Umbral do Inferno
II - Alvorada sem Sol: Voa liberdade.
Nas masmorras daquela fortaleza todas as alvoradas pareciam um negrume frio, porém nos corredores das alas reais a agitação dos boatos tomava conta de cada parte.
O palácio real era tal qual uma cidade gigante. Ali ninguém se conhecia, pois muitos eram os rostos que caminhavam e se cruzavam pelos escuros corredores.
"Ela vai mesmo dar a festa à fantasia?" – Quatre quis saber enquanto se ocupava em limpar uma extensa janela com detalhes coloniais.
"Sei lá dessa cobra. Veja se estou bem?" – Wufei respondeu sem se importar com a fofoca do amigo.
"Ahh... como queria está nessa festa." – Quatre era um jovem de dezoito anos que há cinco vivia no palácio de Relena, nas dependências de empregados. Diziam os boateiros de plantão que tinha algum grau de parentesco com os Peacecraft, porém nada era provado. Sabia-se que Quatre era descendente dos Winer, uma importante família de nobres que um dia havia se voltado contra a coroa. E uma luta de posse de territórios acabou derrotada e viu suas terra serem tomadas pela rainha. Desde então vivia ali nas marginais do palácio, porém, mantinha por aquela mulher um ódio profundo e um sentimento de vingança.
"Ahh... É uma festa à fantasia, quem sabe, você não pode ir de serviçal ou de mendigo?" – Wufei riu de sua piada irônica. Quatre teria respondido se não fosse a interrupção que seguiria.
"Sua majestade, a rainha Relena, convoca o Bobo da corte!" – Um arauto anunciou forte indicando que Relena tinha pressa em ser agraciada pelo bobo.
"Tenho que ir agora." – Wufei falou para Quatre com cara de poucos amigos. Odiava aquela situação que o deixava o mais idiotas dos homens. Não era uma pessoa divertida e nem fazia questão disso. Achava sua atual condição uma verdadeira humilhação.
Ele era um jovem guerreiro de uma tribo praticamente extinta pela coroa real, porém de igual a Quatre tinha um ódio profundo pela rainha e não mediria esforços para findar o tempo de reinado da quase deusa do mundo.
Em outro local do imenso palácio Duo acordou novamente naquele mesmo dia. Agora estava deitado em uma cama macia e seu corpo doía menos. Ali era bom. Seus olhos custaram a se abrirem, porém, quando o fez descobriu que agora o cenário havia mudado consideravelmente. Estava em um quarto de paredes brancas e suaves, com um castiçal colonial preso ao teto trabalhado. Ele se moveu na cama, tentando levantar.
"Onde estou? M-meus pulsos." – Foi a primeira frase que conseguiu simular. Tocou-se nos pulsos feridos notando as gazes que os envolviam. Também tocou levemente os mamilos machucados, por sobre a camisola fina de seda que lhe cobria o delicado corpo sentindo que tinham sido tratados.
Finalmente sentou-se na cama observando tudo em volta.
Seus cabelos soltos caíam sobre seus ombros dando a si uma expressão divina.
"Que bom que acordou." – Havia mais alguém naquele quarto. Era um homem de estatura baixa, e voz envelhecida. "Você se sente melhor?" – O velho se aproximou. "Cuidei de seus ferimentos a mando do senhor Zechs! Você deve ser importante para ele. O Príncipe não costuma ser tão solidário." – O velho comentou olhando fixamente para Duo. "Você deve ser muito bom na cama..." – Continuou os comentários sem nenhuma reserva, aos seus olhos Duo não passava de um brinquedo particular de Zechs.
"Quem é você?" – Duo perguntou contrariado. Não gostou da idéia de ser visto como amante de Zechs.
"Me chamo G. É tudo que precisa saber sobre mim." – Ele não removia os olhos de sobre aquele menino lindo.
"Devo-lhe agradecer por cuidar dos machucados." – Duo falou de cabeça baixa.
"Não foi nada. Faria novamente se fosse para ver e tocar em um corpo tão apetitoso como o seu..." – G falou sorrindo com sua piada. "Eu, um dia, se Zechs se cansar, eu quero te provar..." – Ele se retirou deixando o menino imensamente chateado, seu tom de brincadeira não combinava com a gravidade da situação.
Duo viu o homem sair trancando a porta. Sozinho ele pode se deixar perder no mundo de dor particular que somente a si cabia. No que havia sido reduzido, a um mero vadio de nobres?
