Umbral do Inferno
IV- A valsa dos apaixonados
Finalmente chegara o dia que a rainha soberana Relena Peacecraft daria a grande festa entre seus domínios. Havia gente das mais importantes colônias e reinos. O palácio real estava impecável, assim como todos os soldados reais e serviçais, e toda a cúpula real estava pronta para a festa. Aquela mulher era extremamente exigente, não perdoaria um deslize sequer. Mas aquele clima de festividades era ideal para quem tentava agir sem ser percebido.
Por isso um pouco longe dos jardins, onde seria realizado o concurso anual de valsa real, estavam Wufei e Quatre. Seus trajes eram ricos em detalhes, Relena, haja dito, era uma mulher que adorava se ver cercada do mais fino requinte.
Os trajes do bobo da corte foram encomendados a um costureiro nórdico. Feitoà mão o conjunto reunia luxo e brilho, porém Wufei sentia-se patético.
"Olhe para mim, loirinho." – ele falou miserável. "Pareço um vaga-lume gigante com essas malditas lantejoulas e paetês. Essa vespa dessa mulher só pode ter minhocas na cabeça!" – Wufei estava mesmo irritado. O traje era cercado de um babado brilhante a extremo, o paletó era um verde musgo puxado para cintilante, estava mesmo ridículo.
"Hahahah!" – Quatre apenas ria. "Você está engraçado." – completou.
"Isso loirinho, Ria! Mas nem ouse se olhar, afinal não está melhor." – Wufei sorriu provocando.
"Para com isso. Não temos tempo a perder. E olha para você! Deixe-me arrumar isso aqui." – Quatre falou arrumando um arranjo exagerado aos cabelos escorridos do amigo. Alguém vinha se aproximando, era Trowa.
O destino devia estar a brincar com aqueles amantes proibidos, afinal Trowa sempre pegava Quatre em situação suspeita com Wufei. Quando ele cruzou o patamar da ala dos serviçais viu o loiro arrumando os cabelos do outro rapaz, mais uma ele os achou íntimos demais e sentiu uma espécie de raiva o comer por dentro, queria correr e separar o loiro do outro.
"Eu já disse que você devia procurar uma vaga imoral para fazerem safadezas." – o soldado falou furioso.
"Uma vaga?" – Quatre o olhou se livrando de Wufei. "Você disse uma vaga?" – o loiro achava que o soldado passara dos limites. As vagas eram acomodações baratas nas vilas para pessoas se relacionarem rapidamente, na maioria das vezes por algum dinheiro, ou mesmo para as mais terríveis vulgaridades.
"É, loiro. Uma vaga, e daquelas mais baratas que tiverem. Afinal é o que me parece propício para pessoas da sua laia." – Trowa o provocou. Estava fervendo de raiva do garoto a sua frente.
"Escuta soldadinho. Não sei o tipo de pessoa está acostumado a levar para essas... vagas, mas eu nunca a experimentei antes, não sou esse tipo que pensa! Isso fica mais a sua cara!" – Quatre falou irritado.
"Eu só não arrebento com sua cara porque..." – chegaram a algum extremo. O soldado partiu para cima do outro rapaz o segurando pelo colarinho, fazendo com que seus rostos mantivessem uma distancia mínima. Eles se olharam, olhos nos olhos, boca na boca.
Em poucos minutos estariam se atracando aos beijos, mas não aconteceu. Ambos se empurravam.
"Porque?" – Quatre o provocou.
"Seu idiota!" – Trowa estava transtornado, queria mesmo agarrar aquele rapaz e beijá-lo até não poder mais.
"Escuta aqui soldadinho..." – Wufei era tido como um irmão para o loiro, o amava como se o fossem. Sabia que Quatre estava sofrendo com aquela repentina paixão por aquele soldado arrogante, mas ouvir aquele homem maltratar seu doce amigo foi demais. Ele se meteu na briga, porém não levou muito tempo, Trowa estava tão enfurecido que lhe esmurrou.
O bobo da corte foi atingido no rosto e só não foi ao chão porque Quatre o segurou.
Trowa não soube o que deu em si, não devia ter feito aquilo, principalmente porque o olhar que o loiro lhe lançou foi de ódio.
"Suma de minhas vistas, ou acabo com você!" – Quatre falou com raiva, os olhos estavam com ódio.
Trowa apenas se afastou confuso, nunca achou que olhos tão belos e meigos podiam se tornar como chamas de fúria, aquele menino devia mesmo amar Chang e isso deixava o soldado arrasado, seu coração ferido por um amor impossível.
"O que aquele bobo da corte tem que eu não tenho?" –o soldado falou chateado antes de sair.
