SEGUNDO CAPÍTULO
Já fazia quase uma tarde inteira que o grupo estava caminhando. Michael ia na frente, seguido por Kate. Jack tinha a impressão de que ela não queria correr o risco de cruzar seu olhar com ele. Todos andavam em silêncio, apenas Sawyer reclamava de vez em quando. O clima era tenso, aquela missão era perigosa e ousada, enfrentar os "outros" certamente não seria a primeira opção se Walt e as outras crianças não estivessem em perigo. O sol já começara a se por quando Michael parou.
- Acho que devemos nos separar agora. Ãhm... boa sorte a todos.
Ainda silenciosamente, as duplas dispersaram-se. Kate e Jack agora caminhavam lado a lado, mas sem trocar uma palavra. Kate sabia que era melhor assim. Embora ainda sentisse o seu corpo estremecendo só pela presença de Jack, ela sabia que aquilo nunca poderia dar certo.
- Você acha que vai dar certo? – perguntou Jack.
- Hm? O quê?
- Isso tudo. O resgate do Walt...
Um barulho de passos chamou a atenção dos dois, que ficaram quietos, escutando.
- O que foi isso? – perguntou Kate, olhando em volta.
- Não sei, mas é melhor nos apressarmos.
Os dois caminharam por mais alguns minutos. Haviam chegado em um ponto da floresta onde as árvores quase impediam a passagem, de modo que Jack ia a frente, abrindo caminho por entre os galhos. De repente, avistou a escotilha ao longe e parou, virando-se para trás. Mas Kate não estava lá.
- Kate! – gritou, preocupado. Não houve resposta. Antes que pudesse fazer qualquer coisa, algo atingiu sua cabeça com tanta força que o fez desmaiar.
Jack abriu os olhos. Estava fortemente amarrado em uma árvore, e um lenço o impedia de falar. Sua cabeça doía. Olhou ao redor, procurando Kate, quando ouviu uma voz atrás de si.
- Olá, doutor. Achei que não fossemos nos ver mais. – Era "Zeek", o cara da barba. Mas o que fez o corpo todo de Jack gelar não foi ver-se frente ao líder dos "outros", mas ver que um outro homem segurava Kate, semi-consciente, com as mãos amarradas e também um lenço na boca. O olhar aterrorizado dela levou-o a tentar soltar-se, desesperado.
- Poupe seus esforços, doutor. Você não vai a lugar algum até entender o nosso recado. – Zeek fez um sinal para o outro homem, que deu um forte soco no rosto de Kate, fazendo-a cair no chão. Mas ele não parou: jogou seu corpo contra o dela e continuou batendo em seu rosto, que sangrava muito. Jack debatia-se, em vão, atônito. Precisava se livrar daquelas cordas. Ver Kate completamente incapaz de se defender, sofrendo nas mãos daquele homem, aquilo doía mais do que qualquer coisa que ele já tinha sentido. A cada soco, Jack sentia um aperto, um ódio crescente em seu peito, um desespero. Seu esforço para se desamarrar da árvore fazia seu braço sangrar, mas ele não se importava, só conseguia pensar em Kate. Quando ela perdeu os sentidos e ficou inerte, no chão, o homem finalmente parou de agredi-la.
- Isso é o que acontece quando vocês tentam bancar os heróis. Você entendeu? Mais uma dessas e eu te juro, ela morre. É o que você mais teme, não é? – dizendo isso, Zeek e o homem foram embora, não sem antes deixarem um canivete ao lado de Jack, rindo só de imaginar o esforço que ele faria para conseguir pegá-lo.
Em alguns minutos, Jack soltou-se e correu para junto de Kate, que estava estendida, o rosto virado para o chão. Tremendo, ele virou-a para cima. Viu o seu rosto delicado coberto de sangue. Um medo descomunal, um medo que nunca sentira antes o invadiu. Nesses anos todos na área médica, Jack nunca havia cuidado de alguém que realmente amasse, e agora entendia qual era a sensação de ter a pessoa mais importante da sua vida inconsciente, nos seus braços. Teve medo de perdê-la. E sabia que não adiantaria contar até 5.
