Lembranças


VI. O misterioso Centauro


O fogo ardia furioso. Duo sentia como se seu corpo estivesse sendo comido pelas chamas, fervendo suas carnes numa tortura violenta, felizmente aquilo era um sonho ruim.

-Escarlate! – Duo acordou assustado, completamente assustado.

-Você acordou finalmente. – um jovem estava ao lado dele o olhando muito preocupado. –Dormiu durante Três dias. Estava com tanta febre que eu achei que não ia suportar. – o jovem lhe sorriu.

Duo apenas o olhou piscando seus olhos grandes e roxos. O rapaz a sua frente lhe sorria de forma simples e sincera. Os cabeços negros como carvão emolduravam um rosto límpido de pele clara. Os olhos negros miúdos lhe fitavam com preocupação. Mas quem seria aquele garoto afinal?

-Eu não lembro como...

-Eu te achei no meio da floresta. – o rapaz respondeu o olhando intrigado. –Não sei há quanto tempo esteve lá, mas alguém ou alguma coisa esteve tomando conta de você, acaso tem idéia do que podia ser?

-Não faço idéia. – Duo gemeu pensativo. –Porque diz isso?

-O local que você estava... No pântano é tão perigoso que a única forma de ter ficado ali sozinho e desacordado e nada de mal lhe acontecesse seria apenas se durante o tempo todo algum ser estivesse te olhando, algum ser da qual os outros temessem.

-Eu não sei... – Duo segurou a cabeça estando confuso. Tudo que conseguia lembrar era de Escarlate queimando numa explosão de fogo, e depois nada mais. –Quem é você? – ele olhou o rapaz.

-Certo. Eu me chamo Wufei. Chang Wufei.

-Suponho que eu esteja na sua casa, Chang Wufei, mas eu preciso voltar para minha casa...

-Escute... – o rapaz tentou falar.

-Não. Escuta você. – Duo se alterou. – Isso é loucura, cara. Eles estão matando pessoas. Eu quero voltar para minha casa agora, chega disso. – o humano trêmulo falava.

-Escute. – Wufei o segurou pelos ombros vasculhando cuidadosamente os olhos grandes e confusos daquele rapaz bonito. –Escute, pequena ametista. Eu não tenho a chave para te mandar de volta para seu mundo. – ele explicou com paciência.

-Oh, Deus. Quem é você afinal? Como sabe sobre meu apelido? – Duo se desvencilhou das mãos do rapaz.

-Ametista, tudo nesse mundo é mágica. É tudo que posso te dizer por agora. – ele falou baixo se afastando do rapaz.

-São todos loucos isso sim. Todos vocês. – o humano desistiu de tentar entender aquele rapaz a sua frente, um completo desconhecido que Duo não sabia se podia contar.

-É um direito seu pensar assim. – o rapaz de cabelos negros replicou.

-Você pensaria também se estivesse no meu lugar.

-Certo, Ametista. – Wufei não insistiu, já havia percebido que não era sensato entrar em discussão com aquele humano temperamental. –Vou te levar para tomar um banho no pântano, você vai se sentir melhor. – Dizendo isso ele se levantou sorrindo.

O jovem humano não respondeu. Estava farto de tantas coisas fabulosas e mágicas, a única coisa que queria era dormir e acordar na sua cama macia do alojamento e descobrir que tudo isso não passara de um louco sonho.


A tarde caia quando em silêncios Wufei caminhou com Duo pela floresta.

Eles não trocaram palavras, afinal o humano estava confuso demais. Estava imundo ainda, desde que chegara naquele lugar maluco não tomava um banho. Wufei também não tinha as respostas que ele buscava, como, por exemplo, onde estavam Trowa, Quatre, Ávila, entre outras tantas.

Eles caminharam pela floresta de clima úmido, as folhas muito verdes e largas das árvores escondiam o céu azul daquela região.

Wufei deixara Duo em um imenso lago e se desculpara dizendo que ia caçar alguma coisa para comerem enquanto o rapaz podia tomar banho.

Assim o humano foi deixado sozinho ali, mas por um tempo não se moveu, estava encantado demais com aquele lugar, talvez em todo o mundo humano não houvesse lugar mais mágico. As águas eram cristalinas e exalavam um aroma de rosas muito gostoso, bem como a água fervilhava explodindo pequenas bolhas na superfície.

Duo sorriu retirando as roupas.

Ele caminhou lentamente para o lago tocando a água com a ponta dos pés e sentindo uma macia temperatura, tão morna e aconchegando.

Seu belo corpo de delicadas curvas andrógenas foi sendo encoberto pela água deliciosa até ele afundar nas águas, que somente agora ele entendeu ter uma propriedade tranqüilizante. Era como se os pesares e as dores, nada disso tivesse muita importância e por um breve tempo o garoto se divertiu brincando com as bolhas que emergiam da água tão distraído e inocente, seu sorriso brilhava calmo como desde que havia posto os pés naquele lugar ele não fazia.

