Nota: As falas de Seiya e Saga nessa primeira parte são retiradas do mangá original de Saint Seya. Originalmente a cena não se encontra no animê que teve um final diferente.


Deus ou Cavaleiro - Parte II

I – Escudo da Justiça.

Treze anos depois...

Fechou os olhos respirando pesadamente, depois de tanto tempo, finalmente chegara a hora de acabar com tudo aquilo. Estava agora no terraço do décimo terceiro templo, apenas esperando. O esperando.

O vento gelado daquela altitude chocava-se contra sua face, mas não parecia lhe incomodar mais do que aquele aperto em seu coração. Depois de tanto tempo uma parte de seu coração finalmente morreria após fazer o que lhe levara a retornar ao santuário novamente.

-Tem certeza de que quer continuar com isso? –uma jovem de longos cabelos esverdeados perguntou.

Sobre sua cabeça jazia uma delicada coroa de oliveiras e os expressivos orbes azuis pareciam transmitir o que sentia diante daquela situação. Sabia o quão difícil estava sendo para ela ir adiante com aquilo, mas era agora ou o destino de todos seria mais afetado do que já fora.

-...; Aurora assentiu, já conseguia ouvir a voz dele vindo do salão principal do templo de Athena.

Clamou aos céus que conseguisse seguir em frente depois disso, mesmo que soubesse ser muito difícil. Quase impossível.

-Deveria ter deixado que Harmonia fizesse isso; Nick insistiu, colocando a mão sobre o ombro da jovem.

-Não; Aurora respondeu séria, lançando-lhe um olhar que a fez recuar. –Eu deveria ter acabado com isso há treze anos atrás. Se não tivesse sido tão fraca, nenhum cavaleiro teria morrido; ela completou, tentando se acalmar.

Abaixou a cabeça serrando os punhos, lembrando-se perfeitamente os motivos que levaram a ausência de Harmonia no santuário, justamente nessa batalha.

-Se você quer assim; Nick deu-se por vencida, não conseguiria convencê-la a deixar que ela mesma acabasse com Ares. Nesse ponto concordava com Harmonia, a teimosia era mal de família, pois nunca conheceu deuses que combinassem tanto em temperamento quanto Ares e Aurora, eram dois orgulhosos que não davam o braço a torcer, nem sob decreto lei.

-SEIYA, VOCÊ NUNCA VAI PEGAR O ESCUDO; Ares gritou, ao ver que o cavaleiro já estava se aproximando do pequeno templo da estatua.

Aurora respirou fundo, enquanto silenciosamente Nick se afastava.

-Athena, por favor, entregue-me o escudo da justiça; o cavaleiro clamou. Usando suas ultimas forças para aproximar-se da estatua, mesmo já prostrado no chão.

Aurora caminhou, parando ao lado da estatua. Antes que o cavaleiro pudesse pegá-lo. Ela mesma o retirou do suporte. Concentrado de mais em salvar a vida de Saori que já estava se extinguindo, Seiya não notou o curioso fato e mesmo que fosse não seria capaz de compreender tal fenômeno por não conseguir ver a imagem de Aurora.

A ultima chama do relógio de fogo se apagou. Em volta de Atena todos os sobreviventes sentiram por um milésimo de segundo o coração parar de bater.

-MORRA SEIYA; Ares correu, para atacá-lo.

-ESCUDO, SALVE ATHENA; Seiya gritou, erguendo-o para o céu.

Uma energia muito poderosa emanou do escudo. No momento em que Ares iria atingir Seiya, foi ele a ser atingido pelo cosmo do escudo. Sendo lançado para longe. Apenas um milésimo e a luz do escudo correu por todos os templos, indo parar justamente sobre a flecha dourada de Tremy, que atingira Saori no coração.

Atrás de Seiya, estava Aurora, que elevou seu cosmo para repelir a presença de Ares, que agora jazia caído inconsciente no chão. Athena estava finalmente a salvo.

Sob o peso do escudo, Seiya foi ao chão, caindo inconsciente. O escudo vibrou ao tocar o chão de pedra, perdendo completamente o brilho que tinha a pouco, sob a influencia do cosmo de Aurora.

Aurora caminhou cautelosamente até parar ao lado de Saga, abaixou-se, deixando que os joelhos tocassem o chão. Aos poucos os cabelos prateados perdiam a cor, tornando-se novamente Royal. Uma aura avermelhada saiu do corpo do cavaleiro.

