Capítulo 6: Fazendo escolhas
Eu abri a porta e vi John.
"Você voltou?"
"Eu voltei" – Notando meu olhar – "Não está feliz em me ver?"
"..."
"Abby?"
"Não, não... Quero dizer, sim. Eu só... achei que ia ficar mais tempo"
"Eu não fui para o Congo de verdade 2 dias atrás"
"O quê?"
"Eu estava na minha casa"
"Desculpe? Não acredito!"
"..."
"Você mentiu para mim!"
"Eu? Você também mentiu para mim"
"Do que está falando?"
"Você sabe muito bem do que estou falando"
"Não sei. Eu quero que vá"
"O quê? Não!"
"Vá!"
"Não!"
"Carter!" – Eu o empurrei para fora.
"Eu te disse que não! Eu te amo!" – Ele disse, entrando de novo.
"Pare de me provocar! Você foi embora! Você terminou tudo!"
"Sim, porque eu estava bravo com você, não porque eu deixei de te amar!"
"Você nem considerou meus sentimentos! Você estragou tudo! É muito tarde agora"
"Abby, por favor"
"Não"
"Eu sinto muito" – Ele sentou com a cabeça nas mãos.
"Bem, isso não é o bastante!" – Eu olhei para o chão.
Houve uma mistura de sentimentos dentro de mim. Eu não sabia se estava brava por ele ter mentido ou triste por estar amando ele novamente.
"Por favor vá" – Eu disse, mais calma.
"O quê?"
"Por favor. Só... vá"
"Ok"
"Não!"
Ambos olhamos para a escada e vimos Emma. Ela estava chorando.
"Mamãe, porque está fazendo isso?"
"Fazendo o quê?" – Eu a peguei no colo.
"Pedindo para ele ir"
"É o melhor para todos" – Eu a coloquei no chão – "Vá para seu quarto. Mamãe já vai. Preciso resolver umas coisas"
"Eu quero ficar!"
"Emma, agora! Pare de ser tão teimosa!"
Ela subiu e eu olhei para o andar de cima para ver se ela tinha ido mesmo. Depois, me voltei para Carter.
"Acho que temos que conversar"
"É, acho que sim"
"Venha, vamos para a cozinha. Café e torta?"
"Sim"
Eu o servi e depois me sentei, de frente para ele.
"Então, acho que já sabe da verdade"
"É, mas porquê não me disse?"
"Eu disse que era algo bobo. Porque eu sabia que você ia ficar se soubesse. Eu não queria que se sentisse mal por causa dela. E por minha também"
"Eu não sabia disso" – Ele pegou minhas mãos – "Como eu fui bobo! Eu nunca devia ter partido. Eu pensei em você durante todo esse tempo. Pensei em como eu te desapontei, em como você deve ter sentido quando eu apareci com a Kem. Eu só queria poder esquecer tudo isso e toda a dor que causamos um ao outro. Queria achar um jeito de recompensar. Mas é muito tarde"
"Sabe, não é"
"O quê?"
Eu olhei para o lado.
"Eu preciso pensar. Não tenho certeza se é isso que quero de verdade"
"Justo o bastante"
"Não é"
"O quê?"
"Estou apaixonada por você, Carter. Eu sempre estive. Mas eu ainda não posso te perdoar. É muito difícil para mim esquecer"
"Eu sei disso. Mas eu estou arrependido. Eu achei que ia me dar uma chance"
"Eu quero"
"Então me deixe dar o primeiro passo"
Ele se inclinou e me beijou. Ele se afastou.
"Prometo que posso e vou te fazer feliz"
"Eu sei. Prometa que não vamos nos separar"
"Não vamos. Não vou te deixar. Eu te amo"
Ele se inclinou novamente e me beijou apaixonadamente.
"Podemos... ir devagar? Quero dizer, eu quero ter certeza de que isso é para valer mesmo"
"E é. Mas se é o que você quer, é o que vamos fazer"
"Obrigada"
"Ok... eu tenho que ir agora"
Eu o levei até a porta e saímos.
"Então, nos vemos amanhã"
"É" – Eu olhei para o chão.
"Não precisa se preocupar. Vamos ficar bem"
Ele levantou meu rosto, olhou bem nos meus olhos e enxugou as lágrimas que caíam deles.
