Capítulo 3: Assim como nos velhos tempos

"Eu tenho que ir".

"Está chovendo. Quer uma carona?".

"Não, obrigada. Eu quero tomar chuva".

"Ok".

"Até mais".

E então eu saí na chuva. Foi uma sensação tão boa estar pegando ela, que eu não queria mais nada. E acabei deitando na grama. Ele passou por mim distraído, provavelmente deveria estar pensando nos momentos que acabamos de passar, até que ele olha para mim e faz cara de assustado.

"O que está fazendo?".

"Aproveitando o momento".

"Você está louca?".

"Eu não sei. Talvez esteja. Mas e daí? Você devia se juntar. É muito bom".

"Oh, eu não sei".

"Venha..." - Eu disse, puxando a blusa dele.

Ele cai por cima de mim e ambos ficamos sem graça.

"Eu acho melhor sair de cima de você".

"É, eu também acho" - Eu disse, hesitante.

"Você tem razão, isso é ótimo".

"Viu, eu te disse".

Quando eu olhei para ele e vi o jeito que ele olhava para o céu, me deu uma vontade de o beijar. Parecia que era adolescente de novo. Não, me fez lembrar dos tempos que nós costumávamos sair.

"Bons tempos aqueles...".

"Quais?".

"Que nós namorávamos. No começo, porque depois...".

"É".

"Foi a primeira vez que realmente amei alguém. Nunca mais consegui amar alguém com a mesma intensidade que amei você".

"Abby...".

"Todas as boas lembranças estão ainda guardadas no meu coração".

"Eu guardo também. Mas ainda podemos ter isso. Eu sei que você quer".

Minha respiração ficou ofegante e mais ainda quando o rosto dele estava a poucos centímetros longe do meu e, a cada segundo que passava, eles diminuíam. Eu tentava me mexer, mas estava paralisada. Eu não queria me mexer. Eu só queria ficar lá, junto do homem que sempre amei nesses 3 anos. E nos beijamos. Ele começa a desabotoar minha blusa e eu a dele. Mas, de repente, eu me dou conta do que estava fazendo. Eu estava cedendo. Eu prometi que não ia. Mas é que eu me senti tão bem com ele do meu lado, tão protegida. Tudo que eu queria era poder chamá-lo de meu. Poder enfim ter uma família de verdade. Mas tudo que eu queria primeiro era ter certeza que era correspondida, de poder beijar ele sem ter que ficar preocupada.

"Vamos para casa" - Eu disse, empurrando ele e depois abotoando minha blusa.

"Mas e a Emma?".

"É mesmo! Tinha me esquecido. Vou ver com a Susan se ela pode ficar com a Emma esta noite. Hey, sou eu. Escute, você pode ficar com a Emma esta noite?".

"Claro! Pode trazê-la. Então, arrumou um encontro?".

"Sim. Se é que pode se chamar de encontro".

"E não vai me contar?".

"Depois. Preciso desligar".

"Abby... ok, tudo bem".

"Desculpe..." - E desliguei – "Susan vai cuidar da Emma e nós podemos retomar de onde paramos" - Eu sorri.

"Não tenho muita certeza".

De repente, eu senti um vazio. Foi ele que me beijou. Ele que veio me procurar e disse todas aquelas coisas sobre me amar de verdade.

"Desculpe. Eu acho que essa não foi uma boa idéia".

Eu devo dizer que fiquei desapontada, mas aliviada. Eu não queria ter que dizer a minha filha que eu e seu pai havíamos voltado e depois ter que passar pela dor de vê-lo partir novamente e dividir isso com ela dessa vez.

"Eu só... senti que era o certo. Eu pensei que...".

"...Pudéssemos resolver as coisas? Não é tão simples assim, Abby. As coisas mudaram. Você tem uma filha agora e eu acabei de perder um filho".

"Eu sei. Mas eu estava convencida que você não havia mudado. Agora eu sei que estava errada. Eu só... Só achei que você me amasse".

"E eu amo".

"Então porque não dar mais uma chance?".

"É muito complicado. Eu não quero passar por isso de novo".

"E você acha que eu quero? Você não tem idéia do quanto eu chorei quando recebi aquela carta".

"Aquilo me fez despertar. Aquelas pessoas precisavam de mim. E você não".

"Certo. Então volte para elas e nunca mais volte!".

E depois eu fui embora. Eu tentei agüentar, mas era difícil aceitar que ele havia mudado tanto. Antigamente ele não hesitaria e hoje ele está indeciso. Mas foi melhor assim. E eu chorei. Chorei feito uma adolescente apaixonada.