Disclamer: Saint Seiya e seus personagens obviamente não me pertencem. Esta fic obviamente também não tem fins lucrativos.

Comentários da Autora: Mais nonsense que isso, impossível. Todas as situações aqui descritas um dia já aconteceram comigo, mas não todas em um único dia. Então, peguem seu balde de pipocas, sentem no sofá e divirtam-se, afinal esta fic não é nada além de uma tentativa tosca de arrancar algum sorriso dos pobres leitores. Aguardo comentários...


Milo em: Um dia de sorte

Vou tentar contar tudo que me aconteceu hoje, isto é, se para finalizar o dia meu computador não resolva quebrar também, a luz, não acabe ou qualquer outro infortúnio.

Hoje decididamente foi meu dia de sorte, só rindo mesmo, afinal tantas coisas aconteceram que já deixou de ser trágico e passou a ser cômico!

Acordei, como todo santo dia, muito puto, querendo esmagar o maldito despertador. Não sei como Camus consegue acordar todo dia com as galinhas, lindo, belo, cheiroso e de bom humor. Eu pareço um monstro acordando, mas faz parte deste mundo capitalista burguês que vivemos ter que acordar em horário ridiculamente obsceno para mais um dia de escravidão, digo, de trabalho. Me levantei ainda sem conseguir abrir os olhos em busca de uma pia para jogar uma água no rosto e depois uma dose cavalar de cafeína para tentar me recompor. Neste pequeno ato já começou a minha maré de sorte...

Enrolei o pé no lençol, tropecei. Ia me esborrachando no chão quando, por reflexo, tentei me segurar na prateleira que fica em frente a cama. Obviamente tudo que estava sobre a prateleira veio ao chão. Eu não cai, tudo bem! Mas não venham me dizer que estou exagerando quando digo que não devia ter acordado hoje. O Buda que ficava em cima de um pratinho cheio de moedas virou caquinhos, as moedas se espalharam por todo quarto, os vidros de perfume francês de Camus rolaram no chão... Enfim, uma ótima maneira de sair da cama!

Nesse momento, como se não bastasse toda essa confusão, Camus vem entrando no quarto correndo assustado com o barulho, pisa em um dos vidros de perfume e derruba o copo cheio de café que tinha na mão. Adivinhem quem tomou um banho de café fervente? Não precisa ser muito inteligente não... É lógico que fui eu!

- Por todos os Deuses! Eu não mereço isso! Eu prometo que vou ser bonzinho daqui pra frente.

Quando Camus viu que, além do meu ego ferido, do meu mau humor e de uma enorme bagunça, nada mais sério tinha acontecido desandou a rir feito um doido.

- Que mal lhe pergunte, está rindo de quê, ou de quem?

Ele não consegue fôlego nem mesmo para me responder, apenas estica a mão apontando o nosso quarto, ou melhor o que sobrou de nosso quarto. Nem me dei ao trabalho de responder. Consegui finalmente entrar no banheiro e quando abro a torneira do chuveiro para tirar todo aquele café de cima de mim... tcham, tcham, tcham... nem uma mísera gotinha de água. A torneira estava mais seca que o deserto do Saara. Não me controlei e chutei a quina da banheira xingando todos os palavrões que eu conhecia.. e olha que não eram poucos... E, claro que meu ato de rebeldia me rendeu um dedo do pé doendo e mais outra enxurrada de palavras de baixo calão.

Camus já estava quase enfartando de tanto rir. E meu mau humor chegando a níveis estratosféricos.

- Será que o senhor seria capaz de parar de rir da minha cara por alguns instantes e me informar o que está acontecendo com a água de nosso chuveiro?

- Mon Ange, esqueceu que nosso amado vizinho do apartamento de cima falou que ia fazer uma obra no banheiro dele hoje e fecharia o registro geral da coluna da suíte e do banheiro social?

- (Piiiiiiiiii – palavreado proibido) Aquele piiiiiiii , eu vou matar o desgraçado, eu vou esfolar, cozinhar com café quente...

- Calma, é só por hoje.

- E daí? Eu preciso de um banho agora!

- Bom, posso sugerir o banheiro dos fundos, onde eu tomei banho.

- Mas lá não tem água quente.

- Milo está um calor desgraçado.