Não longe dali, nas masmorras Duo encontrava-se largado na velha cama. Estava tão fraco, tão miseravelmente cansado. Não tinha mais lágrimas, agora seu coração estava seco como um deserto. Ele apertou os olhos com força, estavam doloridos e inchados.
Ele suspirou olhando as paredes escuras e cruas, olhando aquele pequeno local que agora era sua realidade. Não estava suportando aquilo, sentia que se ficasse ali por mais um dia ia surtar. Fora criado com os pés no chão, correndo à luz do Sol, e ver-se agora ali, era desesperadora a idéia de que aquilo seria seu destino. Abandonado a uma cruel subvida.
Do outro lado da pesada porta Noin estava pensativa. Aquele novo escravo de Zechs devia mesmo ser bem especial, afinal o loiro nunca a havia tratado daquela forma por causa de nenhum outro escravo, ela levou a mão ao pescoço massageando o local dolorido, sentia uma espécie de ódio e mágoa, porém não de Zechs e sim de Duo, que devia estar controlando o loiro.
Não era nenhuma novidade que o irmão de Relena era alguém que adorava viver cercado de amantes e cada um mais belo que o outro, porém era apenas uma coisa de carne, apenas sexo da melhor qualidade, mas com esse novo brinquedinho era diferente. Os olhos do nobre brilhavam por Duo. E isso Noin não ia deixar, jamais deixaria um vadio como aquele escravo ganhar o amor de Zechs.
"Noin! Se tiver amor a sua vida acho melhor nem se aproximar dessa pobre criança." – o velho G falou se aproximando.
"Pro inferno, velho desgraçado!" – ela se exaltou. "Quer o vadio para você, não?" – Noin sorriu. "Selemos um trato. Você some com ele e faz o que quiser e eu fico livre dessa ameaça." – ela propôs.
"Não posso. Zechs o seguiria até o inferno. Ninguém pode notar, mas eu sei que ele está completamente vislumbrado com esse menino." –o velho observou.
"Eles não ficam juntos! Nem uma maldita noite se depender de mim!" – a moçajurou saindo.
"Ahhh... O tolo ciúme das mulheres!" – G comentou. "Agora que não tem ninguém aqui eu vou alimentar esse menino." – G não devia ter metido em tal coisa, afinal já estava avisado pelo príncipe que não devia se aproximar do menino escravo. "Alguém precisa fazer algo por ele..."
G não teve tempo de ir ao socorro do garoto, pois Zechs ia se aproximando. Seus lábios vinham tortos num sorriso frio, era algo envolvendo excitação, ele trazia algumas espécies de chicotes com os quais planejava punir o jovem cativo apenas para saciar sua maldade.
A porta pesada se abriu fazendo o loiro entrar. G havia se escondido na penumbra quando o nobre passou, ele sabia que Duo ia sofrer, só rezava para o menino ser forte o suficiente.
"E então? Acaso o meu animalzinho já quer lamber minhas botas?" – Zechs sorriu ao entrar na escuridão do cômodo onde Duo estava confinado. Estava sentindo uma verdadeira sensação de prazer se sentindo melhor e superior ao rapaz indefeso.
Duo não respondeu. Na verdade queria xingá-lo. Cuspi-lo, lutar contra ele, mas o fato era que estava completamente enfraquecido, estava acabado, seu espírito de luta, aquele que queimava tempestuoso dentro de si, estava amainado. Zechs havia o domado a base da força, do medo e da dor. No desespero havia cedido e se tornado submisso àquela tortura, se deixaria no escuro remoendo seu fracasso até chegar a sua hora de morrer em paz, porém naquele mesmo dia lá estava o loiro novamente.
"Ahhh... mas eu vejo que alguém precisa aprender boa maneira, não?" – Zechs falou sorrindo. "Vamos! Mova-se!" – estava virando alguma obsessão sádica torturar o pobre menino. "Eu nem queria fazer isso, mas essa sua falta de respeito com os superiores me irrita!" – falou já estando bem perto de um Duo encolhido sobre a cama. O puxando pela trança quase desfeita o arrastou pelo quarto até jogá-lo no chão frio.
"Seu cão!" – Zechs gritou o chutado várias vezes.
Duo sentiu a dor dos chutes ardendo em suas costas e costelas, era grande o sofrimento e ele teve uma grande e incontida vontade de começar a chorar e implorar por alguma misericórdia, porém a situação o que tinha de humilhante tinha de revoltante, estava sendo pisoteado e xingado como um cão sem valor por aquele homem que o havia separado de sua família, uma raiva surgiu no peito de Duo, crescendo como um fogo embrasador.
"Vai me obedecer ou não?" – Zechs estava perdendo a paciência com aquela apatia de Duo, afinal até quando o menino ia ficar a li sendo espancado? "Vai ser meu cachorrinho?" – O loiro puxou o rosto do escravo pelos cabelos fazendo seus olhos se cruzarem.
