PARTE 2
Já era manhã e Clark, que passara o resto da noite em claro, estava agora no loft, com os cotovelos apoiados na janela ao lado da luneta, olhando para algo que segurava entre as mãos. Era o bracelete turquesa que lhe fora entregue pelo avô de Kyla, e chefe da tribo dos índios Kawatche, Joseph, há mais de três anos. Por muito tempo aquele bracelete esteve guardado, sem que jamais se lembrasse dele. E os pensamentos de Clark eram agora turbulentos. Como pôde jamais ter notado que Lois Lane era a mulher da sua vida? Será que estava tão cego por Lana que nunca percebeu o quanto Lois lhe fazia bem? Precisava ter perdido a memória para enxergar o que estava bem diante de si? Mas agora não importava mais. Agora sabia a verdade, e a quem pertencia aquele bracelete. E mais importante ainda, a quem pertencia seu coração.
"Lois Lane" disse ele, com um sorriso, enquanto olhava para as estrelas, lembrando dos detalhes, não do sonho que tivera, mas da memória viva outrora esquecida há alguns meses quando ficou mais de vinte e quatro horas desmemoriado, e fez novas escolhas.
"Clark?"
E ele se virou para ver Martha, que subia os degraus das escadas do loft.
"Acordou cedo, filho" disse ela, aproximando-se, com seu olhar de mãe preocupada.
Clark sorriu, e guardou o bracelete no bolso antes que ela o visse.
"Não consegui dormir muito bem" explicou ele.
Martha cruzou os braços, enquanto o observava.
"Ainda aborrecido por Lana ter sido aceita na Met-U?" perguntou ela.
"Não" respondeu ele, sentando-se no sofá, com os cotovelos apoiados nos joelhos.
Martha o observava com curiosidade. Havia alguma coisa diferente no filho, que ela não sabia o que era.
"Alguma coisa que eu possa fazer por você, filho?" perguntou ela, gentilmente, sentando-se ao seu lado.
Clark levantou os olhos para ver sua mãe, e sorriu.
"Aconteceu uma coisa--" disse ele, então, cauteloso.
Martha arqueou as sobrancelhas, esperando que ele continuasse.
"Lembra daquela vez que eu perdi a memória?" perguntou ele, finalmente. "Você e papai estavam em Metropolis e Chloe me ajudou?"
"Eu achei que você não se lembrasse de nada do que aconteceu naquele dia" disse ela, confusa.
"Bom, na verdade, eu agora me lembro de algumas coisas--" continuou ele.
"Como?" indagou ela, curiosa.
"Tenho tido esses sonhos estranhos" explicou ele. "Sobre aquele dia"
Ouve um silêncio, e Martha, como sempre, esperou que o filho se sentisse à vontade para contar o que era.
"E essa noite eu soube, através de mais um sonho, o que aconteceu comigo" disse ele.
"Clark, estou ficando preocupada" disse Martha, aflita.
"Era como se não fosse eu" explicou ele, como se quisesse explicar a coisa toda desde o início. "Na verdade, era eu, mas era um 'eu' mais seguro, mais confiante--"
"Clark" interrompeu Martha. "O quê quer dizer?"
"Eu me senti livre" explicou, enquanto sua mãe o observava, confusa. "Eu sabia bem o que eu queria, fiz as escolhas que eu quis e tomei atitudes que jamais teria tomado se não fosse esse meu medo de assumir meu destino"
Clark então se levantou e andou pelo loft, sob o olhar atento de Martha, que ainda não entendia onde pretendia chegar o filho com aquela conversa. De repente, ele parou contra o sol que brilhava pela janela, e tirou do bolso da calça o bracelete kryptoniano.
"O quê é isso?"
"Lembra de Kyla?" perguntou ele.
"Sim, lembro" respondeu Martha.
"Era dela" disse Clark, olhando para o artefato. "Quando ela se foi, o Prof. Willoebrook me deu esse bracelete com inscrições kryptonianas. Segundo a lenda Kawatche, ele deve ser usado pela pessoa destinada a ser companheira eterna de Naman--"
"Filho, não entendo onde quer chegar com isso" interrompeu Martha. "Além do mais, concordamos não levar essa estória de lendas e mitos dos índios Kawatche a sério--"
Clark segurou o bracelete firme e o guardou novamente no bolso.
"Essa noite eu sonhei com a mulher que me foi destinada, mãe" disse ele, finalmente.
Martha enrugou a testa.
"Como?"
"Eu nunca me senti tão bem perto de outra pessoa que não ela" explicou. "Ela me faz bem"
Confusa, imaginando que o filho devia estar atormentado com o fato de Lana ter mesmo conseguido a transferência para a Met-U, embora tenha negado, Martha disse:
"Se está tão aborrecido, devia falar com ela"
Clark então encarou sua mãe, perplexo. Por que ela perguntava se ele estava aborrecido? E como ela sabia que se tratava de Lois?
"Metrópolis não é tão longe" continuou ela. "Você pode vê-la sempre que quiser"
Mas Lois não estava em Metrópolis, pensou ele.
"Não" disse ele, sorrindo, entendendo o que sua mãe queria dizer. "Não estou falando na Lana"
Martha então enrugou a testa, ainda mais confusa.
"É Lois" disse ele, finalmente.
E Martha moveu os lábios, como se fosse dizer alguma coisa, mas nenhum som foi emitido.
Clark se sentou novamente ao seu lado, e olhou-a bem nos olhos.
"Lois não é apenas a prima da Chloe que apareceu de repente, e com quem sempre implico" explicou ele.
Ainda atordoada, Martha sorriu ao ver o brilho nos olhos do filho.
"Eu soube, desde o primeiro momento em que a vi, que ela é a mulher da minha vida. Só não conseguia ver isso antes porque estava perdido e confuso demais para entender. Mas agora eu sei" completou ele.
"Estranho como são as coisas" murmurou Martha. "Sempre gostei muito da Lois, e de certa forma, sempre soube que havia alguma coisa muito especial nela--"
Clark sorriu. Talvez sua mãe também soubesse, mas ainda não tinha certeza do quê.
Martha olhou para o filho com ternura e orgulho, ao vê-lo falar com tanta determinação.
"E sabe se ela sente o mesmo por você?" perguntou Martha.
"Eu acho que sim" respondeu ele, pensativo.
Clark fitou sua mãe, e depois corrigiu:
"Eu sei que sim"
Os olhos de Martha lacrimejaram. Seu filho estava cada vez mais crescido, vivendo suas próprias experiências e tomando suas próprias decisões.
"E esse bracelete... Você o guarda há tanto tempo--" comentou ela.
"Porque talvez eu soubesse que a pessoa certa ainda não havia aparecido" disse ele, sorrindo com o canto dos lábios.
"Eu sempre soube que você encontraria a pessoa certa, Clark" disse Martha, tocante com ternura a face do filho.
Clark sorriu, e baixou os olhos.
"Eu sinto como se tivesse sido mandado aqui para encontrá-la"
E Martha retribuiu o sorriso.
"Então, o quê está esperando?" perguntou ela.Continua...