Eu olhei para o termômetro que ficava na parede do quarto e marcava míseros 19Cº. Como alguém em sã consciência pode dizer que 19Cº é um calor desgraçado! Mas o que fazer? Peguei a bendita toalha, uma cueca e fui para o banheiro dos fundos, reclamando, xingando, praguejando, rogando pragas e maldições das mais escabrosas possíveis. A água estava simplesmente congelada. E Camus ainda teve a cara de pau de dizer que a água "está um pouco tépida... maravilhosa. Ótima para acabar de acordar." Eu é que acabei de me lembrar porque nunca tomo banho com ele.

Quando sai de dentro do chuveiro tremia mais que vara verde, meus lábios estavam arroxeados de frio. Eu sentia tanto frio que não conseguia nem pensar em cenas de tortura e morte, apenas em me aquecer. Comecei a me vestir, ou pelo menos a tentar. Peguei uma calça de veludo vinho no armário, quentinha, macia... e percebi muito entristecido que o fecho estava quebrado. Saquei e boa e velha calça jeans que nunca me deixa na mão. Pelo menos ela cooperou comigo. Coloquei uma blusa branca de malha e por cima um blazer de corte reto preto. Até então, nada mais me criara problemas. Um perfume cítrico leve atrás das orelhas, escovo meus longos cabelos louros ondulados e prendo em um rabo baixo.

- Nossa, onde vai assim tão bonito? Vou ficar com ciúme.

- Você? Com ciúme! Valham-me os Deuses, roubaram o meu marido e colocaram um clone bonzinho no lugar!

- Não posse nem fazer um elogio? – Camus olhou para mim com um semblante magoado.

- É claro que pode! Deve! Só não é o seu normal. – me aproximei dele e agradeci o elogio com um longo e delicioso beijo – Mas respondendo a sua pergunta, hoje tenho reunião com os diretores de meu maior cliente para decidir a estratégia de lançamento de sua nova linha de produtos.

- Hummm, coisa grande a vista...

- Enorme! Torce por mim.

- Eu sempre torço por você. Agora vou me apressar também. Quero passar na obra do condomínio para dar uma olhadela antes de ir para o escritório.

- Acho que, quando conseguirmos conciliar nossas férias vai dar para fazer aquele tão sonhado cruzeiro.

- Que os deuses digam amém. Só eles sabem como estou precisando descansar.

- Nos vemos mais tarde. Vem jantar em casa?

- Sim. Quem chegar mais cedo cozinha.

- Feito!

Sai de casa com minha pasta cheia de desenhos para a nova campanha publicitária e logicamente não levei guarda-chuva, afinal, apesar da temperatura relativamente baixa, o dia estava firme. ESTAVA, ESTAVA... a dois quarteirões do escritório, uma nuvem negra cobriu minha cabeça e caiu simplesmente uma tempestade. Vocês são capazes de acreditar nisso? Sai de casa com o sol a pino e alguns minutos depois cai uma TEMPESTADE! Não uma chuvinha qualquer, uma tempestade, um furacão. Cheguei no escritório molhado até os ossos, meus desenhos arruinados e a mocréia da minha secretária ainda se dá ao desfrute de fazer piadinha.

- Bom dia chefe, não tinha roupa limpa não? Teve que lavar as pressas hoje de manhã?

- Bom dia? Bom dia? Só se for para a senhorita. Meu dia está péssimo, medonho, horrendo. E nunca mais na sua vida tente fazer uma piada, pois você é desastrosa. Falando em desastrosa, é quase tão boa secretária quanto piadista. Se quiser manter seu emprego intacto, mantenha uma distância segura de minha pessoa hoje! – é lógico que falei isso tudo aos berros. E depois entrei na minha sala batendo a porta que quase desmoronou.

A pobre abriu um berreiro na sala ao lado. Fiquei com um pouquinho de remorso, não tinha o direito de descontar meus problemas na coitada, mas se bem que falei umas verdades que ela estava precisando ouvir a um bom tempo. Até hoje me pergunto porque ainda não mandei Minu embora.

- Dona Minu, não falei nenhuma mentira, agora trate de parar com essa choradeira, lave esse rosto e me arrume um balde de café sem açúcar. A que horas estava marcada a reunião mesmo?

- As-as-as d-d-ez...

- Ótimo, ainda tenho alguns minutos. – abro meu armário, ainda bem que sempre deixo algumas mudas de roupa no escritório para casos de emergência. Troco de roupa e vou analisar melhor os desenhos. Tudo inutilizado.

Uma dor de cabeça espetacular se apossa de mim cinco minutos antes dos empoados diretores de meu cliente chegarem.

- Sr. Milo. Srta. Saori, Sr. Tatsume e sr. Jabu da Santuário Sports acabam de chagar.

