Sinopse: Em tempos de guerra, todos têm seus motivos para viver.

Disclaimer: Os personagens pertencem a J.K. Rowling.

Timeline: Pós Harry Potter e o Enigma do Príncipe, pós sétimo ano. Mais ou menos em 1999.

Motivos

Por Nanna

A bela e imapeável mansão no Largo Grimmauld, número 12, estava quieta. Silenciosa e calma, na quente tarde de verão. Todos os membros integrantes da Ordem estavam fora, uns em missão, outros curtindo a época de sol sempre aberto e céu azul.

Dentro de casa, estavam apenas Parvati Patil, Rony Weasley, Hermione Granger e Harry Potter, além dos elfos domésticos Dobby, Corey e Winky. Monstro, bendito fosse Deus, havia morrido há muitos meses.

A calma da tarde podia enganar uma pessoa, mas não aqueles quatro jovens, que sabiam de magia, de trevas e de morte. O mundo mágico estava em guerra, e o belo rapaz moreno de olhos verdes estava basicamente no centro dela.

Naqueles dias, porém, Harry deixara o olho do furacão e as frentes de batalha devido a uma séria queimadura nas costas, resultado de um feitiço atirado por Macnair. Harry fora salvo, porém, pela ação corajosa de Draco Malfoy, que acidentalmente atirara um feitiço de água sobre as costas de Harry.

Depois da tragédia que se abatera sobre Hogwarts em 1997, com a morte de Alvo Dumbledore, o querido diretor da escola, pela mão de Severo Snape, ex-professor de Poções, um Draco corroído pela culpa procurou Harry na Londres dos trouxas. Harry levou o humilde ex-colega para conversar com MacGonagall, e a diretora de Hogwarts e atual líder da Ordem da Fênix sugeriu que ele virasse espião. Draco concordou.

Hermione não dava muita fé, mas, depois de Draco ter levado Harry, que estava desacordado, para a enfermaria de Hogwarts, a garota passou a ser grata ao loiro.

Enfim, Harry estava em casa – ou melhor, estava na casa do Largo Grimmauld por tempo determinado. Assim que a queimadura sarasse, ele estaria de volta ao campo de batalha enfrentando com valentia e determinação os Comensais da Morte.

Mas, depois de quase dois anos de lutas, a guerra estava sendo ganha pelo lado do bem. Os Comensais da Morte eram em sua maioria bruxos entre quarenta e cinqüenta anos, cuja maior esperança era a união dos filhos ao lado de Voldemort. Tal coisa, porém, não se dera. Cansados de serem acusados e desprezados por ações maléficas que nunca haviam cometido, os filhos de Comensais estavam abertamente declarando seu apoio ao Ministério e à Ordem da Fênix – com exceção de Draco, que fora obrigado pela mãe a se tornar Comensal.

Jogado de barriga para baixo no belo sofá, Harry olhava, entediado, para a parede. Odiava o Largo Grimmauld com todas as suas forças – para ele, a casa estava infestada com lembranças de Sirius no ano anterior à sua morte, desesperado para sair dali, amargo e sofrido. Mas era ali que a Ordem se reunia, e Voldemort sabia de todas as propriedades dos Potter – portanto, era o lugar mais seguro para Harry.

Uma linda jovem entrou na sala, aproximando-se do sofá. Tinha cabelos castanhos de cachos pesados, olhos também castanhos e um corpo escultural coberto por uma minissaia jeans e uma camiseta branca justa. Hermione Jane Granger inclinou-se e sorriu ao ver Harry desperto.

"Ah, que bom, você está acordado", disse, com um beijo carinhoso no rosto dele.

Harry sorriu, mas fez uma careta em seguida. "Já está na hora, Mia?"

Ela sorriu ao som do apelido íntimo. "Já, meu amor, me desculpe. Mas é necessário, você sabe que precisa ficar bom logo".

Harry apanhou um frasquinho na mesa de centro e, de cara amarrada, bebeu todo o conteúdo. Era uma Poção Cicatrizante, que ele precisava tomar em intervalos regulares para que a pele queimada se regenerasse. Depois, fazendo uma careta horrível, ele jogou fora o frasquinho e tirou a camiseta, deixando que Hermione olhasse como estava a queimadura.

Ela fez um ruído de aprovação. "Ótimo, ótimo. Mais dois dias e você estará bom como novo" Ela suspirou, e deitou-se no largo sofá ao lado dele. "E vai voltar para as lutas, e eu vou ficar aqui, morrendo de aflição".

