Umbral do Inferno


III - Sob a dor das lágrimas

A noite estava fresca e convidativa. Quatre entrou no aposento pequeno que era reservado aos serviçais, ele encostou-se contra a porta. Seu olhar estava extremamente perdido no nada e um suave sorriso bobo marcavam seus lábios.

"Acaso está pensando naquele soldado?" – Wufei estava no quarto, largado em uma das camas.

"Ora... não seja bobo." – Quatre revidou. Ele achava mesmo que tinha disfarçado muito bem seu interesse pelo soldado.

"Quatre." – Wufei levantou sentando-se na cama. "Nos conhecemos há muito tempo. E eu nunca te vi olhar daquele jeito para ninguém antes." – ele observou.

"Você sabe que não me interesso por isso. E além do mais eu só tenho pensamentos para nossa missão... e..." – o jovem loiro tentava em vão mentir aquilo que seus olhos estavam deixando a mostra.

"Ei... se quiser enganar alguém vai ter que melhorar muito nisso. Você o desejou com os olhos... Tinha que ver sua cara." – o bobo da corte comentou.

"Por Alá!" – Quatre falou corando. Alá era o Deus supremo de sua crença familiar. "Eu fiz isso?" – ele perguntou sentando-se junto a Wufei. Ele estava sem jeito.

"Loirinho. É tudo tão simples. Você está apaixonado." – Wufei sorriu.

"Não diga isso. Nós nos vimos duas vezes." – ele comentou achando que podia mesmo estar sentindo alguma coisa pelo tal rapaz. "Mas não posso. Ele é um soldado e eu um rebelde. Alá! Um amor proibido!" – Quatre falou dramático.

"Espere. Não é bem assim. Vocês não têm um caso, sequer. Não vamos exagerar." – Wufei o acalmou achando engraçada a situação: Quatre apaixonado.

Quatre ficou quieto apenas pensando como havia sido bobo de se deixar impressionar pelo tal rapaz. Ele nunca podia se apaixonar, não enquanto sua família ainda não estivesse vingada e o mundo livre das maldades de Relena. Como fora fraco.

Ele lembrou de seu pai, havia prometido no leito de morte que se vingaria dos Peacecraft e recuperaria os bens de sua família. Havia destinado sua vida a isso e agora estava se apaixonando por um soldado inimigo.

"Quatre. Que foi?" – Wufei notou o quão pálido o outro rapaz ficou. Ele parecia lembrar de algo do passado.

O loiro não respondeu ao amigo. Ele estava muito confuso. Sem dizer palavras levantou-se e saiu correndo.

Quatre não queria se deixar levar por um sentimento como aquele. Ele no fundo tinha medo de amar.

"Eu não sinto nada por ele! Não sinto nada por ele! Não sinto nada por ele!" – o loiro repetia enquanto corria sem rumo.

Trowa caminhava pelas ruas, ele também estava sem rumo certo. Virou uma esquina na mesma hora que o loirinho, a mesma esquina. Foi inevitável a colisão. Os dois corpos se chocaram com força.

Quatre teria caído se o rapaz com a qual esbarrou não o tivesse segurado firme pela cintura.

"Desculpe." –o loiro falou automático sem entender porque aquela pessoa ainda não o havia soltado.

"Eu que peço." – Trowa também foi automático e também sem entender porque não conseguia largar aquele corpo.

Eles ficaram mudos se olhando por um tempo. Era estranho. Os dois ali, os corpos colados, um aproveitando o calor e a macieza gostosa do outro, quando o certo era que tivessem se soltado e ido cada um para um lado com alguns pedidos de desculpa. Mas não. Continuaram ali, praticamente imóveis.

"Deixe-me ir." – Quatre finalmente gaguejou. Sua boca pedira, mas seu coração não queria que aquele homem o libertasse. Seu corpo preferia passar o resto da vida preso ao corpo másculo e vigoroso do soldado. "Por favor." – insistiu enquanto seus olhos azuis esverdeados percorriam o peito estufado e musculoso do rapaz. Automaticamente suas mãos foram parar sobre aquele peito, ele intencionava espalmar o corpo para longe de si, mas quando sentiu o contato das palmas contra aquele peito excitante não teve como o fazer. Sem nenhum pudor Quatre se viu alisando o peito de Trowa.