"Não." – Duo falou frio cuspindo no rosto de seu algoz.
Talvez aquilo não tenha sido boa idéia, mas havia sido a melhor que conseguira para descontar aquela dor que estava sendo obrigado a provar pelas mãos do loiro.
"Seu vadio!" –o loiro o esmurrou bem no rosto com uma força desmedida, o fazendo cair desmaiado e ensangüentado ao chão frio de pedras. Porém a raiva era contida, afinal Duo estava reagindo exatamente da forma que o excitava, afinal que graça tinha um maldito escravo sem rebeldia? Era aquela chama de ousada rebeldia que fazia valer as torturas, era aquela sensação de se ver superior a alguém mesmo que fosse por meio da força, era uma forma de ordenar, uma forma de subjugar e quando mais resistência o escravo impunha, mas gostosa e satisfatória era a sensação de vitória.
O soco de Zechs fora bem mais forte do que Duo esperava, ele perdeu os sentidos por um tempo, porem quando despertou havia uma dor nas costelas que o incomodavam, também os pulsos estavam doloridos, na verdade todo ser corpo doía.
"Que bom que a bela adormecida acordou!" – o loiro falou bem ao ouvido do outro rapaz.
"Nãooo..." – Duo gemeu bem fraquinho tentando se soltar, mas tão inúteis eram aquelas tentativas.
"Ahh, sim, meu gostosinho raivoso." – a língua de Zechs foi entrando na cavidade quente que era o ouvido de Duo, molhando-o por dentro o excitando.
Duo fechou apertado os olhos quando Zechs despejou seu bafo quente junto a seu pescoço, todo seu corpo tremeu num tímido espasmo. Tinha que se conter ou acabaria mostrando para aquele maldito loiro que seu corpo estava gostando das ousadias quando na verdade estava apenas respondendo aos estímulos. A mão de Zechs foi descendo até o meio das pernas do prisioneiro, apalpando o falo adormecido. Pegando de forma descuidada, não importava excitá-lo e sim machucá-lo.
A festa já devia ter começado lá fora a julgar pelo muito tempo que o príncipe já estava com o escravo no quarto. As bolinações agora consistiam em beliscões nos mamilos, já bem feridos e nos escrotos macios, bem como alguns dedos bem no fundo no ânus já dolorido de Duo. O pobre rapaz se mostrou bem arredio, tão rebelde quanto qualquer animal selvagem preste a ser abatido, porém quando sentiu os dedos invasores alguma coisa havia se quebrado. Toda a postura de firmeza que havia armado havia se ido, com os dedos entrando ele se desesperou, era como se de forma definitiva Zechs estivesse lhe roubando bem mais do que ele estava preparado para oferecer. A dor era grande mais havia algo mais ao sentir dedos tão imundos o tocarem.
"Tão diferente de tudo que sonhei. Tão pobre e revoltante... tão agressivo e cruel. Tão doloroso... merda! Sempre sonhei que seria carinhoso, sem sombra de dor, sem choros, não era para ter sido assim. A primeira vez que sou tocado... não era para ser assim!" – Duo pensavam enquanto chorava miseravelmente, ainda tentava se libertar, mas seus pulsos estavam em carne viva. Era impossível.
Duo estava vencido mais uma vez. Agora mais que nunca. Seu corpo tremia a cada soluço forte.
"No fundo você é só mais um." – Zechs falou com raiva. Queria ver Duo lutando até o fim e, no entanto ele apenas chorava feito uma criança assustada. "REAJA!" – o loiro gritou. "Eu já sei o que você quer." – ele sorriu de canto a canto, aquilo seria um prazer.
O menino ficou em silêncio contendo o choro. Sabia que algo estava por vir, algo cruel e doloroso. O silencio do cômodo dizia isso. Não demorou muito a vir a primeira chibatada com extrema força sobre as costas de Duo, e outra, e outra e outra e seguidas vezes quanto Zechs achou divertido que fosse.
Duo fechou os olhos com força e mordeu os próprios lábios ao sentir o couro das costas queimar pelo atrito, depois novamente e novamente e novamente, até que toda a sua pele estivesse muito sensível e afinada, a dor era aguda, como se mil facas o perfurassem a cada golpe. Mas não gritaria, nem mesmo que lhe tirasse as tiras de pele. Ele retesou o corpo, sua expressão estava endurecida por causa da violenta dor.
"Arrrhhhh!" – Finalmente foi traído pelo próprio corpo, mas não era de se condenar, já estava sangrando nas costas e nas nádegas, porém os golpes na paravam.
Ahhhh... nãooo! Ohhhh... Huuurrmmm!" – ele gemia mais alto a cada golpe.
