Título: Mendokusē

Autora: Nina Malfoy

Beta: Samantha Tiger

Fandom: Naruto

Casal: Shikamaru/Naruto - friendship

Classificação: 18+

Gênero: amizade - drama - conforto

Resumo:

Pré-Genin

Naruto não esperava encontrar Shikamaru naquela amanhã, muito menos que o menino estivesse machucado e precisando de cuidados. Mas aconteceu, e agora ele iria ajudar e cuidar dele.

Avisos: linguagem Imprópria, Violência, Violência Contra Menor. Violência Gráfica. Menor (criança) apanhando. Caso isso lhe traga gatilhos, por favor, não leia.

ATENÇÃO: O AUTOR NÃO CONCORDA COM QUALQUER TIPO DE VIOLÊNCIA.

Disclaimer: Infelizmente O mangá/anime Naruto e seus personagens não me pertencem. Esta obra é totalmente ficcional, sem fins lucrativos. Os direitos do mangá/anime Naruto são todos de Masashi Kishimoto. Escrevo apenas por diversão.

A imagem da capa foi retirada do Google e eu fiz algumas edições. Créditos ao artista que a fez.

Beijinhos e Boa Leitura!

Mendokusē!

(pré-genin)

Shikamaru estava deitado à sombra de uma grande árvore. Se alguém o visse ali acreditaria que ele estava observando as nuvens. Normalmente ele realmente as estaria observando, era um de seus passatempos preferidos, mas não hoje. Hoje ele só estava lá para se esconder do mundo e ficar longe de casa enquanto lutava para aceitar as palavras que ouvira de sua mãe. Seu corpo estava todo dolorido e clamava por cuidados, ferido pelos golpes que recebeu dela, enquanto lhe cortava a alma ao meio com o que lhe dizia. Mas ele não iria cuidar dos ferimentos agora, porque não poderia voltar para casa. Ele só ficaria ali e esperaria, enquanto revolvia em sua mente as palavras ditas por sua mãe.

Todas as vezes que seu pai saía da Aldeia em alguma missão, ele apanhava da mãe. Ela aproveitava para brigar com ele, simplesmente por brigar, lhe dando uma surra todas às vezes, sem qualquer chance de defesa, uma vez que, além de sua mãe, ela também era uma Kunoichi e, mesmo aposentada, ainda era muito forte. Então as surras eram comuns, assim como também era comum ele aparecer na academia machucado, já que seu pai saia muito em missões ultimamente.

Mas dessa vez as palavras de Yoshino haviam machucado tanto quanto a surra que levou, se não mais. Agora que a adrenalina havia abaixado, ele conseguia perceber a dimensão dos ferimentos que sofreu e, aparentemente, era pior do que qualquer outra surra que levou.

Seu corpo todo doía, seu abdome tinha um grande corte aberto que ele nem se lembrava como aconteceu. Seu olho esquerdo estava praticamente fechado pelo inchaço e, em sua boca, sentia apenas o gosto ferroso. A dificuldade em respirar indicava que provavelmente havia no mínimo uma costela fraturada dessa vez. Sem contar outros cortes e hematomas espalhados pelo corpo. Tudo devido ao uso do chakra.

— Mendokusē! – sussurrou

Bem, seria problemático explicar às pessoas seus ferimentos. Mas ele não poderia estar mais preocupado com isso no momento, porque tudo o que conseguia fazer era reviver as cenas da surra e os insultos proferidos contra si. Sua memória não o deixava esquecer um único detalhe, o lembrando das palavras ditas com tanta sinceridade e ódio por sua mãe.

— Um maldito preguiçoso inútil! É o que você é, seu moleque impertinente! – Esbravejou dando o primeiro soco no rosto do garoto assim que ele entrou em casa, a força do golpe o jogando direto no chão, provocando um corte nos lábios.

Ele havia voltado mais cedo da academia, pulando a prática de taijutsu, sem saber que o pai havia saído em uma missão, e isso havia sido um erro.

— Você é uma vergonha para todo o Clã! Você não passa de um covarde que jamais será um shinobi decente! – Ela avançou ainda mais ameaçadora sobre o garoto caído no chão.

Shikamaru ouvia as ofensas gritadas pela mãe enquanto tentava se defender dos golpes carregados com chakra que eram desferidos contra si. Não havia muito que pudesse fazer naquele momento. A raiva e a força dela o machucavam a cada novo golpe, assim como as ofensas.

Shikamaru já estava cansado de ouvir aquelas palavras, afinal era o que todos diziam dele, e por esse mesmo motivo ele não colocava mais esforços em seu treinamento, ainda mais no taijutsu, sendo essa sua pior técnica. Não valia a pena de qualquer maneira. Ele era um desperdício de tempo. Mas doeu ouvir da sua própria mãe, mesmo que ela estivesse repetindo o que escutava todos os dias, o tempo todo. Mas o que ela disse depois foi ainda pior. E ele jamais deveria ter perguntado a ela.

Ela havia parado com a agressão, aparentemente satisfeita com a surra que havia dado no filho, mas seu olhar, cheio de ódio ainda o fitava caído ao chão. Era como se ela estivesse ponderando se ele seria capaz de suportar mais algumas pancadas. Mas dessa vez Shikamaru estava muito machucado, afinal, ela havia usado chakra para bater nele. Ele Nunca havia apanhado tanto como hoje da mãe, parada a sua frente a apenas alguns passos, então ainda continha o choro, porque não queria chorar na frente dela. Sua voz estava impregnada com a dor que sentia quando perguntou à mãe:

— Por que você me odeia tanto?! O que foi que eu fiz pra você?! – A pergunta saiu sem que conseguisse conter as palavras. Ele não entendia o que havia feito para merecer todo aquele ódio contra si, vindo de sua própria mãe. Mas ele queria saber.

