Meu filho é minha vida
II – Mistério no observatório.
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A viatura de número 24 circulava pelas ruas. Duo finalmente cansara de tanto falar e agora mantinha um olhar vago para a rua. O cotovelo apoiado na janela mantinha erguido o queixo e o curioso par de olhos violetas.
Odiava silêncio, por isso falava tanto, e falava alto e sorria como gosto. Havia crescido numa família extremamente conservadora e rígida, tendo sua educação ministrada por um tutor religioso, que era um bom homem, mas uma infância nesse patamar exigia de Duo deixar um pouco de lado aquela coisa de ser criança travessa. Dentro de sua casa, lhe eram proibidas coisas simples, como correr pelos corredores, ou falar e rir alto, entre tantos outros impedimentos que ao ver de Duo nunca deviam ser impostos a uma criança.
A viatura parou próxima a uma praça.
-Fique aqui. – Wufei gemeu saindo do carro.
-Arf. – Duo suspirou sem nada dizer. Seus olhos caíram sobre as crianças que brincavam na praça. Felizes. Crianças normais. Era terrível aquele pensamento que tomava conta dele de vez em quando, mas o fato era que seu filho em momento algum saia da sua cabeça. O garoto era seu maior motivo de preocupação. Os olhos violetas se deixaram perder sem foco, os gritos divertidos das crianças entrando por seus ouvidos podia alcançar sua alma. Seu filho podia estar ali naquele momento, brincando despreocupado como aquelas crianças senão fosse aquele pequeno detalhe que o separava de forma tremenda da normalidade. Um detalhe e a natureza tinha feito o pequeno Adan uma criança diferente das normais.
Duo saiu do carro lentamente. Seus olhos violetas traziam um brilho úmido de lágrimas. Sua vida era um caos. Era apenas um jovem de 22 anos que tinha uma responsabilidade como tomar conta de uma criança que não deixava ninguém se aproximar, uma criança que vivia em um mundo distante da qual Duo não fazia parte.
O trabalho com uma criança tão sensível quanto aquela exigia uma renovação diária, sim porque, um dia Adan parecia melhor, no outro ficava olhando as paredes. E Duo ficava sentando olhando para o menino e se perguntando quando os dois iam começar a viver? Quando o pequeno Adan ou ele teriam o direito a serem felizes?
Wufei atravessou a rua trazendo um embrulho. Ele viu Duo parado olhando as crianças na praça com um olhar perdido. E seu coração pareceu bater um tanto quanto angustiado.
-Porque esse americano imbecil está me incomodando tanto? Porque me importo se aqueles olhos estão tristes ou não? – o chinês pensava confuso.
-Chang? Desculpa... Eu não devia ter saído do carro. – Duo gemeu constrangido quando o rapaz se aproximou de si. Ele sempre lhe olhava daquela forma fixa e isso estava deixando o rapaz de olhos violetas sem jeito.
-Tudo bem. – Chang se apressou porque viu nos olhos de Duo que ele estava fugindo. O chinês o achou lindo demais quando ele tentou desviar os olhares. –Está... Triste? – ele perguntou. Mas que estava fazendo? Onde estava sua barreira contra belos parceiros?
-Não. – Duo sorriu leve sem entender. De repente estava frente a frente com outro Wufei. Um que era doce e atencioso.
-São as crianças? – Chang perguntou sem nunca tirar seus olhos de Duo. –Você tem um filho, não é? – ele completou tentando a todo custo manter seu tom de insensibilidade. Mas estava falhando miseravelmente. O que esse chinês ia descobrir era que Duo Maxwell tinha uma arma particular contra frieza e apatia: seus olhos.
Aquele rapaz tinha a vida naqueles olhos violetas, ninguém, fosse quem fosse, conseguia ficar muito tempo apático perto dele.
-Eu adoro crianças... – Duo comentou as olhando distraído. –E amo meu filho com toda força que posso, mas, sabe quando uma coisa acontece na sua vida no momento errado? – ele olhou para Wufei.
-Sei. – Chang falou sincero sustentando o olhar do parceiro com os seus olhos pequenos de um negrume forte. –Não era hora ainda para assumir uma criança, mas mesmo assim ele veio.
-Às vezes tenho vontade de largar tudo e sumir... – Duo falou chateado limpando as lagrimas que queria lhe banhar o rosto.
-Tudo bem. Você me parece um cara forte. Quando lhe ocorrer esses surtos, vá até um bar e encha a cara. – foi um conselho simples que o chinês lhe dera entrando no carro, era hora de quebrar aquele estranho clima de cumplicidade e companheirismo que estava se formando. Eram parceiros e era assim que deviam continuar.
-Eiii, cara! E isso é conselho para dar a um pai? – Duo o seguiu com uma expressão divertida tentando afastar o clima que chegou entre eles.
-Funcionou comigo quando a Sally... – Wufei já estava envolvido pelo jeito expansivo do seu novo parceiro que sentiu como se pudesse falar livremente tudo que estava prendendo há tempos em seu coração. Mas ainda era cedo para ir se abrindo dessa forma e ele parou bruscamente dando partida no carro.
-Wufei... Quem é... – Duo ia falar. Curioso como era ia querer saber muito bem quem era a mulher chamada Sally, mas o radio os chamou urgente.
Quando Wufei e Duo chegaram ao local chamado, outras tantas viaturas já se encontravam no local. O clima tenso atraia curiosos que eram mantidos distante do local por policiais e faixas de contenção. Era o museu Observatório Planetário.