Do lado de fora do quarto de tortura G estava apenas ouvindo com seu coração aos prantos. Ele podia ouvir perfeitamente os gritos de desespero de Duo, eram gritos de pura dor, altos e alterados, fazia pena. G fechou as mãos com força, essa noite faria algo por aquela pobre criança.
Ele viu quando Zechs fechou a pesada porta lentamente e sumiu nos corredores escuros. Agora tudo voltava a sua normalidade, o silêncio frio e mórfico parecia trazer um arrepio a todos que passavam por ali.
G já não tinha mais noção de quanto tempo estava ali naquelas masmorras, a conhecia como a palma de sua mão calejada, e tinha a chave mestra, aquela que abria todas as trancas das masmorras.
Tomado por algum sentimento de proteção ele seguiu para o local onde estava confinado Duo, o velhote sabia que não devia se meter naquilo, já estava avisado por Zechs e todos sabiam que o nobre príncipe não se repetia.
Dentro da prisão Duo apenas se deixou ficar ali largado ao chão frio. Estava completamente nu e abandonado. A dor das chibatadas queimando contra suas carnes vivas havia acabado, porém seu corpo todo parecia ferido por dentro, cada músculo ou osso parecia uma única ferida. Estava cansado, dolorido e com muita fome, todo seu corpo tremia, ele achou melhor se entregar de uma vez. Era bobagem acreditar que algum dia retornaria para sua família, achar que de novo seria livre para correr na terra com os pés na grama.
Aquele seu espírito guerreiro e rebelde estava dobrado diante da violência e opressão de Zechs.
"Se ao menos eu pudesse voltar para casa...!" – ele choramingou quase num delírio. Seus olhos inchados se fecharam lenta e pesadamente, dentre pouco tempo não mais os precisaria abrir. Ele foi se entregando a uma sensação de dormência e paz que era como em poucas palavras se seu espírito estivesse indo embora, abandonando as dores e pesos humanos, deixando para trás um corpo cansado e massacrado.
Naquela ilusão ele era livre por mais uma vez. Ele as via flutuando por campos verdejantes sentindo o vento, ele nem soube se no lugar que nasceu havia um campo como aquele, afinal eram muito pobres e sua terra natal miserável demais, porém não importava mais nada agora, apenas que estava livre.
Mais uma vez naquele dia a porta rangeu alto. O barulho, Duo o havia associado a algo muito ruim, aquilo fez todos os sentidos de seu corpo despertarem e seus olhos se abriram num pânico.
"Calma, garoto. Eu não te farei mal algum." – G caminhou na direção do menino que tremia largado ao chão encolhido numa trouxinha. Estava nu e muito machucado, o estado do pobre rapaz lastimava corações. Ele precisava de cuidados ou podia morrer. "Vamos! Seja forte." –o velho o tocou nos ombros retirando dele um gemido profundo de dor.
"Deixe-me." – Duo gemeu se encolhendo ainda mais. Havia medo em sua voz. Estava tão assustado como um bichinho acuado.
"Sou um amigo, agora se levante e encare essa dor." – G falou firme o puxando para se sentar sob os gemidos vários de dor. "Escute. Você precisa resistir." – Ele falou olhando no fundo daqueles olhos violetas.
"Pra quê? Que diferença faz eu morrer hoje ou amanhã? Porque será inútil, ele vai me matar mais cedo ou mais tarde." – Duo falou.
"Sei... mas apenas se você deixar! E se você tiver mesmo o sangue que acho que tem ai dentro dessas veias, vai fazer todo o possível para dificultar o trabalho dele! Vai fazer o que puder para não morrer pelas mãos de Zechs!" –o velho falava com força.
"Do que está falando?" – Duo o olhou confuso, os olhos de G traziam uma verdade estranha, uma força.
"Vamos! Vou tratar esses ferimentos." –o velhote falou puxando os pulsos em carne viva, o estado de Duo era terrível, que tipo de pessoa podia fazer isso a uma criança?
"Porque devo cofiar em você?" – as sobrancelhas finas de Duo se arquearam em desconfiança.
"Hum... porque não lhe resta outra opção." – G sorriu.
"Hum!" – Duo achou que era uma boa conclusão.
Por momentos ninguém falou nada. G apenas se dedicava a fazer alguns curativos nos pulsos de Duo. O rapaz estava muito machucado, a pele de suas costas e nádegas estavam sangrando bastante, no rosto também havia filetes de sangue e por todo o resto do corpo apontavam hematomas enormes, ali não poderia fazer muito pelo jovem.
Duo apenas o observou concentrado nos cuidados, era uma imagem boa. Ele nas mãos de G sentia uma sensação nostálgica, era os mesmos cuidados e carinhos que seu velho pai tinha para com ele.
"Sente falta deles, não é?" – G comentou, os olhos de Duo pareciam gritar as saudades que trazia de sua terra e de seus amados parentes.