— Você quer realmente saber, Shikamaru?! Você simplesmente nasceu! Eu nunca quis ter filhos! Nunca! Você não passa de um acidente de percurso que me fez acabar casada com o líder do Clã Nara. Se eu não tivesse engravidado de você eu não estaria casada e ainda seria uma kunoichi! E eu seria absolutamente feliz! Mas eu tinha que me deitar com um shinobi honrado e engravidar aos 16 anos!

As palavras de Yoshino saíam como veneno, penetrando em seu corpo caído no chão. Ele olhava para a pessoa que deveria amá-lo incondicionalmente com olhos vidrados enquanto as lágrimas começavam a cair. Com seu corpo doendo e sua alma se rasgando ao meio pelas palavras da mãe, Shikamaru não conseguiu mais conter o choro. Foi a primeira vez que ele chorou na frente dela. E tudo o que ele queria naquele momento era desaparecer para sempre da face da terra. Ela estava certa. Ele nunca deveria ter nascido.

— Você deveria ter feito um aborto. Teria sido melhor para todo mundo. – Shikamaru não conseguiu conter essas palavras entre os soluços e nem esperava por uma resposta. Era apenas uma constatação. Porque realmente teria sido a melhor opção.

Yoshino estava impassível, parada em frente ao menino. Seus olhos frios em amargura e ressentimento fixos nele, olhando as lágrimas que caiam pelo rosto infantil e ouvindo o choro que ele nem tentava mais conter, mas ainda a desafiando.

Todo esse tempo ela descontou sua raiva e frustração no menino. Ela realmente o odiava. O odiava por tudo que sua vida era. Ele era culpado por tudo. Por isso o espancava. Se ela era infeliz, ele também seria. Mas ele nunca havia chorado. Pelo menos não na frente dela. Por isso ele apanhava cada vez mais…

Mas hoje, diante dela estava seu filho indesejado e odiado, desfeito em lágrimas. E tudo que ela queria era vê-lo chorar ainda mais. Vê-lo totalmente quebrado e infeliz. E para isso, ela só precisava contar a verdade que havia em seu coração. Deixá-lo saber que nunca o quis. Então ela continuou contando a ele, colocando pra fora toda sua raiva e o ódio que sentia pelo menino. Exatamente por isso ela o respondeu:

— Acredite em mim moleque, eu tentei! – Pego de surpresa pela resposta da mãe, Shikamaru ficou em silêncio, sua respiração suspensa por alguns segundos engasgado com o próprio choro, mas o som do soluço cortado que se seguiu logo depois fez Yoshino vibrar. Porém, como se o que tivesse dito não fosse nada de mais, e apenas contasse uma história simples e cotidiana, ela continuou. — Mas seu pai me impediu. Ele descobriu que eu estava grávida e foi até a clínica onde eu estava. – Deu alguns passos para trás, afastando-se do menino para contemplá-lo com uma visão mais ampla. — E ele realmente fez uma grande cena lá! Não tive escolha a não ser voltar para casa com ele, me casar e assumir as responsabilidades de ser a esposa do líder do Clã. Um grande e renomado Clã, que exige tanto de mim que tive que abrir mão de minha carreira como Ninja da Folha. Eu amo seu pai, mas essa não era a vida que eu queria para mim. – Yoshino pausou e respirou fundo, juntando fôlego pro final. Porque ela tinha que colocar tudo para fora, dizer a razão de sua infelicidade, pela qual ele era o culpado, e ela não iria parar agora. Ela não queria. Ele merecia ouvir tudo. — Mas o principal de tudo, Shikamaru, é que eu nunca quis ser mãe. Eu nunca quis você! É por isso que não consigo te amar! Você acabou com minha vida. Toda vez que olho pra você eu sinto asco e tenho nojo de mim mesma por ter parido você! Porque além de tudo isso, você não passa de um zero à esquerda, um imprestável preguiçoso que só serve para trazer vergonha e desgosto para essa casa e para esse clã! Você realmente, jamais deveria ter nascido!

Shikamaru, com muito custo, conseguiu levantar-se e saiu de casa totalmente desnorteado, mal vendo para onde ia, e jamais olhando para trás. Por isso não viu o sorriso de sua mãe, enquanto o via sair sem rumo, machucado até a alma. Mal conseguiu correr por todo o caminho até a colina onde ele estava agora, do outro lado da Vila. Seus passos eram incertos e vacilantes. Ele não olhou pra cima, não olhou dos lados, não notou as pessoas andando pelas ruas. Apenas correu como pode, sem olhar para onde ia, só queria se afastar de tudo, ir o mais longe possível de sua mãe, como se fazendo isso a dor que sentia fosse desaparecer.

Shikamaru respirou fundo, já fazia horas que estava lá, mas suas lágrimas ainda caiam livremente enquanto as lembranças faziam loopings em sua cabeça. Olhando para o céu viu o sol se pondo, logo seria noite, mas não poderia voltar para casa. Entendeu que não tinha mais para onde ir. E também não queria retornar. Ele adormeceu sob o céu estrelado, protegido pela copa da árvore onde havia se escondido do mundo enquanto chorava toda a dor que sentia.

