—CAPITULO DOIS: O fogo do deserto.
Sentia o rosto comprimido contra aquela superfície arenosa, afundando cada vez mais. Parecia estar encoberto por algo de igual textura, principalmente nos membros. Ainda zonzo, levantou-se lentamente.
—Mas o que d...—Abriu os olhos e demorou a focar a paisagem desértica que tinha em suas retinas. Não via mais nada além de areia, areia, cactos e mais areia.
Tentou manter-se em pé na areia fofa e pôs-se a caminhar. As grossas vestes de inverno lhe ajudaram a não morrer queimado ou desidratado, porém sentia-se muito pesado com elas.
—Droga...—Fazendo uma careta o jovem retirou as pesadas vestes de Hogwarts, ficando apenas com a camisa cinza de detalhes azul e bronze nos pulsos e gola.
Afrouxou a gravata de mesma cor que usava e dobrou a calça até os joelhos. Olhou novamente ao redor, na tentativa de achar algo, mas a visão continuava na mesma.
"Como vim parar aqui?" Pensou ele, fazendo uma careta para enxergar direito. A face já estava brilhante de suor.
Sem tempo de pensar em mais nada, foi atirado para trás por um forte deslocamento de ar. Arrastou-se pela areia, enterrando metade do corpo. Reconhecia aquele golpe. O chute de um gigante invisível. Com alguma dificuldade, espanou a areia para os lados e sentou-se, balançando a cabeça para tirar a areia de cima.
—Oras...então também está vivo...—Disse Gilgert, em tom de descaso, aproximando-se do Ravenclaw, com a varinha apontada diretamente para ele.
—Mais vivo do que nunca...—Novamente fazendo esforço para levantar-se, o jovem procurava não desviar o olhar de Gilbert.—Onde diabos estamos?
—Não faço idéia...—O comensal olhou de soslaio para a paisagem, antes de fixar novamente em Pedro.—foi um efeito incomum...podemos estar em milhares de lugares...até em outra dimensão...
"Outra...dimensão?" Esse pensamento aterrorizou Pedro. Se realmente estivesse em outra dimensão, provavelmente ficaria preso ali para sempre. Mordeu o lábio inferior e recuou um passo, afundando o pé na areia.
—Seja lá onde estivermos, é hora de cumprir minha missão.—Ergueu a varinha e abaixou-a rapidamente, cortando o ar.
Dessa vez, parecia que todo ar ao seu redor havia ficado mais pesado. Sentiu-se empurrado contra o chão, como se uma mão estivesse comprimindo-o contra a areia.
—Droga...—Falava, com a voz abafada. Sentia o rosto afundar cada vez mais, assim como seu corpo. Quando já estava quase completamente enterrado, sentiu a pressão aliviar.
Duvidava que tivesse novamente condições de levantar. Escutou o revirar da areia, cada vez mais próximo. Apoiou as mãos na areia, o suficiente para se desenterrar.
—Parece que vai ser necessário mais força para esmagar esse inseto.—Riu debochado, enquanto aproximava-se.
Apoiou o pé na cabeça do jovem e empurrou-o, fazendo virar de barriga para cima. O comensal parou de frente para ele, vislumbrando sua vitima antes de matar-la.
—E então Ravenclaw? Sentindo-se indefeso? Você está exatamente onde eu quero.—O sorriso de triunfo estava estampado no rosto de Gilbert.
—Ledo engano...—Pedro sorriu, estendendo a mão aberta, um pouco mais para o lado, com a palma virada para baixo.—você é que está onde que quero.
Então, sem nenhum aviso, a terra começou a tremer. Assustado, Gilbert olhou para os lados, esquecendo-se de Pedro.
—O que...o que está..acontecendo?—O comensal parecia hesitante e confuso, olhando para os lados.
—Você já vai saber...—Um sorriso presunçoso delineou-se no rosto do Ravenclaw.
Mal terminou de dizer isso e um enorme dragão de fogo irrompeu da terra. A enorme serpente chinesa tomou os céus e sumiu com um brilho alaranjado.
A repentina aparição do dragão fez a areia espalhar-se, encobrindo a visão de Pedro.
—Arf...—Com um imenso esforço, sentou-se na areia, com as mãos nas costelas que pareciam ter quebrado.—o desgraçado escapou.
Fazendo uma careta de dor, observou, com apenas um olho aberto, a silhueta difusa que surgia da cortina de areia erguida. Logo a figura chamusca de Gilbert, envolto por uma aura perolada, estava a poucos metros do Ravenclaw.
Usava apenas a parte de baixo da túnica. A parte de cima estava nua. O peito pálido estava chamuscado, assim como seus braços. A varinha parecia ter sido reduzida a cinzas que ele largava lentamente pela fresta dos dedos.
—Tentei ser legal...mas vejo que não aprecia minha cordialidade...—A aura ao redor de Gilbert crescia cada vez mais.—hora de tornar as coisas um pouco mais difíceis.
Rapidamente estendeu a mão e um novo deslocamento de ar, dez vezes mais forte, jogou Pedro para trás. O jovem foi arrastado por sete metros, até bater no que parecia ser o muro de alguma construção antiga e destruída.
