PARTE 10
Quatro meses depois...
Lois estava encostada no seu carro no estacionamento da Universidade Central do Kansas, esperando por Clark, quando finalmente o viu descendo as escadas do campus. Era o último dia de aula daquele semestre, e muitos dos alunos saiam entusiasmados com os resultados dos exames finais.
Ao ver Lois, Clark sorriu, e caminhou a passos apressados em sua direção.
Tão logo se aproximaram, com apenas um braço, enquanto que com a outra mão segurava a mochila no ombro, ele a levantou para o alto, e os dois trocaram um beijo apaixonado.
"E então? Conseguiu resolver tudo?" perguntou ela, assim que ele a colocou gentilmente ao chão, e os dois se viraram e caminharam abraçados para o lado do carro.
"Deu tudo certo" disse ele. "O quê é isso?" perguntou, ao ver que Lois segurava um envelope.
E ela abriu um enorme sorriso, e entregou a ele.
Curioso, antes de abrir, sorriu e adivinhou o que era ao ver que havia um selo da Met-U.
"Eu sabia que ia conseguir!" exclamou, enquanto Lois segurava sua mochila para que ele pudesse abrir o envelope. "Conseguiu ser aceita!"
Lois sorriu, eufórica, enquanto ele a abraçava.
"Eu disse que conseguiria! Duas expulsões e ainda consigo convencer o Reitor do grande talento que ele pode perder!"
"E eu nunca duvidei disso!" disse ele. "Vem cá!" puxou-a novamente para um beijo.
De repente, alguém se aproximou dos dois:
"Kent!"
Lois e Clark se desvencilharam, e se viraram para ver quem era.
"Professor Fine!" exclamou Clark, ainda sorrindo.
Fine olhou para Clark e depois para Lois, com denotado interesse.
"Minha namorada" apresentou Clark: "Lois Lane!"
Lois sorriu e estendeu a mão para cumprimentá-lo.
Após retribuir o gesto, com muita polidez, Fine fitou Clark:
"Acabei de saber. É mesmo verdade que acabou de trancar o curso?" perguntou.
Clark sorriu, e abraçado a Lois, explicou, evasivamente:
"Tenho coisas pessoais a resolver"
Fine apenas balançava a cabeça afirmativamente.
"Claro" disse. "Uma pena. Vou sentir sua falta no próximo semestre. É um dos meus melhores alunos. Talvez no ano que vêm?"
"Para dizer a verdade, não sei de volto para cá" explicou Clark. "Estou saindo de viagem"
Lois levantou a cabeça para ver Clark, orgulhosa, enquanto Fine apenas os observava.
"Isso realmente foi inesperado" comentou.
Clark apenas sorriu.
"Bom, nesse caso, tenha uma boa jornada, jovem Kent!" exclamou Fine, estendendo-lhe a mão.
Surpreso com a conclusão certeira do professor quanto ao real objetivo da sua viagem, a qual poderia muito bem ser definida como jornada, Clark sorriu e apertou sua mão, certo que, de alguma forma, voltaria de vê-lo.
Fine então sorriu para Lois, deu-lhes as costas, e foi embora, não sem antes se virar novamente para vê-los, agora enquanto entravam no carro, momento em que disse para si mesmo:
"Pode ir, Kal-El. Aprenda tudo o que puder a seu respeito. E quando voltar, mais forte e poderoso, iremos nos encontrar novamente. Leve o tempo que precisar, e você então será o receptáculo perfeito para Zod!"
Pouco depois, no Rancho Kent...
"Puxa, é meio triste ver isso aqui vazio!" exclamou Chloe andando pelo loft, enquanto Lois ajudava Clark a encaixotar as últimas coisas.
O lugar estava completamente vazio, exceto pelo sofá, pela mesa de estudos e mais algumas caixas. Todas as coisas de Clark haviam sido encaixotadas e levadas para o seu quarto na casa, onde ficariam a partir de então.
Lois sorriu para a prima e depois se virou para Clark, que não conseguia tirar os olhos da namorada um minuto sequer.