"Sim... não é fácil ficar longe deles." – Duo falou triste.
"Logo estará livre." – G sorriu.
"O que te dá essa certeza?" – o menino o olhou curioso, aquele senhor sabia coisas.
"Duo, eu sei algo sobre você. Sobre seu passado que pode mudar sua vida e desse povo sofrido." – G falou ficando sério.
"Hum?" – Duo não entendia.
"Duo, conheci seu pai no passado. Ele era um homem bondoso... Éramos amigos, mas ele..." – G ia fazer alguma revelação bombástica, porém a porta se abriu mais uma vez.
Era Zechs e alguns de seus soldados.
"Então é isso? Então é você quem anda fazendo visitinhas ao meu escravo?" – Ele se dirigiu a G, seus olhos queimavam com ódio. Duo havia se tornado sua obsessão pessoal e qualquer um que se aproximasse do garoto era um ameaça. "Então? Estou esperando um bom motivo para você está aqui com ele!" – o loiro estreitou os olhos.
"Ele não teve culpa!" – Duo tentou se defender e ao amigo, mas Zechs foi taxativo.
"CALE-SE!" – O nobre gritou forte, sua voz reverberou pelas paredes. "Então, velho! Não costumo ser um homem paciente!" –Zechs caminhou com toda a elegância que a nobreza lhe permitia circulado pelo quarto. "O que está fazendo aqui? Com o meu vadiozinho?" – Seu tom passou para uma suavidade forçada. Ele caminhou passando por Duo levando os dedos por uma mexa de cabelos que caia ao rosto do rapaz, a arrumando atrás da orelha. "Acabou seu temp.!" – falou frio sentando-se na cama.
"Pelo amor de Deus... a culpa é minha..." – Duo tentou novamente, mas foi impedido. Com um gesto Zechs ordenou que um dos soldados agisse contra o rapaz. Uma bofetada forte foi desferida contra o rosto do escravo o lançando ao chão frio.
"Olhe para ele, G! Quanto tempo mais você vai o deixar ai? Está frio aqui e ele está nu, e olhe para esses homens, estão prestes a devorá-lo vivo, afinal não é sempre que eles vêem um garotinho tão gostosinho completamente nu, mas só depende de você...!" – Zechs sorriu.
"Deus! Senhor Zechs! É só uma criança, eu tive pena! Quis cuidar! Ele chorava!" – G falou finalmente.
"Pro inferno! Meus escravos são minha exclusividade!" – Zechs gritou.
"É uma criança! Estava ferida e com fome! Estava chorando! O senhor não tem coração!" – ele finalmente o enfrentava. Era chegada a hora de enfrentar as maldades do nobre.
"Hum! Coração?" – o loiro se levantou indo até Duo. "Coração?" –o puxou pelos cabeços o suspendendo ao ar.
"Agora, meu putinho,você vai ver quem é o homem chamado Zechs Peacecraft, vai ver como costumo tratar as pessoas que me desafiam!" – ee gemeu ao pé do ouvido de Duo. "A mesa do esviceramento!" – ordenou por fim.
Duo gelou, um pânico percorreu seu corpo o enojando, se tivesse alguma coisa no estômago a teria posto para fora. Estava trêmulo e desesperado.
A festa de Relena já havia começado há algum tempo, todos davam pela falta de Zechs. Ele era o irmão mais velho da rainha, e estava sempre ao lado dela, porém em data tão importante de festividade havia sumido.
"Eu disse que você devia por logo um freio no temperamento do meu querido irmão, Treize!" – Relena resmungou para Treize.
"Eu nada posso fazer. –Treize se defendeu, mas sabia exatamente que o noivo devia estar com seu novo brinquedinho. "Mas já estou arrumando um jeito de me livrar... desses problemas." – sorriu.
As festas que Relena Peacecraft estava acostumada a dar eram um tanto quanto frias. Alguma coisa fazia suas comemorações serem opacas e um tanto quanto forçadas, as pessoas que ali estavam apenas iam para cumprirem alguma obrigação social, ou mesmo por aquela velha política de boas vizinhanças. Relena era uma mulher poderosa e não era bom tê-la do lado oposto.
Ainda na festa os serviçais se desdobravam para que estivessem todos servidos, enquanto Wufei fazia tolas acrobacias em um palco, porém prestava atenção nos mínimos detalhes.
Quatre passou por perto dele com uma bandeja de bebidas.
"Já viu o tal do Heero em algum lugar?" – o bobo disfarçou querendo saber.
"Ainda não. Mas ele virá." –Quatre passou com a bandeja.
"Ei... uma bebida!" – um homem pediu a Quatre.
"Nossa. Que queria poder ter o garçom também." – ele sorriu olhando para as nádegas do rapaz loiro que prontamente ignorou o comentário, afinal já estava acostumado àquilo.
