PARTE 5

"Não entendo o que estamos fazendo aqui--" disse Lois, agora vestindo uma outra blusa, com os braços cruzados e apertados contra o peito, hesitando em estender a mão para que Clark a ajudasse a transpor uma pedra dentro das cavernas Kawatche, enquanto segurava uma lanterna para iluminar o caminho.

"Eu já disse, Lois" respondeu ele, que sorriu ao ver que ela aceitou a ajuda, mas logo se adiantava à sua frente, dando a entender que não precisava ser ajudada.

"Não. Você não disse nada, Clark Kent!" protestou ela, virando-se para vê-lo, quando então tropeçou em algo e caiu ao chão.

"Lois!" exclamou ele, aproximando-se para ver se ela estava bem.

Mais do que depressa, porém, ela se levantou com as palmas viradas contra ele.

"Estou bem! Estou bem!"

"Cuidado" advertiu-a ele. "Esse lugar é cheio de surpresas"

"Não apenas o lugar--" comentou, virando-se novamente para vê-lo. "Certo?"

E ele nada disse em relação ao trocadilho.

"Vai me dizer ou não?" insistiu ela.

"O quê?"

"Qual é, Smallville? Ficou meia hora tentando me convencer a vir com você, depois ficamos três horas em silêncio no carro até aqui, e ainda não disse nada, nem mesmo sobre esse tal de 'Kal'! Porque aquele no meu apartamento definitivamente não era você!" retrucou ela, visivelmente irritada. "Se é mais uma daquelas esquisitices dessa cidade maluca, é bom me dizer logo de uma vez ou--"

De repente, Lois, que seguia Clark através de uma parede da caverna, viu a mesa octogonal com vários símbolos kryptonianos.

Clark se virou para vê-la. A reação de Lois era surpreendente. Seus olhos brilhavam, e seus lábios não se moviam. Ela estava maravilhada com aquilo tudo, admirando a sala, e cada detalhe da mesa de pedra.

"O quê é isso?" perguntou.

Clark sorria, enquanto a observava. E por mais que os conselhos de seus pais fossem outros com relação ao seu segredo, ele sabia que Lois ainda o amava, e era a mulher da sua vida. E não hesitaria com ela em relação à verdade.

"Você já vai descobrir" disse, tirando do bolso do casaco, uma peça metálica e octogonal.

Lois o observava, curiosa.

"O quê... Por quê?" balbuciou ela, dando a volta pela mesa e parando à sua frente, enquanto o fitava nos olhos. Ainda não entendia os motivos daquilo tudo. Ou talvez entendesse, mas não acreditasse.

Clark também não desviava os olhos dos dela, na medida em que cada vez mais tinha a certeza de que ERA ELA.

"Porque eu a amo" ele disse.

Tomada pela surpresa, Lois arqueou as sobrancelhas, e pela primeira vez na vida, não sabia o que dizer.

"E lembro daquele dia" completou ele.

Lois deu um passo para trás, perplexa. Como? pensou ela.

"E não é só isso..." continuou ele, enquanto Lois ainda tentava assimilar a situação. "Eu lembro de todos os outros dias. Tudo. Desde a primeira vez que nos vimos. E sei que existe algo muito forte entre nós, Lois. E você também sabe. Não pode negar isso"

Lois balançou a cabeça, negando.

"Espere um pouco. Preciso de ar. É muita informação ao mesmo tempo!"

Confuso, enquanto Lois se virava e suspirava, Clark olhou para a chave na sua mão e depois para a mesa, imaginando se era cedo demais para aquilo tudo.

"Lois... Se estiver precisando de um tempo para pensar nisso, tudo bem" disse ele.

Mas ela se virou para vê-lo. Seus olhos brilhavam.

"Não faz idéia do quanto eu esperei para que você se lembrasse daquele dia" disse ela, finalmente.

Tão surpreso quanto ela, Clark fitou-a nos olhos.

"Desculpe" disse ele. "Eu não sabia que levaria tanto tempo"

Lois balançou a cabeça, sorrindo, quando uma lágrima parecia brotar no seu olho.