Ele virou-se para ela. "Ei, Mia, relaxe. Nada vai me acontecer, eu te prometo".

Os olhos dela estavam cheios de um medo inconfessável. Ela o amava tanto e há tanto tempo, e ele já era uma parte tão fundamental de sua vida, que ela não fazia a menor idéia do que faria caso Voldemort o matasse.

"Como você pode saber disso, Harry? Nós não temos o dom da Visão, e qualquer um pode morrer nessa guerra maldita. E a gente já perdeu tanto – eu já perdi muito. Dumbledore, os meus pais..." Uma lágrima correu discreta pelo rosto da jovem. Marcia eLeonard Granger haviam sido assassinados no verão entre o sexto e o sétimo ano, e Hermione só escapara porque estava com Harry e Rony na Toca.

"Eu tenho você, Mia. Enquanto eu tiver você, não vou querer nada no mundo", ele disse baixinho.

Um sorriso doce e terno iluminou o rosto dela, que se inclinou para beijá-lo. Seus lábios se encontraram em um doce, mas breve beijo, que foi interrompido pelo som de algo cortando o ar às costas de Hermione. Ela se virou, curiosa...

... E sentiu o fôlego lhe faltar quando viu a caixinha de veludo que flutuou direto para a palma da mão de Harry. "Oh, meu Deus!" Ela murmurou, surpresa.

Ele deu um meio-sorriso. "Mia, nos meus planos, a exibição desse anel incluía um jantar romântico e privado à luz de velas, em um lindo jardim de rosas iluminado pelo luar", revelou.

"Mas-" ela tentou falar, mas ele a interrompeu.

"Mas isso não é possível. No meio dessa guerra doida, um momento desse, por mais romântico e idílico que seja, pode significar a minha morte... a sua morte. E isso eu não suportaria nunca", ele ergueu uma mão e pousou-a na face delicada de Hermione.

"Eu também morreria, se você morresse", ela retrucou em um murmúrio.

"Por isso, eu te peço agora... Hermione Jane Granger, meu amor, minha amiga, minha companheira, me daria a honra e a felicidade de se tornar minha esposa? De começar uma nova geração na família Potter?"

Hermione sentiu as lágrimas marejarem seus olhos. Harry e ela estavam juntos há dois anos, e, aos 19 anos, os dois eram ainda muito jovens para um compromisso sério como o noivado e o casamento...

... Mas ela o queria. Queria ser sua noiva, sua esposa, mais do que tudo no mundo. Hermione tinha deixado de ser tão racional, e tornara-se mais sensível devido à influência de Harry. E conhecia-se bem. Sabia que, caso dissesse não ao pedido de Harry, e ele morresse, ela ficaria se sentindo péssima, por ter negado a ele e a si mesma a chance de serem felizes, ainda que por um brevíssimo espaço de tempo.

Não, ela não negaria a Harry, e a ela, essa pequena felicidade. Por isso, abraçou-o apertado, sentindo o calor e a força daquele corpo masculino que ela conhecia tão bem quanto o dela mesma.

"Aceito, é claro que aceito", disse bem baixinho.

Harry sentiu um imenso alívio às palavras de Hermione. Por um momento, imaginou que ela diria não, o silêncio enervando-o sem misericórdia. Mas aí ela se atirara em seus braços e dissera sim. Ele agora era um homem comprometido. Com a mulher mais espetacular que o destino podia pôr em seu caminho.

Afastou-se dela por um instante, notando comovido as lágrimas que corriam pelo rosto de Hermione, e sorriu, enxugando a pele de porcelana de sua noiva. "Então..." Disse, abrindo a caixinha, "... precisa aceitar isto também".

Hermione ficou sem ar devido à beleza do anel. Era belíssimo, delicado e feminino: dois aros de ouro branco, com um diamante oval, lapidado de tal forma que ele parecia capturar e refletir toda a pouca luz na sala. O diamante transparente estava apoiado sobre os dois aros, e coube perfeitamente no dedo de Hermione.

"Oh, meu Deus!" Ela murmurou, deslumbrada com a simplicidade de sua aliança de noivado. Embora simples, o anel ainda era a jóia mais linda que Hermione já tinha visto. "Harry, é lindo!"