"Acho que você gostou na ousadia!" – Trowa surgiu ao lado de Quatre. "É bem o jeito que gosta de ser tratado, não é?" – o soldado havia usado um tom sarcástico.
"Eu já disse que não sou quem você pensa... eu exijo respeito." – Quatre falou furioso e aproveitando que estava com uma bandeja de bebidas lá se foi uma vodka no rosto de Trowa. "Ohh... foi sem querer." – Ele sorriu sumindo no meio dos convidados.
"Maldito loiro! Mas como é lindo, principalmente quando fica nervosinho." – Trowa sorriu, estava começando a gostar das provocações. "Eu estava mesmo precisando de uma bebida!" – Falou para si sorrindo.
Nesse momento um murmúrio percorreu todo o salão. Finalmente Heero Yui havia chegado. Ele era uma figura raríssima, nunca saía de sua colônia principalmente se envolvia em eventos desse tipo.
Não foi a toa que a festa literalmente parou para a chegada de Heero. Estava belíssimo. Trajava o uniforme de sua colônia. Uma beca longa na tonalidade azul escuro bem fechado, botas de cano alto num preto brilhante, ombreiras douradas e alguns detalhes também dourados compunham seu visual. Seus cabelos de tom marrom chocolate estavam rebeldes, como sempre, e seus olhos azul turquesa brilhavam com seu característico tom de mistério. Ele caminhou lentamente pelo salão, abrindo espaço, todos os olhos o seguiam a cada passo, a cada movimento, Heero era um encontro perfeito do exótico com o misterioso.
Relena se meteu em sua frente o obrigando a parar. Detestava aquela mulher e havia feito de sua vida uma luta contra o império Peacecraft, porém agia no escondido, infiltrando seus agentes no palácio da rainha e vigiando seus passos.
"Heero Yui! É sempre uma honra!" – ela sorriu numa grande reverencia.
"Relena." – ele meneou com a cabeça.
"Vocês! A minha música!" – Ela ordenouà orquestra. "Heero. Não se recusa uma dança, eu sou uma dama." – ela sorriu estendendo a mão.
"Hn!" – Heero a levou para a pista, não estava muito satisfeito, mas seria bom ficar mais reservado com Relena, talvez arrancasse da rainha seu próximo passo contra as colônias humildes.
A valsa que Relena tanto gostava foi tocada enquanto ela bailava com Heero. Era como se flutuasse em nuvens, a rainha amava aquele rapaz e essa era sua maior fraqueza, amar um homem frio que não demonstrava mínimo sentimento por ela. Heero Yui era o único desafio que a rainha não conseguira superar até hoje.
Enquanto isso nas masmorras a situação era tensa. Duo assistia G ser amarrado a uma tábua, tudo era metodicamente teatral, era como um grande espetáculo sombrio. O velho uma vez que preso foi impiedosamente rasgado de cima abaixo e ganchos lhe prendiam internamente, aquele instrumento de tortura era assustador, consistia em remover as tripas da pessoa ainda com vida, era terrível. Era inconcebível.
Duo assistia a tudo com lágrimas nos olhos, era cruel de mais ver que seres humanos projetavam armas contra si próprios, e pior, pareciam se divertir com aquilo, quando ele estava completamente angustiado. Seus olhos antes de um violeta vivo se tornaram opacos, ele não estava pronto para um mundo assim, seus pais não lhe haviam ensinado a odiar as pessoas.
"Por favor, pare!" – ele implorou em certo momento não suportando mais aquele sofrimento. Os gemidos de G tornavam o ambiente extremamente doentio, aqueles sons Duo jamais esqueceria. "Eu faço o que você quiser!" – Duo implorou a Zechs que sorria de tudo.
Ninguém soube quanto tempo aquilo durou, mas o fato era que muito tempo, mas G ainda estava vivo, agora seria deixado para morrer sozinho num mudo sofrimento. Duo apenas ficou parado olhado tudo meio apático, se não fosse o loiro a segurá-lo ele teria caído, suas pernas não suportavam o peso de seu corpo.
"Vamos deixá-lo aqui! Acho que o garoto já viu o bastante." – Zechs acolheu Duo em seu peito, ele estava quase desacordado.
Mas tudo aconteceu muito rápido. G ao ser liberto da mesa se levantou num suspiro final e desesperado, ele empurrou Zechs tomando Duo para si. Ninguém pode fazer muito, foram pegos de surpresa.
"Agora... corra! Com todas as forças que suas... pernas tiverem! Além das colinas do norte.. L1, um homem... busque ajuda!" – G falou como pode entregando a chave mestra para Duo e o jogando para fora da sala de torturas se fechando com os demais homens. "Rápido, use a chave e nos tranque!" – os olhos de G tinham uma breve despedida.
