterrissou naquele reino escuro, sentindo seus pés afundarem numa terra fofa e morna.
-Então é para esse lugar que você foi trazido? É tão horrível. – ele comentou triste, lembrando de que em vida seu Quatre era o ser mais feliz e puro que existia. Aquele lugar não era para ele.
A atmosfera no vale dos suicidas era estranhamente densa. O chão parecia mais fofo e quente que em qualquer outro lugar. A sensação ali era que o corpo, ou mesmo a alma parecia pesar a cada passo que se dava. Havia um cheiro forte que confundia Trowa, como se minasse suas forças. Era um odor confuso que parecia atuar diretamente na áurea do anjo, talvez fosse alguma coisa como o éter dos humanos, mas Trowa não teria certeza, sabia apenas que estava ficando fraco e tonto, mas tinha que encontrar seu amado. Ele passou a caminhar cambaleante e sem destino.
Conforme Trowa caminhava naquele lugar ele sentia que tudo que era, a energia que tinha, as boas lembranças que trazia, tudo que o formava ia se tornando menos importante, como se tornando apenas uma sombra.
Mas ele não podia desistir. Caminhava cada vez mais lento, mais pesado a ponto de se arrastar pelas ruelas escuras e vazias.
Quando sua boca já estava seca e suas pernas pareciam retalhos de panos ele chegou a uma espécie de movimentada vila. Havia muitas pessoas caminhando ermo. O anjo as abordava perguntando por Quatre, um rapaz loiro, mas ninguém parecia lhe dar ouvidos, o mais impressionante era a expressão vidrada daquelas pessoas, pareciam assustadas demais, outras pareciam apenas presas em um mundo particular de dor e angústia. Algumas pareciam resmungar coisas sem nexos, amaldiçoando a si próprias.
Trowa estava enlouquecendo ali. Mais adiante havia pessoas ao chão, na certa estavam tão esgotadas quanto ele que haviam sucumbido. Outras pareciam sofrer e gemer.
O anjo parou em meio a uma ruela rodopiando de modo desesperado, o lugar estava minando sua sensatez, olhando num canto havia pessoas encolhidas chorando, outras pareciam padecer em frio e fome.
-Deus... Isso precisa parar. – ele resmungou.
Seguiu se arrastando, havia casas velhas, uma mulher muito magra esmurrava uma porta fechada chorando desesperadamente.
-Mãe, deixe-me entrar! Eu quero voltar! – a mulher gritava socando a porta. Ela parecia ter gastado muito tempo naquela mesma atitude e parecia que ainda teria a eternidade naquele sofrimento.
O anjo estava enjoado demais. Havia naquele lugar um cheiro forte. Às vezes putrefato, às vezes enxofre, às vezes éter... – O certo que era enjoativo. Os olhos pareciam arder.
Estaria perdido. Sua cabeça rodopiava, queria muito fugir dali. Apenas isso. Era como se o peso das dores e angústia, as lamúrias do mundo, as frustrações pudessem a cada momento lhe esmagar. Trowa se viu cair por terra, estava sentindo suas forças serem tragadas.
-Ei. Trowa. – uma voz aveludada o chamou.
-Duo? – Trowa focalizou o jovem demônio lhe sorrindo.
-Vem por aqui. – o demônio lhe chamou com a mão.
-Não é nenhuma ilusão, é? – o anjo gemeu se arrastando como pode à direção do belo demônio.
-Eu não acreditei quando Zechs me disse que você havia pedido para cair. Ficou louco? - Duo o recriminou.
-Eu o amo. Eu tinha que vir atrás dele, e a única forma de ser liberado era se pedisse para cair. – Trowa respondeu. Estava zonzo. –Foi um ato desesperado. Eu acho que depois de experimentar esse toque humano do amor, eu não posso mais viver como um anjo. – ele completou.
-Eu entendo. – Duo se entristeceu. Sabia da história. – Vamos. Esse lugar não é bom para um anjo. Duo falou o pegando pela mão. – E nem para mim. Se alguém se meter com agente não terei forças para nos defender. – o demônio informou baixo enquanto andavam o mais rápido que podiam. Ao caminhar sua barriga pareceu pesar num desconforto. O bebê estava tenso, se movendo mais que o normal.
Trowa apenas se deixou ser levado pelo namorado de Zechs. Ele agradecia a Deus por ter enviado aquela ajuda. Afinal quando Duo lhe segurou na mão ele sentiu como se o peso que oprimia sua alma se aliviasse. Aos poucos ele foi notando que estava melhorando.
Já haviam andado bastante quando Duo parou. O demônio parecia muito cansado.