- / \\ -

Naruto havia corrido até o outro lado da Vila para fugir de seus perseguidores. Dessa vez ele havia feito uma pegadinha com alguns civis, vendedores que haviam se negado a lhe vender suas mercadorias. Sendo mais rápido do que qualquer um deles, não foi difícil fugir, porém voltar agora não seria uma boa ideia. Eles estavam com muita raiva dele. Ótimo, porque era exatamente o que ele queria. Se fosse para odiá-lo, que tivessem bons motivos!

Naruto resolveu se abrigar do sol, que mesmo sendo cedo, estava quente, e foi em direção a uma grande árvore logo abaixo do topo da colina onde estava. Era um ótimo lugar para se esconder. Era bem longe do centro da Vila, quase nos limites das terras da Aldeia e ninguém ia até lá. Ele considerava um local seguro, e não raras vezes se escondia lá, mas ao se aproximar notou que havia alguém deitado e aparentemente dormindo.

— Que ótimo! Alguém encontrou meu lugar para descansar e se esconder.

Apesar de dizerem que ele era um estabanado e incapaz de mover-se silenciosamente, isso não era verdade. Ele era realmente bom na arte de ser furtivo. Os ninjas ANBU, suas vítimas preferidas, estavam lá pra provar isso. Ele só não gostava muito, preferindo fazer barulhos e falar alto para chamar a atenção das pessoas para si. Ele preferia ser insultado a ser ignorado.

Então sem fazer qualquer barulho, ele aproximou-se da pessoa que estava realmente dormindo. Ele não sabia se ficava surpreso ou se já esperava por isso, porque é claro, só podia ser o garoto mais preguiçoso da Vila, seu colega de academia, Shikamaru Nara.

Shikamaru, assim como ele, era um dos piores alunos da academia. Seria difícil dizer entre os dois, qual teria a pior nota. A maioria das crianças também não gostava muito do Shikamaru. Ele passava a aula praticamente dormindo ou reclamando de praticamente tudo, dizendo que tudo era "problemático" e era raro estar de bom humor.

Eles não eram exatamente amigos, porque Naruto não tinha amigos. Mas o garoto preguiçoso não o tratava mal como a maioria dos alunos. Apesar de seu mau humor constante ele era razoavelmente amigável com Naruto e vez ou outra acabavam sendo castigados por algo que fizeram, junto com Kiba Inuzuka e Chouji Akimichi. Kiba adorava aprontar como Naruto e por isso sempre se metia em encrencas, e Chouji, sendo o melhor amigo de Shikamaru, acaba se ferrando junto.

Mas ao contrário dos outros dois, ele e Shikamaru eram vistos como perda de tempo pelos professores e na maioria das vezes ridicularizados pelos outros alunos. Ninguém botava muita fé neles sendo considerados dois zeros à esquerda. A diferença era que Naruto não queria ser visto assim e se esforçava para ser melhor. Já Shikamaru havia se conformado há muito tempo que não seria grande coisa na vida. Enquanto Naruto dizia que seria Hokage, Shikamaru estaria contente em ser um shinobi relativamente mediano.

Naruto estava pensando se acordava Shikamaru ou não. Seria muito legal acordá-lo com um belo susto e quando ele estava prestes a fazê-lo ele paralisou no ato, notando os ferimentos do garoto que não estavam lá no dia anterior e junto deles, havia lágrimas secas em seu rosto, destacadas pela pele arroxeada entre os olhos e a boca, que estava com um corte e sangue seco.

As roupas também não estavam melhores: estavam rasgadas em alguns pontos e definitivamente sujas com sangue, deixando à mostra um ferimento no abdome que com certeza precisaria de pontos. Tudo indicava que o garoto adormecido não chegou há pouco tempo com a intenção de matar aula como Naruto pensou inicialmente, mas sim que ele provavelmente passou a noite lá.

— O que foi que aconteceu com você? Quem foi que fez isso? – Sussurrou ao vento, incapaz de conter sua indignação. Abaixou-se ao lado do menino para olhá-lo mais de perto e estendeu a mão com a intenção de tocá-lo e quase o fez, mas desistiu no último segundo. O menino estava muito machucado.

Pensando bem, não era a primeira vez que ele via Shikamaru machucado. Na verdade, era comum vê-lo sempre com algum ferimento. E ele sempre dizia que se feriu no treino em casa. E como Shikamaru era péssimo em taijutsu, sendo o pior da classe nessa técnica, não tinha havido suspeitas. Ninguém lhe dava um segundo olhar para avaliar os machucados, nem mesmo os professores. Mas ele próprio já teve muitos ferimentos assim para não ter percebido antes. Na verdade, ele os teria agora mesmo se tivesse sido pego pelos aldeões.

— Droga Shikamaru! Como nunca percebi isso antes?! – Resmungou se recriminando. — E se você esconde isso de todos, é porque acontece dentro da sua casa, Dattebayo!

Naruto não sabia o que fazer com essas informações. Mas também o que ele poderia fazer? Como ele poderia ajudar seu colega? Se isso estivesse acontecendo dentro da casa dele, nada poderia ser feito realmente, poderia? Foi tirado de seus pensamentos quando ouviu um resmungo de dor vindo do garoto que estava enfim despertando. Seu coração deu um salto com o susto que levou. Ele não poderia sair agora e deixar seu colega ferido daquela forma e sozinho. Ele não era esse tipo de pessoa. Shikamaru precisava de ajuda e ele iria ajudá-lo.

