Lembranças


VIII – Que segredos Heero esconde?


O centauro deu um passo atrás. O tacape seguro com firmeza entre as mãos grandes.

Seus sentidos conseguiam reconhecer qualquer coisa não fizesse parte da natureza daquela floresta, assim ele apurou os ouvidos e pode ouvir o delicado barulho da flecha cortando o ar, voando veloz em sua direção. Foi tudo uma questão de segundos.

Yui bateu com as patas ao chão rodopiando o corpo de forma rápida e elegante. Duo estava agarrado a sua calda, ele não esperava pela reação do centauro. Confuso o humano foi jogado para frente.

Tudo foi tão rápido, Duo não conseguiu processar o acontecido. Nem susto, medo ou dor. Apenas um vago momento onde seu corpo pareceu distante dos sentidos. Seus joelhos dobraram em seguida e ele apoiou as mãos no chão piscando os olhos que já perdiam o fogo.

-Duo! – Heero gritou preocupado. Havia sangue nas roupas do humano.

Trowa saira correndo das folhagens, reparando o quanto havia sido precipitado em disparar aquela flecha às cegas.

-Trowa! O que você fez? – Quatre gritou desesperado vendo que o amigo sangrava ao chão.

Ávila parou sem sabe o que fazer. Via Duo sangrar largado ao chão, Trowa ainda com o arco apontado. Seus olhos voaram para o outro lado, para o exato local onde o caçador apontava e viu algo que o fez tremer de excitação. Lá, parado estava um centauro. Imponente como as lendas contavam que eram.

-Um centauro! – Ávila exclamou admirado. – Eles geralmente nunca saem da floresta e nunca se envolvem em nada... Porque estava com Duo? – se perguntou.

-Ávila! O Duo! – Quatre gritou amparando o humano.

-Q-Quatre... O que houve? Eu fui... – Duo estava confuso. Havia uma dor fina abaixo das costelas e quando ele trouxe a mão diante dos olhos essa voltara vermelha do sangue quente que brotava do ferimento onde a flecha estava enterrada. –Quatre... Isso dói. – ele falou sentindo os olhos pesando. –Dói muito.

-Duo...

-Abaixe a arma, caçador!- Ávila finalmente tomara uma decisão. –Ele não vai te atacar se você não o atacar. Já basta o Duo está ferido aqui. – Ávila falou abaixando sua lança e correndo para junto do humano machucado.

-Não. – Trowa deu um passo à frente. Ele ia atirar. –Esperei muito tempo para fazer isso. Vingar a morte da minha irmã. Essa coisa a matou. – o caçador se adiantou.

Heero levantou seu tacape. Estava com raiva. Dentro de si um mar de emoções se revirava, via o sangue puro de Duo vazar sem necessidade. O humano tão doce que havia se comovido com seu sofrimento. O único que o havia tocado...

-Vou me vingar. – Trowa falou.

-Trowa! Não! – Quatre nada podia a fazer. Ele gritou para o rapaz, mas esse estava movido por sua sede de vingança que o cegava.

-Alguém precisa pará-lo e acho que é o centauro. – Ávila comentou se preocupando com Duo.

O centauro armou seu braço brandindo o tacape no ar disparando com toda velocidade contra o caçador. A flecha saiu como em câmera lenta na direção de Heero que vinha em disparada. Sua expressão era fria. Ele moveu o tronco levemente desviando por um triz. Olhando para trás viu quando ela se enterrou em um tronco.

Trowa perdera a chance matar seu oponente, e nada pode fazer para evitar que Yui viesse para cima de si com uma tempestade de força.

O golpe que o atingiu foi forte demais. Trowa sentiu como se suas costelas fossem pressionadas para dentro de seu corpo, tudo rápido, violento e dolorido.

Seu corpo foi projetado no ar girando com força e ele deixou passar pela garganta um grito agoniado de dor.

-Nãooo! – Quatre gritou também vendo o homem que amava ser arremessado no ar por um golpe fulminante de um centauro. E em seguida tombar no chão desfalecido.

-Deuses! – Ávila gemeu. –Trowa.

Heero girou as patas circundando o corpo de Trowa caído no chão. O caçador de moveu em dor e ele ergueu o tacape do ar, mirava a cabeça do homem ao chão vislumbrando o golpe de misericórdia.

