O lado de dentro da porta não era muito melhor do que a própria porta. A câmara era escura e baixo-astral, as paredes eram marrons, havia uma porção de cadeiras de pés dentados espalhadas pelo lugar. Tochas, teias de aranha e respingos completavam a decoração.

'Uuuuh,' murmurou James, estremecendo. 'Calafrios.'

Sirius não estava tão incomodado assim. 'Lembra muito minha ex-casa,' disse ele, olhando ao redor dele com algum interesse. 'Ah, sim. Reminiscências da minha infância querida.'

Remus não prestava atenção na decoração da sala, mas sim nas pessoas que estavam dentro dela, conversando entediadas. Céus – será que era algum tipo de moda licantropa que ele não estava sabendo? Os convidados da reunião tinham cara de mortos-vivos, vestiam preto e tinham grandes olheiras roxas. Ele sentiu-se um tanto deslocado com seus cabelos penteados e sua camiseta azul-clara.

'Eu queria ter um piercing,' reclamou ele baixinho, achando-se monótono. Seus amigos olharam esquisito para ele. 'Olha só pra esses caras, todos tão melancólicos. Esse sim são verdadeiros lobisomens.'

'Remus, faz um favor? Fica quieto,' retrucou Sirius, dando-lhe um tapa na nuca.

'Vamos, vamos, seus lerdos,' disse Theodor em sua vozinha pequenina (que ecoou sinistramente pela câmara), já deslizando para algum lugar nas sombras. 'Sentem-se em algum lugar, daqui a pouco a reunião terá início!'

"Algum lugar" era uma ótima sugestão, realmente. Vejamos: uma cadeira… seca e sem mofo, de preferência.

Era algo difícil de achar. Ainda mais três delas. Por isso, cada um foi procurar a sua.

'Com licença, posso pegar essa cadeira?' pediu James agradavelmente a uma lobismulher (?) sentada por ali, apontando para uma candidata ao lado dela.

A moça era bastante sombria, de cabelos castanhos mal penteados, com uma linda e romântica cicatriz através do rosto. Sério, ia do lado esquerdo da testa até o canto inferior direito da boca, e era simplesmente fashion demais para não ser notada. James não conseguiu desviar o olhar.

Moço discreto, ele…

'Pode falar que eu sou monstruosa, estou acostumada!' ela disparou, ríspida, para ele, e, sem precisar sequer levantar do lugar, deu-lhe um chute na canela. 'Quatro-olhos!'

'AAIÊ! Ei—olha quem você chama de quatro-olhos!' rebateu ele criativamente, dobrando-se sobre a perna ofendida e abraçando-a com lágrimas nos olhos. 'Putaquilpariu--- que ponta horrorosa é essa do seu sapato?'

'Especialmente para punir malfeitores,' disse a moça, erguendo o pezinho pouco delicado numa bota verde-limão de ponta pontuda. Ela franziu a testa ameaçadora. 'Sorte sua que eu não mirei mais pra cima.'

'Iiikh!'

'Dá o fora!'

James agarrou a cadeira-alvo e saiu correndinho dali.

Enquanto isso, Remus tentava se entender com um senhor maltrapilho do outro lado da câmara. Ele não parecia compreender muito bem o que o rapaz dizia.

'Por favor, só o que eu quero é essa cadeira…'

'Não! Ninguém vai me levar pra cadeia! Não podem provar que fui eu!'

'Meu senhor, não foi isso que eu…'

'Chouriço? Gosto de chouriço. Mais sangue que tudo, sabe. Agrada o paladar de um lobo, se é que me entende, ré, ré, ré…'

'Sim, sim, chouriço é uma iguaria muito fina…'

'Não, não é da China, mocinho burro. É da Alemanha—'

'Mas meu senhor—'

'Não interrompa os mais velhos! Que garoto mal-educado! Eu dizia que…'

Sirius, por sua vez, simplesmente avistou a cadeira almejada, pegou sem olhar para os lados, e saiu. Muito mais prático.

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'Meu nome é Humberto Higgins, e sou lobisomem desde os catorze anos. Matei um poodle uma vez. Um coelhinho, também. E tenho um gosto especial por carne mal-passada.'

Ele passou a língua ligeiramente pelos lábios ao dizer isso. Muitos dos outros lobisomens na reunião tinham os olhos arregalados na direção dele.

Os três Marotos estavam um pouco mais que horrorizados.

'Conto com o apoio e a compreensão de vocês,' continuou Humberto, com sua voz profunda e melancólica, senão ameaçadora. 'Preciso da sua amizade para superar meus traumas.' E fechou o punho, dramaticamente, contra o peito.

'Certo, certo. Sai daqui, Higgins, seu pervertido,' guinchou Theodor, saltando sobre a bancadinha atrás da qual Humberto estava. Este lançou um olhar ressentido para o rato, e voltou para a sua cadeira. 'Legal, quem quer ser o próximo?'