O humano estava tão distraído vivendo aquele momento que não notara aquela sensação de sempre, de que tinha alguém o olhando por perto, o rondando. Mas havia por trás das folhas largas de um tom verde escuro um par de olhos intrigado.

Olhava para Duo, tentando desvendar mais sobre aquele humano ou talvez impressionado com a beleza, que ofuscava qualquer outro brilho daquele pântano.

Duo havia soltado os cabelos e boiava despreocupado na água, mas sua paz estava chegando ao fim. Alguma coisa pareceu se agitar no lago causando ondas que quebravam de uma vez por todas aquele cenário de paz. Era o fim da trégua.

O Humano tentou pôr os pés no chão, mas estranhamente aquele lago pareceu não ter mais chão de tão profundo que se tornara. Era magia.

As ondas aumentaram como se estivesse Duo em um mar e ele bateu com força as pernas e os braços tentando manter seu corpo na superfície.

-O que está havendo agora? – ele se perguntou assustado.

No meio do lago começou a emergir uma criatura que ele já conhecia bem. As sombras, sempre elas a escurecem um cenário tão belo. Será que o Senhor Sombras conseguiria acabar com a vida de um local tão belo como aquele também? Duo não esperou para saber. Ele nadou como pode para as margens sentindo o quão difícil havia se tornado se mover nas águas revoltas, num quase se afogar ele chegou até a margem tentando sair desesperadamente enquanto a água se movia furiosa querendo o arrastar para o meio onde agora se formava um redemoinho violento.

Duo pensou em usar a pedra em seu pescoço, mas já bastava a morte de Escarlate para ele entender que só devia mexer na jóia quando a tivesse dominado.

O redemoinho o puxava justo quando ele conseguira tocar as gramas nas margens.

-Wufei! – ele gritou vendo que seria tragado. –Wufei! Cadê você?

-Esqueça, criança. Hoje você será todo meu. – Senhor Sombras se materializava naquele eu corpo de fumaça no meio do lago.

-Não! – Duo gemia se debatendo nas margens lutando contra a força da água que o puxava para o centro do lago.

-Não foi difícil te seguir até aqui... – Sombras sorria debochado.

-Como? – o humano se segurava com todas as forças aos galhos e matos nas margens.

-É sempre tão fácil alcançar você. Com essa forma tola de confiar nas pessoas... Nem lhe ocorreu que Wufei pudesse te trair? – o demônio de fumaça falou.

-Como? Wufei.

-O que ele quer dizer, Ametista. É que eu o trouxe até aqui... A pedido dele. – Chang Wufei aparecera o olhando nas margens. Seu sorriso estava diferente, definitivamente não era a mesma pessoa que lhe ajudara, não era o mesmo sorriso de antes.

-Porque? Porque isso tudo? Porque não me matou logo?

-Não teria a mesma graça... Antes de te matar eu quero assistir sua dor. Sentir como é estar dentro de você te tomando para mim. – Sombras falou parando finalmente a tormenta nas águas, uma vez que Duo estava devidamente agarrado a um galho nas margens.

-Nunca. Isso nunca. – o garoto falou, mas sabia que pouco poderia fazer, estava nu ali no lago, seria com toda certeza usado para o prazer daquele monstro do mal.

-Venha. Vai ser melhor se colaborar. – Wufei estendeu a mão para o garoto. Não estava nos seus planos um estupro. Ele apenas pensava que o Senhor Sombras queria a pedra ametista e deixaria o humano seguir sem lhe machucar, mas o que dera para entender agora era que o corpo do humano era muito desejado.

-Fique longe... – Duo gritou o olhando feio.

-Chega de bobagens. – Sombras falou se dissipando e numa grande velocidade varreu as águas atravessando o lago.

Wufei não pode se mover por um breve instante. Ele abriu a boca para gritar, mas o som não veio, Sombras havia entrado dentro de si, pela boca.

-Ohhh, meu Deus. – Duo estava apenas olhando. Wufei fora tomando pelo poder das sombras.

-Esse idiota ainda tinha luz dentro de si, mas eu vou cuidar para que se apague definitivamente. – Sombras falou olhando para Duo. – Agora, minha pequenina ametista, eu tenho um corpo e é com ele que vou te possuir. – se aproximou com perigo. -Venha! – Com os olhos vidrados e um sorriso congelado nos lábios Senhor Sombras, agora no corpo de Wufei deu a mão a Duo.