Eles se acariciaram como se já se conhecessem há algum tempo. Trowa apertou mais o corpo menor contra o seu, espremendo suas ereções.

"Ainda quer que te deixe ir?" –o soldado perguntou com uma voz rouca despejada bem ao ouvido do serviçal ao sentir que o falo desse já estava desperto.

Quatre não respondeu a provocação, pois agora seus rostos estavam praticamente colados. As respirações muito próximas. Foi como um instinto, os lábios foram se abrindo levemente e se tocando com cuidado.

Quando Quatre sentiu o toque úmido e macio dos lábios do outro homem contra os seus, mandou para os ares todo o autocontrole, toda sua postura pudica. O toque daqueles lábios o incendiou por dentroo fazendo trazer Trowa para mais perto de si atacando com furor aquela boca. Sua língua foi bastante ousada entrando e se movendo dentro da outra boca, tocando cada canto quente, sugando com prazer.

Trowa também não se conteve. Sua ereção erapressionada contra a do outro com excitação.

Aquele beijo cheio de urgência foi muito longo, em algum tempo Quatre já estava completamente esmagado contra uma parede qualquer com uma perna de Trowa entre as suas atritando contra seu sexo duríssimo.

Estavam literalmente se pegando. Um beijo sincero que expunha o que cada um deles tinha escondido dentro de si. E era um desejo pleno de amar, de ser amado, um desejo de viver os prazeres da carne. Mas... Não podiam. Tratava-se de um soldado e um serviçal rebelde.

"Não é certo!" – Quatre pensou. Por um tempo esteve mergulhado no êxtase daqueles toques, mas de repente voltou a si. Voltou a ser o pacato serviçal que sonhava com liberdade e justiça.

"Não!" – ele gritou empurrando Trowa para longe de si.

"Mas..." – Trowa não entendia. Estavam se dando tão bem. Certo que era algum tipo de loucura, eles não se conheciam, mas era uma loucura gostosa. Porque o outro rapaz quebrou o contato?

"Você! Como ousa?" – Quatre berrou.

"Eiii, loiro!" – Trowa o segurou firme por um braço. Aquele garoto o estava irritando. "Você que praticamente me violentou." – o soldado falou.

"Seu cretino!" – um Quatre indignado levantou a mão para acertar um tapa no rosto do belo rapaz.

"Nem ouse." – Trowa foi bem rápido segurando a mão do rapaz loiro. "Nem ouse tocar em mim." – ele ameaçou.

"Nunca... nunca fui tão humilhado antes." – Quatre resmungou com raiva. Estava morrendo de raiva daquele bastardo que ousara tocar seu coração.

"Você é louco? Primeiro me agarra, me beija de uma forma a quase me levar às nuvens e agora isso." – o soldado nada entendia.

"Me larga!" – O loiro o olhou com raiva. "Não devia ter cruzado meu caminho." –Quatre gemeu. Estava mesmo com raiva. Nunca ninguém havia lhe atraído tanto.

"Como quiser." – Trowa o largou com força contra o chão o fazendo cair sentado. "É melhor que você nunca mais cruze o meu caminho." –o soldadobufou.

"Seu grosso." – Quatre se ergueu humilhado e enraivecido. Ele olhou para o homem a sua frente. Não tinha mais o que fazer contra isso: estava apaixonado.

Sem palavras o loirinho saiu correndo mais uma vez na noite.

"E-Eiiii?" – Trowa ainda tentou mas ele já havia se ido.

"Que menino quente... e louco." – ele sorriu tocando os próprios lábios que haviam sido beijados por aquele pequeno furacão loiro. "E agora mais essa." – olhou para baixo vendo o estado de seu pênis que Quatre havia deixado muito excitado.


Ainda naquela noite havia outra pessoa que não ia conseguir dormir direito.

Zechs conseguiu chegar em seus aposentos antes de seu noivo acordar. Sorrateiro ele trocou suas vestes pelas de dormir e se pôs debaixo das cobertas grossas, o dia estava quase amanhecendo, mas ele não conseguiria dormir. Não depois de ter tocado naquele corpo perfeito que era o seu novo passa-tempo: Duo.