-H-Heero... Por favor! Deixe-o viver... – Duo gemeu de forma sôfrega juntando suas últimas forças. O centauro pode ouvir aquela voz tão doce, agora carregada de dor e se voltou na direção do humano ferido.

Sues olhos se acharam por um momento e em seguida Heero abaixou o braço em sinônimo de paz. Duo lhe havia pedido isso, e com os olhos havia lhe dito que acreditava nele como um ser de bem.

-Ele acredita em mim... – Yui pensou.

-Trowa! – Quatre correu em socorro do caçador.

-Esse desgraçado. Eu devo ter quebrado umas costelas. – ele gemeu em dor.

-Ao menos ele não matou você. Se ele fosse mesmo esse monstro que diz ele não teria tido misericórdia. – Quatre observou bem.

-Ávila. Ele é meu amigo. – Duo gemeu para seu protetor desmaiando de vez.

O guerreiro negro olhou para o centauro.

-Centurião, a ametista te considera um amigo. Existe algum motivo para isso? – de qualquer forma Ávila acreditava que o centauro era um amigo. Seus olhos diziam isso.

-Ele é o único que me entende. – Heero se aproximou. –O caçador vai ficar bem depois que manter algum descanso, talvez uma tala resolva a dor. Duo... – ele se abaixou ao chão dobrando suas patas e Ávila se afastou um pouco para deixá-lo com mais espaço. –Existe uma planta na floresta que é capaz de coagular um ferimento, pelo que conheço de humanos acho que não atingiu nenhum órgão, graças aos Deuses. – ele falava com preocupação, mas mantinha sem semblante rijo e calculista.

Ávila não ousou o interromper, mas era bem estranho que um centauro fosse tão civilizado, a ponto de manter uma conversa equilibrada e ainda mais informar que conhecia seres humanos. Naquele mundo todos sabiam da existência do mundo humano, mas poucos eram aqueles que conseguiam manter contato com eles, e os centauros particularmente, não os adoravam.


Trowa estava ferido demais para tentar atacar o centauro, porém ele ainda não havia desistido de sua idéia. Ajudado por Quatre e Ávila o caçador se arrastava como podia sentindo as costelas queimarem numa dor absurda. Queria logo poder sentar-se e relaxar um pouco, mas nada disso seria possível. A floresta era bem fechada e eles caminhavam a ermo sem saber se podiam mesmo confiar no centauro.

Heero ia a frente com Duo desmaiado sobre seu lombo. Seus passos eram lentos e cuidadosos, afinal o menino estava ferido.

Quando eles finalmente chegaram ao destino que Heero queria o Sol estava se pondo. Agora não havia mais a paisagem fechada da floresta, havia agora uma clareira muito ampla onde havia as ruínas de um antigo templo.

-Heero. Você vive aqui? – Ávila arregalou os olhos.

-Hn. Atrás das ruínas... – ele informou seguindo adiante.

O guerreiro nada falou, mas havia muitas coisas sobre esse centauro que não estavam certas, porém não era nem hora nem momento para questionar.


Enquanto isso na subterra Wufei caiu sobre os joelhos apoiando as palmas das mãos ao chão. Estava exausto como se todas as forças de seu corpo tivessem sido chupadas. Ele não lembrava como fora parar naquele lugar sombrio. Seu estômago remexeu com o cheiro do local, alguma coisa soava como podre por ali.

-Onde estou? – ele se perguntou.

-Na minha casa. – uma voz arrastada falou tão próximo que ele se assustou.

-Quem está ai?

-Eu sou o ser que habita nas sombras...

Wufei era um aldeão simples que havia tido a infelicidade de encontrar Duo, e isso atraira ninguém menos que o Senhor Sombras, apenas por isso estava ali agora, envolvido naquela confusão toda. Porque ajudara um completo desconhecido.

-Você foi bem útil, mas ainda vou precisar de você. Lembra do garoto que ajudou? O quero muito ele para mim. – o ser sombrio foi se formando na frente de Wufei e ele soube finalmente com quem estava conversando.

-Sinto muito, mas não posso lhe ajudar. Não tenho como.

-Esse seu corpo forte e bonito. Eu o quero emprestado. – Sombras explicou. –Mas como não me ajudaria de bom grado tive a sorte de encontrar um certo loiro. – ele parou propositalmente para olhar a reação do rapaz ao chão. –Muito gostoso... Difícil, mas gostoso. – brincou.

