Lembranças


III. O beijo da vida


Quando finalmente conseguiram sentir seus pés ao chão notaram que estavam bem distantes do jardim Universal.

O tufão se desfez suavemente. Eles se olharam com pesar. Haviam perdido um grande aliado e a chance de salvar o garoto. Ávila olhara para o jovem em seus braços vendo que ele agora parara de se mover e respirava lentamente, como em seus momentos finais.

Estava tudo acabado agora. Natal havia sido morto por Sombras e Duo estava morrendo sem a fonte.

-O campo de gelo. – Quatre comentou cansado e vencido. Eles haviam sido levados para o pólo norte daquele estranho país.

O cenário branco-neve tomava o local de canto a canto. A mulher ruiva deixara-se tombar de joelhos ao chão. Suas pernas não conseguiam mais suportar o peso de seu corpo. Seu vestido estava rapidamente ficando opaco, perdendo o brilho a cada momento, sinal que as estrelas estava sendo tragadas. Escarlate tinha seu poder alimentado pelo Sol, uma vez que não havia os raios solares ali ela ficava fraca demais.

-Escarlate. – Ávila se preocupou.

-Esse é nosso destino, amigo. Aqui nesse lugar minhas forças são quase nulas. O frio é demais para mim. – ela acabou desmaiando.

-Não conseguiremos. – Quatre choramingou retirando seu próprio manto azul claro para cobrir a moça desacordada.

Ávila pôs Duo na neve se preocupando com a ruiva. Agora tinham mais problemas que antes. Agora tinham dois doentes e um rapaz choroso.

-O primeiro passo é encontrar um abrigo, ou vamos congelar. Arrumar uma forma de nos aquecer e caçar algo para o alimento. – Ávila falou depois de suspirar fundo. –Garoto, ainda não está acabado. – animou o loiro. –Eu levo a ruiva, você se encarrega do Duo. – o guerreiro negro chefiou trazendo a mulher nos braços.

Assim seguiram. O terreno era por demais acidentado, o frio e o vento eram mais que empecilhos. Quatre sentia uma forte dificuldade de se mover ainda mais levando Duo nas costas.

Mas tinha que conseguir ao menos carregar o rapaz, uma vez que nada podia fazer por ele. As palavras de seu mestre não lhe saiam da cabeça.

-Que eu posso fazer? – Quatre se perguntou baixinho sentindo a respiração de Duo próxima ao seu rosto. O menino humano estava num quase morrer de partir o coração.

O loiro fechou os olhos de longos cílios em certo momento sentido como aquele corpo que trazia era morno e macio, havia também um perfume tão gostoso exalando dali, daqueles cabelos tão belos. Novamente a respiração lenta de Duo. Morna e delicada. –Não morra. – Quatre passou a conversar com Duo, parecia tão insano, mas ele seguiu o caminho trocando algumas palavras com o jovem adormecido.

Ávila olhou para trás confuso, porém nada falou ao ver a ingenuidade de Quatre conversando com o menino humano, como se ele pudesse ouvir alguma coisa.

Mas Duo podia sentir. Era sou talento especial sentir com intensidade tudo aquilo que fazia contato com seu corpo. E ele sentia, mesmo que muito distante. Mesmo estando de volta ao sôfrego cemitério ele podia sentir alguma coisa tão morna e confortante vindo de Quatre.

-Você precisa viver. É tão lindo. É sério, mas lindo que as ninfas do oceano. Seu corpo é tão morninho, é muito gostoso de tocar. – o loiro sorriu com uma fungada de Duo, depois voltou a ficar triste quando lembrara que aquela fungada mais forte era apenas mais sangue escapando do nariz do humano. –Que pena. Eu queria muito que você ficasse vivo. – comentou. –Mas eu não posso fazer nada por você. Infelizmente não posso fazer nada.

Eles haviam andando por quase uma hora quando Ávila avistou uma gruta. Era bem perigoso, uma vez que naquela época do ano espécies estranhas de ursos usavam aquele tipo de gruta como abrigo para o frio, mas não havia alternativa. Ou encaravam o frio mortal daquele pólo, ou o urso. Optando por lutar com um urso, se preciso fosse, eles entraram.