Cansado, o rapaz pendeu a cabeça em derrota fazendo os longos fios esconderem seu rosto enquanto chorava.
Nesse exato momento em um lugar chamado L1, estava Heero Yui, líder da resistência contra a dinastia dos Peacecraft.
No topo das colinas podia se ver as torres do palácio real de Relena apontando para o céu. Era uma imagem bonita vista dali, ao menos para qualquer pessoa normal que avistasse as torres da planície denominada L1, que até hoje fazia resistência aos domínios da dinastia Peacecraft. L1 se manteve fiel a seus costumes e modos de vida, não permitindo que a cultura imposta pela raça de Relena se misturasse a sua.
Os habitantes da colônia viviam por meio de exportação para o resto do mundo de produtos tecnológicos, mercado esse, que Relena tinha enorme vontade de dominar.
"Lá embaixo, disseram-me que te acharia aqui na torre de controle!" – Um soldado vestido com símbolos reais se aproximou de um homem sentando junto a uma plataforma repleta de controles, alavancas e botões brilhantes.
"Estou monitorando os carregamentos que estão chegando no porto de L5. Parece que Relena vai dar uma festa e tanto." – O homem sentado se virou para o recém-chegado. Seus olhos era azuis turquesa, seus cabelos tinham uma coloração marrom e eram sensivelmente espetados. Ele levantou-se indo até uma janela. "Parece que essa mulher não pára de aprontar." – Falou desabafando. Este era Heero Yui. Um guerreiro nato que fazia às vezes de líder do movimento "anti-Relena".
As torres de observação haviam sido projetadas por Heero para garantir que saberiam sempre o que a vizinha estava aprontando. Na verdade L1 e as Colônias de Relena não eram inimigas declaradas, na verdade mantinham negócios importantes, porém era necessário defender as indústrias e tecnologias que estavam em L1. Relena nunca escondeu que gostaria de ser detentora de tais tecnologias e não mediria esforços para isso. Outra coisa ameaçadora era o fato de que ela mantinha o sonho de unificar todas as colônias, reunidas, sob seu domínio em um plano chamado plano Terra.
"Ela vai usar a festa para organizar ataques em massa nos principais focos de resistência nas colônias sob seu domínio." – O soldado se chamava Trowa. O rapaz havia se infiltrado na guarda real com simples finalidade de servir como "olheiro" para L1, era o mesmo caso, de Wufei, Quatre e muito outros anônimos. Relena não sabia ainda, mas, aos poucos estava sendo cercada de todos os lados.
"Ela nunca faz nada inocentemente." – Heero comentou.
"É... Heero. Temos que nos organizar melhor. Já estamos cercando há muito tempo, e se não agirmos rápido seremos descobertos..." – Trowa falou em um tom de urgência.
"Paciência, Trowa. O que temos que fazer é minar as forças de Relena, pondo um foco de resistência em cada colônia. Isso leva tempo e cuidado. Precisamos garantir o apoio das outras colônias, primeiro." – Heero explicou calmo.
"Quando vai começar?" – O outro não entendia como Yui podia ser tão frio.
"Amanhã mesmo L1 estará enviando um acordo a L2. Tentaremos firmar com eles uma aliança de auxílio. O plano é implantar nossas indústrias e bases naqueles territórios abandonados e fazer a colônia crescer..." – Heero concluiu.
"Dessa forma vamos libertar L2 de uma vez por todas dos domínios reais. Mas, meu medo é que... seja um processo muito demorado..." – Trowa comentou.
"Eu sei. Mas não há outra opção senão esperar." – Foi a palavra final de Yui. "Anhh... Trowa. Na próxima semana, após firmamos o contrato com L2, estarei convocando nossos informantes para uma conversa. Temos que definir algumas coisas. E eu preciso que você contate alguns deles que se escondem no Castelo." – Heero falou sério com seu tom sempre frio.
"Eu nem ao menos conheço nossos contatos lá dentro. Isso sempre foi mantido em tanto segredo, que..." – Trowa protelou. Estava naquela luta há anos e nunca havia lhe sido revelado os nomes dos informantes.
"Acho que é hora de você assumir maior espaço dentro de nossa revolta." – Talvez estivesse mesmo em tempo de Heero delegar confiança. "Tome." – Ele entregou um envelope para Trowa. "Aqui vai saber com quem precisa falar." – Heero se virou voltando a solitária observação dos portos.