Adivinha quem levantou a mão na mesma hora? Sirius e James, lógico. Os dois.

'Sirius, é minha vez!'

'Que sua vez, o quê! Eu levantei a mão primeiro.'

'Mentira, fui eu! E você sempre é o primeiro, dessa vez não!'

'Ah, vai logo, seu chorão!'

James praticamente saltitou até a bancadinha, feliz da vida. Remus temeu por sua vida. Não sabia do que James era capaz – ou melhor, sabia, e era o que o preocupava no momento.

Aquele cara era descontrolado. Uma ameaça à sociedade. Não devia estar andando solto por aí, sem focinheira!

'Ahem. Meu nome é James!' Ele sorriu cheio de dentes e acenou animado para a moça com quem discutira antes. 'Aí, garota da bota – tô palanque e tu não tá!'

A garota mostrou-lhe o Famigerado Dedo do Meio, também. Remus simpatizou com ela na hora, mas James sentiu-se insultado.

'Theo, olha só pra ela, fez sinalzinho pra mim,' ele reclamou com o rato azul, que estava empoleirado sobre uma banqueta ao lado dele.

'Não seja ridículo e continua, imbecil,' respondeu Theodor, impaciente.

'Ah. Tá. Olha só,' ele voltou-se para sua mini-platéia, que estava cada vez com menos esperança sobre aquele lugar. 'Meu nome é James e eu tenho dezoito anos. Sou lobisomem há menos de um mês, e, tipo,foi uma experiência traumática e tudo mais,só queainda não deu tempo de eu ficar acabado e demente igual a vocês, mas meus pais acham que eu devo ter acompanhamento psicológico e blábláblá,' James mexeu a mão como um fantoche tagarela, 'e então aqui estamos. Alguém quer autógrafo?'

Remus tinha o rosto escondido nas mãos ao fim do discurso. Quem sabe, se ele ficasse quietinho, os outros não pensariam que ele tinha vindo com essa gente maluca…

'Jimmy, você é um incompetente! Sai daí e deixa o papai aqui assumir o comando,' declarou Sirius, andando até a bancada e enxotando James de lá. O rapaz saiu, mas sob protestos, e Sirius postou-se no lugar dele.

'Meu nome é Sirius,' disse ele, muito sério. Remus e James, que tinha ido se sentar ao lado dele, se surpreenderam. 'Não vou revelar meu sobrenome para preservar a privacidade da minha família. Eles não merecem ser expostos dessa forma.'

Ele pensou um pouco.

'Pensando bem, merecem sim! Meu nome é Sirius Black, lembrem-se bem desse sobrenome e espalhem para os quatro ventos o quanto essa família é indigna!'

Uma mão se ergueu no meio da "platéia". 'Senhor Black, sua família o hostiliza?' perguntou um homem já mais velho do que eles, com cara de emo.

'Minha família é o cocô do cavalo do bandido, meu senhor,' disse Sirius, paciente. 'Um bando de bruxos das trevas que, eu tenho certeza, só não come criancinhas porque não gostariam de sujar as mãozinhas deles de sangue. Ah, sim. Eles gostariam de você na família, senhor Higgins,' ele acrescentou, 'poderia se casar com minha prima Bellatrix, você faz o tipo dela…'

'Depende, se ela for gostosa,' disse Higgins, dando de ombros.

'Ah, então não dá,' disse Sirius, pesaroso. 'Bem, continuando! Tenho dezoito anos, como meu amigo Jimmy ali, e na verdade, fui eu que o tornei um lobisomem. É uma história complicada,' disse, erguendo uma mão para conter o assombro dos ouvintes, 'Envolve salada de agrião, penas de ganso e dados, realmente uma história assustadora, sei que não vão querer ouvir.'

'Não se esqueça do peixinho do aquário, Sirius!' exclamou James, lá no fundo.

'Ah, sim! Pobre Tobias. Era um bom peixe. Mas acho que ele gostou da vizinha do quinto andar.'

'Ela é que não gostou das nuvens naquele dia,' comentou James, misterioso.

'Nem do bolo de cenoura,' acrescentou Sirius, no mesmo tom.

'E que dizer, então, dos bibelôs da sua mãe? Aqueles elefantinhos nunca mais serão os mesmos.'

'Estão fazendo terapia até hoje!'

Os dois ficaram naquele clima conspiratório por mais alguns minutos, até Theodor decidir que eles não estava falando coisa com coisa e mandá-los praquele lugar. Francamente!

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Atualizei, gentem! Sentiram minha falta? Esse capítulo foi meio nada a ver, rápido demais também, mas espero que tenham gostado.

Ah... se alguém aí for emo, nada pessoal mesmo, viu? É que emocore virou assunto do dia lá na minha escola, e eu não resisti.

Como sempre, reviews fazem bem para o corpo e para a alma… então, reviewem! Podem falar o que quiserem, menos flames!

-- Zu