- Por favor, conduza-os até a sala de reunião, sirva um café que estarei indo em poucos minutos.

Tomei duas aspirinas, e dei mais uma golada no meu café. Aquele velho babão e o puxa-saco mor vieram com a patricinha... Vai ser uma longa reunião. Calma Milo... A grana deles vai financiar seu merecido descanso ao lado do bonitão...

Realmente a reunião foi longa. Perdi muito tempo explicando o que estaria ilustrado nos desenhos. Ao menos consegui fazer com que minha idéia fosse aprovada e a próxima reunião já seria da equipe de marketing deles com o meu pessoal de criação. Afinal, nem tudo estava realmente perdido. Quando acabou a reunião minha cabeça latejava de maneira absurda e meu estômago roncava. Resolvi sair um pouco para comer. Esta foi decididamente a pior idéia que eu poderia ter tido.

Foi só colocar os pés pra fora do prédio que um engraçadinho de carro, passou com duas rodas sobre a poça de lama que nascera junto ao meio-fio com a tempestade matutina e adivinha quem ficou sujo de lama dos pés a cabeça? É lógico que o babaca aqui. E lá se foi minha segunda muda de roupa... Xinguei até não poder mais mas respirei fundo, contei até 3.459.343 para conseguir me acalmar um pouco. Andei até a lanchonete mais próxima e entrei. Uma fila de fazer inveja para qualquer banco em dia de pagamento de aposentado. Quando chegou a minha vez...

- Eu queria um X qualquer coisa com tudo que tenho direito e mais um pouco dentro e um balde de refrigerante por favor. Não esqueça da torre de batatas fritas! – se Camus visse meu pedido, o sermão duraria um ano, mas como ele não estava por perto...

Peguei meu pedido e me sentei sozinho me deliciando com a quantidade de calorias e colesterol que eu estava ingerindo naquela singela refeição. Quando mordia prazerosamente meu super ultra sanduíche que escorria maionese para todos os lados, quem me entra na lanchonete me procurando? Lógico... Ele! Quem mais poderia ser. Lá se foi minha paz para o quinto dos infernos.

- Milo! Mon Ange, estava te procurando... – Camus pára e fica olhando para meu sanduíche – Eu não vou falar nada. Você sabe que não pode comer essa quantidade monstruosa de porcarias, mas não é problema meu. Quem vai ficar doente mesmo é você. E por falar em doença, vim te procurar para avisar que sua mãe foi internada de novo. Como seu celular estava desligado seu irmão me avisou. O que houve com você? O que houve com o celular?

- Nem me pergunte, nem me pergunte. Levei aquela tempestade toda na cabeça de manhã. Meus desenhos e meu celular naufragaram. Troquei de roupa, tive uma reunião chatérrima, produtiva sim, mas irritantemente chata. Sai para comer alguma coisa que aplacasse a ira de meu estômago e diminuísse minha dor de cabeça e um engraçadinho me dá um banho de lama. Você chega aqui, além do bla-bla-bla sobre o que estou comendo ainda me avisa que minha mãe está no hospital. O que me falta acontecer hoje?

- E você ainda esqueceu da tragédia matutina... Creio que não te falta acontecer mais nada. Quer ver sua mãe? Eu lhe acompanho.

- Está com o carro?

- Sim.

- Você dirige. Com a sorte que estou hoje...

Proféticas palavras as minhas. Minha sorte estava tão ruim que era capaz de passar para quem estivesse perto. Saímos da lanchonete e nos dirigimos em direção ao hospital. No meio do caminho um pneu do carro de Camus fura e como não existe situação tão ruim que não possa piorar, o estepe estava completamente vazio. Lá fui eu, rolando pneu pela rua até o posto de gasolina mais próximo para encher o estepe, voltar com ele até o carro para que trocássemos o pneu.

- Olha não acredito muito nessas coisas não, mas por via das dúvidas tu vais tomar um banho de sal grosso quando a gente conseguir chegar em casa. Isso é, se sobrevivermos a sua maré de azar.

- Não fale essa palavra que piora. E onde aprendeu essa história de sal grosso?

- Com o Deba. Isso é coisa lá da terra dele, mas na atual conjuntura dos acontecimentos, estou topando qualquer coisa, antes que sua "sorte" passe pra mim.

- Quanta solidariedade, amor da minha vida, e eu pensando que você estivesse preocupado comigo.

- Não dramatiza e me ajuda a trocar logo esta merda de pneu.

- Camus! O desbocado aqui sou eu.