"Sim... vou seguir como o combinado. Mas... Heero como tem passado?" – Trowa ia falar algo menos frio e calculista que as negociações, porém Heero já havia voltado sua atenção para os controles da moderna torre. Trowa que era um rapaz alto de belos olhos verdes apenas o observou... Yui há tempos não se portava como um ser humano comum e agora parecia que sua única preocupação era derrotar Relena.
"Espero que ele não se esqueça de viver..." – Trowa desceu as escadas de metal da torre olhando para o envelope que trazia consigo.
De volta ao reduto dos Peacecraft.
Na sala ampla havia uma mesa central extensa de madeira de lei polida à mão e envernizada. As cadeiras altas e estofadas eram uma lembrança dos antigos e sofisticados estofados chineses. Relena era uma mulher extremamente elegante e gostava de se cercar de todo o luxo possível.
À mesa constavam as mais extravagantes iguarias imaginadas, era um verdadeiro banquete. Porém, a revelia da mesa simpática, o ambiente não era dos melhores. Wufei continuava cumprindo seu papel de bobo da corte fazendo as suas tolices engraçadas, porém ele não parecia ser notado por nenhum dos presentes ali.
"Vossa alteza! O príncipe Zechs!" – O jovem e belo loiro foi anunciando ao entrar na sala de jantar.
"Achei que não se juntaria a nós tão cedo, meu querido." – Relena sorriu ao irmão quando este se aproximou.
"Soube que trouxe um escravo..." – Noin não pode se conter.
"Um escravo?" – Treize não conseguiu deixar de conter um tom magoado e enciumado, conhecia bem a natureza dos escravos que seu noivo gostava de ter.
"Parece que as notícias por aqui são sempre as primeiras a chegar." – Zechs sorriu dissimulando sua culpa. "Não se preocupe, meu bem. Você é o meu escravo favorito." – Ele brincou beijando os lábios do noivo.
"Contenham-se vocês dois." – Relena falou séria ao ver os beijos e abraços se intensificando entre os dois amantes. "Mas... nos fale sobre esse escravo..." – Relena provocou.
"Ele não tem nada de mais, o trouxe de L2 como pagamento de impostos de uma família miserável..." – Zechs falou começando a sentir incômodo.
"E o que você viu nele de tão especial?" – Noin alfinetou. Ela na verdade se sentia tão enciumada quanto Treize. Não era segredo para ninguém que desde longa data nutria pelo belo príncipe um sentimento profundo.
"Especial? Ele é só um escravo qualquer... ahhh... vamos começar a comer, certo?" – Zechs sentou-se à mesa sendo extremamente indelicado com o restante.
"Proponho que não falemos mais sobre assuntos tão desagradáveis como esse... escravo!" – Relena falou olhando feio para Noin indicando que de forma alguma gostaria de ser contrariada.
Enquanto os nobres se serviam Wufei deu um jeito de fugir daquela humilhação que era seu ofício de bobo da corte.
"E então ouviu alguma coisa?" – Quatre falou aos cochichos quando Wufei passou por ele em um dos corredores do palácio.
"Nada de mais, apenas que Zechs tem um novo brinquedinho." – Wufei falou sem dar muita importância.
"Um novo brinquedinho?" – Um Quatre espantado repetiu.
"É, parece que ele recebeu um garoto de L2 como pagamento de imposto de uma família miserável." – Wufei seguiu andando desanimado.
"Eiii, me conta isso direito." – Quatre o segurou pelo braço o empurrando para um canto escuro perto de uma estatueta de metal bem na hora que alguns soldados passavam.
"Eiii, loirinho! Vai com calma aí... eu posso acabar me interessando." – Wufei brincou. Ele e Quatre estavam muito próximo um do outro.
"Ei, vocês dois! Se quiserem se divertir procurem um local mais íntimo!" – Trowa que passava junto do grupo de soldados não pode evitar repreendê-los.
"Ahh... senhor! N-não estamos fazendo n-nada demais..." – Quatre se afastou de Wufei, porém quando olhou para o homem que lhe falara sua voz falhou. O loiro nunca havia sentido aquilo antes. O soldado a sua frente tinha um olhar penetrante, ele era perfeito. Lindo. Quatre não soube o que fazer ou o que dizer.