-Você está bem? – Trowa via que não.
-Vou ficar bem. – Duo gemeu. – Até pra mim é penoso caminhar nesse lugar. Principalmente agora com o bebê, ele acaba consumindo muito da minha energia para se proteger...
-E ainda mais você me aqueceu e reanimou com sua energia. Imagino que esteja mesmo fraco. – Trowa não tinha como agradecer.
-Não seja bobo. Você estava precisando de ajuda. – Duo sorriu.
-Como soube que eu estava aqui? – Trowa olhou para Duo. Como era belo e de fato estar junto dele era confortante, o jovem demônio passava uma energia quente, tão mais vigorosa quanto a dos arcanjos de ordem superior.
-Zechs me disse o que aconteceu. Eu achei que você ia precisar de ajuda. Quando me aproximei senti sua agonia, você pediu a Deus por ajuda, por isso me apressei. – o demônio falou.
-Eu entendo porque Zechs te ama tanto. Você é muito especial. – Trowa sorriu tocando o rosto de Duo. Talvez aquele amor entre o arcanjo e o demônio fosse algo proibido pelos reinos, mas ainda assim Zechs tinha muita sorte, afinal Duo era sem dúvida um ser fantástico.
-Deixe disso. – Duo ficou sério. – Trowa. Você tem que voltar. Ele não está mais aqui.
Trowa arregalou os olhos. Como? Disseram-lhe no Éden que dificilmente alguém saia do vale, onde estava seu amado?
-O que sabe? Onde ele está? – o anjo tinha que ter aquelas respostas.
-Eu não devia falar... Mas... Ele não está mais aqui. Durante muito tempo Quatre sofreu se arrastando como essas pobres almas. – Duo falou com seus olhos úmidos. O sofrimento daquelas almas tinha um poder devastador sobre si, por dentro ele estava se partindo por sentir aquela dor angustiante daquele lugar. – Mas, por tudo que vocês significaram um para o outro. Por todo o amor que ele trouxe para cá quando veio... – Duo tentava explicar.
-Duo. Onde ele está? – mas Trowa o cortou. Seus olhos estavam aflitos.
-Calma. Ele está bem. O amor que ele trouxe com ele o protegeu. Ele vai reencarnar, Trowa. Uma nova chance. – Duo falou sorrindo.
-Deus. – Trowa se emocionou.
-Sim... Ele vai voltar. Você infelizmente não vai poder vê-lo...
Não precisava vê-lo. Duo havia lhe dado a melhor notícia que podia. Seu Quatre havia conseguido, ele chorou.
Emocionado Duo se abraçou ao anjo e ambos choraram. Era um choro feliz, apesar de tudo. Apesar do atraso, Quatre ia voltar. E era lindo ver que embora ele tivesse se perdido no meio do caminho ele estava querendo recomeçar.
-A decisão de querer uma nova chance, a vontade de querer retomar o caminho da evolução é algo fantástico. Quatre depois de sofrer e vagar entre a Terra e o Inferno, conseguiu na força daquele amor que sentia por você ter essa gana e tentar novamente. – Duo falou agora que eles caminhavam lentamente para a saída do vale dos suicidas.
-Ele sempre foi divinamente forte. Ele é impressionante. – os olhos do anjo brilhavam.
-Quando você fala dele, seus olhos brilham. Pode ser um comportamento repreensível para os anjos, mas ainda assim é lindo. – Duo comentou. – Zechs enquanto um arcanjo jamais vai poder demonstrar isso por mim, embora eu saiba que ele me ama muito. – o demônio completou acariciando sua barriga que guardava o fruto daquele amor proibido.
-Por isso, Duo. Eu tive que pedir para cair. Eu jamais vou conseguir ser um anjo, eu não quero mais ser um anjo, não depois de sentir a intensidade dos sentimentos humanos. Lá na Terra, quando você ama de verdade, é algo muito intenso. É como se toda a sua existência se resumisse a isso.
-Nossa... Os anjos jamais permitem isso.
-Duo. A coisa mais importante que existe é o amor. Ele é a única coisa que pode evoluir as pessoas...
-E existem várias formas de amar... Você sabe que se for para Terra, talvez Quatre tenha outra pessoa. – Duo o olhou. – Uma outra vida, que talvez não inclua você. – o belo demônio completou.
-Eu sei. Mas como você disse. Existem outras formas de amar. E eu o amo de todas as formas possíveis. – O anjo encerrou a conversa. Ele sabia que ele e Quatre seriam sempre um do outro. Era um amor tão puro que não os limitava. Ele sabia que no coração de Quatre haveria sempre um lugar para si.