-Agora pare com esse monólogo imbecil. – o mulato falou para o loiro.

-Não é imbecil, ele parece me ouvir. Quase posso ouvi-lo me respondendo. O Duo me ouve sim. – Quatre falou manhoso se defendendo.

-Pelos deuses. – Ávila estava farto. –Isso não é uma brincadeira, garoto. Seu mestre morreu tornado em cinza, Duo está morrendo, e vai morrer pondo sangue e sofrendo e ainda tem que ouvir essa sua voz estúpida. Será que dá para calar essa boca inútil? – ele gritara fazendo sua voz soar repetidas vezes dentro da caverna.

Quatre piscara seus olhos grandes num tom ferido. Ele não era um inútil, embora nada pudesse fazer para ajudar nesse momento.

Seguiram pela caverna escura agora em um silêncio pesado. Quatre fungara algumas vezes, mas manteve-se quieto deixando as lágrimas escorrerem por sua face sem que Ávila percebesse no escuro.

Quando finalmente chegaram a uma plana região dentro da caverna puderam ter uma visão menos escura. Uma fenda no teto deixava passar alguma pouca claridade do dia, embora não houvesse Sol.

Os olhos apurados do guerreiro moreno vasculharam o local. –Esse lugar estar sendo usado por alguém. – ele comentou vendo lenha e um resto de fogueira apagada.

-Então é perigoso ficar. –Quatre se apressou espremendo Duo em seus braços.

-Pode ser, mas não temos outra opção. – o mulato pôs sua carga no chão. –Você vai ficar aqui e cuidar de Escarlate e Duo. Dará a sua vida para proteger os dois. Não fale mais com o Duo, e não se mova até eu voltar. – Ávila dera as costas olhando para fogueira. –Vamos acender isso aqui por causa do frio e... – ele falava agora se pondo entretido com fogueira quando o loiro se lançou em sua cintura.

-Não me deixe aqui, por favor. – o jovem muito assustado largara Duo num baque ao chão e se agarrara a cintura do guerreiro. –Por favor. – Agora ele gemia deixando as lágrimas caírem.

-Quatre. – Ávila foi pego tão de surpresa por aquele abraço. Ele vinha de uma tribo de guerreiros, na sua terra não era costume esse tipo de manifestação afetiva, mas não tinha como negar o sentimento agradável que foi ser tocado por aquele belo rapaz. –Deixe disso. –desconcertado o guerreiro se voltou para o jovem, mas acabou acariciando os cabelos loiros dele sentindo o quão macio era ali. Era bom ficar o abraçando e o tocando.

-Por favor, você me faz sentir seguro. – Quatre chorou.

-Deuses. Se fosse em outra ocasião essa sua atitude me levaria ao jogá-lo aqui mesmo no chão e... Deus sabe o que eu faria. – Ávila o empurrou finalmente, mas não tinha nenhum rancor nos olhos. –Você fica com eles aqui que eu volto logo. –falou de forma incisiva se afastando lentamente de Quatre. –Agora vou acender uma fogueira e você vai pegar Escarlate e Duo e ficar bem pertinho deles e se aquecer. – ele falava fazendo gestos com as mãos para acalmar o menino loiro.

Quatre seguira o ordenado. Ele juntara Escarlate e Duo em canto da caverna e ficara quieto. Seus olhos azuis arregalados esperando que a qualquer momento alguma coisa ruim fosse acontecer. Rezava apenas para Ávila voltar o mais rápido possível.

Ávila por sua vez não conseguiu mais tirar de sua cabeça aquele toque do garoto. Como fora quente aquilo.

-O que está dando em mim? Ele é apenas um garoto bobo e assustado. – o guerreiro se sentenciou. –Mas Natal... – ele parou olhando para a neve que tanto lhe lembrava a pele do deus morto e seus punhos se fecharam com raiva. –Maldito Sombras, eu vou vingá-lo.

O guerreiro seguiu caminho. Ele não havia dito a ninguém e talvez agra pouco importasse, Natal levara aquele segredo consigo para a morte, mas o fato era que quando muito jovens eles haviam se cruzado em um dos caminhos da vida. Apaixonaram-se... Porém Ávila era um guerreiro solitário e Natal um deus poderoso, não teria dado certo.