"Não tenho nada com isso." – Trowa falou chateado, porém não sabia dizer o porque. Nunca havia visto aquele belo rapaz loiro antes.
"Que belo rapaz atraente." – Trowa ficou parado sem saber mais o que dizer, apenas olhando mudo e perdido.
"Vamos." – Wufei falou puxando o braço de Quatre. – "Vamos sair daqui rápido, não gosto desses caras." – Eles não podiam confiar em ninguém ali.
Trowa ficou olhando para os rapazes. Não sabia identificar ao certo o sentimento que lhe incomodava agora.
A noite seguia silenciosa como todas as noites junto ao reino de Relena. As pessoas, ameaçadas, não saíam nas ruas depois de certas horas. O império de Relena Peacecraft era um império de medo.
Em seu aposento, o mais luxuoso de todo o palácio, ela parou em frente a um espelho, se observando, sempre que o fazia gostava do que via. Relena era uma mulher muito bonita. Seus cabelos lisos e loiros, uma pele clara e delicada e um belo conjunto de olhos azuis.
"Sou bela... todos dizem. Mas ele..." – Relena abriu a camisola longa mostrando-se a si mesma. "Porque aquele desgraçado não me quer?" – Ela não entendia.
Relena um dia havia sido afrontada por um homem que jurou lhe matar, porém naquele dia havia se apaixonado por ele. Esse era Heero Yui.
"Porque não consigo chegar a seu coração?" – Ela perguntou chorosa enquanto escorregava para o chão, vencida, aos prantos. "Mas... nunca vou desistir..."
Ao lado dos aposentos de Relena ficavam os de seu irmão mais velho.
"E então? Agora que estamos sozinhos vai me dizer quem é esse escravo?" – Treize se aproximou de seu noivo. Estavam no quarto de Zechs em sua intimidade.
"Eu já disse, Treize. Não é ninguém em especial!" – Zechs se impacientou.
"Ele é bonito?" – Treize insistia, ele era inseguro.
"Não! É horroroso. Ele era filho de um leproso... por Deus, você acha mesmo que eu me interessaria por alguém assim?" – Zechs impaciente soou magoado.
"Vamos esquecer isso, tá? Eu estou morrendo de saudades de você." – Treize beijou suavemente os lábios do loiro o derrubando sobre a cama.
"Humm... nossa... acho que vou passar mais tempo fora da próxima vez." – Zechs brincou.
"Nem ouse." – Mais beijos.
Ainda no palácio, em um dos muitos aposentos sob controle de Zechs Duo estava confinado.
Era noite quando o menino sentiu seu estômago roncando. Ele lembrou que fazia algum tempo que não comia. Estava fraco e cansado.
Com certa dificuldade se levantou da cama, tinha a tola imaginação que encontraria aquela porta pesada de madeira aberta, infelizmente fora tolo em acreditar nisso. Aquele homem loiro era esperto demais para isso. Com a porta trancada Duo tentou uma pequena janela, porém, havia grades.
"Droga, tem que haver um jeito." – Ele resmungou olhando a noite lá fora iluminada pela lua. "Onde será que estou?" – Ele sabia bem que estava ali trancado naquele maldito quarto, porém não tinha a mínima idéia de que lugar era aquele.
Ainda vencendo a resistência de seu corpo enfraquecido ele subiu no patamar da janela e conseguiu vislumbrar o que tanto queria. Estava preso no topo de uma torre muito alta. Rapidamente suas esperanças de conseguir fugir e voltar para casa havia se esgotado. Jamais conseguiria escapar dali.
Seu desespero era grande, queria muito voltar para sua família.
Lembrou inocentemente dos contos de fadas. Seus cabelos eram grandes, ele podia tecer uma corda com a trança para quando seu príncipe viesse lhe resgatar.
"Idiota! Não existem príncipes encantados!" – Ele se repreendeu. "Nem milagres!" – O pobre Duo experimentava a sensação horrível do medo e apatia que cabem a uma pessoa aprisionada e ameaçada de nunca mais rever as pessoas e local que amava. Esmagado pela opressão e dor.
Na ala dos serviçais.
"Acha que Zechs está mantendo esse menino lá no castelo?" – Quatre perguntou interessado a Wufei.
Eles estavam fora do palácio, em uma taverna. À noite era dada folga aos serviçais, porém, eram poucos os que se aventuravam pelas ruas do reino. Mas Quatre e Wufei precisavam conversar e traçar metas, afinal estavam ali infiltrados para passar informações a L1, porém, fazia alguns meses que não recebiam instruções dos líderes da resistência.