"Mas..." – Duo não sabia o que fazer, a adrenalina foi tomando seu corpo e ele se viu se excitando com o desejo de liberdade.
"Vá... não pare nunca." –a mensagem contida nos olhos de G fez Duo entender que devia seguir em frente. "Heero Yui!" – ele falou quando a porta se fechou. Era o homem que precisava buscar.
Dali em diante Duo nem soube como fez para ser tão rápido estando com o corpo terrivelmente quebrado, tinha um ar de medo, mas era maior ainda a vontade de espaçar, de viver. Ele fechou a porta por fora correndo pelas escadas, estava nu e ferido mas ia em frente.
Ao sair nos corredores ele ouviu um som, havia uma festa... Talvez pudesse ser mais fácil fugir. Porém nos corredores vinham alguns guardas fazendo a ronda de rotina.
"Por aqui!" – uma voz feminina o puxou para uma passagem secreta por trás de uma estátua de gesso. "Essa foi por pouco!" –a moça iluminou rosto do rapaz com uma tocha. "Você é do tipo que gosta de tomar um ventinho nas partes, meu bem?" – Ela sorriu, mas entendia bem o que estava acontecendo, se tratava de uma fuga de escravo, e pelo que ouvira nos corredores era o escravo predileto de Zechs. "Venha! Vamos sair nos jardins, você se esconde e tenta fugir em um dos veículos, deve haver alguém de nossa confiança como convidado dessa festa!" – ela falava fazendo mil planos, Duo apenas a seguia, não sabia se podia confiar nela, mas não tinha outra escolha.
Enquanto isso na festa a valsa de Relena estava quase no fim, todos podiam a invejar pela dança com Heero.
"Um dia eu gostaria de saber o que fazer para alcançar seu coração." – ela falou ao pé do ouvido do rapaz. "O que uma garota tem que fazer para te conquistar? – Ela falava sem resposta. "O que eu devo fazer para chegar ai aonde ninguém mais chegou?" – Relena falava.
"Hn! Ser alguém de verdade, Relena." – Heero falou simples.
"Como assim?" – ela jamais entenderia. Heero esperava alguém que fosse simplesmente um ser humano normal... queria alguém com sentimentos de verdade, era apenas isso.
"Mas... eu não sei aonde essa pessoa se esconde." –Yui falou muito baixo, era apenas para si aquela confissão.
Como por um encanto a resposta para aquela pergunta de Heero surgiu a sua frente. Mais adiante no jardim havia um imponente chafariz, era ali que acabava a passagem secreta, dali saiu Duo. Estava escuro e confuso, distante demais, porém Heero viu, aquela pessoa que ali surgiu estava nua, os cabelos enormes e soltos em volta do corpo, era como um ser místico, um anjo talvez.
Heero nunca havia visto uma imagem como aquela e nesse momento seus olhos azuis turquesa ganharam um brilho diferente. Ele teve a certeza de que se aquilo que estava ali fosse um ser humano era a pessoa que o destino reservou para si.
"Que foi?" – Relena notara que o olhar do jovem se perdera no jardim, mas olhando na direção do chafariz nada vi. "Que houve? Eu achei que o tom de seus olhos havia mudado." – a rainha observou.
A valsa estava terminada, Heero mesmo a terminou antes da música acabar. Estava transtornado, o que era aquilo? Quem era aquilo?
Relena ficou desnorteada largada no meio do salão sob os olhos de todos, nunca fora tão insultada assim, nenhum homem já a havia abonado no meio de uma valsa.
"Heero Yui! Volte aqui!" – a nobregritou furiosa.
"Esqueça. Você pisa nos pés!" – Ele gritou em retorno arrancando risos de todos ali na festa.
"Heero! Isso não fica assim!" – Relena falou para sim mesma. "Continuem!" – Ordenou ela à orquetras.
Yui sumiu no meio da multidão, não via mais a tal miragem.
"Devia ser apenas uma ilusão." –Yui falou para si mesmo quando caminhou tonto pelo jardim. A imagem do anjo não ia embora de sua mente.
Tempos depois num movimento estranho os soldados de Zechs se espalharam pela festa, estavam em busca do fugitivo.
"Zechs! Que te deu? Onde estava? Porque esses soldados?" – Treize se aproximou.
"Não me enche! Eu tenho meus assuntos!" – o loiro gritou.
"Mas... você é meu noivo..." – Treize ia começar algum discurso.
"Não me enche! Já disse! Vamos ver nos jardins! Cerquem tudo! Revistem tudo!" – ele dava ordens.
Definitivamente a festa estava acabada. Primeiro Relena fora abandonada na pista de dança e depois Zechs cercava tudo. A rainha estava furiosa.
