Capítulo 2

NO AVIÃO

Uma semana depois os três estão a caminho de Zagreb. Abby cochila recostada no ombro de Luka. O bebê dorme tranqüilamente.

Abby (sonolenta) – Acho que eu cochilei. Que horas são?

Luka (sorrindo) – Cochilar é bondade sua. Faz quase duas horas que você está dormindo pesado!

Abby – Nossa! Apaguei mesmo! Ainda bem que não babei. Falta muito pra chegarmos?

Luka – Umas duas horas. Não está na hora dele mamar?

Abby – Não... Não se preocupe que ele não me deixa esquecer.

Abby (pensativa) – Sabe... É tão estranho.

Luka olha pra Abby

Abby – Eu neste avião com um bebê nos braços indo conhecer a sua família. Quando nós voltamos, eu nunca poderia imaginar. Dá até um pouco de medo!

Luka – Medo!

Abby – É, de saber o que mais vai acontecer. Faz muito tempo que não me sinto tão feliz

Luka – Você sabe o que já teria acontecido se dependesse de mim. O que falta para que nós possamos nos ...

Abby (interrompe) – Nós combinamos que não íamos falar sobre isso por enquanto.

Luka – Não, você falou que não queria falar sobre isso. Eu não prometi nada. Nos já estamos vivendo juntos, temos um filho. Nos amamos... Você é a mulher que quero do meu lado. Por que não podemos nos casar?

Abby olha pra Luka procurando uma resposta racional, mas não encontra. Sabe que ele está certo, sabe que o ama. Não possui dúvidas em relação a isso. Mas antes que possa falar qualquer coisa o bebê acorda.

ZAGREB

Abby e Luka estão em Zagreb há alguns dias. Luka, feliz como nunca, revê velhos amigos, mostra para a companheira os lugares onde cresceu.

Estão hospedados com seu pai, numa casa agradável no subúrbio. Ele fez questão de que o casal ficasse lá e até pediu uma licença para curtir o neto. O bairro é relativamente calmo e a rua possui uma pracinha em frente onde o avô orgulhoso leva Joe todas as manhãs para o banho de sol.

O pai de Luka está sentado um banco debaixo de uma arvore, observando outras crianças. Joe está no carrinho. Abby chega e pega o bebê

Abby (afagando os cabelos do filho) – Oi mocinho! Você e seu avô decidiram abandonar a sua mãe.

Nota da autora – Por total e absoluta ignorância a respeito do nome do pai do Luka (sorry...) vou chamá-lo de Mr. Kovac

Mr. Kovac – Até pensei em acordá-la, mas Joe disse para deixar você dormir mais um pouquinho... Divertiram-se ontem à noite?

Abby – Muito! Meu filho deu trabalho?

Mr. Kovac – Imagine! Só não vou dizer que ele não sentiu falta pra você não ficar com ciúmes.

Abby – Achei que Luka estivesse com vocês

Mr. Kovac – Não. Ele saiu cedo. Foi ao cemitério. (olha para Abby consternado) Desculpe...

Abby (sentando-se) – Tudo bem... Sei de tudo que ele passou e não quero que ele apague esta parte de sua vida. Fico feliz que ele tenha sido tão amado antes.

Mr. Kovac olha para Abby

Abby – Eu sei que ele sofreu muito.

Mr. Kovac - Houve momentos em que pensei que ele não fosse conseguir... Quando ele foi para a América, sabia que ia sentir falta, mas ao mesmo tempo fiquei feliz. Sabia que longe daqui poderia ser mais fácil.

Abby permanece calada. Ouvindo.

Mr. Kovac – Durante um tempo pensei que a distancia não estivesse adiantando. Até que falei com ele algum tempo depois. Parecia em paz consigo mesmo.

Abby ouve pensativa: seria quando estiveram juntos pela primeira vez!

Mr. Kovac parece estar falando consigo mesmo – Até que um dia ele me ligou. Parecia estar alcoolizado, não falava coisa com coisa... Dizia que deixou a felicidade escapar e que nunca mais teria outra chance.

Abby está calada, não sabe o que pensar.

Mr. Kovac – Durante todos estes anos, mesmo quando ele falava que estava tudo bem eu via que faltava algo. Ele poderia estar bem, mas não estava feliz... Quando ele me contou que seria pai eu finalmente soube que meu filho estava de volta.

Abby não sabe o que dizer, emocionada.

Mr. Kovac – Ele a ama muito...

Abby permanece calada...

Mr. Kovac – Ele falou que a pediu em casamento, mas você não quer falar sobre isso agora.

Abby – É complicado. Já fui casada uma vez e não posso dizer que tenho boas recordações. Sempre acontece algo para estragar tudo.

Antes que Mr. Kovac possa responder Abby vê uma garotinha olhando fixamente pra ela. A tristeza em seus olhos é evidente.

Abby – Essa menina... Sempre que venho fica olhando pra mim como se quisesse dizer alguma coisa...

Mr. Kovac – É a Nina... Mora com a avó há algumas quadras daqui. Pobrezinha. Perdeu a mãe não faz muito tempo. Os vizinhos ouviram um choro de criança e bateram na porta. Como ninguém atendeu chamaram a polícia. A mãe estava morta e a criança sozinha com ela.

Abby olha pra garotinha chocada.

Mr. Kovac – Ninguém sabe ao certo o que aconteceu. Aneurisma cerebral, eu acho. Disseram que estava morta há varias horas. Depois disso a pobrezinha nunca mais falou...

Abby – Não é pra menos, tão novinha... (Abby acaricia a cabeça do bebê e olha pra garotinha pensativa)