—Merda...—Praguejou, assim que descolou da parede e caiu no chão, sentado na areia.
Escutou o rugido do vento e, sem preparo, recebeu outro golpe. Foi arremessado novamente contra a parede, destruindo-a dessa vez. Capotou umas três vezes antes de parar de cara para areia.
—Acho que não tem mais forças para lançar outro dragãozinho...—A voz zombeteira soou a poucos passos. Movia-se rapidamente. Logo estava ao seu lado. Sentiu a sola de sua bota apoiar-se no topo de sua cabeça e pressiona-la contra a areia.—pobre Ravenclaw...vai morrer aqui sem ninguém nunca saber onde ele está.
Afastou o pé e pisou novamente, com força. Repetia o ato, sentindo um prazer diabólico em fazer aquilo. Pedro contorcia-se dolorosamente, sentindo que logo seu crânio iria desmanchar-se. Enquanto Gilbert seguia em seu prazer quase carnal em massacrar o jovem Ravenclaw, Pedro esticava a mão para trás, sempre a contorcendo em um novo assomo de dor. Enfiou-a no cós da calça de linho do colégio e puxou algo que reluziu sob a luz do sol.
—Vou...te fazer...sofrer...até...morrer!—Gritava Gilbert, com um sorriso demente no rosto.
Porém, soltou um uivo de dor, afastando-se de Pedro, mancando. Caiu na areia e soltou mais um grito, quando a areia quente entrou em contato com o ferimento que havia sido aberto em sua perna direita.
—Cara...—Dizia Pedro, tentando se levantar, zonzo, com a imagem fora de foco, segurando uma adaga prateada na mão, manchada de sangue.—você fala de mais...
Gilbert ainda contorcia-se no chão, uivando de dor. O sangue já começava a espalhar-se por toda sua perna.
Ravenclaw logo se pôs de pé, a mão segurando a adaga de forma precária, quase a deixando cair. A vista aos poucos voltava a focar-se e o mundo parava de girar. Gilbert continuava no chão, a mão próxima ao ferimento sujo. O sangue misturava-se com a areia, formando uma papa grossa.
Pedro também não estava em bom estado. A dor em suas costelas pareciam ter duplicado e possuía um ferimento no canto da boca que já começava a arroxear.
—Desista...não tem condições de lutar...—Disse Pedro, sentindo falta de ar.
—Cale sua boca imunda!—Gritou Gilbert, fazendo esforço para se levantar.—Posso derrotar-lo sem as duas pernas!
Num gesto brusco, juntou as mãos, batendo as palmas. No mesmo instante, Ravenclaw sentiu-se comprimido, como se duas mãos gigantes estivessem achatando-o. Logo, caiu no chão, sentindo que todas as suas costelas terminaram de quebrar. A dor já lhe cegava quase por completo, levando o resto da consciência que possuía.
Não teve tempo para "aproveitar" a dor e logo um forte tapa da mão invisível lhe atirou para o lado. Parou ao colidir contra algo invisível e logo a outra mão invisível atirou-o novamente para o lugar de origem. Ficou rolando de um lado para o outro, a risada maníaca de Gilbert ecoando em seus ouvidos.
Lentamente ia perdendo os sentidos. Tudo parecia muito vago. Distante. O azul do céu. Os sons da risada. O gosto do próprio sangue que invadia a boca.
Imagens começavam a aparecer diante de seus olhos. Seus amigos, seus pais, Hogwarts, seu primo, Liv, Lilá, Ashley, Chapolim. Já dizia mentalmente adeus.
"Vai desistir assim, tão rápido! Bradou uma voz, lá no fundo de sua consciência. "Vai morrer no meio do deserto, deixando seus amigos sem saber o que aconteceu com você! Seu mole, inútil! Levante-se! Lute!".
Demorou mas reconheceu a voz ríspida de Laguna Wintters. Sem saber de onde arrancara energia, desviou de um novo golpe e saltou para trás. Ignorando a dor, reuniu toda a energia que tinha, em forma de uma aura laranja ao redor de seu corpo.
—Pare de rir, seu retardado...—Falava Pedro, sério e ofegante, reunindo a aura no pulso direito.—vai ter tempo de sorrir para a dona morte.
Um forte vento rodeou Ravenclaw, soprando areia em espiral, como se fosse um furacão. A areia mesclou-se com o fogo que agora rodeava-o. Gilbert olhava sem ação para o garoto, espantado de como sua energia havia crescido.
—Gosta de brincar com fogo?—A aura laranja começou a subir mais rápido.—Agora vai se queimar. EXPLOSÃO DO DRAGÃO!
Toda a energia que circulava ao redor dele reuniu-se à que estava no pulso e explodiu, formando um imenso dragão em estilo chinês, que serpenteou até Gilbert. Ergueu-se alguns metros e abocanhou o comensal, que nada pode fazer, apenas ser dizimado pelas chamas que demoraram a cessar.
Assim que a ultima labareda apagou, Pedro tombou de cara na areia, apagando de vez.