Para Heero também era hora de ir embora, a festa para ele havia acabado, na verdade nem sabia o que estava fazendo ali, seguir de perto os passos de Relena não era boa idéia, a moça era louca por ele, de fato não daria certo. Ele entrou em seu carro pedindo que o motorista voltasse a sua colônia.
"Venha por aqui! Estão cercando tudo! Ahhh... venha! Nesse veículo ninguém vai desconfiar." – ela falou abrindo a porta do carro.
"O que há?" – Heero que já estava dentro de seu automóvel a olhou.
"Ele necessita fugir das garras de Zechs... é só um pobre escravo. – Sally falou.
"Sendo inimigo dos Peacecraft é meu amigo. Venha." – Heero falou, e sem ter visão da pessoa que era estendeu a mão.
"Obrigado! Como se chama?" – Duo ainda de fora se virou para ela.
"Sally Pô." – a moça sorriu.
Quando finalmente Heero pode ver quem era a pessoa que ia ajudar nessa noite seu coração disparou de uma forma quase desesperada, ele nunca havia se sentido assim antes, mas o fato era que havia se apaixonado. Era estranho, talvez não combinasse bem com ele a palavra paixão, mas naquela noite havia sido tocado por uma espécie de sentimento inexplicável .
Ele ficou com um bobo com a mão estendida, estava congelado na figura que entrava em seu veículo.
"Eu sou Duo Maxwell!" –o rapaz falou assim que entrou ignorando a mão que lhe era oferecida. Heero não conseguia tirar os olhos dele. Era certo que Duo estava horrível, muito ferido, sujo, sangrando, mas era algo no seu olhar que chamava a atenção. Não só a cor exótica de azul em tom violeta forte, mas um brilho que dava a Heero a certeza de todas as dúvidas que já teve.
"Escute! Eu não costumo fazer isso a estranhos! Mas, digamos que estou de bom humor hoje! Bom, agora temos que te tirar daqui!" – Heero falou tentando voltar a ser o homem frio que era, mas estava completamente desarmado diante daquele belo rapaz. Sabia que havia cruzado uma linha imaginaria entre a razão e a paixão, porém ainda não sabia quem era aquele garoto, do que fugir ao certo.
"Eles cercaram tudo. Não tem jeito." – Duo falou pensando em pedir que o rapaz lhe entregasse para não se complicar, mas lembrava de G lhe dizendo para ir... ele tinha que ir a busca do tal Yui. "Acho melhor me entregar!" – Duo falou.
"Não seja tolo. Vou te tirar dessa. Mas, depois você vai me pagar por isso." – Yui falou olhando para aquele corpo nu a sua frente.
"Eu não tenho muito a oferecer." – Duo se encolheu tentando cobrir sua nudeza.
"Temos que revistar todos os veículos, senhor." – um soldado falou na saída se dirigindo ao motorista que guiava o carro de Yui.
"Como foi que disse?" – Heero abriu um pouco o vidro do carro olhando friamente para o soldado.
"Desculpe-me, senhor. Podem seguir." – o soldado falou humilde. Jamais se oporia a um homem como Heero Yui.
"Prossiga!" – Heero ordenou ao motorista.
"Você tem bastante prestígio." – Duo comentou.
Duo olhou para fora. Ele ainda tinha chave mestra apertada na palma. Lembrava de G, de como sacrificou a vida para salva-o e de como ia lhe revelar alguma coisa muito importante. Estava esgotado. Esta era a verdade, e aquele homem que lhe dera a ajuda, tinha olhos tão serenos, apesar de frios, era alguém na qual sentia que devia confiar.
Aos poucos as imagens que havia visto naquele dia foram se embarcando e seus pensamentos se confundindo e logo ele estava adormecido.
Heero o olhou. Seu coração estava em brasa, seu estômago vibrando, e seu baixo ventre uma mistura dos dois. Nunca havia se sentindo assim. O menino a sua frente estava muito machucado e precisa de cuidados. Ia cuidar daqueles ferimentos, e ajudá-lo, alimentá-lo, e protegê-lo. Retirando sua própria túnica cobriu a nudez do corpo menos o trazendo para se aninhar em seu peito.
Comentários:
O G deve ser algum ser zumbi, porque foi meio mentiroso ele sair correndo estripado...
Hehehe.. legal o Heero ter deixado a Relena sozinha... XD
- Sobre a mesa de evisceração, ou "esquartejamento manual" - Um dos mais cruéis instrumentos de suplício. Destinava-se a extrair aos poucos, mecanicamente, as vísceras dos condenados. Após a abertura da região abdominal, as vísceras, uma por uma, eram puxadas por pequenos ganchos presos a uma roldana, girada por um carrasco.
A tortura é crime inafiançável no Brasil. Denuncie!
Beijos,
Hina
