DÉCIMO SEGUNDO CAPÍTULO
No dia seguinte, Kate acordou com uma sensação de felicidade que há muito tempo não sentia. Não havia dormido com Jack a seu lado, pois era turno dele à noite, e Locke estaria lá, como de costume. Como já se sentia melhor, resolvera voltar para a praia, onde fora cercada de perguntas sobre seu estado de saúde e sobre o que acontecera com a "missão". Apesar de estar sinceramente triste por causa de Walt e de Michael, que se recolhera sem falar com ninguém em sua cabana, Kate não podia deixar de sorrir, o olhar perdido, mesmo enquanto Sun ou Claire estavam lhe perguntando alguma coisa. Por pura sorte esses sorrisos não foram percebidos por ninguém: ela e Jack haviam concordado em manter as "coisas" em segredo, pelo menos por enquanto. Fora Kate quem sugerira, nem ela mesma sabia bem o motivo, apenas achava que tudo poderia acontecer naturalmente, livrando os dois da necessidade de responderem a perguntas curiosas e indesejáveis.
Assim, o casal passara a noite separado, mas ambos continuaram relembrando a mesma cena durante toda a madrugada. Quando amanheceu, Jack ainda estava perdido nas lembranças, que o levavam a um só lugar: Kate. Ele não conseguia recordar-se de há quanto tempo imaginava como seria tê-la em seus braços. Talvez a quisesse, inconscientemente, desde o dia em que a conhecera, desde o segundo em que a vira pela primeira vez, o olhar assustado por causa da queda do avião, os cabelos tão docemente desarrumados, o ar perdido, mas que não a impedira de ajudá-lo. Suspirava, imaginando a hora em que poderia vê-la... achava que o tempo nunca passara tão devagar como naqueles instantes. Locke o aborrecia, a escotilha o aborrecia, estava impaciente, contando os segundos.
Era de manhã cedo. Kate ajudava Sayid e Ana Lucia a serrar troncos de árvores, porque o estoque de lenha para as fogueiras estava terminando. Concentrada, ela nem percebeu que Jack estava caminhando em sua direção, as mãos na cintura.
- Kate, você é definitivamente a pior paciente que eu já tive. – a voz era dele, ela sabia, não poderia confudi-la com qualquer outra, pois era aquela voz que já a deixava meio tonta, meio arrepiada, que fazia seu coração dar saltos. Virou-se, sorrindo, para encontrá-lo parado, a sua frente.
- Ah, é mesmo? Posso saber o porquê disso? – perguntou, sorrindo.
- Faz dois dias, dois dias que você estava na cama, lá na escotilha. Basta eu virar as costas, que já inventa qualquer coisa pra fazer, pra se movimentar. Não consegue ficar parada. – ela riu, olhando para os lados e verificando que Ana Lucia e Sayid estavam muito entretidos naquela atividade para prestarem atenção no que os dois conversaram.
- Engraçado... pensei que ontem eu já tivesse provado que estava completamente recuperada. – respondeu, em um tom de voz mais baixo. Foi a vez dele sorrir.
- Na verdade, ainda não estou convencido, sabia? – disse Jack, provocando. – na cabeça dos dois, passava-se o mesmo dilema: tinham vontade de jogar-se um nos braços do outro, um nos lábios do outro, para sentirem-se mutuamente do jeito mais completo que pudesse existir... queriam apenas ficar juntos, sozinhos, esquecidos de todos. No entanto, um embaraço os manteve parados, frente a frente, como se pudessem se comunicar apenas com olhares, olhares que diziam tudo.
- Convencido de quê, doutor? – quem interrompeu dessa vez foi Sawyer, que chegara de repente, com um sorrisinho no rosto, sem que nenhum dos dois percebessem. Jack apenas olhou-o, em silêncio.
- Olá, Sawyer. – disse Kate, sorrindo. – Talvez você queira ajudar Sayid e Ana a terminar isso? Segundo o nosso médico aqui, eu ainda não posso fazer esforços. – Sawyer pareceu insatisfeito com a proposta.
- Ah, é? E você agora vai fazer o quê, tomar banho de sol enquanto eu me mato cortando lenha? Acha que está aonde, em Laguna Beach?
- É claro que não. Eu vou pegar água com o Jack. Na escotilha tem várias garrafas, e aqui na praia já está faltando. Não é, Jack? – Jack, pego de surpresa com aquela história de buscar água, fez que sim com a cabeça, enquanto seguia Kate para longe dali, sorrindo: ele acabara de enxergar Locke entregando a Rose uma caixa cheia de garrafas de água para distribuir a todos. É claro que Kate estava pensando em muitas coisas, e a água certamente não era uma delas.