-O que está dizendo? O que fez com o Zechs? – agora o coração de Wufei parecia disparado a ponto de querer romper o peito. Se seu amante estivesse ferido, ou mesmo morto... –Deuses! O que fez com ele?

-Ainda vive, mas depende de você se ele vai ver o Sol amanhã. Se for um bom menino e me ajudar eu poupo a vida de seu vadio. O que acha? – Sombras sorriu.

-Não faça nada com ele... Você terá de mim o que quiser. – Wufei fechou as mãos com força teria que colaborar se quisesse seu belo amante em segurança.

-Hahahahahahaha... – Sombras gargalhou com gosto. Ele sempre conseguia o que queria. –Olhe adiante. – o monstro ergueu as mãos fazendo uma cortina de fumaça se dissipar e ali, estava Zechs desacordado.

-Zechs! – Wufei caminhou até o rapaz. Havia no centro da saleta uma tocha de fogo que mantinha o local iluminado. Wufei correu os dedos pelos cabelos tão macios do jovem, confirmando cada traço rico em beleza.

Sombras se materializou ao lado do rapaz adormecido e de forma provocante foi abrindo o manto negro que escondia aquele corpo magnífico de pele branca, mostrando ao outro rapaz o quanto seu amante estava ferido.

Havia marcas roxas por todas as partes. Mas o pior foi quando o manto foi aberto deixando expostas as coxas roliças do rapaz, e ali entre as pernas os ferimentos eram maiores, havia sangue seco, muitas marcas e um resquício de sêmen.

Wufei teve que se controlar. Seu estômago reclamou enojado com a cena. –Não. Zechs! – suas lágrimas de amargura escorregaram penosamente por seu rosto bonito. –Como eu pude me deixar dominar dessa forma? O que eu fiz? – Wufei amargou aquela dor tremenda. Ele e Zechs eram amantes há cinco anos, e o loiro era seu melhor amigo. Companheiro de todos os momentos. Tornava os dias do casal lago fácil e descontraído. Eles se amavam e se respeitavam.

Wufei vivia insistindo para trocarem de posição na cama, afinal ele tinha muita vontade de possuir seu amante, de estar dentro dele, mas Zechs se mostrava tão relutante dizendo que ainda não estava preparado, e Chang sempre tinha paciência esperando o tempo do namorado chegar, não ia forçar nada com ele, porém agora o via assim, tão machucado, tão frágil, tão... Usado.

-Eu não pude ter feito isso com ele! Tanto que esperei... E agora isso. – ele chorou amargando o gosto daquela dor. Sob o efeito de Sombras havia violentado e espancado o homem que amava e ainda mais, havia corrompido a confiança de seu relacionamento, uma vez que forçara Zechs a se entregar.

-Como foi difícil. De início ele não percebeu que não era você. Mas como você estava bem mais forte do que ele e o tratava com tanta violência... Acho que seu namoradinho é bem espertinho para entender que alguma coisa estranha estava acontecendo... Mas eu tenho que te dizer como é bom tirar a virgindade de alguém... – Sombras sorriu sumindo no ar no exato momento que Wufei socava com raiva o naquele local que ele esteve.

Wufei foi deixado naquela sala. Estava tão fraco e mesmo se tivesse como, não podia fugir, uma vez que Zechs, seu belo amante estava preso naquele lugar. Derrotado ele se permitiu chorar sobre o corpo ferido de seu namorado.


De volta à floresta Heero havia conseguido a planta e feito o curativo em Duo, o problema todo era que o humano já havia perdido sangue demais e agora estava tão pálido quanto a neve, dormia febril numa cama improvisada nas ruínas que o centauro morava.

Trowa era outro que estava descansando. Ele não trocara palavras com ninguém, nem mesmo com Quatre que estava a seu lado. O caçador no mínimo estava relutante em acreditar que sua irmã fora morta por outra criatura senão o centauro, ou como se explicava as marcas, as pegadas de cavalos que havia por toda a parte onde o corpo de sua irmão fora achado? Ele ainda não tinha essas explicações.

Heero ficou com Duo o tempo todo. Sentado de forma elegante ele observava o jovem dormir.

Ávila apenas o observava. Havia ouvido sobre o povo centauro devastado por Sombras, mas sabia que eles eram agressivos e odiavam contato com outros seres, porém Heero tinha algo diferente, um olhar tão doce.