"Bom, qual é grande segredo?"

Clark olhou novamente para a chave na sua mão, pensativo, e depois para Lois.

"Eu amo você, Lois Lane. E esse já não é mais um dos segredos" disse, encaixando a chave no centro da mesa.

Nisso, uma luz iluminou toda a caverna, e Lois olhou ao redor, desconcertada, e depois para Clark, que não tirava os olhos dela. Um sorriso surgiu no canto de seus lábios. E ele sabia que aquilo era o certo a se fazer. Queria viver ao lado de Lois uma vida desprovida de mentiras e segredos. Estendeu-lhe a mão, e perguntou:

"E você, Lois?"

Ela o olhou nos olhos, e viu pureza e amor, como há cerca de um ano, no celeiro, quando ele não lembrava quem era, mas parecia saber o que realmente queria na vida. Lois sorriu, e colocou sua mão sobre a dele, quando então foram envolvidos pela luz.

Instantes após, os dois estavam numa ala edificada por cristais, iluminada pela luz exterior. E Lois olhou ao redor, maravilhada, enquanto esfregava as mãos contra os braços, sentindo um frio intenso.

"Espere um pouco!" exclamou ele, aproximando-se de um painel de cristais.

Lois se virou para ver o que ele ia fazer, e Clark moveu um cristal do painel e colocou em outro lugar. De repente, já não estava mais tão frio.

"O quê é isso?" perguntou ela, olhando para o alto e com as mãos levantadas para os lados.

Clark suspirou.

"Minha Fortaleza... da Solidão" disse ele, olhando ao redor. Era assim que, secretamente, definia aquele lugar para si.

Lois se virou para vê-lo nos olhos.

"Mas como?--"

"Lois... Tem algo que precisa saber a meu respeito--"

"É... estou vendo" disse ela, com as sobrancelhas arqueadas. "E sou toda ouvidos"

Clark pegou suas mãos e olhou-a bem nos olhos, pronto para contar a verdade. Sabia que, independentemente da reação dela, jamais se arrependeria do que estava prestes a fazer.

"Sou de um planeta chamado Krypton--" começou ele.

E Lois enrugou a testa, surpresa.


Minutos depois de contar toda a verdade a Lois, Clark estava prostrado ao lado do painel de cristais, observando-a de longe, enquanto ela estava sentada de costas para ele, pensativa, e volta e meia, olhando para tudo ao seu redor, sem nada dizer.

Paciente, Clark a esperava. Até que Lois finalmente se levantou e sem conseguir olhá-lo nos olhos, perguntou, ainda abalada:

"Pode me lavar pra casa?"

Clark suspirou.

"Claro"


Mais tarde, em Metrópolis...

Lois entrou no apartamento, logo seguida de Clark, e parou do outro lado da sala, virando-se, então, para vê-lo. Clark olhou para o lado, inclinou cabeça, um pouco desnorteado, e enfiou as mãos nos bolsos, enquanto ela cruzava os braços e o observava, ainda inexpressiva. O silêncio era embaraçoso, e Clark lembrou que certa vez ela disse que odiava silêncios embaraçosos, quando então a encarou, e disse:

"Acho melhor eu ir"

E Lois nada disse. Clark se virou, abriu a porta e foi embora. E tão logo ele saiu, Lois caminhou apressada em direção à porta, como que para impedi-lo de sair. Mas ela apenas tocou a maçaneta, e não a moveu. Tocou então a superfície de madeira da porta, e ficou pensando no que tinha acontecido. E Clark, do outro lado, no corredor, hesitava ir embora, parado ao lado da porta do apartamento de Lois, imaginando se deveria voltar. Mas ele baixou os olhos. Não. Ela precisava de um tempo para pensar. E foi embora.

Decidida, Lois abriu a porta e saiu para o corredor, mas Clark já não estava mais lá. E ela pensou que era melhor assim. Cruzou os braços, baixou a cabeça e entrou de volta em seu apartamento.

Continua...