O próprio Natal havia esquecido aquilo, sempre que se encontrava ele nunca tocava no assunto, como se aquele amor nunca tivesse existido.

-Mas eu podia ter sido o pai do filho dele... Quase fui eu. – o guerreiro balançou a cabeça tentando definitivamente afastar aquele pensamento. Natal estava morto, seu amor por ele também.


Na caverna Quatre se encolheu ainda mais sentido o frio tomar seu corpo. Ele passou os olhos pelo manto que vestira a mulher ruiva, havia uma certa vontade de retomar o tecido, mas pelo rosto gélido dela estava precisando mais que ele.

-Droga... E ainda sou chamado de inútil. – resmungou se apertando mais ao corpo de Duo. –Ao menos ele é bem mais quente que ela. –Quatre comentou tocando o rosto do humano.

Estavam iluminados pela fogueira. Os dedos finos do loiro afastaram os cabelos lisos de Duo naquele rosto bonito, depois limpara o ralo filete de sangue que escorria do nariz do menino. –Mesmo assim ainda é belo. – o jovem falou aproximando seu rosto do de Duo... Ia beijá-lo desejosamente quando um barulho repentino o fez largar o humano.

-Quem está ai? – Quatre gritou se levantando medrosamente.

Um novo barulho, e em seguida uma breve corrida, era como pernas se movendo rápidas na sua direção.

-Nãaaooo! – Quatre se viu gritando em pânico.

Durante um momento breve ele imaginou toda sorte do mundo, podia ser qualquer coisa, mas sua mente fértil havia pensado nas piores coisas e criaturas. Seus olhos mantiveram-se fechados. No momento seguinte nada aconteceu.

-Não vai atacar? – Quatre finalmente abrira os olhos lentamente e para sua surpresa havia um esquilo da floresta a olhá-lo curioso. –Não pode ser só isso. – ele falou frustrado sentindo o rosto corar fortemente. –Talvez Ávila tenha mesmo razão. Sou um inútil, mas graças aos deuses sou um inútil vivo. Graças aos deuses era só um esquilo. –ele comentou sentando-se ao chão esfregando o peito aliviado. –Que susto. – o jovem suspirava alterado, havia tomado sim um baita susto.

Sem notar o que fazia ele abriu o cantil tomando um grande gole, devia ser apenas água e para uma hora como aquela, em que quase morreu de medo, vinha a ajudar bastante. Virando o cantil ele deixou cair em sua garganta uma gostosa quantidade de água. Nem sabia se podia tomar daquela água mais aquele inesperado susto o levara a tal ação.

Ele saboreou a água sentindo o efeito do susto passar.

Mais calmo Quatre se encolheu novamente. Duo fungou ao seu lado chamando sua atenção e era tão estranho. Antes de ser interrompido pelo esquilo, que ele achara ser algum tipo de besta de dez cabeças, ele estava quase beijando o menino humano, mas agora tinha mais vontade ainda de tocar aqueles lábios. E era realmente estranho, porque era um desejo que o queimava por dentro.

Quatre se deitou ao lado do menino humano acariciando docemente o rosto dele.

-Aiii... Duo. Se você tiver que morrer assim queria ao menos provar seus lábios antes. – o loiro falou e fechando os olhos de forma macia foi aproximando seu rosto. Sentindo a respiração fraca de Duo se juntar a sua. –Que seja assim. –Quatre abriu os lábios capturando os de Duo e sentindo como era macio e quente. Tão gostoso de beijar, tão úmidos e delicados.

O loiro sorriu fazendo que sua língua rolasse para a boca de Duo vasculhando os cantinhos, sentindo um leve gosto metálico de sangue, mas o beijo era incomum, talvez o melhor beijo que Quatre já tivesse dado em toda a vida.

Duo era um sensitivo que nunca havia sido beijado.

Sentir alguém tocar os lábios já era uma sensação por demais sensacional, porém para alguém como Duo era bem mais que isso.