-Ele é tão bonito... Talvez seja a mais magnífica criatura dessa floresta, mas porque sinto que ele esconde alguma coisa? – Ávila pensou olhando Heero.

-Não gosto que me observem. – Yui se voltou para porta onde o guerreiro estava parado.

-Estava só me questionando o que há de errado com você. Porque ajudou Duo contra Sombras, porque cuidou dele? Porque eu não consegui te enfeitiçar – ele falou confuso.

-Você é um místico, mas chega a ser tão curioso quando um humano... – Heero provocou.

-Não gosto de ter aliados misteriosos. – o guerreiro se aproximou.

-Não sou seu aliado, lembre-se disso, místico. Eu estou apenas com Duo... Quando isso tudo acabar pretendo nunca mais olhar na sua cara e nem na de ninguém aqui... Eu quero apenas que achem o salvador para ajudar nosso povo. – ele explicou.

-Vai querer se afastar de Duo também? – Ávila sabia que o jovem de trança havia tocado aquela o coração do centauro.

-Principalmente dele –Heero se apressou tentando aparentar sua frieza de sempre. – O fato de eu tê-lo salvado ou de ter atendido o pedido dele de não matar aquele caçador foi apenas uma boa fé para com um moribundo. – o centauro saiu do cômodo ganhando a noite estrelada.

Ávila sorriu o olhando pela janela das ruínas... É claro que mentia muito mal, havia alguma coisa que Yui escondia e que ele descobriria. Principalmente porque Heero vivia sozinho naquelas ruínas, que segundo a lenda serviram de moradia para ninguém menos que o salvador dos mundos. O místico acreditava que Yui sabia mais sobre aquela lenda do que qualquer um ali, uma vez que era o único descendente do povo centauro e esses seres eram sábios observadores da história e da magia.

-Será que ele ficou no templo a espera do salvador? Então deve mesmo acreditar que ele virá. Resta saber como e onde e como Duo poderá trazê-lo. – o guerreiro pensou preocupado olhando o belo centauro sumir sob o véu estrelado lá fora.


Quando Duo acordara na manhã seguinte estava bem melhor. Ainda sentia-se fraco e dolorido, mas estava sem febre.

-Ele esteve aqui durante toda à noite. – Ávila informou indicando que Heero estivera observando o sono de Duo.

-Eu sei. Eu o vi nos meus sonhos... – o humano sorriu.

-Este lugar é o tempo sagrado... Aqui se diz que são as ruínas da morada do salvador. Duo, você podia... – o guerreiro o olhou de forma esperançosa.

-Tocar nas paredes? – Duo o olhou tocando no chão. –Animais em busca de abrigo, magos e bruxas celebrando algumas espécies de cerimônias... Sacrifícios... Nada que possa indicar a presença do salvador. – ele falou frustrado.

-Entendo. – Ávila respondeu como num sussurro de desapontamento. – E o centauro? Eles conhecem muito sobre a história. Ele quis nos ajudar. É evidente que saiba alguma coisa sobre o salvador. – completou voltando a olhar para Duo.

-Pode ser, mas eu o toquei e há uma parte da alma dele que é protegida por alguma espécie de energia, eu não sei bem. As únicas coisas que consegui sobre ele é realmente seu passado.

-Pode ser apenas a magia natural que os centauros têm. Eu mesmo não consegui encantá-lo na floresta. Mas pode ser alguma coisa a mais... – Ávila comentou. –De qualquer forma vou tentar descobrir mais sobre ele.

-Ávila! – Duo o chamou. – Eu o toquei e o senti. Não foi ele quem matou a irmão do Trowa. Ele é uma boa criatura. – o humano afirmou.

-Pequena Ametista. – ele voltou a se aproximar de Duo tocando a ponta do nariz do garoto. –Eu não precisaria ter seus dons para saber disso. Os olhos de Heero mostram quem ele é.

-Fala isso com o Trowa. – Duo pediu ingênuo.

-Uhum. Vou falar. Mas agente só aceita aquilo que pode acreditar. – Ávila sorriu o deixando sozinho.


Adendo: Bom, devo estar conseguindo um lugar legal para postar as imagens dessa fic... estão bem legais, e é claro que a minha favorita é o centauro de peito nu.. rs

Beijos,

Hina