- Eu tenho um ótimo professor em matéria de falta de educação.

- Não vou nem responder. – me viro para tirar logo a porcaria do pneu furado. Conseguimos finalmente chegar no hospital.

Não preciso nem dizer como eu estava, com a roupa toda suja de lama, e as mãos agora sujas de graxa. Uma beleza. Logo na entrada vejo meu irmão acompanhado de ninguém menos que a minha mãe.

- Espero que os dois tenham uma boa explicação para nos tirar de nosso trabalho.

- Miluchinho da mamãe. Eu me cortei com a lata de ervilha e quase perdi o dedo. Seu irmão me trouxe aqui. Perdi muito sangue e ele achou melhor te ligar, se eu precisasse de sangue...

- Um corte no dedo! Um mísero corte! Deveria ter arrancado a mão fora!

- Milo o que é isso? Você está fora de si.

- Fora de mim. Você não tem idéia Miro! Não sabe o que está sendo o meu dia! Ainda estou muito senhor do meu juízo, caso contrário, você também ia precisar de atendimento médico!

Camus me abraçou pelos ombros, tentando me segurar, mais com carinho do que com força, antes que eu fizesse alguma besteira enorme.

- Vamos para casa Milo. Graças aos Deuses sua mãe está bem, não passou de um susto. Melhor assim. Vamos. – e ele foi me empurrando em direção ao carro. Quando eu já estava a uma distância segura ele se virou para trás e falou com meu irmão – Miro, quando chegarmos em casa e eu conseguir acalmar um pouco o estresse de seu irmão, nós te ligamos. Garanto a você que a coisa ta feia pro nosso lado. É melhor que leve mama para casa sozinho.

- Certo cunhadinho. Com o humor que esse ai está, tenho até pena de você.

Eu não me controlei, queria partir para cima do meu irmão. Já prevendo isso, Camus me agarrou pela cintura, me jogou dentro do carro e me amarrou com o cinto de segurança.

- Se você tentar se soltar daí, vai para casa sozinho todos os dias.

- Isso é jogo sujo. – Reclamei, bufei mais um pouco e me conformei. O que eu poderia fazer? Não discutiria nunca com Camus por causa de minha mãe e muito menos por causa de Miro.

- O que você quer fazer agora?

- Ir pra casa. Não sei mais o que me pode acontecer hoje.

- Você quase matou sua secretária do coração.

- Aquela infeliz é que quase me fez ter um AVC com suas piadinhas sem graça. Decididamente todo dia me pergunto porque não a mando embora.

- Que tal porque ela trabalha nos seus horários enlouquecidos sem pedir hora extra, agüenta as suas crises de mau humor, como essa que está tendo agora, sempre te lembre dos seus compromissos comigo...

- Ok. Ok. Defensor de secretária incompetente... Não vou mandá-la embora, mas também não precisa exaltar tanto aquela desmazelada. E para nossa segurança creio que o melhor será pedir uma pizza no final do dia.

- Com toda certeza. Vou parar na locadora e pegar um filme pipoca para assistirmos.

- Perfeito.

Paramos na locadora e Camus escolheu um filminho bem pipoca. Uma garrafa de refrigerante, alguns salgadinhos e partimos para casa. Ao chegar descobri que meu vizinho ainda não tinha aberto o registro da água. Lá fui eu para outra ducha gelada. Estava sujo de lama e graxa, então acabei tendo que ficar debaixo daquela geladeira líquida mais tempo do que eu imaginava. Espero sobreviver a esse dia sem uma gripe homérica.

Coloquei um gostoso roupão bem felpudo quentinho e fofinho, peguei um pacote de salgadinho e um copo de refrigerante e me sentei ao lado de Camus no sofá. Ele colocou o DVD no vídeo e tivemos o desprazer de descobrir que em vez do filme que havíamos escolhido fomos agraciados com um elucidativo documentário sobre o ciclo de plantação de batatas no interior do continente americano.

- NÃO! Milo isso já está demais. Estou ficando com medo de você...

- Que isso meu amor, vem cá me dar um beijinho... – eu sai pela casa correndo atrás de Camus.

- Sai fora. Essa onda de má sorte pode ser contagiosa!

Lógico que, do jeito que andava o meu dia, uma correria dessas não poderia passar impune. A tira da sandália que eu estava calçando arrebentou e dessa vez não teve estante milagrosa não! Fui de cara no chão. Aterrei igual um avião sem trem de pouso.