Ele foi tragado com violência para um mundo de sensações e cores. Em sua mente vira passar muito veloz a história da vida de Quatre, mestre Natal dando a luz ao bebê, mestre Natal olhando-o com estremo carinho, contando os dedinhos e sorrindo.

Quatre crescendo e recebendo os ensinamentos, toda a vida de Quatre passando como um flash. E finalmente a fonte, a força da fonte tomando o corpo de Duo, ele viu o jovem loiro tomando a água do cantil e o beijo... A fonte estava no cantil, a água da fonte.

-Foi realmente um beijo bom. – Quatre falou largando Duo ao chão com um breve carinho.

Fora da caverna estava muito frio. Estava bem frio quando finalmente o homem que estava a usando como abrigo voltara de sua caçada. Ele tinha uma carga de carne de veado da floresta no ombro. Suas vestes feitas também de pele de animais estavam ensangüentadas. Trazia uma faca presa à cintura e um facho de flechas preso às costas junto com o arco.

O recém chegado suspirou cansado, porém não se enganava, seu faro era de um exímio caçador. Havia algo errado ali, havia mais alguém dentro da caverna.

Em silêncio ele deixou a carne no chão e seguiu lentamente de forma a não fazer barulho. Ao passo que ia se aproximando da ala central da gruta ia vendo a luz oscilante da fogueira, seu arco foi armado e apontado minuciosamente. Movendo-se lentamente ele pensou que ação tomar, se atirava primeiro ou se dava alguma chance de explicação a quem tivesse ousado invadir sua gruta, porém também podia ser apenas um animal violento.

-Quem são vocês? – a voz firme tomou o ambiente.

Quatre olhou na direção da voz. Havia um homem ali parado apontando ameaçadoramente um arco para ele. A sua reação a seguir teria realmente que ser outro susto, porém a luz oscilante da fogueira deixava o rosto daquele homem nítido e Quatre achou que estava na frente de simplesmente o homem mais belo que já havia visto. Certo, ele sabia que estava exagerando, talvez Duo fosse mais lindo que qualquer outro, mas a beleza desse homem era diferente. O loiro sentiu algo mudando dentro de si e seu coração bater acelerado, seu estômago se moveu de forma incômoda, bem como seu baixo ventre começou a despertar de forma estranha, tão desconfortável.

O rapaz se aproximou um pouco e o loiro pode ver que era forte e alto, os músculos sobressaiam da pele de animais que cobria seu corpo. Os olhos eram de uma cor esverdeada que Quatre não soube definir direito pela pouca luminosidade, os cabelos curtos terminavam em um bonito topete. Era realmente um espécime viril de homem.

-Ele é lindo. Quem será? – Quatre pensou sem poder falar nada.

-Vamos! Quem são vocês? – o arco tremeu ligeiramente naquelas mãos firmes, os olhos se abriram perigosamente.

-P-por favor, não atire. Só estamos nos aquecendo do frio. Apenas isso. Não mexemos em nada, vamos embora assim que nosso amigo que foi caçar voltar. Eu não mexi em nada, apenas a fogueira porque estava muito frio e... – Quatre passara a falar de forma alucinada interpolando as palavras.

-Deus. Já chega. Eu fiz apenas uma pergunta simples, tente me devolver uma resposta simples. – o caçador falou girando os olhos. Estava naquela sina de caçador há tempo o suficiente para saber que aquele menino assustado não podia ser perigoso.

-Desculpe. – o loiro falou desistindo de tentar se explicar.

-Tudo bem. Invade minha caverna, instala seus amigos aqui, usa minha fogueira... De onde você são? O que querem? – ele abaixou o arco definitivamente.

-Bom, é uma longa história. Eu sou Quatre, esse é Duo e essa é Escarlate.

-Hn. Sou Trowa Barton. Eu estou caçando. – ele falou passando pelo jovem loiro deixando seu arco encostado na parede. –Estou com fome. – comentou se abaixando para aumentar a fogueira e finalmente voltando à atenção para o jovem ele sorriu. –Sente-se. – pediu polidamente.

-Porque não está na sua casa? – Quatre perguntou sentando-se. –Se eu pudesse estaria na minha. – completou.