Estava se viciando naquele menino belo.

O príncipe se virou olhando o teto. Estava pensando em cada detalhe daquele garoto. Seus lábios iam se curvando em um sorriso de desejo a cada lembrança que conseguia de seu novo brinquedo sexual. Zechs sorriu ao lembrar a textura macia e excitante da pele, e sorriu mais ainda pensando em como seria perfeito quando finalmente possuísse cada pedacinho daquela carne jovem e virgem.

Treize não era um homem que se pudesse enganar facilmente, embora Zechs fosse bem espertoseu noivohavia ficado desconfiado quando Noin comentou sobre o novo escravo. Desde que ouviu falar que Zechs tinha esse novo escravo sexual havia ficado um tanto quanto cuidadoso em relação ao loiro.

O conde estava acostumado com o jeito do noivo, desde que se conheceram era normal Zechs ter vários escravos, vários amantes. Mas Treize não sabia o porque, porém alguma coisa lhe dizia que esse novo brinquedinho humano era uma ameaça. Ele pode sentir que alguma coisa nos olhos do loiro mudava ao falar naquele novo amante, era estranho, Zechs nunca se encantava por ninguém como parecia que acontecia dessa vez a ponto de perder o sono.


O dia chegava na região dominada pela rainha Relena. Com a luz do dia vinha também à claridade da realidade dura que todos aqueles povos levavam sob o julgo dos Peacecraft.

Trowa acordou cedo naquele dia, na verdade não havia dormido. Após dois banhos frios ele se largara na cama revivendo os momentos excitantes com o serviçal loiro.

Ele agradeceu aos céus por não ter treinamentos nessa manhã, pois tinha uma missão bem mais valiosa que era contatar os infiltrados dos rebeldes dentro do palácio. Ele ainda não tinha aberto o envelope que trazia os nomes tão bem guardados e Trowa sabia exatamente que se aquele envelope caísse nas mãos dos nobres reais todo o plano movido por Heero estaria acabado.

O soldado olhou mais uma vez o envelope, assim que o abrisse saberia exatamente quem, assim como ele, atentava contra a dinastia Peacecraft. Mas alguma coisa o fez parar. Trowa lembrou-se de alguns meses atrás, quando Treize lhe fez uma proposta. O conde se mostrava muito preocupado com a popularidade de Relena e conseqüentemente com seus negócios. Ele havia lhe proposto que ficasse de olho nos serviçais de sua majestade, pois ele tinha motivos para acreditar que os rebeldes tentariam se infiltrar no palácio na pele de serviçais.

Na época da conversa o nobre lhe havia oferecido coisas irrecusáveis, do tipo uma promoção a capitão da guarda real, muitos amantes e muito dinheiro. Para um homem naquela região e daquela idade era um excelente negócio.

"Uma proposta de crescimento rápido." – Trowa comentou consigo mesmo. Olhou novamente o envelope, bastava entregar a Treize e sua vida mudaria.

"Ou sucesso ou a liberdade de um povo?" – ele falou baixo consigo mesmo.

Não se sabia da procedência do homem chamado Trowa Barton. Nunca se soube de onde veio nem para onde ia, apenas um dia havia aparecido em L1 se dizendo um aliado contra a tirania de Relena.

"Nunca fui um traidor." –Trowa gemeu baixo enchendo seu coração de ódio do conde por ter ousado lhe propor coisa tão baixa. "Serei um grande homem um dia. Mas quero ser numa grande nação, não nessa que a gente de Relena quer fundar." – falou para si e seguiu em frente abrindo o envelope. Retirando um pequeno pedaço de papel onde seus olhos se arregalaram ao ler os nomes ali contidos.

Chang Wufei
Quatre Raberba Winner
Sally Po

"Quatre!" – Ele falou estupefato. Era o nome do serviçal que o agarrara noite passada. "Aquele danadinho." – Trowa sabia aonde encontrar o loiro e o outro rapaz.


Enquanto isso nos aposentos dos serviçais

"Quatre! Você o quê?" – Wufei se exaltou quando um loirinho corado lhe contou como agiu com Trowa noite passada. "Você ficou louco? Ele é um soldado e nós... Somos rebeldes." – o bobo da cortefalou tomando cuidado de abaixar o tom da voz quando falava as duas últimas palavras.