"Eu acredito que sim, onde mais ele deixa os escravos dele? Mas eu não sei porque um moleque de L2 lhe interessa tanto." – Wufei falou sem paciência tomando um gole de vinho tinto.
"Na verdade... eu só... estava pensando como ele deve estar se sentindo. Não é fácil você se vê sem as pessoas que ama... sei lá. Ele deve estar se sentindo muito só." – Quatre olhou para fora da taverna. Ela sabia bem a dor que era se ver completamente sozinho, já havia passado por isso.
"Ahhh... sabemos o que é isso, amigo. Mas isso vai continuar acontecendo se não paráramos os desmandos dessa Relena." – Wufei falou com ódio.
Trowa passava na rua. Não tinha sono naquela noite, odiava noites frias e vazias. Resolveu entrar na taverna em busca de alguma companhia, mas se arrependeu ao entrar e se deparar com o casal que menos gostaria de ver.
Era novamente aquele belo rapaz loiro que antes mexera tanto com seus sentidos. Ele tentou voltar sem ser notado, mas era impossível, o rapaz, era como se tivesse uma espécie de imã que o atraía. E Lá foi o soldado para perto do casal.
"Ora! Mas são vocês de novo!" – Ele falou com raiva. Na verdade tinha raiva de Wufei por estar ao lado de um menino tão desejável.
"O que quer conosco, soldado?" – Wufei se levantou querendo briga.
"Haann... já estávamos de partida." – Quatre se apressou tomando a frente do amigo.
"Já vão?" – Trowa olhou para o loiro querendo implorar para que ficasse.
"Sim... acho que meu amigo já bebeu demais." – Quatre sorriu delicado e aquele sorriso teve a capacidade de fazer o mundo parar ao redor de Trowa.
"Ele tem sorte... de ter alguém em uma noite fria como essa..." – O soldado resmungou ao ver a dupla sair.
Quatre não acreditou que tivesse ouvido aquilo. Aquele soldado que antes parecia tão frio e forte, agora estava demonstrando um lado humano e frágil. Como desejou conhecê-lo melhor.
"Sou Quatre Raberba Winner E Esse é Chang Wufei." – Quatre sorriu para Trowa. "Venha nos fazer uma visita qualquer dia desses na ala dos empregados." – Dizendo isso eles saíram.
Trowa mais uma vez havia sido deixado sem ação por Quatre. Aquele sorriso. Que sorriso lindo. Era tudo que um homem precisava em uma noite como aquela.
Nos aposentos do príncipe
Zechs se certificou que seu noivo já estava dormindo. A verdade é que transar com ele hoje fora uma tortura, já que desde que vira Duo almejara ser o primeiro homem a tomá-lo. Sabia que o garoto era virgem e muito arredio. Seria um ótimo jogo de gato e rato até fazê-lo ceder. E até isso acontecer ele ia provocá-lo bastante.
Ele caminhou pelos corredores em silêncio, estava pensando o que fazer a seu novo escravo, sabia apenas que ia humilhá-lo bastante.
Duo não conseguia dormir, estava com fome e com medo. Tinha também um desejo contido de fuga. Estava acuado.
"Ora ainda acordado?" – Zechs sorriu ao mover a pesada porta por onde havia acabado de passar.
"O que você quer aqui, seu desgraçado?" – Duo berrou da cama.
"Ora, isso são modos? Vim te ver." – Novo sorriso do loiro. "Estava com muitas saudades..." – Ele se aproximou.
"Não se aproxime de mim!" – Duo se encolheu encobrindo o corpo com os lençóis.
"Vamos, não seja tímido." – O loiro sorriu se aproximando perigosamente.
Duo estava tão amedrontado. Só queria que aquele monstro o deixasse em paz.
Mas Zechs não parecia que ia desistir fácil. Duo vendo que a cada momento o homem se chegava mais, não teve saída. Acuado ele tentou fugir pelo lado da cama para a porta de madeira, porém a mesma estava trancada. Não demorou nada e Zechs estava atrás dele o prensando contra a porta com todo o peso de seu corpo. Duo se debateu sem chance de se soltar. Estava perdido, o outro era mais forte e seu corpo estava debilitado por não se alimentar a algum tempo. Mas não deixaria ser dominado tão facilmente.