-Certo. – Duo se calou. Estavam quase chegando ao fim do vale. Mas ele estava exaurido. O vale dos suicidas era um local inapropriado para muitos seres, e até mesmo sendo Duo um demônio forte como era, o vale lhe afetava. Seu bebê estava revolto e incômodo dentro de seu ventre. O feto podia sentir a agonia do local e para se defender estava consumindo a energia da mãe.
-Duo? – Trowa o olhou e foi rápido o suficiente para ampará-lo antes que fosse ao chão.
Duo desmaiara. Estava tão pálido e fraco.
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No Éden Zechs estava envolto numa nuvem de anjos transtornados que exigiam as mais urgentes causas e soluções. Era um dia normal por ali.
O falatório angelical cessou assim que Avidiel apareceu no salão. Ele quase nunca vinha ali, porém sua presença era sinônimo de extremo respeito.
Zechs encarou o pai. O que estava havendo afinal?
Avidiel se moveu delicadamente se aproximando do filho e dos demais anjos. Fechando os olhos ele manteve-se quieto por um momento e quando finalmente os abriu todos os anjos pareceriam satisfeitos com a solução de seus problemas. Apenas com um piscar de olhos o pai de Zechs havia entendido todas as exigências dos anjos e suprido-as. Assim a sala se esvaziou. Deixando pai e filho sozinhos.
-Porque? Porque fez isso? – Zechs se dirigiu ao pai. Sabia que Avidiel podia resolver metade daquelas questões tolas com um piscar de olhos, mas ele quase nunca o fazia dizendo que até mesmo os anjos necessitavam de esforços para realizarem suas tarefas básicas.
-Eu precisava de você livre de seus afazeres ao menos por um minuto. – o anjo mais velho falou.
-O que foi?
-É estranho um arcanjo como você ter engravidado um demônio. Mas erros acontecessem nas melhores famílias. Eu acho que nosso conselho vai ter que aceitar isso, afinal o erro já está feito mesmo. –Avidiel falou.
-Onde quer chegar? – Zechs não entendia.
-Que você cometeu um grave erro fazendo sexo com um demônio, como se fosse um humano sem juízo, e que está errando de novo se pensa que é só isso. Fazer um filho numa situação impensada e depois deixar de lado.
-Eu ainda não estou entendendo. – o anjo mais jovem estava ficando nervoso com a conversa. – Eu não deixei de lado. Já não está certo que vamos nos casar?
-Sim e isso resolve tudo? Você não pensa que uma criança demônio, sim porque o seu noivo é ainda um garoto e já está grávido. Isso é difícil e doloroso. Um bebê como esse, pode tirar toda a energia do seu noivo. Pode ter algum tipo de rejeição, afinal é um anjo dentro de um demônio.
-Deus, pai. O que quer que eu faça. – Ele estava confuso. Talvez estivesse fugindo das respostas que ele próprio já tinha.
-Olhe. Seu noivo está aqui no Éden. No meu quarto porque desmaiou enquanto passeava no vale dos suicidas com seu amigo Trowa. Agora eu me pergunto. O que seu noivo, grávido, fazia dando voltas no vale com um anjo que está preste a cair? – Ele olhou o filho de forma severa.
-Eu... – Zechs quis falar alguma coisa, mas não sabia o que. Ele não tinha palavras, afinal fora pego de surpresa.
-Eu lhe digo que o conselho está ciente do seu descuido em relação e esse filho e a família do seu noivo também. Já fui informado que a família dele está vindo aqui buscá-lo e cobrar de você um posicionamento mais cuidadoso em relação a ele e ao bebê. E o nosso conselho me questiona como você vai dar atenção a seu filho e futuro marido se você é completamente engajado com as causas do nosso reino? – Avidiel estava sério.
Como Zechs responderia aquilo? Ele não lembrava a última vez que teve uma folga dos trabalhos, às tardes fugira para os encontros com Duo, mas agora nem isso estava tendo tempo de fazer. Agora era como se finalmente percebesse que jamais teria uma vida normal ao lado do demônio.
-Não diga, nada. – Avidiel falou frio. –Vá ver o garoto, porque não vai poder ficar muito tempo ao lado dele, afinal você tem coisas a fazer.
Zechs não esperou duas vezes. Duo estava lá na cama enorme do pai envolvo nos lençóis brancos. Era ainda mais belo que um anjo. Em silêncio ele se ajoelhou junto do belo amante.
-Não sei o que fazer. Você me divide entre o que sinto e o que devo sentir. Eu não posso te assumir e viver minha divindade ao mesmo tempo. – Zechs falou confuso. Amava Duo, mas era um arcanjo responsável pela manutenção da paz humana, como poderia renunciar a isso em nome de um amor? Como?