"Eu não sei o que deu em mim. Mas eu o... o... desejei." – Quatre estava mesmo muito sem jeito. Mas precisava desabafar, sentia que ao contrário ia explodir. Trowa havia mexido consigo de uma forma exagerada e Wufei era seu amigo, ele entenderia. "Eu sei tudo isso, mas ele é tão másculo, tão lindo... Eu sei que não devia ter me deixado apaixonar..." – o loiro falou.

"Apaixonar? Você ficou louco." – Wufei não sabia o que fazer com aquele seu amigo. Era a hora menos propícia para ele se deixar levar pelos atributos de um soldado da rainha. "O que eu faço com você, cara?" – Chang baixou a guarda. Sabia o quanto devia estar sendo difícil para o amigo aquela situação.

"Não sei. Apenas me ajuda." –o loiro deixou que as lágrimas que vinham de tanta confusão escapassem. Não estava sendo fácil admitir que se via apaixonado por um homem que estava do outro lado, que estava do lado das injustiças e sofrimentos, ele queria apenas pode ignorar tudo aquilo e continuar a vida, mas sabia que depois de Trowa seus sentimentos não seriam os mesmos.

"Ohhh, seu bobo." – Wufei o abraçou. Quatre era como um irmão mais novo. Um belo irmão mais novo. Ele de início havia se interessado pelo amigo de outra forma, chegaram a trocar alguns beijos, mas não daria certo. Wufei acabou percebendo que sua vocação para com o loiro era mesmo de um protetor irmão mais velho.

"Olá?" – Trowa surgiu na porta do aposento nesse exato momento.

A última pessoa que podia aparecer ali, ali estava. Trowa fora convidado em outra oportunidade por Quatre a ir visitá-los em seus aposentos de empregados, e assim o fez. Porem, ao chegar viu uma cena que fez seu coração quebrar em mil pedaços. Ele havia entendido tudo errado.

Quatre nos braços de Wufei, aos olhos do soldado parecia tão íntimo. Pareceram, aos olhos verdes magoados, feitos sob medida, um para o outro.

"Você?" – Quatre se assustou ao ver aquele homem que era motivo de seu desejo estático à sua porta.

"Entendo agora porque me recusou." –o soldado falou magoado.

"O que?" –o loiro não estava entendendo. Trowa estava pensando que... Não. Wufei era como um irmão.

"Seu namorado devia saber como você se desculpa com os outros na rua." – Trowa mudou da decepção para a ironia, era uma ótima forma de esconder seus sentimentos.

"Não sabe nada..." – Quatre tentou replicar aquela acusação leviana.

"Cale-se! Serviçal!" – Trowa usou de arrogância. "Um serviçal e um bobo da corte. Que par mais patético." – o rapaz fardado debochou.

"Já chega, soldado!" – Wufei odiou a forma como Quatre foi tratado. "Não tem o direito de falar assim com ele." – defendeu o amigo.

"Cala-se, eu disse! Não me importo com esse... esse... não importa! Apenas estejam em L1 após a festa de Relena. Heero vai reunir os contatos!" –o recado estava dado. Ele saiu sem mais palavras.

-Heero? O líder da resistencia? - Quatre piscou sem entender.

-Apenas esteja lá. - Trowa falou se retirando, antes deixando um olhar ferido para o casal.

"Uhh! O que foi esse furacão?" – Wufei falou irônico depois da saída do soldado.

"Esse era Trowa Barton!" – Quatre suspirou. "Parece que ele entendeu tudo errado." – o loiro falou.

"Eu sei e isso te incomoda muito, né?" – Chang sabia que sim, afinal o amigo estava apaixonado. Ele só esperava um dia poder encontrar tal sentimento na vida dele. - "Mas não importa agora. O que importa é que ele é um rebelde também, a menos que nos descobriram Trowa também é um rebelde." - Chang considerou.


Ainda no palácio, na torre

Fazia um dia que estava trancado ali. Duo olhou para a pequena janela no alto da parede. Por aquele pequeno espaço entrava algum ar e uns raros raios de Sol.

