PARTE II

(CENTRAL PARK)

Charlotte e eu decidimos dar uma volta pelo Central Park, há tempos não ficávamos sós. Ela esperou o momento certo para me perguntar sobre seu relacionamento. Eu, sinceramente, me senti um dicionário do amor. Daqueles que está aberto pra todas e menos para você mesmo. Na certa, quem me fez, engoliu a chave, e então entregou cópias para todas as mulheres do mundo, menos para mim...

— Você acha que ele está me traindo?

— O Harry? Acho que não...

— Não sei... ainda me sinto confusa com a rosquinha.

— Querida, descubra quem é a mulher e pergunte como ela faz essa rosquinha ser coberta de chocolate e com recheio de caramelo!

— Ahn?

— Esquece.

— Não entendi, desculpe...

— Eu quis ser irônica, não deu certo.

— Mas o que você falou?

— Que é pra você perguntar qual mulher tem a rosquinha com sabor de caramelo coberto por chocolate...

— Carriiiiiiie!

— Tá, tá... eu sei! Desculpe!

— Você é brilhante!

— Eu?

— É! Vou tentar ser melhor que a outra. Vou fazer a minha rosquinha, ter o triplo de cobertura e o quádruplo de recheio.

— Uau!

Charlotte estava desesperada. Aonde ela conseguiria uma rosquinha com o triplo de sabor da outra, em pleno domingo?

(FARMÁCIA VINTE E QUATRO HORAS)

Chegamos naquele lugar que as mulheres evitam entrar por dois motivos: a balança e quando vai comprar o primeiro absorvente. E a farmácia é tão contraditória que encantam as mulheres quando o assunto é camisinha ou pílula anticoncepcional. Charlotte ficou fuçando entre as camisinhas femininas, procurando o melhor sabor. E eu, fiquei olhando aquela bancada de chocolate diet, que de diet não tem nada.

— Carrie? Carrie?

— Oi!

— Onde estava?

— Vendo as propagandas enganosas que tem por aqui.

— Ah... olha isso! - diz, mostrando-me uma caixa de camisinhas sabor limão.

— "Junte as partes com a mão direita, com a esquerda abra sua vagina, coloque e flexione..." - fiquei espanta ao ler o guia de instruções. - Tá, já chega. Acho que li demais!

— Não, Carrie. Olhe o sabor.

— Limão!

— Isso, é azedinho... - disse, com a voz empolgada.

— Mas não é chocolate.

— Pois é... e nem tem recheio de caramelo.

— Já sei, compra a natural, derreta aqueles chocolates e passe nela.

— Que nojo, Carrie.

— É... mas ele vai sentir mais realidade ao te chupar.

Charlotte fez uma cara de dúvida, e optou por levar a natural e ao invés de comprar o chocolate diet, preferiu comprar uma rosquinha na cafeteria.

(APARTAMENTO DA MIRANDA)

Steve não saiu da casa de Miranda por estar com o Brady, o Chaplin e uma geladeira farta ao mesmo tempo. Miranda abre a porta:

— Oi.

— Olá! - responde, Steve, praticamente enfiando goela abaixo todas as pipocas da bandeja.

— E o Brady?

— Dormiu...

— Que bom!

Miranda, finalmente pôde respirar aliviada. Afinal, chegou em casa e viu, um homem no seu sofá, e seu filho estava literalmente dormindo. Era bom demais...

— Steve, tira desse canal.

— Mas é o Chaplin...

— Como você pode ficar ligado na televisão assistindo mil filmes do Chaplin?

— Mas eu gosto...

— Mas a televisão é minha.

— A Miranda.

Eles estavam dispostos a brigar novamente pelo controle. Mas como para ambos a briga valeria muito mais a pena se fosse física... Steve corre para o quarto, Miranda o segue. Ele acaba derrubando a bandeja com as pipocas no chão, Miranda se agacha, pega algumas e corre atrás dele. No quarto, Steve insinua com tombo sobre a cama, Miranda cai em cima dele, e comenta:

— Adoro pipocas.

Ela começa, e beija o rapaz ardentemente.

(APARTAMENTO DE ANTHONY)

Anthony e Charlotte estavam comentando sobre o único assunto que realmente interessava a ela: Harry. Ela sentada no sofá e comentava, comentava, falava, falava, reclamava, reclamava. Mas nada de um diálogo entre os dois. Ele estava à janela, observando os rapazes que passavam por lá.

— Anthony, você acredita?

— Em que?

— Que o Harry está me traindo?

— Não. Mas acredito que aquele homem que está passando aqui é três vezes melhor que o Harry.

— Anthony! Estou falando sério.

— Eu também, bebê. Olha aquele homem...

— Anthoooony!

Charlotte segue até a janela para tentar um diálogo com o amigo.

— Não disse... ele é lindo!

— É bonito mesmo.

— Aiai... - Anthony, suspira.

— Ei, ei...

— Que foi? Puta susto!

— Olha, olha... é o Harry!

— Onde?

— Ali.

— Meu Deus, é ele mesmo.

— Vamos segui-lo.

— Que isso Charlotte, será uma decepção se você descobrir que a outra é três vezes mais bonita que você.

— Querido, eu estou com duas rosquinhas aqui.

