Time of Your Life
A Chegada
Às vezes a vida nos prega peças.
Quando a pessoa que amamos em nossa adolescência volta de repente ao nosso convívio, todos os sentimentos podem retornar como se nunca tivessem ido.
A angústia natural volta, virando nossas vidas dos pés à cabeça e de repente, nosso equilíbrio desmorona e em seu lugar conhecemos o que realmente importa na vida: a turbulência de um amor.
Mas será esse amor possível mesmo depois de todos esses anos? Aliás, terá o tempo modificado dois corações tão distintos a ponto desse amor ser perdido para sempre?
Sim, eu sou inseguro. Mas quem não seria quando seu maior amor é uma pessoa tão fechada e crítica?
Ele certamente me diria, se me visse falando essas coisas, que a insegurança é uma arma contra mim mesmo. Ela pode nos destruir em mil pedaços, mas nunca pode nos trazer bons frutos.
Ele está certo, eu devo dizer que ele sempre tem a razão. E por vezes eu ainda me pego pensando em qual seria a sua opinião sobre determinadas coisas do meu dia-a-dia.
Agora eu não preciso mais devanear procurando suas respostas em meus sonhos. Ele está aqui.
Posso procurar seus conselhos quando bem entendo. Mas e se ele não os tiver mais? E se ele tiver mudado tanto a ponto de não se lembrar como era ser aquele garoto que eu havia conhecido?
Mas eu não deveria pensar nessas coisas agora. Deveria me concentrar em meu trabalho e em achar uma forma de dizer a ele tudo que passou pela minha cabeça durante todo esse tempo.
Tenho que lhe contar sobre minha paixão adolescente, sobre minha vida e sobre o quanto necessito de suas palavras novamente. Mas depois de cinco anos isso se torna realmente difícil.
Ele sempre foi muito inteligente e quando estávamos no último ano da escola, tínhamos apenas dezessete anos, ele recebeu um convite de uma faculdade de fora do país. Naturalmente ele aceitou, com grande empurrão do pai, eu diria.
Cinco anos se passaram e nós nunca mais nos falamos. Ele ainda me escreveu algumas cartas durante os primeiros meses, mas eu nunca as respondia. Chegava a escrever milhões de palavras, mas nunca as enviava.
Por que isso? Eu jamais tive coragem de dizer que sentia muito mais que amizade por meu melhor amigo. Tinha medo que ele soubesse por uma simples carta.
Um papel não era digno de contar coisa tão importante sobre mim, nem o telefone. Eu precisava olhar no fundo daqueles olhos e dizer tudo que estava em meu coração.
E depois de esperar tantos anos por isso, finalmente chega o dia em que eu deveria contar, falar tudo. Mas eu estou aqui, escrevendo nesse maldito diário, com medo de alguém que eu amo.
Afrodite já veio bater na minha porta três vezes e Shura reclama dia e noite porque eu não paro de tocar uma certa música no violão.
"Time of Your Life", do Green Day. Nossa banda preferida nos tempos de segundo grau. Costumávamos perder tardes tocando suas músicas no meu violão e esta em especial é minha predileta. Foi essa a música que tocava no rádio quando ele se despediu de mim.
Foi o dia mais triste da minha vida. Lembro-me de ter me trancado no quarto e ficado ouvindo repetidas vezes essa maldita música, até minha mãe chamar um chaveiro para me tirar lá de dentro.
Demorei a me recuperar e cheguei quase próximo à depressão. Mas eu estava começando minha vida, em uma faculdade nova e logo encontre novos amigos que ocupassem meu tempo.
Depois de alguns anos passei a dividir um apartamento com três deles, Shura, Afrodite e Shaka. Todos nós trabalhamos juntos hoje em dia e eu devo dizer que eles salvaram minha vida.
Então, agora preciso novamente de salvação. Salvação para melhorar meu humor e acabar com minha insegurança... Mas parece que todos os meus amigos estão tomando o partido daquele que está retornando.
oOoOo
-Milo! Vamos nos atrasar!
'Atrasar para o quê?' Milo pensou enquanto escondia o diário em uma caixa dentro de uma gaveta no guarda roupas. Muito bem guardado, pois aquele caderninho encerrava seus maiores segredos.
