PARTE 3
Clark, que instantes antes havia descoberto o endereço de Lois em Metrópolis, estava agora plantado em frente ao seu edifício, com um arranjo de lírios nas mãos. Seu coração estava acelerado, e era como se houvesse borboletas na sua barriga. Mas era uma sensação boa, e que ele jamais havia experimentado. Seus pensamentos já não eram mais turbulentos. Conseguia apenas pensar nas palavras de incentivo de sua mãe e da certeza do que realmente queria para si. Sim, ele finalmente tinha certeza do que queria. Depois de tudo o que havia vivido ao lado de Lois, a segurança e a alegria que ela havia lhe proporcionado naquele dia do qual não se recordava, fato esse que ainda o desolava, não podia mais deixar que o destino o golpeasse novamente à face. Pois, certa vez conheceu Lois Lane, e não enxergou nela a mulher que esperou a vida inteira. Lois Lane. Não conseguia pensar em outra coisa.
E quando Clark viu alguém saindo pela portaria, imaginando que podia ser Lois, mas não o era, ele sorriu um sorriso nervoso, e lembrou da primeira vez que a viu...
FLASHBACK
Ele estava nu e deitado ao relento em meio a um milharal em Smallville. Não sabia quem era, e nem de onde vinha. Lembrava apenas de um clarão de luz, na medida em que seus olhos se abriam lentamente ao ouvir uma voz suave e gentil:
"Oh meu Deus"
E enquanto ele se levantava, olhava ao redor, tentando identificar o mundo à sua volta, confuso.
"Você está bem?" perguntou a voz, que o trazia à realidade.
E ele não respondeu, enquanto apenas olhava ao redor, pois não fazia a menor idéia de onde estava e como viera parar ali. Estava assustado, embora soubesse que não precisava temer coisa alguma.
"Qual o seu nome?" insistiu ela, aproximando-se, e tentando não olhar para baixo.
"Não sei" respondeu ele, confuso, olhando ao redor, e depois para ela, uma pessoa que ele logo identificou como sendo boa a gentil, que o tranqüilizava naquele momento de grande angústia.
"Precisamos ir a um hospital!" disse ela, preocupada.
"Eu estou bem" retrucou ele, roboticamente.
Sim. Ele se sentia bem. De certa forma, sabia ele que estava no lugar certo, e na hora certa. Ou seria ela?
"Você foi atingido por um raio, está nu e, uh, nem lembra do seu próprio nome. Você tem uma definição bem estranha de 'estar bem'!" disse ela.
E Clark finalmente a encarou. Estranhamente, sabia que aquele era um rosto amigável, porquanto sua presença era agradável, muito embora ele não compreendesse o porquê do desconforto dela em evitar olhar para baixo.
"Olhe para o rosto dele--" dizia ela para si mesma.
E ele continuava a fitá-la, sem ao menos fazer idéia do que se tratava toda aquela situação, embora desconfiasse que o destino pregava ali uma peça.
"Eu tenho um cobertor no carro. Não se mexa. Eu já volto" disse ela, afastando-se.
"Espere!" ele disse. "Quem é você?"
"Lois. Lois Lane" ela respondeu.
Logo depois, ela lhe deu as costas e foi até o carro pegar o cobertor, enquanto ela a observava, curioso.
FIM DO FLASHBACK
E Clark sorria enquanto lembrava dos detalhes daquela noite turbulenta. Agora ele sabia que o destino realmente havia pregado uma grande peça neles dois. Como podia imaginar? Depois de todo o mal que os Luthor fizeram, alguma coisa de bom resultou disso tudo. Ele conheceu Lois Lane. A mulher da sua vida. Só não conseguia imaginar que demorou tanto tempo a perceber isso. Olhou então para as flores, e seus olhos brilharam ao pensar que agora, mais do que nunca, sabia ao lado de quem era seu destino.
Sem pestanejar, Clark atravessou a rua em direção ao edifício onde Lois morava em Metrópolis. Sorridente, parou em frente ao porteiro, que ficava atrás de um balcão ao lado dos elevadores. Um senhor de poucos amigos, de rosto visivelmente cansado, que lia a seção de esportes do Planeta Diário, provavelmente de um dos moradores, e que levantou os olhos com muito pesar para ver Clark, como se o advertisse por tê-lo perturbado no seu silêncio matinal:
"Lois Lane" disse ele.
O porteiro nada disse. Continuou imóvel, encarando-o.
"Ela está?" perguntou Clark, ansioso. Suas mãos suavam, e uma inquietude se apossava dele.
"Saiu" respondeu ele, quase inexpressivo, voltando à sua leitura.
Com as pontas dos dedos, Clark abaixou a folha do jornal para ver o porteiro, e perguntou, sob o olhar de censura do mesmo:
"Faz tempo? Sabe para onde?"
O porteiro emitiu um profundo suspiro e viu as flores na mão de Clark.
"A Srta. Lane sempre sai para o desjejum no Metrópolis Café" disse ele, finalmente.
Clark sorriu, aliviado, e antes que pusesse os pés para fora do prédio, virou-se, e perguntou, sob o olhar atento e curioso do porteiro, que agora parecia mais interessado:
"Onde fica?"