Chloe se virou para vê-los, flagrando-os num de seus momentos de casal enamorado, e sorriu orgulhosa. Jamais viu Clark tão feliz na vida como quando estava com Lois, ao mesmo tempo que também não lembrava ter visto a prima tão realizada como naqueles últimos meses. Eram as duas pessoas mais importantes de sua vida, e a felicidade de ambos era a sua. Não poderia conceber um casal mais perfeito que aquele. Lois e Clark. Lane e Kent.
"Bom, acho que essa é a minha deixa" disse, sorrindo para ambos, certa de que precisavam de um tempo a sós.
Clark sorriu e se aproximou da amiga, que o abraçou.
"Vou sentir sua falta" disse ela bem próxima de sua orelha, enquanto Lois sorria, com braços cruzados e apertados contra o peito, tentando, mais do que nunca, ser forte o bastante para o que ainda estava por vir.
"Também vou sentir a sua, Chloe" disse ele, sincero.
Ela então o desvencilhou, e completou, com lágrimas nos olhos:
"Não esqueça de mandar os postais que prometeu!"
Ele sorriu, balançando a cabeça.
"Não vou esquecer"
"É melhor eu ir logo" disse, limpando as lágrimas das faces, e se aproximando de Lois, para um abraço. "Nos vemos em breve, então, colega de quarto!"
Nisso, Lois sorriu, enquanto abraçava a prima.
"Quem diria, hein, Chlo? Primas, jornalistas, amigas inseparáveis, e agora colegas de dormitório!"
Chloe sorriu para Lois, e enquanto se afastava, olhava mais uma vez para Clark, que não veria por muito tempo. Ele sorriu e suspirou. Tanto quanto de Lois e de seus pais, Chloe seria uma das pessoas que mais sentiria falta. E quando ela já havia descido as escadas, olhou para o lado para ver Lois, que, pensativa, com as mãos nos bolsos da calça, olhava desolada para o chão. O mais difícil ainda estava por vir, pensou ele.
Na manhã seguinte, no apartamento do Talon...
Lois e Clark dormiam abraçados, quando ele então abriu os olhos lentamente e inclinou a cabeça para ver se ela estava acordada. Mas Lois dormia profundamente, e ele ficou observando-a por muito tempo, e suspirou, tomado por uma dor imbatível. Em poucas horas, partiria para a sua jornada, deixando para trás o grande amor da sua vida. E enquanto ele cerrava os olhos para conter as lágrimas, Lois despertava lentamente e via o que estava acontecendo. Foi então que ela se moveu entre os braços de Clark e ele se virou para ver que ela estava agora acordada.
"Lois" disse, com os dedos médio e indicador nos olhos, tentando esconder a tristeza que se abatia sobre ele.
Ela então se arrastou pela cama, e apoiada sobre o cotovelo, inclinou-se sobre ele, beijando-o várias vezes nas faces e depois nos lábios. Clark sorriu, e puxou-a gentilmente para um beijo mais demorado nos lábios. Ambos sorriram, e Lois se deitou sobre o peitoral de Clark, enquanto alisava carinhosamente seus cabelos, e ele os dela.
Nada precisava ser dito. Os olhares diziam tudo.
E Lois se mostrava muito mais forte e valente do que jamais imaginou que seria naquela última manhã com Clark antes de sua grande viagem de auto-descobrimento.
"Eu não tenho que ir" disse ele.
Mas Lois enrugou a testa, e sorriu.
"Não. Não tem que ir" concordou ela. "Mas é o certo"
"Não quero deixá-la"
E ela apoiou o queixo contra seus próprios braços, agora cruzados sobre Clark.
"Não está me deixando, seu bobo. Está só tirando umas férias de mim!"
Clark riu.
"Mas não quero tirar férias de você!"
Lois também riu.
De repente, ambos já não riam mais, e olhavam para os olhos um do outro.
"Quero que saiba que, por onde quer que eu vá, vai estar comigo o tempo todo" disse ele, batendo com as pontas dos dedos no peito, sobre o lado do coração.
Lois sorriu, comovida, e o beijou apaixonadamente, e ele a tomou nos braços e a deitou ao lado, inclinando-se sobre ela, e cobrindo-a de beijos.
Horas mais tarde, no Rancho Kent...