O grego vestiu a calça jeans e uma camisa branca, calçou um tênis e destrancou a porta do quarto. Novamente a expressão melancólica dominava seu rosto.
-Ah... Melhora essa cara, Ucho!
-É... Melhora isso, tristeza dá rugas! – Afrodite e Shaka, respectivamente, ambos tentando melhorar o humor e a tristeza de Milo, mas nenhum deles capaz de conseguir essa proeza.
-Estou bem, pessoal...
-Tá nada... Posso sentir daqui que seu estômago está embrulhado de tanta ansiedade.
-É, ele está. Mas também não é assim, Shura. Eu tenho bons motivos.
-Que não nos conta.
O sueco tinha razão, ele não contava mesmo seus motivos, pelos quais estava tão abalado.
Mas o assunto morreu, quando Aioros chegou com as chaves do carro nas mãos. Milo não sabia para onde iriam, mas tinha um palpite de que era tudo um complô contra si.
Dito e feito.
Aioros, Afrodite, Shaka e Shura. Essa seria a ordem em que mataria cada um deles. Por quê?
Porque aqueles quatro engraçadinhos tinham levado Milo a uma pizzaria antiga, onde ele costumava ir com seu antigo amigo. Aquele lugar trazia muitas lembranças, boas e ruins. E uma delas tinha a ver com a tal música que não saía de sua cabeça agora.
Sentaram-se em uma mesa grande, para seis pessoas e pediram três pizzas gigantes. Milo juraria por sua vida que aqueles quatro rapazes tinham planejado suas sentenças de morte.
E os pensamentos malignos e vingativos continuaram a povoar a cabeça daquele escorpiano, quando Afrodite, que acabara de ganhar o primeiro lugar da lista negra atendera o celular.
-Sim, já chegamos. Tudo bem, nós esperamos, já pedimos as pizzas. – Aquele sueco desgraçado tinha um sorrisinho maroto nos lábios, que fazia o estômago de Milo dar cambalhotas.
-Então, ele demora muito?
-Não, ele está chagando.
Shura era o segundo da lista a morrer agora. Do que eles estavam sabendo?
-Quem era? – Perguntar não faria mal, mas aqueles safados não queriam ou iriam lhe contar.
-Uma pessoa, Ucho.
-Jura? Achei que fosse o elefante do zoológico! – Afrodite lhe mostrou a língua e os outros riram. Eles estavam sabendo de algo.
-Ucho, deixa de ser pentelho. – Milo não estava gostando nada daquela idéia... Iria fugir!
Mas quando teve a idéia genial de levantar-se para ir ao banheiro, Aioros segurou sua mão o impedindo. Terceiro da lista!
-Aonde vai?
-Banheiro.
-Fazer o quê?
-E isso te interessa?
-Milo, sente-se, não precisa fugir. – Agora estava muito claro. E Shaka ganharia sua consideração por estar disposto a acabar com o mistério. – A pizza daqui não é tão ruim assim... – Deixa pra lá... O loiro seria o primeiro a morrer.
-Escutem, vou dizer uma vez: Não gosto de ser feito de bobo, então me contem o que estão tramando e eu os deixarei viver!
Os quatro rapazes sorriram entre si e ficaram calados, brincando com os guardanapos, mostardas e talheres, mas não disseram uma única palavra.
Até que de repente Aioros se levanta, dizendo que precisava ir ao banheiro. Logo depois vai Shura. 'Ótimo! Eles vão transar no banheiro...'
Como ambos demoravam, Afrodite levantou-se, dizendo que ia chamá-los. Mas este também não voltou e a pizza já estava servida.
-Milo, você fica aqui, eu vou ver o que eles estão fazendo. – Shaka também se levantou e o pobre grego encontrou-se sozinho com três pizzas enormes.
-Bom, ao menos vou comer pizza. – Sussurrou para si mesmo, enquanto se servia de um pedaço.
Mas aqueles quatro demoravam tanto que Milo já estava partindo para o terceiro pedaço, quando um rapaz sentou-se na mesa. Ele levantou os olhos notando como ele era estranho com tantos pircings nas orelhas e um na sobrancelha.