O homem já não mais tão carrancudo, sorriu, e apontou em direção à próxima esquina.
Clark sorriu em agradecimento, e saiu apressado ao encontro de sua amada.
Enquanto caminhava pela rua, imaginava como seria a reação de Lois ao vê-lo, mais ainda, ao saber que ele se recordava do dia em que finalmente descobriram que se amavam apesar das falsas desavenças. Na certa, imaginou, ela desconversaria, fingiria que ele estava enganado. Usaria sua usual auto-defesa verbal. Falaria ininterruptamente, até que ele tivesse que tomá-la nos braços e beijá-la apaixonadamente como no sonho que havia tido na noite anterior, e que nada mais era do que a pura realidade outrora vivida. E sorriu ao pensar no quanto Lois era capaz de falar, lembrando novamente do dia em que se conheceram...
FLASHBACK
Envolto por um cobertor vermelho, Clark estava sentado no leito de um quarto no Centro Médico de Smallville, e Lois estava parada à sua frente, enquanto esperava serem atendidos por um médico. O silencio era perturbador.
"Eu vim a Smallville para investigar a morte da minha prima. Chloe Sullivam. Já ouviu falar nela?"
Clark nada disse, e Lois continuou:
"Claro que não lembra!"
De repente, ela enfiou a mão dentro da bolsa e pegou uma goma, enquanto Clark a examinava com curiosidade.
"Nicorette" explicou ela, colocando a goma de mascar na boca, enquanto caminhava em direção à janela do quarto para olhar para fora. Ela estava visivelmente agitada.
"Estou deixando de fumar" continuou. "Comecei quando tinha 15 anos. É tudo culpa do meu pai. Ele disse que se um dia me pegasse fumando, ele me matava. Assim, num momento de rebeldia adolescente, eu comecei, e não consegui mais parar. Agora sou viciada em goma de mascar!"
Lois caminhava de um lado a outro, sob o olhar atento de Clark, até que parou bem à sua frente.
"Você fala demais" disse ele, que mal conseguia acompanhá-la. Mas aquilo não o incomodava. Muito pelo contrário, era agradável.
"É que eu fico meio desconfortável com silêncios desconfortáveis" completou ela, sorrindo.
FIM DO FLASHBACK
E Clark mal podia esperar a hora de encontrar com Lois e vê-la falar sem parar.
Ao chegar próximo ao Café Metrópolis, Clark suspirou, olhou para as flores, e quando se preparava para entrar, viu que Lois estava saindo do estabelecimento. E não estava só. Acompanhada de um sujeito alto, de cabelos escuros, e bem vestido, Lois sorria o mesmo sorriso que iluminava o dia outrora apagado da memória de Clark, o qual estava agora imóvel e sem reação na medida em que assistia, a poucos passos de distância, uma radiante Lois Lane trocar sorrisos e olhares ternos com um sujeito que ele jamais vira na vida.
O primeiro pensamento de Clark era dizer que ele estava passando por ali ao acaso. Só não sabia o que diria em relação ás flores, e ele abaixou a mão para o lado, a fim de escondê-las. Mas Lois não o via, embora ele estivesse no seu exato ângulo de visão. Ela estava com toda a sua atenção voltada para o sujeito que a acompanhava. E sem perder tempo, Clark tratou de ouvir sobre o que conversavam:
"Vai ser divertido irmos à Ópera" disse o sujeito. "É um programa que não faço há muito tempo"
"Jantares, teatro, e agora ópera" comentou ela, com um sorriso no canto dos lábios. "Alguém está tentando me mimar além da conta--"
"Sabe que você merece muito mais" disse ele, aproximando-se, enquanto suas mãos tocavam nos quadris dela.
Nisso, um sentimento terrível tomou conta de Clark, que assistia imóvel àquela cena. E ele sofreu uma dor que jamais havia experimentado antes. E quando o sujeito se inclinou sobre Lois, beijando-a ternamente nos lábios, uma lágrima brotou no olho de Clark, e rolou pela sua face, enquanto seu corpo já não respondia mais aos seus sentidos, e as flores simplesmente caíam de sua mão, ao lado dos seus pés.
Gentilmente, Lois se desvencilhou do beijo e olhou para trás do seu acompanhante, imaginando se havia visto alguém que os observava, mas nada viu, exceto pessoas caminhando apressadas de um lado a outro pela calçada.
"Estranho--" disse ela.
E seu namorado se virou para ver na mesma direção. Confuso, ele se voltou para ela.
"O quê houve?" perguntou ele.
"Pensei ter visto alguém--" comentou ela.
Foi então que uma limusine estacionou ao lado da calçada.
"Tenho que ir" disse ele, beijando-a novamente. "Falamos mais tarde, Lois"
Lois sorriu e acenou para o chofer.
"Como vai, Srta. Lane?" perguntou ele, olhando-a pela fresta do vidro aberto.
"Muito bem, Alfred!" respondeu ela, enquanto o namorado entrava no veículo e fechava a porta, sem perdê-la de vista, e com um sorriso de imensa satisfação.
Lois então acenou para ele, e ficou olhando o carro desaparecer na próxima esquina. Depois, voltou-se para a calçada logo atrás dela, confusa, e certa de que alguém a observara instantes antes.Continua...
