QUINTO CAPÍTULO
Nesse instante, Kate e Jack ouviram um barulho e as vozes de Ana Lucia e Locke.
- Jack! – gritou Charlie – Eles estão aqui!
Todos entraram no quarto, Locke ia à frente, apressado, mas ele parou quando viu Kate deitada na cama, o rosto cheio de curativos.
- Kate? O que houve?
- Ela vai ficar bem, Locke. Onde estão Michael e Sawyer?
- Na praia. Michael... não está bem. Ele não aceita o fato de não termos conseguido resgatar o Walt. Tenho medo que tente fazer alguma bobagem, como já fez da outra vez. – Jack calou-se. Agora sabia, mais do que nunca, qual era a sensação de perceber que a única pessoa no mundo que importa pra você está em perigo. Entendia como Michael estava se sentindo, pois ele mesmo sentira isso poucas horas atrás.
- Mas o que aconteceu? – perguntou Kate.
- Chegamos até lá e não encontramos vocês, mas resolvemos continuar com o plano. Mas... de alguma forma, eles sabiam o que queríamos fazer e nos atacaram. Por sorte, conseguimos matar dois deles e entramos na escotilha... não havia nada lá. Eles devem ter mudado as crianças de lugar. – disse Locke, com um suspiro de derrota.
Kate continuava deitada na cama. Sentia apenas uma fraqueza no corpo inteiro, mas tinha dúvidas se era por causa dos ferimentos ou por causa de Jack... ele não estava ali, tinha ido falar com Michael, mas antes havia feito milhões de recomendações e a proibido de sair da cama. Para Kate era um mistério... como a presença dele podia ter o poder de deixá-la tão vulnerável, tão sensível a qualquer toque, a qualquer palavra, a qualquer gesto? Quando fora a última vez que ela sentira isso? Adormeceu.
Sonhou com Tom. Os dois eram crianças e acreditavam que ficariam juntos pra sempre. Era quando os sonhos ainda existiam para Kate, quando ela ainda fazia planos, quando ainda não jogara sua vida no lixo. A memória de Tom evaporou e transformou-se em algo menos doce: fogo. Fogo por toda parte. A casa dela queimando e o seu pai, seu pai biológico, lá dentro. Sim, ela, Kate, havia assassinado seu pai. Ela, Kate, havia fugido, havia voltado e acabado com a vida da única pessoa que se importava com ela, havia planejado um assalto a banco, havia atirado em alguém. Mentira muito. Trocara de identidade como quem troca de roupa, fora várias pessoas e esquecera de quem era. Quem era Kate? Acordou assustada.
Colocou a mão no bolso da calça. Sabia o que iria encontrar. Ela mesma a colocara ali, para não esquecer do que era, do que sempre seria. Olhou sua foto preto-e-branco, tirada quando foi presa.
Jack chegou à escotilha e encontrou Kate de pé, arrumando sua mochila, visivelmente fraca ainda.
- Kate! Pensei que eu tinha falado pra você ficar na cama. – Ela virou-se, assustada.
- Ah... é. Eu já estou melhor, Jack. Acho que já posso voltar para a praia. – Ela colocou a mochila nas costas e dirigiu-se para a porta, mas ele a alcançou, segurando-a pelo braço.
- Não pode não. Eu sou o médico aqui e sei que você ainda não está completamente recuperada. Não vou deixar que você piore. – disse, olhando nos olhos dela. Kate sentiu um arrepio. E torceu para que ele não tivesse percebido.
- Jack, por favor... não torne as coisas mais difíceis!
- Eu, tornando as coisas mais difíceis? Kate, qual é o seu problema! Por que você tem sempre que fugir? Por que você tem sempre que ir embora quando as coisas parecem estar melhorando? Não sou eu quem está tornando tudo difícil! – ele estava confuso com essa repentina mudança no comportamento de Kate. Resolvera que não deixaria mais as coisas ficarem no ar, sem explicações.
- Jack, eu... você não entende.
- Claro que eu não entendo! Você não me deixa chegar perto, não me deixa sequer tentar entender alguma coisa! Tudo entre nós tem que ser sempre um mistério? – ele segurou o braço dela com mais força.
- O que você quer que eu faça? – Kate gritou. Só nesse momento ele reparou que os olhos dela estavam cheios de lágrimas, e se arrependeu de ter sido tão duro. Ela não merecia aquilo, não depois de tudo que havia passado.