Era incrível como pareciam iguais ao mesmo tempo que tão diferentes; ela pensou. Em toda a eternidade nunca vira Ares com uma face tão serena quanto a do cavaleiro agora. Seu cosmo vibrava de felicidade, como se todo aquele tempo preso finalmente houvesse chegado ao fim e houvesse sido libertado; ela concluiu, tocando-lhe a face carinhosamente.

A poucos passos atrás de si, estava Nick com uma ânfora dourada entre as mãos. Fechou-a em seguida, impedindo que novamente o cosmo de Ares viesse a despertar, usando o geminiano como hospedeiro.

Aos poucos Saga foi despertando, ergueu a cabeça, deparando-se com o olhar de Aurora sobre si, embora não fosse capaz de vê-la completamente senti-la acariciando-lhe a face. Por um milésimo de segundo, ao fechar os olhos e abri-los novamente, pode vislumbrar a silhueta da jovem deusa que por pouco, não fizera Ares desistir de tudo.

-Que os Deuses estejam com você; ela sussurrou, depositando-lhe um beijo suave no topo da testa e se levantando.

Aos poucos a vista do cavaleiro embaçou e ele deixou de vê-la. Era como se suas ultimas forças tivessem voltando, permitindo que conseguisse levantar. Saga desceu as escadarias dos templos indo encontrar Athena e finalmente selar de vez o seu destino.

-Vamos; Aurora falou, impedindo que Nick proferisse qualquer palavra sobre o que acontecera.

-...; A jovem assentiu e logo as duas deusas haviam desaparecido completamente dali.

II – Recuperação.

Um ano mortal depois...

-NÃO SEJA TEIMOSO, ARES. VOLTE AQUI; Métis gritou, tentando acompanhar os passos apresados do Deus da Guerra.

Nick o levara novamente para o Olimpo, onde Métis e Deméter cuidavam de suas recuperação, como de todas as outras divindades que passaram pela terra e não tiveram um fim lá muito bom.

Bons exemplos disso eram Apolo e Ártemis, embora a deusa da lua não houvesse ficado muito tempo entre eles, optando pela mortalidade, indo viver na terra.

Embora Éris estivesse entre essas, já fazia um bom tempo que ninguém ouvia falar sobre ela. Alguns chegavam até a pensar que da mesma forma que aquilo era um bom sinal, era um ruim também.

-Aonde ela esta? –ele perguntou, andando por todos os cantos da morada celeste. Mal tivera paciência de colocar as roupas, sairá de seus aposentos a procura dela.

Embora para os mortais houvesse passado apenas um ano, para ele foram séculos, mas as lembranças ainda estavam quentes em sua mente.

-Pare com isso Ares; Deméter falou, nenhuma das duas deusas parecia conseguir conte-lo, o que não era uma situação muito boa.

Ares parou por um momento no meio do salão principal, normalmente usado para as reuniões do conselho. Fechou os olhos por um momento, não conseguia sentir a presença dela. Mas lembrava-se de que a poucos segundos de atingir Seiya, a mesma colocara-se atrás do cavaleiro. Fora um fraco ao hesitar justamente naquele momento, sendo ele a ser atingido pelo cosmo dela e não o cavaleiro pelo seu.

-"Idiota, a quem quer enganar, você nunca seria capaz de feri-la"; Ares se recriminou. -"Ela cumpriu a promessa"; ele pensou com certa amargura.

-Ares; Métis aproximou-se com calma dele, colocando a mão sobre seu ombro. –Precisamos que se acalme, existem algumas coisas que você ainda não sabe;

-...; Ele voltou-se para a deusa da sabedoria com certa confusão, perguntando-se o que ela queria dizer com coisas que ele ainda não sabia. Afinal, foram apenas alguns séculos, não foi tempo suficiente pra acontecer alguma coisa realmente chocante, porém pela primeira vez estava errado e sentiu seu sangue gelar diante dessa possibilidade.

-Aurora foi embora; Deméter falou, parando ao lado dele.

-Co-mo? –ele perguntou, sentindo as pernas fraquejarem, se as duas não estivessem ali, teria ido ao chão.

-...; Métis e Deméter assentiram. Em silêncio, ajudaram-no a retornar para seus aposentos.