E ele teria tocado Duo, mas se fez ouvir galopes apressados distantes, pesadas patas esmagavam as folhas secas ao chão, os galopes se tornaram cada vez mais próximos. Movendo-se como um tufão em meio às árvores, se movendo rápido com uma força descomunal que seria capaz de arrastar com o peito tudo que se metia na frente. Aos galopes vinha uma magnífica criatura.

O senhor Sombras no corpo de Wufei se voltou na direção do barulho, mas a coisa estava ali ao seu encalço e girando nas grossas patas dianteiras o acertou com extrema violência no peito jogando-o desacordado no lago.

-Venha, logo! – uma voz grave, mas muito confortável se dirigiu a Duo enquanto a mão grande lhe era estendida.

Duo levantou seus olhos violetas percorrendo a mão e o braço forte, seus olhos se chocaram com os olhos de seu salvador e ali pararam por um tempo incalculável, como se aquele mundo mágico tivesse parado por aquele instante. Aqueles olhos eram os mesmos que ele havia visto em suas visões, belos e vivos, de uma cor azul turquesa diferente. Que muito lembrava o céu de seu mundo quando estava para chover.

-Vamos! – ele voltou a insistir tomando a mão de Duo e o trazendo para fora das águas.

O toque, o contato com o corpo daquele ser fez o humano viajar numa história fabulosa de um povo centauro. Ele foi aos muitos lugares que aquele estranho já havia percorrido. De olhos fechados Duo mergulhou na alma do desconhecido, conhecendo sobre ele, mas havia uma barreira que a mente do jovem não ultrapassou e ele abriu os olhos sem entender. Seria magia o que protegia aquele estranho animal de seu dom? Ele não saberia responder.

-Um... Centauro! – Duo gemeu finalmente encantando. Abriu a boca algumas vezes, mas não saía som. Aquilo a sua frente era simplesmente a criatura mais magnífica que já havia visto. Os olhos podiam aprisionar a alma de quem olhasse, parecia querer apaixonar quem olhasse no fundo de seus olhos turquesa como o mar revolto.

Aquele estranho espécime era mesmo fantástico. A patas grossas de um bonito marrom chocolate muito brilhante compunham uma robusta metade cavalo na parte de baixo e em cima um dorso masculino de pele bronzeada e músculos graves fazia daquela criatura a mais bela forma daquele mundo estranho. O rosto lindo com aqueles olhos azuis fortes encerrados na pele macia e morena, os cabelos revoltos também de um marrom chocolate davam àquela face uma expressão selvagem. Aqueles olhos... Duo já os conhecia bem, era como se tivesse algo nos olhos daquele centauro fabuloso que pedia para sair a todo o momento.

-Mexa-se. Sombras não vai ficar nadando o tempo todo. – aquela voz tirou Duo de um estado de inércia. Ele estava completamente nu diante daquele estranho animal.

Por um tempo eles apenas se olharam. O centauro o olhou avaliador de uma forma quase afobada, ele mantinha seu rosto frio com seus olhos decididos a não expressar nenhum sentimento, mas o fato era que estava impressionado com a beleza do jovem humano. O corpo tão bonito e bem feito que inspirava a toca.

-Como pode existir um humano tão bonito? Nem mesmo as bruxas conseguem lançar um feitiço de beleza como esse? Será que esse humano é algum habilidoso feiticeiro? – o centauro pensou silencioso avaliando o corpo do rapaz. –Ele não parece um feiticeiro, e mais com esse corpo e esses olhos, esses cabelos. – Os olhos do centauro pararam nos mamilos excitados por causa do choque térmico, notando como era apetitoso. Mas não podia se deter em um corpo bonito, afinal o perigo ainda estava ali, tão perto.

-Vamos, garoto! – ele falou firme com aquela sua voz grave.

-Ohh... – Duo pareceu acordar de um transe e se encolheu tentando cobrir o corpo, se virando no processo.

-Pelos deuses! – o centauro se exasperou dando um passo atrás. O menino estava de costas e foi inevitável para ele não se perder nas nádegas redondas de aparência perfeita. –Pelos deuses, menino vista logo suas roupas, ou eu vou... – dando mais uma passada para trás ele parou de falar, se continuasse diria algo que poria em risco sua frieza.

-Então... Olha para o outro lado. – Duo gemeu ainda escondendo as partes mais íntimas de seu corpo apetitoso.

-Como se eu já não tivesse visto tudo. – o animal soou impaciente girando o corpo eqüino. –Vista suas roupas, vou te tirar daqui. – ele avisou com urgência recobrando o controle e a frieza. Com a mesma urgência Duo vestiu as roupas, que mesmo sujas eram melhores que estar completamente nu diante daquela criatura.

-Eu... Queria... – Duo ia falar algo, mas foi cortando com rispidez.