— Ei, Shikamaru! – Cumprimentou após afastar-se um pouco assim que o menino recém-acordado olhou para ele assustado e com olhos arregalados.

Shikamaru acordou sentindo-se confuso. Estava com muita dor e ligeiramente tonto, e não conseguiu conter um gemido ao tentar se mexer para trocar de posição. Mas assim que abriu os olhos seu cérebro levou menos de meio segundo para registrar o menino agachado à sua frente, lhe encarando com olhos atentos. E isso foi o suficiente para deixá-lo totalmente desperto.

— Na… Naruto? – Questionou mal conseguindo articular as palavras, com medo por ter sido pego na situação em que se encontrava.

Shikamaru sabia que estava machucado, muito, e não tinha como explicar o que havia acontecido para estar nessa situação. Ainda não havia pensado em uma desculpa para dar às pessoas. Mas agora, diante de si, estava um garoto atento e ele precisava lhe dizer alguma coisa, porque Naruto iria querer saber. E iria contar para todos na academia. Seu cérebro começou a correr como um louco pensando em todas as possibilidades desse encontro e no que ele poderia dizer ao outro, mas de repente sentiu uma forte dor de cabeça seguida de náuseas, e antes que pudesse fazer qualquer coisa, ele se viu dobrando para o lado e vomitando. Considerando que não havia nada para vomitar, já que sua última refeição havia sido no café da manhã do dia anterior, antes de ir para academia.

— Shikamaru, você está bem? – Aproximou-se novamente para ajudar o menino que parecia que ia desmaiar a qualquer momento de tão pálido que estava.

Shikamaru apenas assentiu com a cabeça, incapaz de falar qualquer coisa, não que ele tivesse a intenção de tranquilizar Naruto que estava obviamente muito preocupado, mas mais por hábito do que qualquer outra coisa. Até porque ele obviamente não estava nada bem.

— Pergunta idiota! – Xingou-se em voz alta irritado por ter dito algo tão imbecil ao mesmo tempo em que deu um tapa na própria testa. — É claro que você não está bem!

Naruto não queria colocar mais tensão no garoto, era óbvio que ele estava nervoso com a situação, mas também não podia fingir que não o estava vendo todo machucado. E por Kami, ele estava passando mal! Naruto estava com muita raiva de quem fez isso com ele.

— Vamos, vou te ajudar. Você precisa se limpar e tratar destes ferimentos para que não infeccione. – Naruto ofereceu sua mão ao menino para ajudá-lo a se levantar sem fazer qualquer pergunta.

Shikamaru olhou para o garoto, se deixando ser ajudado. Assim que ficou em pé a náusea voltou com força, fazendo seu estômago doer e seu equilíbrio vacilar. Naruto o segurou com um pouco mais de força, impedindo que caísse e o ajudando a se manter em pé.

Shikamaru sabia que Naruto estava certo, mas não poderia ir para casa. Pelo menos não até que seu pai voltasse. Ele admitia que era um covarde de merda. E agora que ele sabia realmente que sua mãe o odiava estava com medo dela. Porém, seu corpo todo doía como nunca doeu antes e tinha um enorme e profundo corte no abdome.

— Podemos ir para sua casa? – Perguntou engolindo o orgulho. Naruto não estava fazendo perguntas. Não sobre o que aconteceu com ele. Talvez pudesse se limpar em sua casa… E descansar um pouco.

— Na verdade, é exatamente para onde estamos indo. – Informou vendo o menino relaxar um pouco. Em seguida retirou sua jaqueta laranja e a entregou para Shikamaru. — Vista, vai evitar perguntas sobre suas roupas e esconder alguns ferimentos.

Shikamaru hesitou um pouco, mas estendeu o braço para pegar a jaqueta, entendendo o gesto de Naruto, que estava deixando claro que realmente o ajudaria sem fazer perguntas e que guardaria o dia de hoje como um segredo.

— Não se preocupe. – Sorriu confiante quando Shikamaru pegou a jaqueta e o ajudou a vesti-la. — Onde eu moro, ninguém vai se importar com suas roupas. Bem, nem com seus ferimentos. Mas de qualquer maneira, é melhor você vesti-la. Sua roupa está toda rasgada e suja de sangue e esse corte no seu abdome está voltando a sangrar. – Apontou o local ferido.

Shikamaru sentiu a jaqueta quente contra sua pele. O tecido estava gasto, mas era confortável, então se sentiu bem com ela.

— Obrigado!

Naruto assentiu registrando o agradecimento e ajudando o menino, seguindo para sua casa.

- / \\ -

Naruto morava num apartamento minúsculo, em um prédio semiconstruído, na pior parte da Vila. Era um bom lugar se você quisesse se esconder, já que a maioria das pessoas, as decentes pelo menos, evitavam andar por aquelas ruas decadentes e cheias de ladrões e traficantes. Não era um bom lugar para estar, então, não fazia sentido que Naruto vivesse em um lugar como esse, mas Shikamaru não questionou.

Quando entraram, Naruto desculpou-se pela bagunça (e estava realmente bagunçado) e foi até o quarto retornando logo em seguida com uma toalha e com algumas roupas (limpas com a graça de Kami).

Shikamaru às pegou surpreso, notando que as mesmas possuíam cores neutras, nada do alaranjado que Naruto geralmente usava.