Deitaram-no na cama, vendo que embora fisicamente ele estivesse bem, já que não usara seu verdadeiro corpo em batalha, notavam que seu cosmo estava bastante debilitado.

-Há algum tempo atrás, logo após a batalha contra os cavaleiros de Athena; Métis começou. -Nick lhe trouxe para cá na ânfora;

-Mas e Aurora? –ele perguntou, sentindo um estranho aperto em seu coração. Tentava manter os olhos em foco, porém eles estavam aos poucos escurecendo.

-Não sabemos de mais nada, apenas que ela pediu a Nick que avisasse que não voltaria mais para cá; Deméter respondeu.

-Mas...; Ares sentiu a voz falhar. –P-por q-que? –ele perguntou, lutando contra a inconsciência, que parecia lhe arrastar para a escuridão.

-Acho que o motivo é bem evidente não? –Métis perguntou, apontando para ele.

Sentiu a cabeça latejar e seus olhos escurecerem completamente, caindo inconsciente. As duas se entreolharam, era melhor que fosse assim.

III – E o Tempo Passa.

Quase três anos mortais depois...

Aproximou-se da beira do lago. Depois de tanto tempo ainda conseguia sentir impregnado entre as folhas das arvores daquele bosque o cheio dela. O cheiro do orvalho da manhã, refrescante e inesquecível que sempre exalara dos longos cabelos dourados.

Fechou os olhos, ao recostar a cabeça sobre o troco de uma arvore. Há quase três anos não tinha noticias dela. Aurora simplesmente desaparecera do mapa, ou melhor, desaparecera de sua vida.

Foram longos os dias que passara a procurando pelos quatro cantos do mundo, mas nada. Parecia que ela não queria ser encontrara e infelizmente agora começava a ter essa certeza, que durante muito tempo fora apenas um fantasma a assombrar-lhe as noites frias, mas agora, tornara-se real.

Até mesmo pressionar Nick para que lhe contasse a verdade ele tentou, mas isso só serviu para aumentar o atrito que existia entre ele e o pai, que o mandou ficar longe da Deusa e mais, que desistisse de uma vez, pois se Aurora não queria nada com ele, que não ficasse importunando a vida dos outros. Admitia que pegara um pouco pesado com Nick, mas o que não admitia era esse comodismo do pai, que apenas cruzava os braços e o assunto não eram suas amantes, eles estava pouco se lixando com os outros, era nessas horas que concordava com Posseidon e Apolo. Zeus era irritantemente pretensioso a ponto de achar que ainda reinava sobre os céus. Mas seria interessante quando a verdadeira realidade caísse sobre ele de forma devastadora e irreversível.

-Lhe amei de mais Ares e essa foi a minha perdição, por isso agora, prometi a mim mesma que só amaria essa Terra e por ela vou lutar e proteger até o meu fim; a voz da deusa soou em sua mente, nunca mais esqueceria essas palavras.

Aquele dia perdera uma parte importante de si, que sabia que nunca mais recuperaria, tudo por causa de sua ambição e egoísmo.

IV – Um Encontro Inesperado.

Seus passos pareciam tocar o chão gentilmente, não caminhava, apenas parecia flutuar. Há cerca de três anos que não se aproximava daquele lugar. Embora algumas pessoas não a pudessem ver, agora já se via diante do templo de Áries.

Nenhum guardião a vista, continuou a subir as escadarias. A barra do longo vestido branco esvoaçava com o vento, moldando-se ao corpo de maneira perfeita, delineando as curvas favorecidas pelo tempo.

-o-o-o-o-

-Vocês estão sentindo essa presença? –Kanon perguntou intrigado, voltando-se para Mú, Saga e Celina que estavam em frente ao templo de Gêmeos.

-Ahn! Eu estou; Saga respondeu, voltou-se para as escadarias que ligavam o templo a Touro, aquela presença lhe era bastante familiar; ele pensou.

-Quem será que é? –Celina perguntou, voltando-se para o mestre.

Os quatro ficaram surpresos ao ver a aparição de uma aura dourada aproximando-se, aos poucos a aura tomara forma, revelando nada mais nada menos do que a própria Aurora.

-Quem é? –Celina perguntou intrigada.

-Aurora; Saga falou, quase num sussurro, reconhecendo a deusa, que durante muito tempo povoara sua mente, graças a presença de Ares nela.