-Zechs. – uma voz fria tomou o quarto. Parado à porta estava um demônio de olhos azuis fortes e pele morena.
-Heero. – o anjo o olhou.
-Se não se acha suficiente para meu irmão é melhor deixá-lo em paz. Duo merece alguém que o queira com intensidade. Ele merece alguém que esteve livre para amá-lo sem barreiras.
-Eu sei. Acha que eu não gosto de seu irmão. Que não me importo com ele? – o olhou o demônio magoado.
-Eu sei que gosta dele. Senão soubesse disso eu juro que já tinha acabado com você por tudo que já fez a Duo. A única razão de eu permitir que continue vivo é porque você gosta dele. – Heero falava devagar, sempre frio. Sua voz mantinha um equilíbrio gelado e seus olhos pareciam perfurar os olhos de Zechs.
-Nossa. – o anjo não pode deixar de sentir como estava ameaçado naquela situação. Aquele demônio a sua frente não parecia alguém que brincasse. – o que quer que eu faça?
-Não sei. Mas você não é inocente desse jeito. Como um arcanjo de ordem maior sabe que antes que Duo der a luz terá que fazer sua maldita escolha. E talvez essa escolha não o inclua. – Heero falou.
-Eu nunca vou escolher viver sem ele. – Zechs estava certo disso.
-É romântico e belo, se fosse um conto idiota dos humanos, Zechs. Aqui é bem mais grave que isso e você sabe. Os humanos estão indo para uma batalha que vai segregar a raça deles, você terá que agir. E se admitir isso Duo pode ir sentindo que a relação de vocês é mais complicada do que ele pensa.
-Heero.
-Zechs. Eu sou um demônio de poucas palavras. Mas se vim até aqui pra te dizer tudo isso é porque não quero que meu irmão sofra mais. – Yui olhou para a face adormecida de Duo na cama. – Não deixe que ele se decepcione dessa forma. Não deixe que ele pense que pode ter essa felicidade a seu lado se você sabe que não acontecerá.
Assim que Yui deixou o Éden levando Duo desacordado consigo Zechs retornou para seu posto na torre. Mas seu pensamento estava pesado e distante.
Ele não viu quando Trowa se aproximou. Apenas se viu ser puxando para um canto longe do balcão aonde os anjos faziam seus pedidos.
-Trowa? O que deu em você? Duo ficou doente. O que faziam no vale dos suicidas. – O loiro foi logo querendo saber.
-Desculpe. Eu fui lá, sei que não devia. E Duo me ajudou. Senão fosse ele eu não tinha saído de lá... – O anjo se desculpou.
-Você dois são loucos. Parecem humanos passionais. – Ele falou pensando em tudo que Heero havia lhe dito.
-Eu sinto muito. Mas... Não foi pra isso que vim.
-E então?
-Eu vim dizer adeus. Estou indo para terra hoje. – Trowa sorriu. Estava feliz.
-Amigo. Você fez sua escolha, mas saiba. Aqueles que experimentaram a divindade, jamais serão normais. – Zechs o saldou. – Ao menos viu Quatre? – O loiro quis saber.
-Não. Não foi preciso. – Trowa sorriu de volta. -Obrigado por tudo. – Trowa sorriu. -Será que nos veremos novamente algum dia? –eEle sorriu seguindo caminho.
-Se acontecesse seria um prazer... – Zechs sorriu.
Ali se ia um anjo que ainda tinha muito a aprender. Trowa partira de braços abertos para um mundo desconhecido e cheios de novos desafios. Ele não sabia se encontraria Quatre, o mundo era grande e as missões diversas.
-Ahh, Zechs. – Trowa se virou. –Diga ao Duo que obrigado. Ele me ajudou muito no vale dos suicidas... E ah... Você tem muita sorte. Duo é um ser especial demais. – ele se foi sumindo na neblina.
-Acho que ele se foi. – Relena apareceu ao lado do irmão.
-O que faz aqui na Torre? – Zechs a olhou.
-Um favorzinho. – Ela sorriu. – Minha cegonha vai levá-lo a um ponto na terra onde ele nascerá.
-Mas... Ele era um anjo... Um... – O loiro a olhou.
-Ele foi um anjo que vai se esforçar para ser um humano. Eu achei que ele merecia uma chance... Uma nova chance.
O loiro apenas a olhou. Relena era mimada e irritante, porém seu coração era benevolente.
-Vamos voltar para o balcão. – Ele passou o braço sobre os ombros dela e saíram caminhando lentamente.
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Carinhos,
Hina