— Não é porque eu costumo usar laranja que não tenho roupas de outras cores. – Justificou ao ver a surpresa na face do outro garoto. — O banheiro fica ali. – Apontou o único cômodo do minúsculo apartamento que tinha uma porta. — E Shikamaru, eu não tenho água quente. – Informou colocando a mão atrás da nuca, meio constrangido em ter que dizer isso.

Shikamaru tomou banho o mais rápido que pôde, considerando seus ferimentos, tontura e enjoo, tomando cuidado com o principal deles, o do abdome, que havia voltado a sangrar. Quando saiu, encontrou Naruto na cozinha. O loiro estava de costas para si, e lavava alguns utensílios na pia, enquanto havia algo no fogo sendo preparado.

— Espero que goste de caldo de frango com legumes. Você precisa comer alguma coisa e achei que algo leve seria melhor. – Virou-se ao ouvir a porta do banheiro ser aberta. Shikamaru estava vestido com a calça que ele havia lhe emprestado, mas estava sem camisa, uma vez que o ferimento no abdome estava sangrando. — Sente-se no sofá. – Apontou. — Vou pegar o kit de primeiros socorros e te ajudar com isso enquanto esperamos o caldo ficar pronto.

Naruto foi até o quarto e quando retornou encontrou Shikamaru sentando no sofá, cabeça para trás apoiada no encosto e olhos fechados. Ele parecia realmente cansado. Não como na academia, mas realmente cansado, como se estivesse com o peso do mundo sobre seus ombros.

Nessa posição era possível ver o resultado da surra que o outro havia levado e ele aproveitou para observar. Agora que o corpo estava limpo, ferimentos menores podiam ser vistos, assim como muitos hematomas que antes estavam escondidos sob a roupa. Nem todos eram recentes, constatou através das diversas tonalidades. Kami, parecia uma tela de pintura abstrata de tantas cores que havia sobre a pele. Ia do amarelo ao roxo escuro. E não era um quadro bonito.

Nem mesmo ele que era odiado pela Vila toda, diga-se de passagem, sem qualquer motivo que soubesse, sofreu esse tipo de abuso e vira e mexe ele apanhava de aldeões e até mesmo de Shinobis. O pior é que se estivesse realmente certo, quem fazia isso com o menino morava com ele, ou seja, ele apanhava de alguém que deveria protegê-lo. Naruto precisou respirar fundo algumas vezes para conter a raiva que estava sentindo até ficar mais calmo.

— Shikamaru? – Ele se aproximou com cuidado para não assustá-lo.

Shikamaru se moveu sem conseguir conter um gemido, retirando a roupa suja que usava para evitar que sangue escorresse e manchasse a roupa limpa e o tecido do sofá, com a intenção de fazer um curativo, mas Naruto o empurrou com cuidado, para a posição em que estava anteriormente.

— Deixa que eu faço isso pra você. – Pediu com gentileza.

— Não há necessidade, Naruto. – Tentou desencostar do sofá novamente, somente para ser mantido na mesma posição pelas mãos de Naruto. — Posso fazer isso sozinho. – Insistiu, porém sem tentar afastar-se do encosto do sofá. — Você já me ajudou muito. Eu nem sei como agradecer pelo que está fazendo.

— Você não precisa agradecer Shikamaru. – Quando viu que o outro não iria mais se mover e permitiria que ele tratasse dos ferimentos, abriu a caixa de primeiros socorros e tirou um pacotinho com gaze, bem como um frasco de antisséptico.

— Eu preciso sim. Ai! – Reclamou quando o líquido vermelho entrou em contato com o ferimento, fazendo com que ardesse. — Você está me ajudando e sendo legal comigo. Nós somos colegas na academia e tal, mas não somos exatamente amigos.

Naruto ignorou com certo custo o resmungo do menino e continuou com sua tarefa de limpar não só aquele ferimento, mas também os outros menores, tomando cuidado para não colocar muita pressão sobre os hematomas doloridos.

— De todos que conheço Shikamaru, você é uma das únicas pessoas que não me trata mal. – Sorriu com a lembrança das vezes em que ficaram de castigo juntos na academia. — Na verdade, você me trata exatamente como trata todos os outros. – Constatou.

— Isso não quer dizer nada. – O garoto retrucou.

— Isso quer dizer tudo! – Naruto calmamente afirmou.

— Eu não entendo. Eu nunca fui muito legal com você... – Tensionou-se levemente, incomodado quando um corte mais fundo foi limpo e ardeu um pouco.

— Shikamaru, não me leve a mal, mas você não é exatamente legal com ninguém. – Esperou alguns segundos o menino relaxar novamente para voltar a limpar os ferimentos. — Quero dizer, você sempre está mal humorado e reclamando de tudo. Isso quando não está dormindo…

— Sim, sim, já entendi que sou um chat... – Interrompeu.

— Não foi isso que eu quis dizer! – Fez uma careta ao perceber que o menino havia entendido mal as suas palavras, ficando na defensiva. — Olha, o que eu quero dizer é que você é assim com todos. E isso não é ruim. É só o seu jeito.

— E isso confirma o que eu disse de não ser legal com você. Não sou legal com ninguém. – Seu tom era claramente de quem estava chateado.