-Uh? –voltaram-se para ele, curiosos.

-Me desculpem por aparecer no santuário sem ter avisado Athena antes, mas gostaria de falar com minha sobrinha se for possível? –ela perguntou gentilmente.

Quando fora a ultima vez que a vira? Mais de treze anos atrás entre as lembranças de Ares e a batalha contra os cavaleiros de bronze; Saga pensou.

-Ahn! Me acompanhe, por favor; o geminiano falou. Sem responder pergunta alguma dos demais, ele indicou a jovem o caminho para o templo seguinte.

-É impressão minha ou aquela é a Aurora? –Kanon perguntou incrédulo, lembrando-se de quanto Aishi referira-se à deusa, como um dos participantes das guerras, porém nos bastidores.

-Você não esta se referindo a Deusa do Alvorecer, está? –Celina perguntou mais incrédula ainda.

-...; Kanon assentiu.

-É ela sim Kanon, mas confesso que estou intrigado, o que ela esta fazendo aqui depois de tanto tempo; o ariano falou com o olhar perdido, lembrava-se da presença que sentiu no santuário e essa certeza só aumentou quando Aishi falara sobre a possibilidade de outras divindades também terem estado presentes.

-Como assim, mestre? –Celina perguntou confusa.

-Nada não, besteira; ele falou, balançando a cabeça. –Mas vamos logo Celina, ainda temos que treinar;

-...; A jovem assentiu.

-Vem com a gente até a arena, Kanon? –Mú perguntou.

-Vou sim; ele respondeu, lançando um olhar demorado a jovem, que começou a andar mais rápido atrás do ariano, com a face rosada.

-o-o-o-o-

Um silêncio mortal cairá entre eles, enquanto subiam as escadarias dos templos. Estavam quase em Aquário, embora o destino fosse o ultimo templo.

-Como você está? –Aurora perguntou hesitante, depois de alguns minutos.

-Como? – Saga perguntou confuso, voltando-se para a deusa.

-Perguntei como você está, creio que algumas coisas mudaram em sua vida, após retornar, não é? –ela indagou.

-...; Ele assentiu. –Muito, mas estou bem. Sem mais aquelas incertezas ou arrependimentos sobre coisas que poderiam ser diferentes;

-Que bom; ela respondeu, com um doce sorriso. –Acredito que o que Harmonia fez, foi um grande bem a todos, acabando de vez com essas guerras inúteis e não desistindo;

-É; Saga respondeu, com um meio sorriso. –Aishi é muito teimosa, e quando coloca uma coisa na cabeça, ninguém consegue mudar; ele completou.

-É mal de família; Aurora falou, com um olhar triste.

Saga lançou um olhar de canto a jovem, conseguia perfeitamente sentir que ela estava triste e sabia perfeitamente o motivo disso, ou melhor, quem era o causador disso.

-E você? –ele perguntou, querendo desviar as atenções dela, para que não ficasse lembrando de coisas tristes.

-O que? –Aurora perguntou, voltando-se para ele.

-Acha que sua vida mudou com as guerras chegando ao fim? –Saga perguntou, cauteloso.

-...; Aurora assentiu. –Bastante, agora eu não vivo mais no Olimpo, mas mesmo assim tenho uma vida calma, sem complicações; ela respondeu.

-Não vive mais Olimpo, então...; Ele não completou.

-O que me lembra, que eu ainda não lhe agradeci; ela falou, parando de andar e voltando-se para ele.

-Como? –Saga perguntou, confuso. Tantas coisas passavam por sua mente, perguntas das quais não conseguia obter nenhuma resposta, mas a única que não calava era o porque dela abandonar a morada celeste ainda mais agora que teria a oportunidade de ficar com Ares numa Era de paz.

-Durante muito tempo você foi forte, teve de suportar coisas das quais deveria ter sido poupado; Aurora falou, tornando a caminhar. –Foram treze anos lutando contra um demônio interior que por vezes minava-lhe as forças, mas que no fim, apenas lhe fortaleceu, dando-lhe a sabedoria necessária para cumprir a sua missão;

-Au-ro-ra; ele falou com a voz tremula.

-Se eu tivesse sido forte, teria impedido que Ares tivesse feito tudo aquilo, nenhum de vocês sofreria, Harmonia fala que existem coisas que não podemos mudar, mas eu tive essa chance, duas vezes e fracassei; ela falou serrando os punhos.