Duo juntou forças para tentar se livrar das mãos do loiro o empurrando. Mas era realmente inútil tentar algo contra Zechs. Cansado de tanta resistência o loiro o segurou forte o lançando contra a porta de madeira pesada.
"Seu ordinário! Vai aprender a não reagir contra mim." – Ele falava com raiva enquanto mantinha o pequeno corpo de Duo contra a porta com uma mão e com a outra esbofeteava raivosamente o rosto do garoto.
"Ahhh... Nãaaooo!" – Duo estava em desvantagem. Estava levando uma surra. Seu rosto ardia, mas a mão de Zechs não parava. Ainda sob sérias bofetadas Duo não ia se render, jamais ia permitir que alguém o domasse. "Nãooo!" – Numa explosão de revolta o rapaz conseguiu se livrar dando um chute entre as pernas do loiro, o golpe não pegou em cheio, mas foi o suficiente para Zechs se afastar.
"Seu putinho!" – Zechs o olhou com cólera, mas seu olhar foi se transformando lentamente em algo vulgar e lascivo. "Então quer brincar?" – Ele sorriu.
Duo respirou se encostando a porta. Ele estava ofegante, seus cabelos, fio por fio iam fugindo da trança. Ele notou com muito medo que aquele insano não desistiria.
"Vou te dar uma lição para nunca se esquecer que deve me respeitar." – Zechs falou sádico.
"Nãooo!" – Duo se encolheu mais contra a porta enquanto seus imensos olhos acompanhavam o cinto do outro homem ser removido. "Isso, nãooo. Nunca." – Ele gemeu desesperado.
"Ahhh... seu puto. Não é o que pensa." – Zechs sorriu chegando mais perto. "Eu vou fazer uma outra coisinha com você." – Ele diminuía o espaço entre ele e Duo brandindo ameaçadoramente o cinto de couro nas mãos. "Vou fazer você implorar para que eu pare."
Mais um passo e Zechs estava tão próximo que Duo nem teve como se mover, rapidamente foi puxado com força pelos longos cabelos e jogado sobre a cama. Ainda tentou se debater, mas sua vista turvou quando levou um soco bem sobre o nariz. Completamente zonzo Duo se permitiu ser facilmente manuseado
Zechs o puxou com força sobre a cama rasgando o frágil tecido que cobria suas vergonhas. Agora completamente exposto e tonto Duo era um alvo muito fácil. Ele sentia uma dor quase anestesiada sobre a região acertada, bem como sentia uma grossa e morna camada de sangue escorrer de seu nariz.
"Está gostando?" – Zechs não era sempre assim. Mas alguma coisa em Duo mexeu consigo desde o dia que pôs os olhos no garoto. Duo o excitava de uma forma que não conseguia explicar e a resistência só tornava as coisas mais atraentes. Amava um amante quente e arredio, amava domar alguém na cama.
Ele percorreu o peito de Duo, acariciando com certa força. Puxando os mamilos ainda feridos, apalpando ali e aqui.
Duo revirou os olhos. Estava esgotado. Seu nariz estava dolorido. Ele passou a mão sobre o local cuidadosamente e se assustou ao ver o sangue que agora manchava o lençol bege.
"N-nãooo." – O menino resmungou molemente.
Mas Zechs estava disposto a ensiná-lo uma lição. Com Duo zonzo foi fácil virá-lo de bruços na cama deixando bem exposta uma bundinha empinada. Zechs fez o cinto de couro maciço se chocar fortemente contra aquela nádega. Uma vez, duas vezes, três vezes, repetidas vezes.
Duo não esperava pela dor. Foi mais forte do que podia prever. Ele tentou se libertar, mas viu que seria tão pior, apanharia mais. Novamente os ataques voltaram, e agora com mais força. Ele afundou os dedos nos lençóis com toda força que pode. A tortura seguia cada vez mais violenta. Lágrimas de pura dor escorriam de seu rosto contraído, se misturando ao sangue de seu nariz.
"Hum... hunrumm!" – Duo gemia a cada golpe que recebia. A dor chegava a descontrolá-lo. Ele mordia os lábios para não gritar, não queria dar esse prazer aquele maldito sádico. Mas de fato a resistência de seu corpo estava se esgotando.
