TERCEIRO CAPÍTULO

- Kate... Kate... – Jack tentou acordar Kate, mas ela permanecia imóvel. Cuidadosamente, ele a pegou em seus braços e começou a fazer o caminho de volta. Não pensava mais em Walt, nas crianças, nem pensava em Locke, Ana Lucia, Michael e Sawyer, que já deviam estar próximos a escotilha dos "outros". Só o que pensava era levar Kate para o acampamento para cuidar dela.

O caminho de volta a escotilha foi mais rápido que o da ida. Kate ainda não abrira os olhos nem falara nada, o que deixava Jack ainda mais preocupado. Hurley e Charlie surpreenderam-se ao ver os dois chegando.

- Jack! Kate! O que aconteceu? – gritou Charlie.

- Não há tempo! Me traz água morna e a caixa dos remédios! – Charlie ficou olhando, assombrado, para o rosto ensangüentado de Kate, enquanto Jack a colocava na cama.

- Rápido, Charlie!

Jack limpou o rosto de Kate com panos molhados. Reparando em um corte nos lábios dela, sentiu de novo o ódio o invadindo. Não podia aceitar que aqueles lábios que o haviam envolvido em um beijo desesperado, confuso, urgente, mas tão doce, pudessem ser agredidos daquela forma. Jurou para si mesmo que, quando pudesse, teria sua vingança. Só então percebeu que suas mãos tremiam, algo inaceitável para um cirurgião, mas que, naquele momento, ele simplesmente não podia evitar. Tomava cuidado para não machucá-la, porém, encostou sem querer em um corte profundo em sua testa, o que a fez gemer e contrair-se, abrindo os olhos.

- Kate... você está me ouvindo? – os olhos dela começaram a fechar-se novamente, como se fosse desmaiar, mas ele tocou em seu rosto, impedindo-a de ficar insconsciente outra vez. – Kate, não, não feche os olhos... olhe pra mim... – Ela ficou parada, olhando-o. Ele pensou em como havia alguém que pudesse ferir uma mulher tão linda quanto aquela...

- Eu vou cuidar de você, tudo bem? Só me prometa que vai ficar acordada, ok? – ela balançou a cabeça, afirmativamente. Jack então pegou na caixa de remédios agulha e linha.

- Então, Kate... hm...onde você nasceu? – perguntou ele, começando a costurar o corte e tentando distraí-la. Kate fez uma cara de dor que o fez odiar a si mesmo por estar, de uma forma ou de outra, machucando-a.

- Milford. Iowa. – respondeu, com a voz fraca.

- Milford, Iowa. Certo.

Kate abriu os olhos. Sentia cada parte do seu corpo latejando, a dor espalhando-se, insuportável. Estava tonta, seus olhos pesavam e sua vista estava embaçada. Não lembrava de muita coisa, apenas de um homem a espancando na floresta e de Jack dizendo que iria cuidar dela. Cuidar dela. Sim. Por que ela demorara tanto para perceber que era disso que precisava? Precisava de alguém que cuidasse dela. Era e sempre tinha sido independente, forte. Mas agora mais do nunca sentia a necessidade de ter Jack a protegendo. Ouviu vozes.

- Kate... como você está se sentindo? Você está bem? – Era ele, que havia levantado-se rapidamente da cadeira onde estivera sentado nas últimas duas horas, aguardando, ansioso.

- Sim.. não sei... o que aconteceu? – De repente, Kate lembrou-se do plano para salvar Walt. – Walt? Conseguimos pegá-lo? Onde estão todos? – Ela levantou-se rapidamente e sentiu-se muito tonta. Por um momento, perdeu os sentidos, mas Jack a segurou em seus braços, impedindo sua queda. Os dois se olharam, longamente. Seus rostos estavam muito próximos, mais um pouco e... Hurley chegou. Os dois afastaram-se, mas Jack não deixou de segurar Kate, que ainda estava muito fraca.

- Ahm... só vim ver como você estava.

- Ela vai ficar bem, Hurley.

Jack colocou-a de volta a cama, arrumou seus travesseiros e cobriu-a. Ela fechou os olhos novamente, parecendo extremamente cansada. Apenas o esforço de levantar-se da cama já a hava deixado daquele jeito. Ele colocou a mão sobre sua testa, medindo a febre.

- Você está quente, não saia debaixo do cobertor. Vou pegar frutas, ok? Não pode ficar sem comer. - Kate segurou fortemente a mão de Jack e olhou-o, parecendo confusa.

- Fica aqui, por favor. Não me deixa.