-Porque não pode?

-Não a tenho mais. Foi tudo tornado em cinzas... – o loiro explicou.

Trowa o olhou assustado. Aquela informação tinha sentido para si. Ele sabia que uma das únicas formas de um lugar ser tornado em cinza poderia ser obra do Senhor Sombras a serviço do Conquistador. – Fugindo do Sombras? – Trowa o olhou e Quatre moveu a cabeça positivamente.

A conversa estava interessante. Trowa Barton era um rapaz agradável. Quatre sentara-se mais próximo sem conseguir remover seus olhos do caçador, mas um barulho os chamou a atenção e dessa vez parecia ser algo bem mais perigoso que um esquilo. As pegadas contra o chão de pedra soavam barulhentas.

-Merda. – Trowa ainda tentou alcançar o arco, mas um enorme urso de formas pavorosas estava muito próximo, não daria tempo. O caçador por extinto se jogou contra o loiro o derrubando no processo e impedindo que uma das patas da fera atingisse o garoto.

-Meus Deuses! – Quatre se apertou ainda mais ao rapaz no chão.

-Tudo bem, tenha calma. – Trowa o afagou preocupado. Não sabia ao certo o motivo, mas aquele belo rapaz merecia ser tratado com cuidado.

A fera se voltou ameaçadoramente para os dois meninos no chão. Trowa girou com Quatre os afastando um pouco e seguindo para mais próximo da saída da gruta.

-Agora se levante lentamente, vamos sair correndo daqui. Ele parece se interessar por seu amigo, isso nos dará tempo. – Trowa avisou falando baixo ao ouvido do loiro.

Quatre apesar do medo e pânico sentira os pêlos de seu corpo se arrepiando com aquele hálito quente ao seu ouvido. Mas o que Trowa dissera. O urso estava indo para Duo.

-Nãoo! – Quatre gritou quando viu a fera aproximar seu focinho úmido do jovem humano.

Duo havia sido trazido de volta daquele mundo de dores dos mortos quando Quatre o beijara, porém seu corpo estava por demais debilitado pela grande perda de sangue. Somente com os gritos e a confusão ele foi trazido àquela realidade. Quando se viu consciente sua cabeça rodou miseravelmente, bem como seu corpo se recusou a levantar com urgência. Ele viu os dentes afiados e o hálito forte daquela fera bem diante de si.

-Ahhh... Ai... Droga. Que hora boa para acordar. – Ele gemeu sentido que o monstro o ia atacar a qualquer momento.

O animal não esperou muito, suas garras cortaram o ar na direção de Duo que se encolheu prestes a ser morto, mas essa pancada não veio nunca.

Quando finalmente o jovem humano abriu seus olhos ele viu que o animal havia sido parado por outra estranha besta.

-Mas o que? – ele tentou entender o que estava havendo quando Ávila se jogou sobre ele o levando ao chão num baque surdo, mas evitando que fosse acertado por uma das patas do urso que agora lutava de forma violenta com uma espécie de esquilo gigante.

-Tudo bem com você? Eu encantei esse esquilo quando vi o urso quase te atacar. – o mulato explicou.

-Que está havendo aqui? – Trowa gritou escapando de uma calda de esquilo que veio em sua direção, ele se espremeu contra a parede pegando seu arco.

-Temos que sair dessa caverna depressa. – Ávila falou.

-Eles vão nos matar. – Quatre se agarrou a guerreiro negro de forma íntima. –Por favor, não deixa. – Ele pediu.

-Vai ficar tudo bem, agora. Duo acordou? Mas como? – Ávila voltou sua atenção ao humano que estava a seu lado.

-Eu explico depois... – Duo o cortou. – Vamos passar para a outra parede com cuidado. Quando eles derem uma brecha agente corre. – o menino falou para os demais.

Ávila tomara Escarlate nos braços e se espremera contra a parede. O Esquilo que ele transformara naquele monstro havia jogado o urso contra a outra parede.

-Agora! – Ávila gritou tomando a mão de Quatre enquanto carregava a ruiva no outro braço.