-Posso te ajudar?
-Milo? – O grego notou o pircing na língua também e concluiu que aquele rapaz devia ser masoquista!
-Sim... Pois não?
-Não está me reconhecendo?
Milo olhou bem para aquele rapaz, analisando silenciosamente seu rosto. Ele tinha traços delicados, pircings, uma pele muito branca, cabelos ruivos bem longos presos por uma trança e um sorriso bonito. Logo chegou a uma conclusão óbvia.
-Não. Quem é você?
O rapaz apoiou os cotovelos na mesa, escondendo o rosto entre as mãos. Mas respirou fundo e encarou o escorpiano nos olhos por alguns segundos.
-Pense bem, Milo...
O grego pensou, mas só quando olhou no fundo daqueles olhos avermelhados algo estalou em sua cabeça. Só havia uma pessoa no mundo com aqueles olhos frios e profundos.
-Kamus? – Milo só não engasgou porque não estava bebendo o refrigerante na hora, mas seu queixo caiu e por muito tempo ele ficou com cara de idiota, fitando seu antigo amor.
Kamus sorriu largamente, mas depois encarou Milo com curiosidade, vendo que o amigo não tinha reação.
Logo os outros quatro voltaram do banheiro, sentando-se na mesa. Afrodite estalou os dedos, mas Milo só acordou quando Shura lhe deu um tapa na cara.
-Ei! Isso dói!
-Então acorde, tonto. – O grego esfregou a bochecha e voltou a fitar Kamus com os olhos arregalados.
-Milo... Por Zeus, diga alguma coisa sim! Non vim de longe para ficar olhando essa cara de tonto. – O escorpiano fechou a boca e coçou a cabeça, visivelmente confuso.
-Desculpe, mas você não pode ser o Kamus.
Todos os cinco rapazes o olharam, abobados. Como não era Kamus? Era ele mesmo, ali, na sua frente.
-Mas sou eu mesmo.
-Sim! E finalmente nós estamos te conhecendo... – Shaka murmurou com um sorriso.
-A propósito, eu sou Afrodite, eles são Shaka, Aioros e Shura. – Kamus apertou a mão dos quatro e depois se virou para Milo.
-Milo? O que quer para acreditar que sou eu mesmo? – O grego não respondera, então Kamus bufou assoprando a franja da frente de seus olhos.
-Não acredito... É você.
-Oui.
Assoprar a franja era um gesto muito utilizado por Kamus, mas, na época em que se conheciam, ele tinha cabelos curtos. O francês estava muito diferente, por isso Milo não o reconhecera e relutava em concordar com aquilo.
-Mas... Você está... Diferente. – Kamus riu.
-Oui. Passaram-se cinco anos, achou que eu ainda estaria com cara de dezessete anos? – Todos na mesa riram, mas Milo concordou com a cabeça. – Você também está diferente pra mim. Deixou o cabelo crescer, está com cara de mais velho...
-Hum... Mas você está irreconhecível. – Kamus ergueu as sobrancelhas e olhou bem fundo nos olhos de Milo.
-E isso é bom ou ruim, loiro?
-Bom, ruivo. – O escorpiano mostrou um enorme sorriso. Enfim, Kamus não havia mudado tanto assim... Ainda tinha a mania de chamá-lo de loiro, assim como ele o chamava de ruivo.
-Então... Vai ficar me olhando assim? Eu sei que sou gostoso... Mas isso está ficando desconcertante... – Ahhh... Aquele francês ia levar uns tapas depois, mas por hora Milo apenas se levantara para abraçá-lo e aplacar parte da saudade.
Continua...
oOoOo
N/A: Fic nova, eu não me agüento!
Meu casal favorito de novo! Mas agora eu vou dar uma parada de escrever porque minhas aulas voltam. T.T Vida de universitária num é fácil!
Bom, espero os reviews! Depois responderei a cada um.
Ah! Um brigadão e um beijão especial pra minha querida beta e amiga Ilia-chan. E falando nela... Olhem nossa fic em dupla: 'More Than Words' É Kamus e Milo também.
Bju grande pra vocês.
PS: O título da fic é sim o título da música que eu mais gosto do Green Day. Recomendo!