Naruto parou o que fazia para olhar para o menino, que aproveitou a oportunidade para sentar de forma ereta, desencostando do sofá para poder olhar seu interlocutor. Naruto respirou firme:

— Shikamaru, as pessoas me tratam mal, muito mal, aliás. Me afastam, me ignoram, me insultam e me batem sem motivo. Não por um que eu conheça pelo menos. E isso não é só na academia. Na verdade, na Vila, os civis são ainda piores. Mas você não. Você pode até não me tratar tão bem, mas definitivamente não me trata mal, entendeu?

— Porque eu trato você como trato a todas as outras pessoas... – Devaneou, o entendimento passando por sua expressão.

— Sim, e isso é tudo o que posso querer. – Naruto realmente apreciava a sinceridade crua do outro garoto.

— Eu não sabia disso! Quer dizer, na academia as outras crianças são maldosas com você, mas eu achei que era porque você era irritante. Não sabia que era gratuito e que se estendia a toda vila. – Shikamaru estava chocado com essa descoberta.

— Bem, sim. A vila toda. E como eu disse, não sei o motivo de me tratarem assim. Então sou irritante porque quero. Se é pra me odiarem, prefiro que eles tenham motivos reais. – Deu de ombros, para demonstrar que não se importava com o fato de o odiarem. — Agora encosta de volta no sofá para eu ver esse ferimento. – Apontou para o corte maior que estava sangrando.

Shikamaru suspirou cansado, fazendo o que Naruto lhe pediu, deixando-o cuidar do seu ferimento enquanto pensava no que ele havia lhe dito. Naruto não era exatamente como todos imaginavam. Ele agia daquela forma de propósito, para irritar as pessoas. E a julgar pelo seu comportamento de hoje ele também não era totalmente hiperativo e sem noção. Naruto era muito mais complexo do que aparentava e ele gostaria de conhecê-lo em todas suas nuances. Desse Naruto ele gostaria de ser amigo, assim como ele era amigo de Chouji.

Naruto trocou mais uma vez a gaze e a embebeu no antisséptico. Sabia que iria arder mais que os outros, mas não havia o que fazer. Precisava ser limpo e tratado. Respirou fundo antes de tocar o ferimento com ela. Viu quando o menino contraiu o corpo, cerrando os dentes e apertando os olhos já fechados com mais força para não chorar. Eles estavam aprendendo a ser Ninjas, a dor faria parte da vida deles e chorar não seria mais uma opção, mas ainda assim não era justo, porque eles não estavam em batalha e esses ferimentos não foram feitos por um inimigo.

Naruto trabalhou com todo cuidado no machucado sempre tomando cuidado para não colocar muita pressão e fazer com que doesse ainda mais. Enquanto limpava a ferida, notou que a respiração de Shikamaru parecia irregular e entrecortada. Apesar de não entender muito bem, suspeitava que o menino tivesse alguma costela trincada...

— Sinto muito, mas esse ferimento parece profundo. Acho que precisa de pontos.

— Não. Tudo bem. É só colocar o curativo que logo para de sangrar. – Afirmou com os olhos ainda fechados sem se mover. Sua postura aparentava ser a usual e relaxada de sempre, mas era exatamente o oposto.

— Shikamaru... – Precisava tentar fazê-lo reconsiderar, mas sabia que não podia obrigá-lo a nada.

— Eu não vou ao hospital, Naruto. – Sentenciou antes que o outro menino pudesse argumentar.

— Eu não vou te obrigar a ir, mas esse ferimento não vai parar de sangrar assim. E ele pode infeccionar. – Sua voz saiu preocupada. Shikamaru precisava de pontos naquele ferimento e isso sem contar a possibilidade de uma costela fraturada. Naruto nunca teve uma, mas imaginava que seria necessário um médico para curá-la.

— Eu sei disso. – Sentou-se novamente ereto fazendo com que Naruto se afastasse um pouco de si.

— Então? – Quis saber já começando a ficar irritado. Ele não iria obrigar o menino a fazer o que não queria, mas achou que ele entenderia e aceitaria ir. Shikamaru sempre pareceu ser alguém lógico.

— Eu vou tratar em casa. – Tentou soar confiante. — Tenho pomadas que são feitas pelo meu clã que são muito boas e vão ajudar a cicatrizar.

— Bem, você quem sabe. – Desistiu dando de ombros. Como disse, não iria pressionar o menino. Era óbvio que ele não queria ir ao hospital porque não queria que ninguém soubesse o que acontecia com ele. Ele podia entender isso apesar de não concordar. Mas mais uma vez, ele não estava na pele do garoto para saber. E tudo isso só reforçava sua teoria de que quem batia nele eram provavelmente seus pais.

— Eu sei sim. De qualquer forma, não é a primeira vez e nem será a última que vai acontecer. – Arrependeu-se no instante seguinte por ter dito mais do que deveria. — Naruto…

— Eu sei... – Suspirou cansado.

— Sabe? – Indagou nervoso. Como assim Naruto sabia? Ninguém sabia sobre as surras, nem mesmo seu pai. Ele era discreto e sempre pulava as aulas quando estava muito machucado para ir. Ninguém deveria saber sobre isso…

— Shikamaru... – Tentou explicar, ouvindo o tom alarmado na voz do garoto.

— Desde quando? Mais alguém sabe? – Interrompeu muito agitado e se levantando do sofá em um impulso que mandou choques de dor por todo seu corpo.

Seu equilíbrio vacilou novamente, a náusea veio com força e mais uma vez ele vomitou, a bile saindo amarga e queimando sua garganta. Shikamaru sentiu-se fraco. Ele queria chorar bem ali, na frente de Naruto, que o segurava novamente, impedindo que ele caísse de joelhos no chão da sala.