- Eu desisto. Não dá para lutar contra esta maré. – me sentei no chão e fiquei rindo de mim mesmo e de tudo que me aconteceu. Afinal, xingar não havia resolvido. Ignorar não havia resolvido. Ir para casa não havia resolvido. Só me restava rir. Camus me estendeu a mão e me ajudou a levantar. Voltamos para o sofá e fomos aprender como plantar batatas. Fazer o quê? Quando terminou o "interessantíssimo" documentário estávamos aos roncos no sofá. Acordei com fome.

- Câ, Câ, a pizza ainda está de pé?

- Vou pedir. A de sempre?

- Sim.

Esperamos por mais de quarenta minutos uma reles pizza e quando chegou eu comecei a chorar... Eu estava faminto e o mane da pizzaria errou o pedido e nos mandou pizza de camarão. Errar o pedido não seria necessariamente um problema, mas podiam errar para qualquer coisa, menos para camarão! Eu sou alérgico a camarão! Só de olhar para a pizza eu já estava me coçando todo. Camus ria de gargalhar.

- Milozinho eu sei que tudo que está acontecendo com você hoje é chato, mas não me leve a mal, é engraçado demais. Nunca vi tanta coisa errada acontecer ao mesmo tempo com uma só pessoa. AHAHAHAHAHAHAHAH

- Eu vou ter que te acompanhar na gargalhada realmente eu desisto. Será que se a gente for comer um sanduíche na esquina vai dar encrenca?

- Não é possível. Vamos! E a gente aproveita e dá a pizza para o porteiro. Certamente ele vai adorar.

Colocamos uma roupa, demos a pizza inteira para o porteiro que ficou com um sorriso de orelha a orelha – afinal não é todo dia que se ganha uma pizza inteira de camarão fresquinha – e fomos comer.

Dessa vez tudo transcorreu bem. Voltamos para casa de mãos dadas. Nosso relacionamento não é, por assim dizer, normal, mas em nosso prédio, em nosso bairro todos já estão tão acostumados conosco que nem parece que somos um casal homossexual. Nascemos e fomos criados neste bairro. Desde novos andávamos juntos como unha e carne. Quando começamos a namorar e mais ainda quando fomos morar juntos era como se já fosse esperado por todos, como se fosse um desfecho natural de nossas vidas. E vivemos bem, juntos, a alguns anos.

Quando voltamos para casa, mais uma surpresa desagradável. O bendito vizinho havia aberto o registro de água, mas a obra havia sido feita por algum pedreiro maluco e incompetente. Conclusão: um cano estourou e além de alagar a casa do vizinho, alagou a NOSSA casa.

- Legal! Meu tapete fofinho está parecendo um gato molhado. O pé de madeira de minha cama está tudo manchado... Santo prejuízo! Esse piiii, filho de uma piiiiii, vai me pagar! Me fez tomar banho frio o dia inteiro e agora destrói minha linda casinha!

Subi com instinto assassino o lance de escadas que separava o meu andar do andar do vândalo destruidor de lares alheios. Depois de um bate-boca básico. Algumas ameaças de morte, um Camus me segurando de tudo quanto é jeito para eu não esmurrar a cara do sujeito, ainda ouço a pérola:

- Pára de viadagem seu fresco. Já disse que vou pagar o conserto do seu ninho arco-íris... Agora saia da minha porta que vocês são má influência para meu filho!

Depois que ele falou isso precisaria de uns cinco Camus para me segurar, e lá só havia um, então, foi um murro só, e muito bem dado!

Nessa altura dos acontecimentos todo o prédio já estava no corredor assistindo a baixaria e graças aos Deuses essa foi a minha sorte, ou eu estaria agora era na delegacia. Quando o baixinho preconceituoso acordou e começou a gritar que ia chamar a polícia, que aquela pouca vergonha tinha que acabar, e a me xingar de nomes pouco apropriados, todos que assistiram a confusão se prontificaram a testemunhar a meu favor com relação a conduta dele. Preconceito, racismo hoje já são assuntos tratados com certa severidade pelas autoridades, em parte pelas ONGs, em parte pela própria opinião popular.

Voltei para casa de ótimo humor. De alma lavada. A meses, desde que aquele palhaço se mudara para o apartamento acima do meu, eu não tive mais sossego. Estava doido para dar um murro no nariz dele. Agora eu tinha dado o murro e ficado por isso mesmo. Como eu estava feliz. Estava tão feliz que resolvi pegar o meu querido laptop – rezando para que ele funcionasse – e escrever tudo que acontecera comigo neste Dia de Sorte.