Lois observava de longe, encostada no seu carro, Clark despedir-se de seus pais, próximos a casa. Martha era a mais emocionada. Ela abraçava o filho de tal forma, que era como se não pudesse mais soltá-lo. E quando finalmente se desvencilharam, ela mal podia conter as lágrimas, mesmo que amparada por Jonathan, que sorriu e, tentando mostrar-se forte, puxava-o para um abraço apertado.
Clark então pegou a mochila que estava ao chão e ficou olhando para os dois por mais um tempo, quando então se virou e caminhou até onde estava Lois, que sorriu com os lábios apertados quando ele se aproximou. Clark então se virou mais uma vez para ver seus pais, que agora estava abraçados, e lhe acenavam. Lois também acenou para eles antes de entrar no carro, logo após Clark.
"Nunca pensei que fosse tão difícil" disse ele a Lois, sem tirar os olhos da casa e de Martha e Jonathan, enquanto ela apenas respirava fundo, e dava a partida.
E enquanto o carro se afastava, e Clark via toda a fazenda desaparecer trás deles pelo espelho lateral, estranhamente, começava a sentir que Smallville também começava a se tornar cada vez menor.
Virou-se então para ver Lois, que dirigia atentamente, e que ao perceber que ele a examinava, virou-se para também vê-lo. E ambos sorriram um para o outro, enquanto sofriam silenciosamente.
Pouco depois, no Aeroporto de Metrópolis...
Sentados lado a lado no saguão do aeroporto, Lois e Clark estavam de mãos dadas, e não desviavam os olhares, como se quisessem, por mais que não precisassem, memorizar cada detalhe do semblante um do outro.
"Posso perguntar uma coisa?" indagou ela, subitamente.
"Claro" disse ele, sorrindo, tentando se convencer que logo a veria novamente, porquanto já começava a sofrer a dor da distância.
"Bom, uh, é uma pergunta meio boba, mas inevitável, já que experimentei o 'expresso Clark' algumas vezes, então vou ser bem direta, ok? Por que está indo de avião? Sabemos que pode estar em qualquer lugar em menos de dois segundos!" exclamou ela, não conseguindo conter um sorriso, o qual, na verdade, era uma tentativa desesperada de não demonstrar sua tristeza.
Clark sorriu.
"Dois segundos, Lois?" indagou ele. "Não sou tão veloz assim. Além do mais, há quem seja muito mais rápido" comentou, lembrando de Bart Allen, o qual mencionou a Lois certa vez. "Mas, de acerta forma, fiquei imaginando quando me perguntaria isso" completou.
E Lois o analisava, sorridente, enquanto ele respondia:
"Sinceramente, não sei explicar" disse, com sinceridade. "Acho que eu quero fazer isso direito" e Lois enrugava a testa, tentando compreender. "Sabe, experimentar tudo o que eu puder. Com ou sem poderes"
Nisso, ele fez uma pausa, até que completou:
"Acredita que eu nunca viajei de avião, pra você ter uma idéia?"
E ela sorriu. Aquela não era um pergunta óbvia vinda de Clark.
"Acredito" disse.
E ele sorriu, enquanto a fitava.
"Além do mais, achei que seria mais romântico"
Foi então que Lois riu, balançando a cabeça.
"Tudo bem" disse. "Vou considerar essa como uma de suas tentativas de ser engraçado!"
"Ah Lois, admita, foi engraçado!"
"Não" discordou ela, ainda rindo. "Não foi mesmo!"
E Clark também riu.
Subitamente, a voz nos alto-falantes anunciou:
"Primeira chamada para o vôo 846 com destino ao Quênia. Atenção passageiros, embarque no portão 11"
Lois e Clark se levantaram rapidamente, e ao mesmo tempo, sem soltarem as mãos, e sem mais sorrirem, ficaram se olhando por um tempo. Era chegado o momento. E ele, então, puxou-a para um abraço demorado.
"Não sei se vou conseguir ficar longe de você" disse ele.
E ela apenas respirou fundo. Também não sabia o que seria dela daquele momento em diante até que voltassem a se encontrar. No entanto, reuniu todas as suas forças e disse:
"Não pense nisso. E também não se preocupe comigo. Eu sei me cuidar"
"Eu sei" disse ele, enquanto, ainda abraçados, olhavam-se.