— Não! Ninguém! – Garantiu sentindo o desespero do menino que estava lutando para não chorar na frente dele. Kami, ele estava todo machucado, mas o choro que ele segurava não era de dor, era de medo. Medo que alguém descobrisse o que faziam com ele… — Fique calmo, por favor. – Pediu preocupado. — Ninguém sabe! E eu não vou contar! Você tem minha palavra! – Afirmou sentindo algumas lágrimas caírem em seu braço.

Shikamaru enfim foi vencido pelas lágrimas. Medo e alívio misturados com a declaração de Naruto. O menino loiro o segurou o tempo todo, passando a mão livre em seu braço até que ele estivesse calmo o suficiente para voltar a sentar-se no sofá com Naruto ao seu lado.

— Naruto, eu sinto muito! – Enxugou o rosto totalmente sem jeito, sentindo-se totalmente envergonhado. — Eu vou limpar isso, eu... – Tentou levantar novamente, indicando o chão sujo, mas Naruto não permitiu.

— Está tudo bem. – Garantiu segurando o menino no lugar.

— Não, não está. Você está me ajudando e olha a confusão que eu fiz aqui. – Apontou efetivamente a sujeira no chão da sala. Seus olhos estavam marejados e Naruto teve a impressão que o menino voltaria a chorar. — Eu sou mesmo um idiota imprestável!

A afirmação sincera de Shikamaru deixou um gosto ruim na boca de Naruto. Era o que todos diziam sobre eles. Mas isso não era verdade. Nem ele e nem Shikamaru eram inúteis.

— Escuta. – Tocou o braço do menino para chamar sua atenção. — Você não é um idiota imprestável! Não é! – Seus olhos brilhavam com sinceridade e raiva contida enquanto encarava o menino a sua frente. Kami, Shikamaru não poderia realmente acreditar nisso! — Nós não somos! Você só não vê isso porque acredita no que os outros dizem, e está machucado e cansado. – Respirou fundo. — Então você vai ficar sentadinho aí enquanto eu limpo isso. – Enfatizou o "eu". — E depois vamos colocar curativos em você.

Naruto deixou Shikamaru no sofá enquanto foi pegar um pano para limpar o chão. Aproveitou também para desligar o caldo que estava fazendo e colocou duas porções na mesa para esfriar um pouco.

Shikamaru permaneceu o tempo todo quieto, sentado de cabeça baixa, provavelmente envergonhado, movendo-se apenas quando Naruto se aproximou novamente com o kit de primeiros socorros.

— Deite-se para trás. – Exigiu com firmeza.

Shikamaru obedeceu sem questionar o pedido feito e Naruto voltou a cuidar do ferimento no abdome.

— Sabe... – Resolveu falar. Talvez se o menino soubesse que ele sabia e entendia a situação em que o outro estava, ele pudesse confiar verdadeiramente nele. Naruto sabia o que era estar sozinho e não ter ninguém para conversar e desabafar, principalmente, de não ter ninguém em quem realmente confiar. O que parecia ser o caso de Shikamaru. — Como eu já disse antes... – Sua voz era baixa e doce, pois não queria deixar o menino novamente em alerta, pois toda vez que ficava nervoso ele passava mal e vomitava. Naruto já havia notado esse padrão. — Eu vivo apanhando das pessoas na rua, pessoas que me odeiam sem que eu nunca tenha feito nada a elas. – Continuou enquanto passava a gaze com o antisséptico, sentindo o menino tensionar sob seu toque.

Shikamaru não se mexeu, mas abriu os olhos antes fechados. Ele estava prestando atenção ao que Naruto dizia.

— O que significa que eu conheço esse tipo de ferimento. Mas antes de hoje eu nunca havia reparado nos seus. – Reconheceu ainda aturdido por não ter notado.

— Naruto…

Como se o menino não houvesse interrompido, Naruto continuou:

— Eu, mais do que qualquer outro, deveria ter percebido antes, mas assim como todos os outros, nunca parei realmente para olhar pra você nessas ocasiões, e suas desculpas são tão perfeitas que não parecem desculpas, apenas fatos que realmente ocorreram. E se você esconde isso tão bem é porque ocorre dentro da sua casa. – Quando terminou de colocar o curativo levantou-se para jogar fora as gazes utilizadas.

Shikamaru fechou novamente os olhos enquanto o menino loiro se afastava dele. Como ele imaginou, Naruto era muito mais perspicaz e inteligente do que deixava transparecer. Esse, diante dele, era o verdadeiro Naruto Usumaki: inteligente, esperto, amigável e sincero. Por Kami, ele o havia trazido para sua casa e estava cuidando dele. Ele merecia saber.

— Minha mãe. – Respirou fundo abrindo os olhos, vendo Naruto olhando pra si com atenção. — Toda vez que meu pai sai da aldeia ela me bate. No começo eram só alguns tapas, mas depois foi piorando. Essa foi a pior das surras que já levei. Ela usou chakra nas mãos. E… Até ontem… Eu nunca soube o motivo… Dela fazer isso comigo.

— Você… Quer contar? – Engoliu em seco. Kami! Era a mãe dele! Como ela podia fazer algo assim com o filho!