Seus olhos estavam inchados devido ao choro que não cessava. Era bem difícil para ele ter sido, de um dia para o outro confinado naquele quarto escuro, sendo humilhado de toda a forma por aquele homem arrogante. Era tão absurdo estar ali agora, preso e humilhado. Em um dia estava na sua casa, com sua família, e em outro momento estava ali, como um escravo, um escravo sexual. Para sempre seria um. Fora vendido por seu próprio pai.

Duo ficou em silêncio, algumas lágrimas ainda teimavam em cair de seus olhos. As palavras de Zechs sobre seu pai. De fato o loiro tinha razão sobre a forma como foi vendido. Duo não deixou de odiá-lo por isso. Havia o vendido para ser um maldito escravo de sexo.

"Era isso que ele sonhou para mim?" – Duo se perguntava magoado. Suas lágrimas estavam cessando e dando lugar uma sensação ruim, de abandono, de solidão. Odiava se sentir só.

O pobre menino estava envolto em tanta dor, revolta e abandono que tudo que menos precisava era de mais uma visitinha de seu senhor, mas o loiro já não estava conseguindo ficar longe daquele jovem e belo escravo.

A pesada porta se abriu mais uma vez. Duo estava associando aquela porta, aquele barulho das dobradiças enferrujadas, ao pânico. Era sempre tomado por uma sensação de pânico quando aquele homem entrava ali.

"Como meu putinho dormiu?" – Zechs sorriu malicioso. Seus olhos brilhavam de excitação somente de imaginar o que faria para humilhar Duo dessa vez, seus belos olhos faiscavam.

Duo se encolheu como um filhotinho acuado. Estava com medo das insanidades daquele homem. O menino queria muito manter sua postura de forte e valente, mas estava difícil. Havia sido vendido por seu próprio pai, havia sido espancado e humilhado, estava em um quarto escuro e isolado, tinha fome e dores, seus nervos estavam a flor da pele.

"Está chorando?" – Zechs provocou vitorioso. "Lindo ver esse rostinho marcado pelas lágrimas." – ele falou de forma assustadora. Era impressionante a sua expressão medonha de prazer ao proporcionar dor e sofrimento ao belo garoto.

Duo não queria ter sido pego chorando, não por Zechs, mas ainda era só uma criança e estava mesmo difícil se manter frio. Toda sua resistencia estava se esgotando pelas humilhações, dores, fome e desespero.

"Vamos brincar mais um pouquinho?" – Zechs deformou o rosto com um sorriso doentio se aproximando do pequeno corpo que se encolhia na cama.

"Não! Por favor!" – Duo chorou apavorado, se entregando de vezà submissão.

Zechs apenas sorriu. Duo estava vencido psicologicamente naquele momento.

O menino que apenas chorava foi facilmente dominado. Seus pulsos foram presos acima de sua cabeça, amarrados por tiras de couro que o loiro havia trazido, agora o jovem estava exposto preso ao espelho da cama.

"Nãoo!" – Duo choramingou tentando se soltar, mas era em vão. Tentou chutar o seu algoz, mas logo teve seus tornozelos amarrados também por tiras de couro aos tornos da cama, ficando imóvel e exposto. Ele respirou fundo engolindo o choro. Fosse a maldade que sofreria dessa vez tinha que tentar manter o controle.

"Isso! Está me enfrentando agora!" – Zechs sorriu excitado ao reparar como aqueles grandes olhos violeta o fitavam com raiva. Aquele olhar de desafio o provocava.

Não trocaram palavras. Zechs passava agora a mão em todo o corpo de Duo, alisando, tocando, apertando, se demorava mais nos mamilos, nas coxas, barriga e principalmente no pênis tão frágil e delicado do rapaz.

O loiro não tinha palavras, elas lhe faltavam diante de tanta beleza. Suas mãos passearam ainda durante um bom tempo sobre aquele corpo quente de pele tão clara e macia.

Duo apenas deixava suas lágrimas caírem uma atrás da outra. Ele nunca pensou passar por aquilo antes, estava ali completamente imóvel sendo tocado humilhantemente por um monstro. Todas as suas partes íntimas agora expostas à mercê da mais nojenta crueldade.

Zerchs montou sobre o corpo trêmulo do escravo, seus lábios se abriram lentamente para se fecharem sobre um tímido mamilo de Duo. Era muito bom.

