QUARTO CAPÍTULO

Jack olhou para Hurley, sem saber o que fazer.

- Fica aí, deixa que eu pego alguma coisa... – disse Hurley, indo embora. Jack não soltou a mão de Kate e acariciou seu rosto lentamente, tentando acalmá-la.

- Eu não vou te deixar. Estou aqui do seu lado e não vou a lugar algum. Tudo bem? – Kate fez que sim com a cabeça e tornou a fechar os olhos. Jack observou seus traços delicados e percebeu que, mesmo com todos aqueles curativos, ela parecia um anjo dormindo, tão linda... Poucos minutos depois, Hurley retornou, trazendo frutas em um prato.

- Se precisar é só chamar. Vou estar lá com Charlie... cuidando do botão. Ahm... mas e os outros, cara? O Locke, Ana, Michael... eles não... não... sim?

- Não sei, Hurley. Depois que aqueles dois homens nos atacaram, voltei correndo com a Kate para cá. Não sei o que aconteceu com eles. Vamos ter que esperar. – Hurley parecia assustado quando deixou a enfermaria improvisada na escotilha.

Jack picou as frutas com uma faca e deu-as na boca de Kate, em pedaços. No entanto, o corte a deixava com dificuldades para comer, então ele procurou fazer com que ela engolisse pelo menos o suco da fruta, que já poderia fazer bem. Mesmo preocupado com o estado de saúde de Kate, Jack não conseguiu deixar de perceber o quanto seus lábios estavam convidativos, úmidos daquele jeito. Sentiu uma vontade enorme de beijá-la, de tocar seus lábios nos dela, de sentir de novo aquele calor intenso... mas logo veio a culpa de estar pensando em coisas desse tipo enquanto Kate havia sido espancada e estava ali deitada, ferida, sofrendo. Precisava conter-se.

Horas passaram-se. Hurley e Charlie estavam preocupados, porque nenhum dos outros que haviam ido em busca de Walt tinham voltado. Jack não estava pensando nisso ainda. Kate parecia ter melhorado, até que, no meio da noite, começou a tremer muito, e ele percebeu que a febre tinha aumentado. O corpo todo dela estava como se estivesse queimando. Rapidamente, Jack fez várias compressas de água quente e colocou em sua testa, mas a febre ainda não baixara. Estava desesperado, vê-la naquele estado quebrava seu coração em mil pedaços. O pior foi quando ela começou a delirar, dizendo coisas sem nexo, o rosto contraindo-se de dor, os olhos fechando-se como num pesadelo.

- Meu pai... era meu pai... – murmurava, baixinho.

- Kate, está tudo bem...

- Tom...? Jack? O avião... eu guardei...meu pai...mãe.. sinto muito.

Foi assim a noite toda. E a noite toda, Jack esteve ao seu lado, como prometera. Prestara atenção em cada frase que ela dissera e agora perguntava-se sobre o passado daquela linda mulher... que história, que mistério escondia ela por trás daqueles olhos que falavam tudo sem revelar nada? Sim, ela era importante para ele. Sim, ele a queria, e muito. Não tinha medo de se decepcionar se ouvisse o que ela tinha para lhe contar, pois sabia que o que sentia não dependia do que quer que Kate tivesse feito. Mas tinha medo apenas de que as coisas que ela fizera impedissem-na de querer entregar-se a ele. Ela tinha medo. Ele sabia.

Kate acordou e encontrou Jack dormindo, na cadeira ao lado da cama. Como era lindo aquele homem. Seus braços, seu rosto, sua boca... ela achava tudo maravilhoso nele. Amava-o? Não sabia responder. Mas com certeza amava a forma com que ele havia cuidado dela, a noite toda, e amou também o momento em que percebeu que as mãos dele ainda estavam estrelaçadas nas suas, do mesmo jeito que estavam quando ela, finalmente, adormecera. Jack abriu os olhos.

- Kate... está melhor?

- Sim... – ela respondeu, sorrindo. – Te dei muito trabalho ontem? – Ele riu, contente por vê-la bem outra vez. Não largou sua mão.

- Você estava com muita febre... algum machucado que infeccionou, não sei. Pra falar a verdade, não vi sinal de infecção.

- Talvez eu não estivesse quente por causa da febre... – ambos sorriram, olhando-se. Ele, levemente corado.