"Então? Está vendo só? Tudo vai ficar bem! Vou estar aqui o tempo todo. Claro, vou adorar que você me telefone de vez em quando, ou até mesmo que me mande um e-mail de um cybercafé no Himalaia, mas vou entender se não puder. Afinal, é o seu treinamento! A sua jornada pessoal"
E Clark sorriu comovido ao perceber o quanto Lois estava tentando ser forte por eles dois; o quanto ela o incentivava a seguir em frente com seu destino.
"Mas o mais importante: faça o que tem que fazer!" completou, com firmeza.
E ele suspirou. Ela era, definitivamente, a mulher de sua vida.
Nisso, Lois abriu um grande sorriso, e pediu:
"E depois que estiver pronto, volte o mais rápido que puder!"
Clark sorriu e a abraçou novamente. Não sabia o que seria dele sem ela.
Há pouco mais de um ano, descobriu o que era ser feliz ao lado de alguém sem ter que se preocupar em esconder seus poderes. Pois, mesmo que Lois ainda não soubesse do seu segredo, e ainda que não tivessem finalmente se dado conta de que se amavam ao invés de tentarem se convencer que se odiavam, Clark nunca foi tão natural e espontâneo quanto nas vezes em que estava com ela.
Nunca.
Com Lois, ele era, nada mais, nada menos, do que ele mesmo, porém, infinitamente feliz. Afinal, por mais que estivesse finalmente experimentando a alegria de compartilhar uma vida desprovida de mentiras, sabia que era ela também, a mulher da sua vida.
Aquela que o inspirava. Aquela que lhe dava forças para assumir seu verdadeiro destino. Aquela com quem teve o vislumbre, pela primeira vez na vida, de um futuro mais otimista.
E, impulsionado por esse amor verdadeiro, Clark jamais esteve tão convencido de que não havia sido enviado à Terra ao acaso, e que aquele era o momento de se preparar para vestir seu manto, certo ainda de que, tão logo retornasse, Lois Lane, a mulher que lhe foi destinada, o estaria esperando.
Seu coração se enchia de alegria ao ter a certeza de que era apenas o começo.
Abraçaram-se novamente, e após uma profunda troca de olhares, ele a levantou a poucos palmos do chão, com as mãos ao redor da sua cintura, e beijaram-se apaixonadamente. E a poucos centímetros do rosto um do outro, Lois e Clark olharam novamente nos olhos um do outro e, sem que soubessem, assumiram, ali mesmo, sem nada dizerem, o mais compromisso de suas vidas: o de amor eterno.
"Última chamada para o vôo 846 com destino ao Quênia. Embarque no portão 11"
Lentamente, Clark abaixou Lois ao chão, e sem tirar os olhos dela, inclinou-se para pegar sua mochila.
"Eu amo você" disse ela.
Clark sorriu, e inclinando-se para mais um beijo, disse:
"Eu também amo você, Lois"
Os dois então sorriram, e ele finalmente se afastou, olhando para trás, sem perdê-la de vista, até chegar ao balcão, quando entregou o cartão de embarque à atendente, enquanto, a vários metros de distância, Lois enfiava as mãos nos bolsos da calça, e suspirava, olhando-o ir embora de sua vida mais uma vez. Da primeira, a perda da memória. Agora, a grande jornada da vida do homem que se tornaria o super-homem.
E antes de entrar na plataforma, Clark ficou olhando Lois pela última vez. Por ela, adiaria seu destino. Por ela, abriria mão do seu destino e de quem ele era. Mas se o fizesse, não seria digno o bastante para Lois Lane. E ele sorriu mais uma vez para ela, e se virou para ir embora.
Ao perdê-lo de vista, os olhos de Lois se encheram de lágrimas, e ela finalmente soube o que era amar e sofrer por amor, cedendo e se entregando a uma dor que jamais experimentou.
Por mais que soubesse que o veria novamente, e por mais que soubesse que aquele era apenas o começo de algo muito maior, e que dali em diante cada um deles teria um caminho a ser trilhado separadamente até o dia em que voltassem a se encontrar, Lois Lane nunca imaginou o quanto seria difícil encarar aquele momento.
E a única coisa que a acalentava era a certeza de que um dia, muito em breve, voltariam a estar juntos, e que a partir desse momento, nada mais os separaria, porque, simplesmente, era seu destino.
FIM