O nobre cerrou levemente os olhos numa expressão de puro prazer ao provar o mamilo do rapaz. Ele achou-o delicioso, e achou graça na reação do pequeno corpo que se arrepiou abaixo do seu quando o mamilo foi tocado.

Ponto para Zechs que tinha acabado de encontrar um ponto sensível naquele corpinho apetitoso. Ele ficou durante muito tempo se distraindo com o mamilo que já se encontrava extremamente inchado. Chupava o minúsculo pedaço de carne, com uma mão fazia uma leve cócega na parte lateral do corpo do rapaz e a outra mão estava a beliscar o outro mamilo que já ficava duro ao seu toque.

Era prazeroso todo o corpo de Duo. Era delicioso sentir cada reação por mínima que fosse, ouvir cada gemidinho contido escapando por aqueles lábios róseos.

A sensação que Duo tinha agora era de estremo desconforto. Em seu silêncio ele desejava que aquilo acabasse logo, queria que aquela porta se fechasse e ele fosse deixado no escuro. Duo preferia mil vezes o escuro que partilhar o aposento com aquele terrível sádico.

"Eiii!" – Zechs o chamou manhoso. "Olhe-me!" – foi quase uma ordem.

Duo não o olhou. Ao contrário virou o belo rosto marcado pelas lágrimas para o outro lado encarando uma parede crua.

"Não seja teimoso. Vai ser pior." –o loiro ameaçou achando graça na infantilidade de Duo. Ele tinha aquele jeito rebelde, aquela arrogância e dureza, mas no fundo era ainda um menino e deixava seu lado criança aparecer em certas atitudes.

"Você é lindo, sabia disso?" –o nobre falou fascinado. "Tem um jeito tão... não saberia te definir." – ele parou pensativo admirando o corpo e as marcas arroxeadas sobre os dois mamilos.

"Os traços carregados de beleza, uma beleza feroz que ameaça a própria natureza, os olhos intrigantes como o profundo dos mares, assustadores como a correnteza... A pele rivaliza com a neve, o sorriso doce e leve. És um misto de homem e criança... ser divino, dividido entre morte e esperança... És meu... todo meu... apenas meu!" – Zechs falou sorrindo.

Duo o olhou finalmente, mas um olhar de repulsa. Zechs o havia surpreendido. Ele não sabia como alguém podia ser tão doentio.

"Gostou do poema?" – o loiro sorriu.

"Você é simplesmente patético." – Duo foi seco na sua característica arrogância.

Zechs se viu obrigado a engoli seu sorriso. Nunca teve um maldito escravo tão petulante.

"Filho de uma cadela!" –o nobre segurou firme a trança de seu belo prisioneiro. "Por muito menos eu acabei com muito escravo." – ele soprou furioso ao ouvido do menino. Seu tom dignava medo. "Agora um vadiozinho como você menospreza um poema meu." – Zechs se sentiu menosprezado.

"Covarde!" – Duo rebateu. Ele estava brincado com fogo. Zechs não era um homem que se estimasse ver nervoso.

"Mas uma ousadia, seu puto, e eu te apresento a roda do despedaçamento." – ele sorriu aquele sorriso desumano. "Você a conhece?" – uma mão do loiro continuava fincada nos lindos cabelos de Duo, a outra segurava com força seu rosto obrigando a encará-lo. "Ou quem sabe a pêra? Sim... eu vou adorar usá-la em você." – Zechs falou novamente no ouvido do rapaz.

Duo engoliu em seco. Ele bem conhecia a fama de tais instrumentos de tortura, na vila todos conheciam bem as táticas de tortura usadas contra os prisioneitos. A roda era nada menos de que uma roda onde a pessoa era presa e que ao virar despedaçava lentamente o corpo do indivíduo. Duo sabia da fama terrível daquele instrumento, não menos assustador que a tal pêra.

"Já pensou... eu introduzindo a pêra bem ai nesse seu lindo rabinho e depois a abrindo lentamente, te dilacerando por dentro... Você quer? Quer conhecê-la?" – o loirogritou sadicamente.