-Mulher loira e jovem, morta por arma fria, talvez um punhal. – uma policial se aproximou de Wufei lhe dando tais informações.
-Já descobriram quem era? – o chinês gemeu frio se dirigindo para dentro do museu.
-O nome era Sofia Amon. Era uma apaixonada pelas estrelas... Morava sozinha, tinha um filho... – a moça respondeu prontamente lendo as informações em uma pequena caderneta.
-Como alguém mata uma mulher em um observatório e ninguém vê ou ouve nada? – Duo arqueou a sobrancelha de forma curiosa.
-Wufei. Quem é a gracinha? – a moça sorriu prestando a atenção em Duo. –Acho que não nos conhecemos ainda. – ela piscou para o rapaz.
-Duo, cale a boca. – Chang falou frio quando entrou no local do crime.
-Respondendo a pergunta do deus grego, ela foi morta no banheiro, aparentemente estava vazio.
O trançando entrou na cena do crime junto com seu parceiro. Jamais havia visto aquilo. Ele era um policial de escritório, como costumavam chamar. O sangue da mulher empapava suas vestes claras e escorria para o ralo. A expressão de dor e pânico no rosto dela fez Duo se encostar a uma das paredes sentindo que tudo estava girando na sua cabeça.
-Não encoste ai, seu idiota. – Wufei o repreendeu. Havia sangue ali e isso podia atrapalhar o trabalho da perícia. –Merda! Onde estão os malditos peritos! – Chang gritou.
-Vejam, só. Chang Wufei já chegou para roubar a cena do crime. Não gosto de seus ataques. – Treize que estava do outro lado da sala comentou com certo tom de deboche.
-O que está fazendo, aqui, Treize. – Wufei estudou o semblante daquele homem alto e elegante.
-O mesmo que você, Chang. – ele sorriu sarcástico.
-Não. – Wufei fechou a expressão.
-Sim e sim, meu caro. Zechs me mandou.
-Eu não vou trabalhar com você. – o chinês gemeu furioso.
-Eu sei que você é limitado ao seu carrinho de número 24, mas esse caso não é uma bobagem como assalto de padaria Chang. – o tom que Treize usou foi sério e firme. –Isso é um caso de um maníaco em série. – ele revelou sem nunca desviar os olhos do chinês. E eles se encararam com raiva por um tempo.
-Chang... – Duo gemeu finalmente desviando a atenção do chinês para si. –E-estou me sentindo mal. – ele gemeu tão pálido quanto uma folha de papel.
-Certo, Maxwell, vai tomar um ar lá fora, por favor. – Wufei falou tenso. Tinha que aturar Treize no seu encalço e dividir um caso com ele dando ordens, e ainda tinha que fazer isso colado a um parceiro que vomitava ao ver sangue.
Treize pôs um par de luvas descartáveis enquanto punha dentro de um saco isolante um tufo de cabelos da vítima. –Chang, Chang. – ele comentou baixo. –Vai pegar? – sorriu debochado entregando as provas à moça.
-Como disse?
-Vai pegar esse garoto? – ele sorriu. –Ele é uma gracinha, não. Viu a bundinha que gostosa... Uma graça mesmo. – Treize encarou o chinês. –Se você não quiser eu vou dar um trato.
-Que bosta está falando, cara? Você é casado. – Wufei o segurou pelo braço evitando que saísse. E seus olhos tomaram uma postura cuidadosa em relação a Duo.
-O fato de eu ser casado não significa que eu não possa comer umas bundinhas por ai...
-Ele é um policial... Nosso parceiro. – o chinês estava chocado encarando os olhos cor de mel de Treize.
-Estou de olho nesse garoto desde que ele estava lá na repartição. Então se você não estiver afim eu vou investir. – sorriu para Wufei piscando os olhos cor de mel.
-Treize. – Wufei o chamou. –O garoto já é meu. – ele falou frio, sem nem ao menos saber porque disse tal absurdo. Talvez apenas não quisesse que Duo fosse mais um brinquedo nas mãos de Treize, assim como ele mesmo fora há anos atrás.
Duo estava péssimo. Tonto ele via tudo girar. Precisava de ar... Uma larga e pura golfada de ar resolveria seus problemas. Ele se afastou da confusão policial atravessando um salão extenso. No outra extremidade ficavam localizadas muitas lunetas e telescópios.
Ele girou vendo as pessoas ali, elas pareciam imunes à confusão na outra ala do museu, mas qualquer uma delas podia ser aquele assassino em série, um maníaco que teria tido a coragem de desfigurar aquela mulher.
Estava tonto. Seus olhos violetas piscaram numa tentativa de apurar a visão que estava turva, foi assim que do outro lado do salão avistou um homem alto e elegante que lhe olhava profundamente.
Duo piscou várias vezes sacudindo a cabeça, e quando retornou a mirada naquela direção não havia mais ninguém... Que estranho.
-Devo precisar lavar o rosto. – o trançado comentou suando. Assim se dirigiu ao banheiro masculino, naquele mesmo andar.
-Quem era aquele cara? – Duo pensava enquanto jogava boa quantidade de água fresca no rosto. Ele estava tão distraído. Não viu quando um homem saiu lentamente de dentro de um dos Box, a mão em uma luva negra de couro segurava um lenço branco na direção do rosto de Duo e o rapaz nem ao menos percebia essa aproximação.
Ixiiiii... acorda Duo.. Olhá o perigo ai... menino.. ou não..
Beijos
Hina