Duo os seguiu assim como Trowa. Eles apenas tiveram que correr de volta para a neve e longe da luta. Aqueles dois animais ia se matar afinal.

O grupo mais inusitado possível correu pela neve fugindo de mais aquele perigoso incidente.

Quando finalmente parara estavam longe o suficiente da caverna. Estavam todos sem ar.

Duo se se encostou a uma árvore sentindo as costelas queimarem com o esforço. O vento ali era tão frio que parecia tentar congelá-los a qualquer momento. O jovem humano se encolheu todo por causa de uma rajada de frio. Seus olhos violetas passearam pelas mãos entrelaçadas de Ávila e Quatre e ele suspirou, sentindo uma pontada de ciúmes, ou mesmo carência, talvez precisasse de uma atenção como aquela também, apenas para se sentir querido.

-Duo? Como? – o guerreiro moreno o olhou lhe fazendo a pergunta.

-Quatre. – Duo olhou para o loiro. Já sabia tudo a seu respeito. –Ele me beijou, na boca. – O humano explicou agora ficando corado. –Tudo bem que não devia tê-lo feito, não sem minha permissão, eu estava guardando para alguém especial... – Duo comentou ainda corado.

-Você o beijou? – Ávila olhou o loiro com estrema descrença, enquanto depositava Escarlate delicadamente na neve.–Eu falei que era para tomar conta dele e não se aproveitar dele. – ralhou.

-Eu... Desculpe-me. – o jovem apenas abaixou a cabeça envergonhado.

-Tudo bem. – Duo se apressou. –Quando ele me beijou eu pude ver. Havia uma pessoa... Um Deus eu acho. Belo e forte como nunca via, seu pai. – Duo garantiu olhando para o jovem loiro. –Eu nem sei como era possível isso, mas nesse mundo estranho, eu o vi dando a luz a você. O vi te dando todo carinho que pode quando você era só um bebê... E...

-Que droga está falando? – Quatre irrompeu quase gritando. Era tão inesperada a reação dele que Duo parou assustado.

-Ele era... Seu pai e te amava muito. Ele escolheu você quando lhe deu a botija com a água da fonte porque sabia que ia morrer... – Duo prosseguiu.

-Você está mentindo. Em tudo! – Quatre agora gritou.

-Não. Ele sabia que ia morrer, que a fonte morreria, por isso ele passou os poderes dele para você, o filho dele, quando te deu água. Você a bebeu... Agora tem os mesmos poderes que seu pai. – Duo estava tão confuso.

As visões que ele tinha nunca eram claras o suficiente e ele sempre se via como se caindo de pára-quedas na vida dos outros, ele nesse momento estava apenas passando as informações que havia conseguido enxergar.

Ele falava rápido vendo que o loiro se alterava muito com tudo que lhe era dito.

-Cala essa boca! – Quatre finalmente gritara acertando o rosto de Duo com um tapa violento que o levara ao chão de cara na neve.

Ninguém falou por um breve instante. Duo manteve-se ao chão. Experimentara as confusões e dores de Quatre quando esse lhe acertara o rosto e acabara sentindo que o rapaz não sabia que era filho daquele belo deus. Para Quatre Natal era apenas seu mestre.

Quatre saiu correndo sem saber aonde ir.

-Vou atrás dele, fiquem aqui. – Ávila saiu no encalço do loiro.

-Você teve o que mereceu. Esse garoto loiro subiu bem no meu conceito. –Trowa falou se sentando numa pedra apoiado em seu arco. –Não acho interessante quando as pessoas ficam bisbilhotando a vida dos outros, muito menos quando elas expõem coisas tão íntimas. – ele completou olhando feio para Duo.

-Você jamais entenderia. – Duo finalmente levantou-se batendo as roupas molhadas. –Você nem imagina como eu desejo deixar de saber da vida dos outros. – ele falou triste sentando-se ao lago do jovem arrastando Escarlate para perto de si na intenção de aquecê-la.


Mais um... Bom, desculpa os erros (estava meio embriagada quando revisei esse)...

Tina-chan e Persephone-sama são duas fofas fanáticas por fics.. Beijos, gatas.
Abraços a todos tbm... valeu

Hina