"Quando vai começar a pedir para parar, eih?" – Zechs parou de golpear por um instante, seu próprio braço já estava cansado e as nádegas de Duo muito vermelhas, faltava muito pouco para sangrarem. "E então, o que vai fazer?" – Ele pôs o dedo indicador na boca e molhando com sua saliva quente passou a massagear bem entre as nádegas de Duo, bem em seu ânus tão extremamente fechado.
"Ahhh... nãooo!" – Duo não queria ter gritado, mas não pode evitar. Estava cansado e esgotado, estava vencido psicologicamente, era só um garoto longe de seus familiares e a mercê de um sádico. Àquelas alturas imploraria se Zechs quisesse, pediria para que ele o deixasse em paz, para que não o tocasse em seu ânus, um ponto seu tão sagrado.
"Nãooo... humm... ahhamm!" – Ele agora chorava esgotado.
Zechs não pode calcular o prazer que sentiu ao ver o estado de seu escravo, tão fragilizado e indefeso chorando como um bebê desamparado. O pequeno corpo de Duo tremia em pânico.
"Vamos! Pequenino. Acabe logo com isso." – Zechs falou com o dedo atolado dentro do apertado ânus de Duo.
"Pare... por favor!" – Ahh... Duo de fato devia estar completamente abalado. Ele havia pedido para que parasse.
"Eu... entendo." – O loiro falou decepcionado. Não era o que esperava ouvir. Ele esperava total entrega, esperava que Duo lhe dissesse quem dava as ordens por ali, mas ao invés disso o menino conseguiu apenas chorar e pedir que parasse. Tomado por uma nova onda de raiva e agora também frustração ele removeu o dedo de dentro do rapaz, e passou a castigar as nádegas e costas com o cinto.
Duo sentiu a pressão dentro de seu anel anal ser aliviada, mas em seguida sentiu a dor insuportável dos golpes. Havia tanta fúria em cada chicotada que levava. Ele sabia que seu frágil corpo não suportaria tamanho massacre.
Zechs continuou o castigo, sem mais se importar onde batia. Era nas nádegas, nas costas, cabeça, pernas, onde fosse. Estava cego de por raiva excitante.
O choro e os suspiros de dor que Duo soltava só o excitava mais. Em certo ponto, quando seus braços já estavam cansados e doloridos de tanto bater ele se permitiu parar, satisfeito por não ver mais nenhuma reação em seu escravo rebelde.
"Era isso que você queria?" – Zechs se perguntou sentando-se na cama ao lado do corpo ensangüentado de Duo que não demonstrava nenhuma reação. "Não sei o que você tem para me deixar assim." – O loiro apertou com força umas das macias nádegas de Duo. "Lindo... como és lindo." – Zechs abriu as mesmas nádegas expondo o minúsculo e tímido ânus lambendo nervosamente aquele local, insalivando-o e tentado penetrá-lo com a língua.
"Ahhh... meu gostosinho. Eu logo vou te tomar para mim, mas só depois que você me pedir, e eu garanto que vou te fazer implorar por isso." – Ele sorriu voltando a lamber o local em Duo que tanto desejava possuir.
Com algum tempo Zechs saiu de dentro do misterioso quarto. Lá dentro deixava um Duo desmaiado sobre os lençóis amarrotados e ensangüentados.
"Então é aqui na torre que está guardando seu novo brinquedo?" – Noin saiu das trevas. Ela esteve escondida ali durante todo o tempo que Zechs humilhou o menino.
"Não é da sua conta, mulher." – Ele continuou andando tranqüilamente pelos corredores escuros.
"Ouvi os gritos dele!" – Ela acompanhou o príncipe.
"Hum... foi excitante, não?" – O casal chegou ao patamar da quase infinita escadaria da torre.
"Confesso, que sim. Mas acho que esse vai lhe dá trabalho." – Ela provocou.
"Noin! Eu sou Zechs Peacecraft. Consigo tudo que quero." – Zechs falou sério.
"Eu não duvido, meu lorde, mas acho que Treize não vai gostar nada disso." – Ela falou de forma displicente.
"Concordo que ele não vai gostar. Mas se Treize descobrir sobre Duo lhe jogo dessa escada." – Zechs começou a descer a escadaria deixando Noin para trás.
"Então... esse maldito escravo é mais importante a ele do que pensei. O que esse desgraçado tem?" – Ela se perguntou com fúria olhando para a pesada porta que encerrava Duo em seu cativeiro.
Hina