-Não há tempo. – o centauro falou batendo com força as patas na terra fofa. Seus olhos preocupados vasculharam a água. Sem mais ele puxou o menino pelo braço o jogando sobre eu lombo. – Tente não cair. – falou frio acelerando.

Duo estava deitado de forma desengonçada curvado sobre o lombo daquele animal. Ele se segurou como pode enquanto o centauro ganhava uma velocidade perigosa demais, porém a criatura parecia saber o que fazia uma vez que muito hábil desviava de toras e folhas com espinhos.

Em pouco tempo haviam deixado para trás a floresta fechada, mas o centauro não parou, ao contrário, agora que estava em campo aberto acelerou o máximo que pode, o máximo que suas pernas de eqüino conseguiam trotar. Ele sabia que quanto mais longe fosse menos perigo corriam, ao menos por hora.


A noite estava quase caindo quando um tigre maior que seu tamanho normal parou no meio da clareira farejando.

-Ele esteve aqui. – Trowa falou de cima do animal vendo as pegadas fundas de eqüino no chão. – Eu ainda não sei que coisa está se movendo pela floresta, mas está deixando rastros. – ele completou apertando entre os dedos o cabo do arco.

-E você acha que essa coisa está com o Duo? – Ávila ordenou mentalmente que o tigre enfeitiçadoaumentando a velocidade depois da pergunta ao caçador. – E se estiver mesmo, só pode ser a serviço de Sombras. – ele completou preocupado.

-Mas, então será que ele ainda está bem? – Quatre cobriu a boca em sinônimo de preocupação. Duo podia estar morto numa hora daquelas. - Ele pode estar.. morto? -o loiro fechou os olhos trêmulo.

-Ainda não. Mesmo que Sombras esteja com a Pequena Ametista, não vai matá-lo. Não enquanto não o possuir. – Ávila explicou.

-Possuir o Duo? – Quatre quase gemeu.

-Isso. Ele vai estuprá-lo antes de matá-lo. –o guerreiro comandou mentalmente o tigre o apressando.

-Deuses. Isso é nojento. Ele faria isso com o pobre Duo? –o loirinho pareceria horrorizado.

-Sombras precisa manter relações com o Duo. Quando ele estiver dentro do garoto finalmente o poder da ametista estará anulado e adeus salvador. – Trowa explicou.

-Isso é horrível. – o loiro voltou a repetir. –E essa coisa, Trowa? Será a mesma que matou sua irmã? Então o que quer com Duo? - Quatre se segurou a cintura do caçador quando tigre saltou escapando da estrada inregular.

-Nem sabemos o que é isso. E Trowa, não sabemos nada sobre essa criatura, se está mesmo com Duo... O que quer... – Ávila foi sensato. – Conhece as regras da floresta como um caçador, não? – ele se voltou olhando por sobre o ombro para o caçador. – Respeitar as criaturas da floresta para ter a amizade delas. – ele falou importante.

-Nem temos motivos para achar que essa tal coisa está contra nós... – Quatre comentou ainda apertando a cintura dooutro rapaz.

-Então porque essa coisa esta seguindo Duo desde que ele pôs s pés nesse mundo? – Trowa se perguntou.

No tigre branco vinha Ávila montado na frente com sua lança encantada, Trowa e logo atrás Quatre que se segurava intimamente ao caçador.

Há três dias que aquele lamentável episódio da morte de Escarlate havia ocorrido. Duo conseguira enviar Ávila de volta para o mesmo lugar onde estavam Quatre e Trowa, mas ele por alguma razão fora parar bem distante, no pântano.

Não havia tempo a perder. Trowa definitivamente entendera que não podia abandonar o grupo por alguns motivos básicos. O primeiro deles agora era Quatre, depois Duo, que era um completo idiota, mas merecia ajuda. E por fim finalmente sua caçada parecia chegar ao fim, uma vez que o centauro estava rondando.

Assim, usando as habilidades de caçador de Trowa e os poderes mágicos de Ávila eles iam rompendo as distâncias na cola de Duo.

-Vou te tirar das garras desse animal, Duo. – Ávila jurou apertando nas mãos o vestido que fora de Escarlate e que agora estava mais opaco que nunca, uma vez que as estrelas estavam sumindo a cada dia.


Na floresta Wufei se arrastou. Ele caminhava trôpego como um zumbi. Seus olhos antes vivaz e meigo, agora eram globos opacos e sem expressão. Sua postura pendia, brancos pendurados, lábios flácidos.

Os animais de grande e pequeno porte tratavam de sair de seu caminho temendo cruzar com aquele ser. Era ninguém menos que Sombras que voltava para seu território abaixo da terra, mais uma vez vencido.

Mas não ia se dar por vencido.


Ahhh... (triste) esse ficou muito curtinho...

Beijos aos amigos,
É muito gostoso está apaixonado.

Hina