"Era da minha mãe", ele disse, em voz baixa. "Estava numa caixa que Remo me deu quando completei dezessete anos, junto com uma carta dela. Ela disse que queria que minha futura esposa o tivesse, que eu só desse o anel à mulher com quem eu tinha certeza que iria passar o resto dos meus dias", ele ergueu os olhos para ela, fitando-a com carinho. "E essa mulher, Mia, é você. Minha vida pode acabar logo, mas sei que o que eu sinto por você é eterno".

Ela sorriu por entre as lágrimas. "Eu te amo, Harry. Muito".

Ele sorriu, surpreso por notar que também chorava. "Também te amo, Mia".

Um grito esganiçado interrompeu o momento romântico. Harry sentiu um indizível pavor ao ouvir o som. Seria um ataque dos Comensais? Como eles teriam descoberto onde Harry Potter estava escondido?

Um furacãozinho invadiu a sala, e revelou-se como sendo uma versão chorosa e emocionada de Parvati Patil. Atrás dela, com um leve rubor tingindo as faces, mas com um sorriso de orelha a orelha, vinha Rony.

"O que foi? O que foi?" Alarmou-se Hermione, ficando de pé em um pulo para verificar os amigos. "Por que está chorando, Parvati? Quem foi que morreu?"

"Ninguém", respondeu uma soluçante Parvati, atirando-se nos braços de Hermione para uma nova crise de lágrimas.

"Se ninguém morreu, então por que o choro?" Questionou Harry, tentando serenar o próprio coração.

"É que... Bom, é que..." Rony gaguejava, e as pontas de suas orelhas estavam rosadas. Parvati voltou-se para ele.

"Se não contar, eu conto!"

"Bom, me desculpe se estou tão nervoso, feliz e emocionado por você ter dito sim, e não consigo contar aos meus amigos que vamos nos casar!" Ele exclamou, o gênio dominando o nervosismo por um momento.

Harry e Hermione os fitaram, de queixo caído.

"Casar?" Murmurou o moreno. Rony ficou vermelhíssimo.

"É... Pedi Parvati em casamento e ela disse sim", ele disse constrangido. Hermione estreitou os olhos, em direção a Parvati.

"Você está grávida?"

"Não!" Exclamou a filha de indianos, completamente chocada.

Hermione abriu um sorriso. "Desculpe-me, Parvati. Mas é que fiquei surpresa. Eu nunca esperava que você e Rony se casassem".

"Eu sei", a morena aninhou-se no noivo. "Mas nós nos amamos, Mione, apesar de tudo".

Harry puxou Hermione para si, estendendo a mão para apertar a de Rony. "Parabéns, cara. Você merece toda a felicidade do mundo", disse sinceramente.

Rony sorriu. "Valeu, Harry".

Hermione abraçou Rony, e depois Parvati. "Parabéns", disse sorrindo.

"Podíamos contar a eles", Harry disse a sua noiva, sorrindo. O outro casal o fitou confuso.

"Contar o quê?" Parvati questionou, já curiosa.

"Ah, Harry, não... Hoje não…" Hermione parecia muito constrangida.

"Ah, Mia, qual é? Você mesma diz que eu sou famoso, então não vamos conseguir manter em segredo por muito tempo", Harry argumentou.

"Manter o quê em segredo?" Rony quis saber, também curioso.

"Mas, Harry..."

"Mia, se você não contar, eu conto, certo?"

"CONTAR O QUÊ?" Gritou Rony, já exasperado.

Harry e Hermione deram-lhe um sorrisinho constrangido. O rapaz fechou os olhos e, quando os abriu de novo, havia um brilho orgulhoso nas íris muito verdes. Hermione parecia muito jovem e constrangida ao lado dele, mas havia um ar de pura felicidade ao redor dela.

"Eu pedi Hermione em casamento. E ela aceitou", Harry contou aos dois amigos.

Silêncio.

E então uma explosão.

Parvati atirou-se nos braços de Hermione, chorando mais uma vez. "Eu sabia! Eu sabia!" Repetia sem parar.

"Cara, devemos estar malucos, querendo nos amarrar tão cedo...!" Rony exclamava.

Enquanto recebia os parabéns do melhor amigo e da noiva deste, Harry refletia que agora tinha mais um motivo para lutar com todas as suas forças.

Ia se casar com Hermione. Um dia, teriam filhos. E queria que esses prováveis filhos crescessem em um mundo de paz e tranqüilidade, sem serem perseguidos por seu sangue, por suas crenças.

Abriu um sorriso. Voldemort que se cuidasse.

F I M