-Não, não fracassou; Saga falou, voltando-se para ela. –Se você não estivesse no ultimo templo aquele dia, talvez Seiya tivesse morrido sem conseguir salvar Athena. Naquela hora que Ares o atacou ele lhe viu e hesitou; o cavaleiro completou, surpreendendo-a com a revelação.

-O que? –ela perguntou, surpresa.

-Foi por um milésimo de segundo, mas ele temeu lhe ferir ao atacar Seiya, mas como o seu cosmo foi mais rápido, ele foi repelido pelo escudo; Saga completou, lembrando-se do que acontecera naquele dia.

-Então...;

-...; Saga assentiu. –Embora ele fosse frio, por vezes cruel e insensível, Ares nunca lhe esqueceu e me arrisco a dizer que até hoje ainda é assim, vejo isso pelas ultimas vezes que ele veio ver Aishi no santuário, agindo como um pai de verdade quando o assunto são os gêmeos e Aishi, ele mudou bastante;

Aurora ficou em silencio, três anos mortais haviam se passado, o que o teria feito mudar? –ela se perguntou confusa, balançou a cabeça, mais séculos poderiam passar e ela não iria conseguir entendê-lo.

-Chegamos; Saga falou, apontando a entrada do ultimo templo. Mal notaram quando passaram por Peixes e já estavam nas portas do templo de Athena.

-Obrigada por me acompanhar Saga, mas agora gostaria de seguir sozinha; Aurora falou.

-Está certo, até mais; ele falou, numa respeitosa reverencia. A jovem assentiu, afastando-se aos poucos, enquanto entrava no templo.

O cavaleiro observou-a sumir de suas vistas, sentou-se nos degraus da escada, permanecendo ali com o olhar perdido.

V – Reencontro.

Aishi e Saori conversavam quando Hanay surgiu na biblioteca avisando Aishi sobre a presença de Aurora. A amazona não pareceu surpresa com a presença da deusa, pelo contrario, por seu olhar era possível saber que já previa isso, ou melhor, que tramava algo para esse reencontro.

-Aurora; Aishi falou, chamando a Deusa que estava na entrada principal do templo, olhando para a entrada da sacada com olhar perdido.

-Há quanto tempo Harmonia? –ela voltou-se para a jovem sorrindo.

-O suficiente; Aishi respondeu sorrindo. –Mas vem comigo, vamos conversar lá em cima; ela falou, apontando a entrada para o terraço.

Aurora assentiu, acompanhando-a. Deixou os olhos correrem por todo o terraço, lembrava-se perfeitamente da ultima vez que estivera ali, o que não lhe garantia lembranças nada boas do que acontecera.

Sentaram-se em um dos muitos bancos de mármore espalhados pelo terraço, mas o que escolheram ficava quase de frente ao templo da estatua.

-Então, o que lhe trás ao santuário? –Aishi perguntou, com ar sereno.

-Queria apenas saber como as coisas andam; Aurora falou de forma hesitante.

-Uhhhhhhh; Aishi murmurou com um sorriso maroto.

-Alguém já te disse que esse sorriso assusta? –Aurora perguntou, sentindo a face queimar.

-Aurora. Aurora. Admita, não é só sobre isso que você quer saber, não é? –Aishi insistiu.

-Não sei a que se refere; a deusa falou, ficando emburrada e desviando o olhar.

-Uh! Permita-me refrescar-lhe a memora então; Aishi falou com ar pensativo. –Alto, moreno, olhos dourados, tão teimoso e orgulhoso quanto você; ela completou como se fosse a coisa mais normal do mundo, vendo a deusa voltar-se pra ela indignada. –Pelo visto acertei; a amazona falou com um sorriso vitorioso nos lábios.

-Você é irritante; Aurora resmungou.

-Eu sei; Aishi respondeu, divertindo-se com o constrangimento da deusa. –Mas admita, sente a falta dele não é? –ela perguntou.

-...; Aurora abaixou a cabeça com um olhar triste, apenas assentindo.

-Porque não conversam, papai ainda te procura e tenho por mim que ele não vai desistir tão cedo; a jovem falou, lembrando-se da conversa que tivera há pouco tempo atrás com Eros e o irmão lhe contara que o pai surtara mais uma vez com Nick por não querer lhe dizer o paradeiro da deusa.