"Nãaaooo!" – Duo falou trêmulo, assustado e choroso. Estava ficando em pânico novamente. Queria apenas que aquela humilhação, aquela tortura psicológica acabasse logo. "Por favor!" – ele finalmente se descontrolou chorando como uma criança, implorando para ser deixado em paz. "Por favor!" – insistia em seu choro. Já havia ouvido falar naquela tal pêra, era um dispositivo usado para dilacerar vaginas, ânus e bocas. Era terrivelmente humilhante morrer de forma tão desumana.

O loiro sorriu diante o desespero do rapaz, que agora estava esgotado. Ele chorava e tremia em compulsão, estava em total descontrole.

"É assim que te quero. Como um gatinho doméstico. Meu animalzinho pessoal." – ele lambeu o ouvido de Duo, depositando a língua nessa cavidade, repetidas vezes antes de libertar a trança, agora completamente desfeita do rapaz.

Largado na cama Duo apenas chorou humilhado, vencido. Queria poder morrer, sumir... Mas apenas o que lhe cabia nesse momento era um choro forte e desesperado.

"Vai ficar aqui trancado e com fome até à tarde quando agente vai brincar mais um pouquinho, meu animal." – o loiro zombou o deixando jogado sobre a cama.

"Duo, eu juro pelo meu Deus, que você ainda vai lamber minhas botas como um cachorro obediente." – ele falou quando fechou a porta, encerrando o humilhado rapaz naquele quarto escuro.

"Então seu novo brinquedinho está lhe dando trabalho?" – era Noin, que mais uma vez o aguardava ao pé do quarto onde Duo estava confiando.

"Mulher!" – Zechs falou enquanto caminhava. "Mais cuidado." – a repreendeu sério.

"O grande Zechs não consegue domar o novo cãozinho sarnento, quem diria..." – Noin o provocou, porém foi interrompida.

Zechs não estava suportando as zombarias daquela mulher. Ele a tomou pelo pescoço a prensando contra a parede. Ela arregalou os olhos sem poder se livrar daquela fúria.

"Sua vaca!" – ele aumentou a pressão contra o frágil pescoço. Os olhos esbugalhados da moça ficavam lubrificados e vermelhos, bem como seu rosto também já estava tingido desta cor. A moça estrebuchou num esforço final de se libertar, porém em vão. Ela foi perdendo a consciência, seu rosto desfigurando pela falta de ar, pelo desespero que invadia todo seu corpo, os dentes trincados nesse desespero a fazendo babar.

Noin foi solta no chão frio das masmorras, estava desmaiada. Um Zechs impiedoso deixou o corpo ali inerte.

"Será que é necessário mesmo demonstrar tanta força?" – havia mais uma pessoa vigiando os passos do loiro e dessa vez era o velho G.

"Não é possível!" – Zechs estava impaciente. "Queres um pouco da minha força, também, velho?" – ele falou com desdém.

G nada falou. Não seria bobo de enfrentar um homem como Zechs.

"Não, meu senhor!" – ele falou humilde.

"Que diabos é isso que traz na mão, velho?" – Zechs se aproximou ameaçadoramente.

"Apenas um alimento para o menino... ele nada comeu desde que veio para cá." – respondeu submisso.

"Idiota!" – Zechs gritou derrubando a bandeja ao chão. "Esse vadio nada vai comer, a não ser quando eu decidir!" – o príncipealertou pisando nas frutas que eram destinadas a Duo.

"Mas senhor. É só uma criança!" – o velho se compadeceu.

O loiro não suportou aquela intromissão. Era sua impressão ou aquele maldito velho estava protegendo o pirralho? Furioso com o pensamento que Duo podia ganhar algum aliado ali dentro ele esbofeteou várias vezes o velho que foi ao chão sangrando.

"Fique longe dele, ou não terei piedade." – o nobre avisou deixando as masmorras.

Zechs não era um homem fácil. Era alguém ruim de coração amargo.

Trancado Duo ainda chorava. Perdido naquele maremoto de sentimentos. Se ele pudesse daria cabo da própria vida, não suportaria aquela situação por muito tempo. Era livre, não suportaria uma vida de subjugações e dor.

Ele soluçou pesadamente, sentindo miserável por sua sorte.


Beijos,
Ahhh... a fic foi dividida em capítulos menores... mas já-já vou alcançar a parte nova...

Hina