"Eu ainda não acredito. Parece um sonho. E eu não quero acordar"
"Não precisamos"
Antes que pudesse responder, eu senti meus lábios encostados nos dele. E, antes que percebesse, eu me vi o beijando.
"Diga a Emma que eu a amo"
"Você quer ficar esta noite? Quero dizer, a Emma ia adorar"
"Melhor não. Eu venho pela manhã"
"Ok. Te vejo depois"
Eu entrei e fechei a porta. Depois olhei pela janela e o vi ainda olhando para a porta e depois indo embora. Então eu peguei uma garrafa de vinho e comecei a beber. Não sei porque, talvez eu estivesse mal com a situação. Mas foi bom. Há tempos que eu não me sentia assim. Depois eu peguei uns comprimidos e tomei junto com o vinho. Então eu comecei a me sentir torta e dormi no chão mesmo. Algumas horas depois, de manhã...
"Abby? Se estiver em casa, abra a porta. Abby? Abby?" – Ele começou a tentar abrir a porta.
"O que houve?"
"Hey Carol. Eu chamei, mas ninguém apareceu. Algo deve ter acontecido. Vai, abre!"
"Calma aí. Não consigo achar a chave"
"O quê? Ok, vou arrombar a porta"
Eles conseguem entrar e me encontram no chão.
"Oh meu Deus!" – Ele se ajoelhou perto de mim.
"Vou dar uma olhada na Emma"
Abby! Eu achei que tivesse parado.
Ele me leva para o PS.
"Susan, Luka, eu preciso de ajuda"
"O quê houve?"
"Abby teve uma overdose"
"O quê? Uma overdose? Porque não a impediu?"
"Eu não sabia. Eu só vi agora. Ela deve ter bebido a noite"
"Certo. Arrumando desculpas de novo"
"O quê?"
"Qual é! Não tente me enganar"
"Não estou"
"Então você quer que eu acredite?"
"Sim" – Ele a olha – "Quer saber? Não acredite se não quiser. Só... faça-a ficar boa"
"Vou tentar. Não por você, por ela"
Carter pára na frente do elevador e vê ela subindo com Abby. Horas depois, Susan desce de novo.
"Como ela está?"
"Está estável agora. Ela tomou Vicodin com vinho. Tivemos que entubá-la e operá-la"
"..."
"Carter, você só está estragando tudo que ela demorou 2 anos para conseguir superar. Tudo que ela demorou 2 anos para esquecer"
"Não foi fácil para mim também"
"Claro que foi! Você não teve a coragem de terminar com ela pessoalmente e você apareceu com uma mulher grávida!" – Ela gritou.
"Ok, pare com isso! Está me irritando!" – Ele levantou.
"Ótimo! É isso que eu quero! Eu só quero o melhor para ela"
"Então deixe ela decidir o que ela quer!"
"Certo. Arruíne a vida dela de novo! Namore com ela e depois vá para a África" – Ela gritou, se afastando – "E não esqueça de voltar com a Kem grávida!"
Carter colocou sua cabeça nas suas mãos. Ele sabia que Susan estava certa.
Talvez Susan esteja certa. Talvez eu devesse voltar para a África e sair da vida da Abby para sempre. Mas eu não consigo ficar longe dela. Ela sempre me apoiou, sempre esteve do meu lado. Me sinto bem do lado dela. Eu não quero partir.
Ele foi até meu quarto para falar comigo.
"Hey"
"Hey"
"Como está se sentindo?"
"Um pouco melhor" – Eu olhei para o lado – "Sinto muito"
"Não sinta. Eu é que devo sentir. Eu... nunca deveria ter vindo. Eu vou voltar"
"O quê?"
"Para África. É melhor para os dois"
Lágrimas caíram dos meus olhos.
"Oh...ok. Se é o que você quer, eu não vou te parar"
"Abby... eu não quero ir. Eu não quero desistir da vida perfeita que tinha e joguei fora de novo"
"Você não precisa. Fique"
"Susan acha melhor eu ir"
"E você escuta ela?"
"..."
"Ok. Eu sempre soube que era ela quem você amava. É ela quem você ama. Tudo bem, eu entendo. Aqui" – Eu tirei o anel do meu dedo – "Isso é seu. Você deveria dar a ela, antes que seja tarde"
Ele pegou o anel, relutante.