— Duas?

— É...

A Charlotte estava realmente muito bem equipada, uma rosquinha na sacola e outra em sua própria anatomia.

(AVENIDA 7)

Enquanto os dois seguiam Harry, Samantha seguia o corretor, que mesmo impossibilitado, resolveu fugir das garras da felina.

— Volta aqui...

— Socorro! Aquela mulher é louca! - diz, protegendo o pênis com as mãos.

— Ei, moço? Volta aqui, você não me mostrou o apartamento todo.

— E nem vou mostrar.

Samantha se sentiu a própria estupradora dos corretores anônimos. Tão estupradora pelo fato de transar, estourar o saco e ainda seguir um gay pela rua.

— Ei? Marcus?

— Olá, Cris.

— O que foi? Porque está segurando o saco?

— Aquela mulher, ela é louca!

— Marcus! Você tá me traindo?

Quando Sam ouviu o "traindo" da boca de um homem, foi dando passinhos para trás e decidiu que não iria mais comprar e muito menos representar outra pessoas em negócios de imóveis.

(AVENIDA 5)

Sim. Aquele parecia um episódio do Scoob Doo, onde o Fred corre da Daphny, que corre da Welma, que corre do Salsicha, que corre do Scooby que está correndo do fantasma. Mas eram outros personagens da carrida: Harry, que corre da Charlotte que Anthony corre atrás para tentar proteger. Harry entrou em um beco, e foi o suficiente para despistar Charlotte e Anthony.

— Olá, querida. - diz, Harry, para uma mulher idosa, de cabelos brancos e com um sorriso no rosto.

— Olá, meu filho. – dá em beijo no rosto do rapaz. - Você está suado.

— Pois é, tive que correr da Charlotte.

— Ela sabe que você está aqui?

— Não. Ando disfarçando. Falo que passo na cafeteria pra comer...

— Rosquinhas, não é, Harry?

— Charlotte? Anthony? – perguntou, Harry, assustado.

— Oi Harry! – respondeu, Anthony.

— Harry? Você me trocou por essa velha? - grita, Charlotte.

— Mais respeito comigo, ein, mocinha?

— Char... essa é a mamãe.

— Ma... ma... mamãe?

— Sim.

— OH MY GOD!

Charlotte corre, Harry vai atrás dela, e Anthony impede que a dona mãe do Harry vá atrás deles. Na frente de uma cafeteria, ele consegue alcançá-la:

— Espere Charlotte, eu explico!

— Explicar o que? Esse tempo todo eu pensando que você tava comendo a rosquinha de outra mulher, mas não, você tava se encontrando com a sua mãe?

A cafeteria inteira olhou para os dois.

— Char, ela é uma superprotetora!

— Superprotetora? Ai meu deus. Não acredito! Que bom pra você. Aliás, porque me escondeu?

— Eu não queria que vocês se vissem assim, do nada.

Ela aceita numa boa, depois de tando sofrer por causa do mistério. Mas mesmo assim, decidiu dar uma precionada:

— Mas precisava se encontrar com ela, assim... em um beco?

— Você queria me ver entrando num apartamento que você não sabe quem é a dona?

— É melhor do que ver você entrando em um beco... com uma sacola de rosquinhas.

— Mas Char...

— Sem mais Harry, e eu tonta, pensando que você tinha outra, comprei até uma rosquinha de chocolate pra te dar e quem sabe fazer você esquecê-la...

— Charlotte, você sabe que só tenho olhos para a sua rosquinha.

Os clientes da cafeteria começaram a olhar com indiferença para o casal e alguns soltavam uns risinhos...

— Harry, eu estou magoada, você me fez de tonta.

— Que isso querida. Já pensou se você soubesse que eu tinha uma mãe judia?

— Seria melhor e eu não cairia no prejuízo!

Harry aproxima o rosto para dar um selinho em Charlotte, que ao mesmo tempo enfia a rosquinha na boca dele e sai tão aliviada por saber que ele não tinha uma amante e que a senhora-dona-da-rosquinha era a própria mãe dele, até esqueceu de questionar mais aprofundadamente a história da mãe superprotetora!

(APARTAMENTO DA CARRIE)

Naquela noite eu estava sentada na escada do meu prédio esperando o Berger chegar. Ele havia marcado um encontro comigo e seria minha oportunidade de dizer a ele de que nossa relação não é somente sexo. Passaram-se meia hora, uma hora, duas horas e nada do Berger chegar...
Subi e comecei admirar a noite pela sacada. Olhei os casais que enfrentam a barreira do domingo (que o dia seguinte é segunda-feira) e saem para jantar, ou até mesmo para se curtirem em um motel ou no banco da praça. E eu, mais uma vez sozinha e chupando o dedo. Será mesmo que o Berger é tudo para mim? Será que é ela que me faz mover montanhas e enfrentar meu medo? Não. Olhei para trás e percebi que tudo para mim era a imagem que refletia no espelho... eu mesma! Sentei no computador e comecei a escrever do: "porque os homens pensam que eles são tudo para a gente?". O Berger e suas furadas, só davam mais forças para eu entender que não havia homem no mundo que mudasse a minha opinião, ah, sim... havia alguns homens sim, mas o Berger... jamais!

FIM