-Creio que não existem mais chances para Ares e eu, Harmonia; Aurora respondeu. –Nosso tempo já chegou ao fim e não podemos mudar isso;

-Mas podem aproveitar a chance que tem agora e fazerem diferente; Aishi respondeu. –Isso é claro se realmente quiserem, já vocês são dois cabeças-duras que não admitem quando estão errados. Que coisa mais irritante; ela exasperou.

Aurora sorriu, ainda se perguntava porque as Deusas do Destino fizeram com que Harmonia nascesse fisicamente parecida com Afrodite, embora seu gênio, definitivamente fosse herdado de Ares.

-Talvez você tenha razão; a deusa do alvorecer falou.

-E você tem alguma duvida disso? –Aishi perguntou arqueando a sobrancelha, incrédula.

-Aishi. Aonde você está? -uma voz imponente soou na entrada do terraço, fazendo Aurora ficar tão pálida quanto uma folha de papel.

-Pelo visto as Deusas do Destino estão de bom humor; Aishi brincou levantando-se, quando viu o pai aparecer no terraço.

Ares estancou surpreso ao reconhecer quem era a jovem sentada ao lado de Harmonia. Tantos séculos e finalmente a reencontrava, justamente ali.

-Que bom que veio pai; Aishi falou, indo até ele e o abraçando carinhosamente. –Vê se não faz nenhuma besteira agora, se não eu te mato; ela sussurrou-lhe ao pé do ouvido de forma carinhosa, porém num aviso mortal de que não estava brincando. –Ahn! Aurora tenho de resolver uma coisa com Kamus, mas conversamos depois; a jovem falou, voltando-se para a deusa, que tinha as mãos tremulas pousadas sobre o colo lhe fitando.

-...; Aurora assentiu.

Aishi afastou-se, saindo rapidamente do terraço. Ares observou atentamente a jovem, deixando seus orbes correm sobre ela dos pés a cabeça. Aurora engoliu em seco, sentindo o coração disparar, era como se aquele olhar pudesse tocá-la.

Com passos incertos Ares se aproximou, instintivamente Aurora ficou em pé. Deixando que ambos ficasse frente a frente e na mesma altura.

-Ar-...; Aurora não teve tempo de terminar de falar.

-Nunca mais faça isso; ele pediu, puxando-a inesperadamente para si, envolvendo-a com os braços fortes. Repousou a cabeça na curva de seu pescoço. Novamente aquela suave essência a invadir-lhe as narinas. –Senti muito a sua falta, pelos deuses, como senti; Ares falou fechando os olhos e estreitando mais os braços em torno dela.

Seus cosmos se elevaram, aquecendo-os, se reconhecendo. A muito desejavam isso, embora admitir fosse outra historia.

Deixou que seus dedos corressem com delicadeza entre as melenas douradas, o cheiro de orvalho da manhã era atordoante. Irresistível; ele pensou, sentindo-a aconchegar-se entre seus braços.

-Estive te procurando, mas ninguém queria me dizer sobre se paradeiro; Ares começou.

Aurora fechou os olhos, encostando a cabeça sobre o peito dele. Não havia nem mais como negar o que sentia. Admitira isso a si mesma há treze anos atrás quando fora ele mesmo a lhe provar que ela poderia matar qualquer um, menos o sentimento que tinha por ele.

-Vamos esquecer tudo aquilo e, por favor, nunca mais fuja de mim de novo; ele pediu, embora seu tom de voz fosse mais de suplica;

Aurora afastou-se parcialmente, fitando-lhe os orbes dourados. Como sentiu falta daquele olhar; ela pensou, acariciando-lhe a face ternamente. Viu-o fechar os olhos e dar um longo suspiro.

-Amo você, agora é só isso que importa; ela falou carinhosamente, vendo-o abrir os olhos, que agora tinham um brilho mais intenso.

Uma leve brisa passou pelos dois, balançando os cabelos para o lado. Há quantos séculos esperavam por isso? –muitos, mas isso já não era importante.

-Eu também; ele respondeu.