— Não. – Negou com a cabeça. As palavras dela ainda estavam vivas em sua cabeça e doía mais que os machucados do corpo. — Talvez algum dia…

Naruto mal conseguiu ouvir a última frase que foi dita num sussurro. Ele aproximou-se novamente e sentou-se ao lado do garoto. Tudo que ele queria agora era lhe passar segurança, mas ele não sabia como.

— E seu pai, ele não sabe de nada? – Acabou perguntando após algum tempo em silêncio. Foi o tempo que levou para engolir toda a dor que sentiu pelo menino naquele momento.

— Não. De jeito nenhum. Ele nem faz ideia... – Apressou-se em dizer.

Shikamaru sabia que seu pai jamais permitiria que isso acontecesse com ele. Ele era o único a incentivá-lo. Sempre que ele conseguia tempo ele treinava consigo, lhe ensinando as técnicas de seu clã. E mesmo quando ele falhava, seu pai sorria e dizia que ele havia melhorado. E que da próxima vez ele melhoraria ainda mais.

— E Porque você não conta a ele? Ele poderia te ajudar... – Perguntou ansioso.

— Ele ama minha mãe. Eu jamais poderia fazer algo que pudesse colocar seu casamento em risco. – Explicou desolado. — Além disso, minha mãe é assustadora. Ela me mataria se eu contasse a ele.

— Bem, eu acho que ela já tentou te matar. – Falou sem pensar, revoltado com a mãe do menino e para sua surpresa, ele riu.

— Ela não chegou nem perto. – Suspirou. — Ela é uma Kunoichi e se ela realmente quisesse, eu já estaria morto.

— Então sorte sua que ela te quer vivo! – Mordeu a língua por não ter se segurado novamente. Ele não queria ser irônico, mas não conseguiu evitar.

E mais uma vez Shikamaru riu.

— Eu não sabia que você podia ser sarcástico! – Disse com admiração, gostando do senso de humor do loiro.

— O que eu posso te dizer? – Falou mais leve, vendo que não havia ofendido o menino. — Não sou exatamente como as pessoas pensam que sou.

— Sim. Eu percebi isso mais cedo. E eu gosto desse Naruto. – Afirmou com satisfação.

— Que bom, porque eu gosto desse Shikamaru. – Respondeu constrangido. Ninguém nunca havia dito que gostava dele, seja pelo motivo que fosse. — E Shikamaru, eu não vou contar nada a ninguém. – Garantiu ao menino. Ele queria que o outro soubesse que podia contar com ele.

— Eu sei. E eu realmente agradeço tudo que fez por mim hoje... – Reconheceu com sinceridade.

— E eu já falei que não precisa agradecer. Eu não falei nada antes, mas pelo fato de você não me tratar mal na academia, eu meio que o considero como meu amigo – Colocou a mão na nuca, meio constrangido de revelar isso. — Mas não se preocupe com isso. – Abanou a mão displicente. — Você não precisa mudar nada com relação a mim, é só continuar sendo como antes.

— Não! – Shikamaru negou com veemência.

— O quê? – Naruto arregalou os olhos espantado.

— Não dá pra ser como antes. – Shikamaru sabia que estava tudo diferente, as coisas tinham mudado entre eles. Definitivamente. — Você me ajudou, cuidou de mim e sabe meu segredo. Além disso, você me contou coisas da sua vida. Somos amigos de verdade agora.

— Você não precisa... – Era desconcertante, jamais tinham falado algo assim para ele.

— Eu quero ser seu amigo, Naruto. – Interrompeu. — Quero conhecer você de verdade. Porque esse Naruto que vejo aqui não tem nada a ver com aquele barulhento, hiperativo e irritante da academia. Você é muito mais que isso.

O sorriso que Naruto deu parecia iluminar o pequeno apartamento de tão radiante que era, e antes que pudesse se conter, abraçou Shikamaru, que gemeu de dor.

— Me desculpe Shikamaru! Me desculpe! — Afastou-se preocupado em ter machucado ainda mais o menino.

— Tá tudo bem, só não faz isso de novo enquanto eu estiver machucado assim. – Sorriu, mesmo dolorido, com a espontaneidade do outro.

— Eu vou gostar de ter um amigo, alguém que me conhece por quem eu realmente sou. Minha casa não é grande coisa, mas você será sempre bem vindo aqui. – Levantou-se e estendeu a mão para que o menino pegasse. — Agora vamos comer. Você precisa se alimentar. Isso vai ajudar você a estabilizar seu estômago. E você também precisa pôr gelo nesse olho, pra diminuir o inchaço.

Shikamaru levantou-se com a ajuda do loiro e os dois comeram o caldo de frango com legumes na pequena mesa que havia no minúsculo apartamento. Naruto realmente sabia cozinhar um delicioso caldo e Shikamaru elogiou o prato, deixando Naruto vermelho pelo elogio.

Após a refeição, Naruto entregou a Shikamaru um analgésico e ele deitou-se no sofá, com uma bolsa de gelo no olho. Logo ele adormeceu. Naruto sentou-se na poltrona ao lado e o observou dormir. Uma sensação boa inundando seu peito. Ele agora tinha um amigo que era seu amigo de volta. Não era uma amizade unilateral. Ele faria tudo para proteger seu amigo (seu melhor amigo), cuidaria dele sempre! E quando se tornasse Hokage, Shikamaru estaria lá consigo, ajudando a governar Konoha como seu Conselheiro e, quem sabe talvez, como Comandante Jounin. Eles seriam respeitados por todos na Aldeia da Folha! Dattebayo!

Fim