"Eu não entendo porque não pediu a mão dela ainda"
"Estava tentando descobrir onde estávamos. A África é muito perigosa e eu senti falta daqui. Eu senti falta de cuidar dos pacientes. Eu senti sua falta"
"..."
"Eu... não consegui. Eu sonhava com minha família e você era a mãe. Foi aí que eu percebi que estava me enganando todo esse tempo. Sempre foi você"
Ele me abraça e lágrimas começam a cair dos meus olhos. Lágrimas de alegria ou tristeza, eu não sei. Susan estava na porta, chorando também. Ele olha para mim.
"Porquê voltou para isso?"
"O quê?"
"A beber"
"Oh... eu não sei"
"Hey"
"Hey"
"Eu achei que ficaria até as 19:00"
"Deb está cobrindo a troca de plantão"
"Ok. Hey. Não tenho certeza porquê não estamos falando nisso"
"Não podemos esperar até os dois estarmos de folga?"
"Quem está bravo com quem?"
"Não estou bravo"
"Ok, e eu nunca menti para você"
"Bem, eu acho que devo ter imaginado coisas"
"Então vamos resolver"
"Não, eu concordei em não te salvar, ou te ajudar, ou te consertar, então eu vou ficar quieto e esperar pelo que vai acontecer"
"Espere um minuto. O que isso quer dizer?"
"Abby, nós dois sabemos aonde isso vai parar"
"Não, eu não. E sabe, tudo teria ficado bem se você tivesse vindo falar comigo em primeiro lugar"
"Então eu sou o namorado superprotetor"
"Não estou bebendo para ficar bêbada. Não estou quase bebendo"
"Boa noite"
"Ok. Espere. Você quer saber quanto eu andei bebendo? Na noite passada eu bebi duas cervejas. Ontem, eu bebi um Cosmo. Semana passada eu bebi nada. Na semana anterior eu bebi uma cerveja e uma bebida rosa. Eu não sei o que era"
"Você está monitorando bem"
"Sim, porque está sob controle"
"Bem, eu só não entendo porque quer voltar a isso"
"Eu estava bebendo no ano passado, você sabia disso"
"Era um pouquinho diferente antes"
"É, agora não é por estar assustada e sozinha"
"Ainda é bebida"
"Olhe. Olhe. Espere. Eu costumava a beber porque estava mal. Eu estava num casamento horrível. Eu tinha uma vida que não queria e agora eu estou feliz... com você. As coisas estão boas. E poder ter uma bebedeira casual com meus amigos só me faz sentir que passei a parte ruim"
"Ok"
"Sabe, talvez... talvez, eu só tenha um pouco mais de fé em mim do que você"
"Oh, é assim que você traduz minha preocupação? Não ter fé?"
"Não sei. Sim. Carter"
"É, não vamos fazer isso"
"Certo. Olhe. Eu sou profissional em ir embora. Eu fiz isso milhões de vezes. Eu estou te pedindo, por favor, não faça isso. Fique aqui e fale comigo. Por favor... Por favor"
O metrô passa e ela está encostada num pilar. Mais tarde, ela está chegando em casa.
"Você já deveria ter tirado suas chaves"
Ela vira.
"Nunca se sabe quem pode estar espreitando" – Ele abre o portão – "Olhe, a bebida... A bebida é a bebida. Você sabe aonde eu fico nisso. É que... quão longe vamos se ficarmos escondendo um do outro?"
Ela desce alguns degraus.
"Não vou mais esconder"
Ele sobe um degrau.
"Eu não quis ter ido embora daquele jeito. É que parecia meio complicado e eu queria um tempo para descobrir aonde estávamos"
Ela desce um degrau.
"Aqui estamos"
"Eu acho que... parecia bom. Parecia certo"
"Você bebeu quando estava grávida?"
Eu o olhei e mordi o lábio.
"Eu não acredito!"
"Hey! Você que causou isso!"
"Eu? Você sabe que eu não teria ido se você tivesse me falado que estava grávida!"
"É, porque eu não queria que ficasse por mim e por causa disso!"
"Você fala como se fosse uma coisa boba!"
"Mas é"
"Não, não é! É uma vida, Abby! Uma criança que veio ao mundo!"
"Eu sei disso!"
"Quer saber? Eu não quero lidar com isso agora"
E ele sai, batendo a porta.