Deixou os dedos vagarem suavemente pela face da jovem, detendo-se principalmente no canto dos lábios rosados, notando a face da jovem adquirir um leve rubor. Aproximou-se não encontrando resistência;

Ambos com os orbes estavam serrados, os lábios tocaram-se com suavidade, aos poucos dando vazão a tudo que sentiam, Ares deixou que uma das mãos prendessem-se entre as melenas de forma possessiva, enquanto a outra, apoiava-se sobre a cintura da jovem.

As mãos tremulas circundaram o pescoço dele, puxando-o mais para perto de si, aprofundando mais o contato entre os lábios o os corpos.

Agora simplesmente deixavam que seus sentimentos falassem. Matando aquela saudade que quase os consumira. Um beijo quente, exigente, apaixonado.

E o que sentiam era só o que importava...

-o-o-o-o-

Aishi aproximou-se do cavaleiro, que jazia sentado ao pé da escada do décimo terceiro templo, os orbes verdes pareciam vagos, olhando para o nada.

-Então? –Saga perguntou, notando a presença da jovem.

-Digamos que as coisas vão ser diferentes daqui para frente; ela respondeu e forma enigmática.

-...; O cavaleiro assentiu, com um sorriso enigmático moldando-se nos lábios. Antes de acenar para ela e começar a descer os templos de volta a Gêmeos.

-"Bem diferentes"; Aishi pensou, fazendo o mesmo caminho que o cavaleiro, porém seu destino. Aquário.

#Fim#

-Impressionante; Dionísio murmurou, quando Apolo terminou de contar a crônica.

-Nossa, sabe, eu sempre imaginei o Ares como, bem...; Silvana falou, com um sorriso sem graça.

-Safado e pervertido; Jéssy sugeriu, como se fosse a coisa mais obvia do mundo, lembrando-se das diversas vezes que ele fora retratado assim.

-Cof! Cof! Cof! –a ficwriter engasgou.

-Não lhe culpo, se eu fosse te contar todas as historias de conheço de uns e outros ai, você ficaria de boca aberta e veria que o Ares é mais inocente entre todos; Apolo falou, vendo que Margarida pretendia dizer algo a respeito, mas parou intrigada.

-Que historias? –ela perguntou com um 'Q' de curiosidade, voltando-se para Dionísio, que olhava para o teto, assoviando de maneira infantil.

-Longa historias; Jéssy respondeu, erguendo os braços para cima, espreguiçando-se. –Não sei vocês, mas eu prefiro deixar as outras pra outro dia, agora só quero ir pra casa e aproveitar a minha caminha, que a essa horas já esta me chamando; ela completou, bocejando.

-Idem; Silvana falou, se levantando.

-Bom, vamos nessa então. Meninos juízo e não se matem, não sabemos ainda se haverá outras crônicas e bem... Tragédia grega já basta a de Tróia; Jéssy brincou, vendo que os dois fitavam-se com olhares mortais.

-Espera, vou com vocês até o centro; Apolo falou prontamente. –Nunca se sabe o que alguns satiros andam fazendo por ai à noite, na é Dionísio? –Apolo perguntou, acidentalmente dando um tapinha na cabeça do irmão.

-Hei, o que quer dizer com isso? –Dionísio perguntou indignado.

-Eu, nada; Apolo respondeu com ar inocente, colocando o sobretudo nas costas.

-Boa noite; Jéssy e Silvana falaram, acenando enquanto saiam da Toca do Baco.

Não haviam nem chegado ao estacionamento, quando Jéssy parou com ar pensativo.

-Algum problema? –Silvana perguntou, vendo-a tão séria.

-Ahn! Vocês não estão sentindo falta de nada não? –ela perguntou. Apolo parou, olhando para as duas, depois se voltou para a própria mão, contando os dedos.

-Vocês não estavam em três? –ele perguntou confuso.

-Jéssy. Cadê a Margarida? –Silvana perguntou, notando que ela não estava presente.

-Ahn! Acho que ela levou a sério aquele lance de a noite é uma criança; a ficwriter respondeu, com uma gotinha escorrendo na testa. –Vamos nessa; ela completou, balançando a cabeça, com um meio sorriso.

Sem entenderem exatamente a que ela se referia, os dois assentiram.

-o-o-o-o-

-É, a noite é uma criança; Dionísio falou com um sorriso maroto, erguendo brevemente a taça de vinho do porto.

-E nós também; Margarida completou com o mesmo sorriso, fazendo as duas taças tilintarem ao chocarem-se.

Seria uma noite longa... Bem longa...